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Esquadrão Imortal – Independiente 1971-1975

Em pé: Sá, Santoro, Galván, López, Commisso e Pavoni. Agachados: Balbuena, Semenewicz, Maglioni, Bochini e Bertoni.
Em pé: Sá, Santoro, Galván, López, Commisso e Pavoni. Agachados: Balbuena, Semenewicz, Maglioni, Bochini e Bertoni.

 

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (1973), Tetracampeão da Copa Libertadores da América (1972, 1973, 1974 e 1975), Tricampeão da Copa Interamericana (1972, 1974 e 1975) e Campeão Argentino (1971). É o único clube na história a vencer quatro vezes consecutivas a Libertadores.

Time-base: Santoro; Commisso, López, Sá (Pastoriza) e Pavoni; Galván, Semenewicz (Raimondo) e Bochini; Balbuena, Maglioni e Bertoni. Técnicos: Pedro Dellacha (1970-1972 / 1975), Humberto Maschio (1973), Roberto Ferreiro (1973-1974).

“El Rey de Copas”

Por Guilherme Diniz

Depois de vários protagonistas na década de 1960 no futebol latino-americano, a década de 1970 foi lembrada por ter um rei soberano. Ou melhor, um “Rey”: o Independiente, da Argentina. O time “rojo” venceu nada mais nada menos que quatro Copas Libertadores consecutivas, um feito histórico e jamais igualado por outra equipe na América do Sul. Além disso, o time venceu um Mundial, em 1973, o Campeonato Argentino de 1971 e três vezes a Copa Interamericana. Foram muitas glórias e feitos que transformaram os vermelhos de Avellaneda nos maiores da Argentina no período. Um time formidável, com muita raça e gana, jogadores que pareciam irmãos jogando bola e uma dupla que fez história: Bochini e Bertoni. É hora de relembrar a soberania argentina na América.

 

Conquista abre caminho para a América

 

O Independiente começou a década de 1970 de maneira muito promissora. Depois de vencer o Campeonato Argentino de 1967, o time venceu o Metropolitano de 1970, que era o torneio disputado apenas por clubes da região central e da capital da Argentina. Em 1971, veio o bicampeonato do torneio e a chance de disputar a Libertadores, competição que o clube já havia vencido duas vezes, em 1964 e 1965.

 

Tricampeonato

O time de Avellaneda colocou a Libertadores como objetivo principal em 1972. E logo mostrou sua força ao passar fácil pela fase de grupos, eliminando o rival Rosário Central e os colombianos do Independente Santa Fé e do Atlético Nacional. Na época, os primeiros colocados dos grupos iam para a chamada semifinal, em que os primeiros colocados de dois grupos de três times passavam às finais. O Independiente enfrentou São Paulo e Barcelona (EQU). Com duas vitórias, um empate e uma derrota (a única no torneio, para o São Paulo) o time argentino garantiu a primeira colocação e foi à final. O adversário seria o Universitário, do Peru. O primeiro jogo, em Lima, terminou 0 a 0. Na volta, em Avellaneda, o time “rojo” venceu os peruanos por 2 a 1, com dois gols de Maglioni, e garantiu o terceiro título da Libertadores de sua história. O título garantiu vaga no Mundial Interclubes, que seria disputado contra o forte Ajax de Cruyff.

 

O primeiro título intercontinental

Antes de tentar a conquista do Mundial, o Independiente venceu a Copa Interamericana, competição já extinta que era disputada entre os vencedores da Copa Libertadores e da Copa dos Campeões da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte e Central). O time argentino enfrentou o Olimpia, de Honduras, e venceu os dois jogos: 2 a 1 e 2 a 0, conquistando seu primeiro título intercontinental. Com ânimo renovado, era hora de tentar conquistar o mundo.

Decepção na luta pelo Mundial

O Independiente teve de enfrentar o carrossel do Ajax na decisão do Mundial de 1972. No primeiro jogo, na Argentina, um gol logo no início de Cruyff dava a vitória ao clube holandês até os 81´, quando Francisco Sá empatou o jogo. Porém, na Holanda, o Ajax não tomou conhecimento do esquadrão argentino e venceu por 3 a 0. Pela terceira vez, o time perdia o Mundial, igualando as decepções de 1964 e 1965, perdidas para a Internazionale (ITA). O time teria que lutar pelo sonho do Mundial novamente em 1973.

Tetra e bi

Como campeão de 1972, o Independiente entrou nas semifinais da Libertadores de 1973. Com frieza e técnica, o time despachou o rival San Lorenzo e os colombianos do Millonarios e se garantiu na final da competição. O adversário foi o Colo-Colo, do Chile. No primeiro jogo, na Argentina, empate em 1 a 1. O jogo de volta, disputado em Santiago, teve novo empate, dessa vez sem gols. Uma partida extra foi marcada em campo neutro, em Montevidéu, no Uruguai. Após novo empate em 1 a 1, o Independiente conseguiu marcar mais um gol e garantiu, no sufoco, seu quarto título da Libertadores, o segundo consecutivo. O time tinha, novamente, a chance de conquistar o almejado título Mundial.

 

 

A conquista do Mundo

O Ajax, campeão europeu de 1973, não quis disputar o Mundial, deixando como seu representante o vice-campeão, a Juventus, da Itália. O primeiro jogo da final foi disputado na Itália, em Roma. Lá, com um gol de Bochini, aos 80´, o Independiente venceu por um magro, mas histórico, 1 a 0. A Juve desistiu de disputar a partida de volta e o resultado deu ao clube argentino o primeiro título Mundial de sua história. De quebra, os vermelhos se igualavam ao rival local, o Racing, com uma conquista Mundial. Era o que faltava para o time comandado com maestria por Roberto Ferreiro no banco e em campo por Bochini e Bertoni. Mesmo com a conquista, o time queria mais.

Bertoni e Bochini com a taça do Mundial.

 

Insaciável

Bochini e Bertoni, lendas do rojo.

 

Os “rojos” de Avellaneda levantaram mais uma Libertadores em 1974. Novamente entrando nas semifinais, o time se classificou a final após eliminar Peñarol e Huracán, vencendo dois jogos e empatando os outros dois. A decisão foi contra o forte São Paulo de Pedro Rocha. No primeiro jogo, em São Paulo, vitória brasileira por 2 a 1. Na volta, na Argentina, vitória do Independiente por 2 a 0. Um jogo extra foi marcado para Santiago, no Chile, e um gol de Pavoni, aos 37´ do primeiro tempo, deu o terceiro título seguido ao clube de Avellaneda. Era o pentacampeonato e a proeza de igualar o feito do Estudiantes, que também venceu três Libertadores na sequencia no final da década de 1960.

Com Bochini em seu auge, o Independiente se tornava um dos maiores times da América naqueles anos 70. Jogar contra eles, tanto na Argentina quanto fora dela, era muito difícil.
Com Bochini em seu auge, o Independiente era um dos maiores times da América naqueles anos 1970. Jogar contra os “Rojos” tanto na Argentina quanto fora dela era muito difícil.

 

Novo tropeço no Mundial

Mais uma vez o campeão europeu não quis disputar o Mundial de 1975. Com isso, o alemão Bayern München cedeu sua vaga aos espanhóis do Atlético de Madrid, vice-campeões da Europa. No primeiro jogo, na Argentina, vitória dos donos da casa por 1 a 0, gol de Balbuena. Na volta, em Madri, vitória do Atlético por 2 a 0 e título Mundial para os espanhóis. Se o Independiente seguia absoluto em decisões na América do Sul, o mesmo não acontecia no Mundial, já que o time acumulava 4 derrotas e apenas 1 título. Como forma de “consolação”, o time venceu em 1974 a Copa Interamericana pela segunda vez, ao derrotar nos pênaltis o Municipal, de Guatemala.

 

Fazendo história

Em 1975, o Independiente conseguiu o maior feito de sua história: o tetracampeonato consecutivo da Libertadores. De novo nas semifinais, o time eliminou o Rosário Central e o Cruzeiro, indo para a final contra o Unión Española, do Chile. Depois de perder o primeiro jogo por 1 a 0, os argentinos venceram por 3 a 1 o jogo de volta, forçando a realização da terceira partida. Em campo neutro, o time “rojo” mostrou sua força e venceu por 2 a 0, conquistando o hexacampeonato na história, se consagrando como o maior campeão da América e superando seu próprio recorde de títulos na sequencia. Era a coroação final de um time que marcou o futebol sul-americano e argentino por quatro brilhantes anos. Em 1975, não houve disputa do Mundial por falta de datas entre o Bayern (campeão europeu) e o os argentinos. No mesmo ano, o Independiente ganhou o tricampeonato da Copa Interamericana ao derrotar, nos pênaltis, o Atlético Español, do México.

 

 

O fim da lenda

Em 1976, o Independiente perdeu a chance de ser pentacampeão continental e igualar o feito do Real Madrid, que venceu cinco títulos continentais consecutivos na Europa, e foi eliminado nas semifinais da Libertadores pelo compatriota River Plate. Ali, acabava a dinastia dos “Diablos” da América, que não tiveram rivais por quatro anos no continente. Se na Argentina a predominância não existiu, o time tratou de se emancipar pelo mundo com apresentações maravilhosas, extremamente competitivas, com muita raça e espírito vencedor. O clube venceria os Campeonatos Argentinos em 1977 e 1978, mas só voltaria a brilhar na Libertadores em 1984. Desde então, o esquadrão de Avellaneda segue intacto como soberano na América, único tetracampeão consecutivo e que fez o Independiente o maior campeão da competição. Um time imortal.

Não perca a conta…

 

Os personagens:

Santoro: é um mito dentro do Independiente. Jogou no clube de 1962 até 1974, conquistando 10 títulos, entre eles 4 Libertadores e 1 Mundial Interclubes. É o goleiro com o maior número de jogos pelo clube de Avellaneda. Foi um ícone na meta do time por muito tempo e sinônimo de segurança no gol.

Commisso: Eduardo Commisso foi outro colecionador de títulos do Independiente. Defensor muito raçudo e técnico, jogou de 1968 até 1975 no clube argentino.

Sá: Francisco Sá causa inveja até hoje em todos os futebolistas sul-americanos. Motivo? Ele é o recordista em títulos da Libertadores: 6 títulos, 4 com o Independiente, de 1972 até 1975, e 2 com o Boca Juniors, em 1977 e 1978. Venceu, também, o Mundial de 1973 com o “Rojo” e o de 1977 com o Boca. Foi um dos ícones na zaga do time de Avellaneda e um dos melhores na década de 1970 na Argentina.

Pastoriza: o “Pato” foi outro ídolo do clube no começo da década de 1970. Não integrou o esquadrão tetracampeão da América, mas teve tempo de vencer a competição em 1972, antes de ir jogar no Mônaco, da França. Venceu três campeonatos nacionais pelo Independiente e foi símbolo na defesa e meio de campo do time.

López: venceu 8 títulos com o Independiente, sendo 4 Libertadores. Foi muito eficiente na zaga do time no período.

Pavoni: Ricardo Pavoni construiu praticamente toda a sua carreira no Independiente, onde jogou de 1965 até 1976. O uruguaio viveu os melhores anos do clube e foi capitão do grande esquadrão tetracampeão da América. Venceu 12 títulos com o clube “rojo” e foi um dos grandes defensores de sua época, além de apoiar o ataque e marcar gols. Venceu, também a Libertadores de 1965. É ídolo até hoje no clube argentino.

Miguel Raimondo: jogou muito no meio de campo do Independiente nas conquistas da América e do mundo na década de 1970. Em 1974, venceu o prêmio “Olimpia de Plata” de melhor jogador argentino do ano. Venceu 8 títulos com o clube.

Semenewicz: o “Polaco”, como ficou conhecido, foi outro célebre defensor do Independiente. Dono de um fôlego incrível, podia jogar como zagueiro ou volante de marcação, sabendo sempre o que fazer com a bola nos pés. Foi um dos grandes do time na década.

Galván: ótimo meio-campista, Rubén Galván integrou o time “rojo” de 1971 até 1980, exatamente no período de ouro do clube. Foram sete títulos no período, além da conquista da Copa do Mundo de 1978 pela seleção argentina.

Bochini: Ricardo Bochini é, sem dúvida, o maior ídolo da história do Independiente e também um dos mais vitoriosos. Era o camisa 10 do time e o garçom, dando inúmeras assistências para os atacantes, tanto é que passes para gols passaram a ter o nome de “passe a Bochinesca” no futebol argentino. Foi dele o gol do primeiro título mundial do Independiente, o que lhe deu vaga cativa no coração do torcedor. Jogou toda a sua vida apenas no clube de Avellaneda, de 1971 até 1991, e conquistou estrondosas 5 Libertadores, além de 2 Mundiais e a Copa do Mundo de 1986 pela Argentina. É o jogador que mais vezes vestiu a mesma camisa na história do futebol argentino: foram mais de 714 partidas e 108 gols pelo clube. Formou uma das maiores duples de ataque do futebol com Bertoni. É um dos maiores jogadores da história da Argentina. Um mito “en rojo “. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Balbuena: atacante trombador, Balbuena foi outro craque que colecionou Libertadores no Independiente. Jogou de 1971 até 1975 no clube, bem na época de ouro.

Maglioni: atacante de extrema velocidade, entrou para o livro dos recordes por marcar o mais rápido hat-trick da história, em 1 minuto e meio! Isso mesmo, em 90 segundos ele marcou três gols, em março de 1973, na goleada de 4 a 0 do Independiente sobre o Gimnasia, pelo Campeonato Argentino. Marcou época no time de Avellaneda e venceu 7 títulos de 1969 até 1974.

Bertoni: Daniel Bertoni foi o matador do time “rojo” e fez, ao lado de Bochini, a dupla mais mortal e fabulosa do futebol argentino na década de 70. As tabelinhas, os passes e gols fizeram deles ídolos e referências máximas do time no período. De 1973 até 1977 foram 3 Libertadores e 1 Mundial. Esteve na Copa do Mundo de 1978, quando a Argentina levantou seu primeiro título.

Pedro Dellacha, Humberto Maschio e Roberto Ferreiro (Técnicos): todos foram fundamentais para o sucesso do Independiente em sua era mais gloriosa, mas Roberto Ferreiro é sempre o mais lembrado por não só ter jogado pelo clube como por ter dado o primeiro título mundial ao time de Avellaneda e igualar o feito do principal rival da cidade, o Racing. Por isso, é o mais querido da torcida e um símbolo do clube por décadas.

 

Leia mais sobre o Independiente dos anos 1960 clicando aqui.

 

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Comentários encerrados

10 Comentários

  1. Por lejos Independiente, y no solamente por el equipo de Independiente en sí, sino por la calidad de los rivales. Es totalmente comprobable, revisas a cada jugador rival y más de medio equipo jugaba en su selección, además de pasar hasta decenios o más dentro del club, conformando equipos totalmente consolidados que jugaban de memoria entre sí.

  2. Eu como brasileiro, torcedor do Santos, sinto uma certa inveja do que fez o Independiente, pois são 7 Libertadores, sendo 4 consecutivas. Acredito que o Santos poderia ter feito algo semelhante nos anos 60, mas só ganhou 1962 e 1963, duas seguidas, voltando a ganhar outra em 2011, com Neymar

  3. Boca Jrs en cambio tuvo una buena década en un fútbol sudamericano cada vez mas pobre, con ediciones cada vez mas flojas de la Copa Libertadores. Al punto que vemos hoy en día.

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