in ,

Esquadrão Imortal – Olympique de Marselha 1988-1993

O time da final europeia de 1993. Em pé: Barthez, Sauzée, Desailly, Völler e Boli. Agachados: Angloma, Abedi Pelé, Deschamps, Boksic, Eydelie e Di Meco. Foto: AFP.
Em pé: Barthez, Sauzée, Desailly, Völler e Boli. Agachados: Angloma, Abedi Pelé, Deschamps, Boksic, Eydelie e Di Meco. Foto: AFP.

 

Grandes feitos: Campeão da Liga dos Campeões da UEFA (1992/1993), Tetracampeão francês (1988/1989, 1989/1990, 1990/1991 e 1991/1992) e Campeão da Copa da França de 1988/1989. Foi o único time da França a conquistar o título máximo do futebol europeu.

Time base: Barthez; Amoros (Angloma), Boli, Desailly (Mozer) e Di Meco; Casoni (Eydelie), Sauzée e Deschamps; Völler (Cantona), Abedi Pelé (Papin) e Boksic (Francescoli). Técnicos: Gérard Gili (1988-1990) e Raymond Goethals (1991-1993).

“A maior glória do futebol francês”

Por Guilherme Diniz

Texto publicado em março de 2012 e atualizado em 2022

 

O futebol francês bateu na trave por duas vezes na década de 50 quando tentou vencer a Liga dos Campeões da UEFA. O Stade de Reims não foi páreo para o Real Madrid de Puskas e Di Stéfano em 1956 e 1959. Em 1976, o Saint-Étienne também sucumbiu ao grande Bayern München de Beckenbauer. Porém, na década de 90, uma nova equipe conseguiria, enfim, conquistar a glória máxima para um clube na Europa. O Olympique de Marselha comandado por Deschamps, Barthez, Amoros, Papin, Desailly e Völler encantou o continente e conseguiu a façanha de bater outro esquadrão que esbanjava categoria e também encantava: o Milan de Rijkaard, Baresi, Maldini e Van Basten. Os franceses, além da Liga dos Campeões de 1993, venceram quatro campeonatos nacionais consecutivos. O lado triste dessa história tão bonita foi o escândalo que o clube viveria logo após sua glória máxima, que culminou com a perda do título francês de 1993, bem como o banimento da próxima Liga dos Campeões, do campeonato francês da 1ª divisão da temporada seguinte e do Mundial Interclubes de 1993. Mas o grande feito daquele time já estava sacramentado. E é sobre coisas boas que vamos relembrar.

 

O início de uma base campeã

Sem conquistar a Ligue 1 (Campeonato Francês) desde 1972, o Olympique começou o ano de 1988 com mais esperança. Amparado por seu audacioso presidente, Bernard Tapie, que investiria bastante capital no clube, e com jogadores notáveis como Amoros, Deschamps, Di Meco e o goleador Papin, o time poderia entrar novamente nos eixos no futebol nacional. E foi o que aconteceu. A equipe venceu 20 dos 38 jogos e conquistou o campeonato de 1988/1989. Papin foi o artilheiro do campeonato com 22 gols. A temporada seria ainda mais especial com o título da Copa da França, vencida em cima do Monaco por 4 a 3. O time repetiria a dose no campeonato nacional na temporada 1989/1990, com Papin novamente artilheiro, dessa vez com 30 gols, e o talento de Francescoli. Novos reforços chegaram em 1990, como Basile, Boli e Abedi Pelé, e eles ajudariam o time a conseguir grandes feitos.

 

Desbancando o temido Milan

A menina dos olhos do OM na temporada 1990-1991 era a Liga dos Campeões da UEFA. E o time tratou de ir muito bem. Na primeira fase, vitória por 5 a 1 no placar agregado contra o Dínamo Tirana (ALB). Na segunda fase, um show de gols e vitória por 8 a 4 no placar agregado contra o Lech Poznan, da Polônia. Nas quartas de final, o time teria um desafio imenso: vencer o Milan, atual bicampeão europeu e mundial, recheado de craques e temido no mundo todo. No primeiro jogo, em Milão, os franceses conseguiram segurar o ímpeto do adversário e empataram em 1 a 1. No jogo de volta, o OM vencia o Milan por 1 a 0 e estava se classificando até os 43′ do segundo tempo quando a energia acabou no estádio Vélodrome, em Marselha. Quando a luz voltou, o Milan se recusou a voltar a disputar os poucos minutos restantes. Com isso, a UEFA decretou vitória do OM por 3 a 0 e eliminou o Milan da competição. O OM, com futebol e uma “ajudinha energética”, se garantia na semifinal.

 

Decepção nos pênaltis

O OM passeou nas semifinais contra o Spartak Moscow (RUS) e venceu os dois jogos, por 3 a 1 e 2 a 1. Na final, o time teria um duro e surpreendente adversário: o Estrela Vermelha, da Iugoslávia. O empate em 0 a 0 levou a decisão para os pênaltis. A falha do lateral-direito Amoros logo na primeira cobrança e a precisão dos batedores do Estrela Vermelha deu o título aos iugoslavos, que venceram por 5 a 3. A dor da perda do título foi grande, ainda mais pela ótima campanha que a equipe havia feito, principalmente por eliminar o grande Milan. Um novo título francês serviu como consolação para a temporada da equipe. Porém, uma nova base seria fundamental para levar os franceses à glória máxima muito em breve.

 

Novas estrelas

O Olympique de Marselha seguiu investindo e trouxe importantes peças para seguir na sua caminhada gloriosa no início da década de 90. Se saíram o ídolo Papin, o lateral Amoros e o zagueiro brasileiro Mozer, vieram o brilhante Barthez, o matador croata Boksic, o lateral Angloma, o experiente meia-atacante alemão Völler e o exímio zagueiro Marcel Desailly. Pronto, o time estava ainda mais forte e preparado para encarar a Liga dos Campeões de 1992-1993. Antes, claro, veio mais um título francês, na temporada 1991-1992, que seria a última de Papin na equipe. O goleador foi novamente artilheiro com 27 gols. Ele partiria na temporada seguinte justamente para o Milan, grande rival europeu do OM.

 

Rumo à glória máxima

O alemão Völler (centro), uma das estrelas do setor ofensivo do time.

 

O OM passou fácil pelas duas primeiras fases da Liga dos Campeões da UEFA de 1992-1993, vencendo o Glentoran (IRN) e Dinamo Bucaresti (ROM). Naquela edição, os classificados foram divididos em dois grupos. Os campeões de cada grupo fariam a final. No Grupo A, junto com Rangers, Club Brugge e CSKA, o OM foi líder e garantiu vaga na final, vencendo três jogos e empatando os outros três. No Grupo B, o Milan, após vencer seus seis jogos, seria o adversário dos franceses. Para os italianos, seria a chance de vingar a eliminação em 1991. Para os franceses, talvez a última oportunidade de conquistar o tão sonhado título europeu.

 

 

Final magnífica

O confronto entre franceses e italianos colocava frente a frente as duas melhores equipes europeias, sem dúvida alguma. Do lado do Olympique de Marselha, os craques Barthez, Angloma, Boli, Desailly, Di Meco, Deschamps, Abedi Pelé, Völler e Boksic. Do lado do Milan (leia mais clicando aqui!), as estrelas já consagradas e temidas: Baresi, Maldini, Tassotti, Costacurta, Albertini, Rijkaard, Donadoni e Van Basten, treinados por Fábio Capello. Curiosamente, o ídolo do OM, Papin, estava no Milan e jogaria a final, em grande parte do segundo tempo. Porém, Papin com certeza se arrependeria de estar vestindo o rossonero italiano… O estádio olímpico de Munique, na Alemanha, iria presenciar um embate histórico. Seria, também, a última partida da carreira de Marco van Basten, um dos maiores jogadores do futebol mundial.

O Olympique de 1993: experiência e jovens talentos formavam um esquadrão competitivo e muito forte.
O Olympique de 1993: experiência e jovens talentos formavam um esquadrão competitivo e muito forte.

 

Direto ao gol!

 

O lema do OM, grafado inclusive logo abaixo de seu escudo, é “Droit au But”, que quer dizer “Vá ao gol”. O time “foi ao gol” na final curiosamente com um zagueiro, o francês Boli, que marcou o único tento do jogo aos 43´do primeiro tempo. O time mostrou que era mesmo o carrasco do Milan e uma das poucas equipes a ter sucesso contra o esquadrão italiano. Ao apito final, a festa foi histórica: pela primeira vez um clube francês conquistava o maior dos títulos europeus. A justiça era feita ao maior esquadrão que a França já havia visto, e que serviria como base para a seleção francesa campeã mundial de 1998. O torcedor de Marselha nunca havia estado tão feliz. Porém, um escândalo jogaria um balde de água fria na festa.

 

Escândalo mancha feito histórico

Pouco tempo depois do título europeu, um escândalo manchou o grande feito do esquadrão de Marselha. A federação francesa descobriu um esquema de manipulação de resultados no campeonato nacional que fora vencido, novamente, pelo Olympique de Marselha. O jogador do clube Eydelie entrou em contato com três jogadores do Valenciennes para que o clube entrasse com o “pé leve” no jogo contra o OM pelo campeonato francês, que seria fundamental para a conquista do título nacional. Outro pedido foi para que a equipe rival não machucasse nenhum atleta do OM para que eles pudessem jogar a final da Liga dos Campeões. Eydelie disse que uma grande quantia de dinheiro seria oferecida. Porém, um dos jogadores do Valenciennes, Jacques Glassman, reportou a chantagem às autoridades do futebol, o que ocasionou a suspensão do Olympique de Marselha da Supercopa da UEFA de 1993, da Liga dos Campeões de 1993-1994 e do Mundial Interclubes de 1993, além do rebaixamento da equipe à segunda divisão do futebol francês e cassação do título conquistado em 1992/1993. Naquela temporada, não houve campeão. O fato chocou a Europa por ser tão banal e patético, afinal, o time de Marselha não precisava daquilo tudo para seu sucesso. Eydelie foi suspenso por um ano pela FIFA e ficou 17 dias preso.

 

O fim de uma era

 

O escândalo no Campeonato Francês abalou o Olympique de Marselha. O time perdeu praticamente todos os grandes nomes que brilharam durante anos no país e na Europa e só voltaria a conquistar o torneio em 2010. Os torcedores ainda esperam uma nova geração de ouro que possa dar a volta por cima e elevar o nome do clube no continente. Enquanto isso, as apresentações de um time formidável e extremamente competitivo permanecem vivas na memória do torcedor, bem como o orgulho de torcer pelo único clube francês campeão europeu de futebol. Droit au But, OM!

 

Deschamps, capitão do OM e lenda do futebol francês.

 

Os personagens:

Barthez: o goleiro começou a brilhar pelo OM antes de fazer história na seleção francesa. No começo da carreira, já mostrava sua habilidade e frieza dentro da meta, e salvava gols certos dos adversários. O Dream Team eleito pelos torcedores do Olympique no aniversário de 110 anos do time, em 2009, teve Barthez no gol. Merecido.

Amoros: um dos maiores laterais do futebol francês, Manuel Amoros encerrou sua carreira no OM. Pelo clube, disputou 114 partidas. Teve destaque, também, na grande seleção francesa da década de 80, que merecia demais uma Copa do Mundo, onde jogou 82 partidas em 10 anos. Outro escolhido para o Dream Team dos torcedores nos 110 anos do clube.

Angloma: teve a dura missão de substituir Amoros na lateral direita, mas não comprometeu. Disputou 82 partidas pelo time e venceu o campeonato francês de 1991/1992 e a Liga dos Campeões da UEFA de 1992/1993.

Boli: é um dos maiores heróis do OM, afinal, foi dele o gol do título máximo na história centenária do clube. Dono de uma grande presença de área e muito bom também como elemento surpresa no ataque, Basile Boli disputou 163 partidas e marcou 27 gols pelo clube.

Desailly: antes de se tornar um dos maiores do mundo na posição jogando pelo Milan e pela seleção, Marcel Desailly brilhou no grande OM multicampeão francês e europeu. O craque substituiu a altura outra lenda, o brasileiro Mozer, e encantou os torcedores. Pena que ficou tão pouco tempo. Disputou 57 partidas pelo clube entre 1992 e 1993. Em 1993/1994, ganhou sua segunda Liga dos Campeões de maneira consecutiva, pelo Milan, e marcando um dos gols na final. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Mozer: o brasileiro que arrasou na zaga do Flamengo de Zico nos anos 80 foi esbanjar sua categoria no futebol francês de 1989 a 1992. E continuou a colecionar títulos: foram três canecos do campeonato francês pelo Olympique de Marselha, 89 partidas disputadas e lugar eterno no coração dos torcedores. Foi um dos grandes zagueiros de sua época. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Di Meco: lateral esquerdo de grande categoria, Éric Di Meco disputou 216 partidas pelo OM, e venceu quatro campeonatos franceses, além da Liga dos Campeões de 1992/1993. É outro grande ídolo do clube e referência na posição na era de ouro do time de Marselha.

Waddle: o inglês fez uma parceria memorável com Papin no elo entre o meio de campo e o ataque do OM campeão francês em 1990, 1991 e 1992. Virou ídolo e disputou 107 partidas pelo clube.

Casoni: o Olympique de Marselha foi o último clube na carreira desse grande meio campista. De 1990 a 1996 foram 169 jogos e muitos títulos, entre eles a Liga dos Campeões. Pela seleção francesa foram 30 partidas.

Eydelie: saiu como vilão do clube, por ser o culpado pelo esquema de manipulação de resultados que culminou com a série de penitências ao Olympique de Marselha em 1993.

Sauzée: jogou duas épocas no time e em ambas ganhou títulos. Entre 1988 e 1990, levantou a Copa da França e dois campeonatos franceses. Na volta, de 1991 a 1993, levantou mais um campeonato francês e a Liga dos Campeões.

Deschamps: capitão do esquadrão que encantou a França naqueles anos. Seguro, habilidoso e dono de um passe preciso, Didier foi um dos símbolos do time. Foi capitão da França na conquista da Copa do Mundo de 1998. Disputou 123 partidas pelo clube. É o atual treinador do OM.

Völler: o alemão já era veterano quando chegou à França, mas foi fundamental. Em 58 jogos marcou 24 gols e venceu a Liga dos Campeões da UEFA. Mesmo com pouco tempo no clube, virou ídolo.

Cantona: o craque francês jogou pouco pelo OM no período, mas marcou gols importantes para os títulos de 1989 e 1991. Cantona brilharia mesmo no Manchester United a partir de 1992. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Abedi Pelé: o melhor jogador da história de Gana foi também um dos maiores do OM em sua melhor era. Disputou 112 partidas e marcou 23 gols. Venceu os campeonatos franceses de 1991 e 1992 e a Liga dos Campeões de 1993. Tinha o papel de ser garçom no ataque, servindo os goleadores Papin e Boksic. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Papin: um dos maiores ídolos do clube, Jean-Pierre Papin foi o dono da artilharia do campeonato francês durante quatro temporadas seguidas, de 1988 a 1992, um feito histórico. Marcou 182 gols pelo clube e é o segundo maior artilheiro em todos os tempos do OM. Arrepende-se demais de ter saído do time justo no ano em que o OM venceria a Liga dos Campeões, justamente contra o seu Milan, em 1993. Mesmo com essa “traição”, é querido até hoje em Marselha. Foi Bola de Ouro em 1990 e eleito segundo melhor jogador do mundo em 1991, perdendo para o alemão Matthäus.

Boksic: o matador croata substituiu à altura o ídolo Papin na temporada 1992/1993. Em 49 jogos marcou 29 gols. Pena que 22 deles (que lhe renderam a artilharia do Campeonato Francês) foram praticamente nulos, pois o time do OM perdeu o título devido ao escândalo de manipulação de resultados naquela temporada.

Francescoli: um dos maiores nomes da história do futebol uruguaio, o craque foi campeão francês em 1989-1990 e marcou 11 gols em 28 jogos com a camisa do clube de Marselha. Ficou apenas uma temporada na equipe, mas o suficiente para virar ídolo de ninguém mais ninguém menos que Zinedine Zidane. Leia mais sobre o eterno Enzo clicando aqui.

Gérard Gili e Raymond Goethals (Técnicos): o Olympique de Marselha teve outros três breves treinadores no período mais vitorioso de sua história, mas foi o francês Gili e o belga Raymond Goethals os mais importantes. Eles conduziram com maestria o elenco que tiveram em mãos e tornaram o clube multicampeão na França e imponente na Europa. Com Gili, o OM foi devastador no ataque, com o auge de Papin. Com Goethals, o time ganhou mais sobriedade para duelar com os titãs do continente e uma notável estabilidade defensiva sem perder eficiência no ataque. Ambos são imortais para a torcida marselhesa.

 

Extras:

O retorno dos campeões

Veja a festa do título europeu do Olympique de Marselha em seu retorno à França.

Licença Creative Commons
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Comentários encerrados

2 Comentários

Time dos Sonhos do Real Madrid

Craque Imortal – Giuseppe Meazza