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Esquadrão Imortal – Boca Juniors 1976-1978

Uma das escalações do time em 1978. Em pé: Roberto Mouzo, Ruben Suñé, Francisco Sá, Mario Zanabria, Vicente Pernía, Hugo Gatti e Miguel Bordón. Agachados: Ernesto Mastrángelo, Jorge Benítez, Carlos Salinas e Hugo Perotti.

 

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (1977), Bicampeão da Copa Libertadores da América (1977 e 1978) e Bicampeão Argentino (1976-Metropolitano e 1976-Nacional).

Time base: Hugo Gatti; Vicente Pernía, Miguel Ángel Bordón (Tarantini), Sá e Roberto Mouzo; Jorge José Benítez (Carlos Veglio), Rubén Suñé e Mario Zanabria; Mastrángelo, Carlos Horacio Salinas e Felman (Hugo Perotti). Técnico: Juan Carlos Lorenzo.

“O primeiro Boca papa títulos”

Por Guilherme Diniz

 

Na virada do século XX, o nome Boca Juniors causava calafrios e pesadelos a qualquer clube sul-americano, principalmente se esse clube fosse do Brasil. O time colecionou troféus e brilhou não só na América do Sul, mas também no Japão, ao vencer dois Mundiais Interclubes em cima do Real Madrid (2000) e do Milan (2003) (esquadrão já relembrado aqui no Imortais). Mas, muito antes de ele brilhar, um outro Boca Juniors igualmente eficiente na zaga e no ataque fez história: o Boca de 1976/1979. O time conquistou 5 títulos, sendo os primeiros troféus da Libertadores (1977 e 1978) e o primeiro Mundial da história do clube (em 1977). O time venceria o segundo Mundial em 1978, mas não houve disputa do torneio. Em território nacional, foram dois títulos apenas em 1976, sendo um deles em uma final inesquecível contra o maior rival, o River Plate, com um gol salvador de Suñé. Aquele Boca conseguiu deixar os “Millonarios” do River comendo poeira por três anos e já despontavam a hegemonia continental que sempre teriam em relação ao adversário. É hora de lembrar os feitos do esquadrão comandado com maestria por Juan Carlos Lorenzo no banco e por Suñé, Mouzo e Mastrángelo em campo.

 

Começando a nova era dourada

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Depois de brilhar nas décadas de 50 e 60, o Boca entrou na década de 70 com muita esperança por títulos, mas que demoraram a surgir. O time começou a década vendo o Independiente colecionar títulos da Libertadores (foram 4 consecutivos), além de já ter visto Estudiantes e Racing comemorado títulos continentais. O clube queria o quanto antes deixar de ser “virgem” no torneio e brilhar. Para isso, era preciso conquistar o campeonato argentino. E foi o que o time fez. Em 1976, a ótima equipe esquematizada por Juan Carlos Lorenzo fez um brilhante Campeonato Metropolitano e conquistou o título após engatar uma sequencia invicta na fase final, vencer oito jogos e empatar três em 11 partidas disputadas. Com o título na bagagem, era hora de fazer bonito, também, no campeonato nacional (vale lembrar que na época eram dois torneios no ano, o Metropolitano, com mais equipes da capital, e o Nacional, com times de todo país).

 

Gol salvador dá o bicampeonato

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No Grupo A, o Boca terminou empatado com o Quilmes em pontos e teve de vencer o rival por 2 a 1 em uma partida desempate para definir a ordem de classificação para as quartas de final, quando bateu o Banfield por 2 a 1 e avançou às semifinais, onde venceu o Huracán por magro 1 a 0. Na final, ninguém mais ninguém menos que o River Plate. Era a primeira vez que ambos decidiam entre si um título nacional. O jogo foi tenso, pegado e disputado, decidido em uma cobrança de falta magistral de Rubén Suñé, que chutou enquanto o goleiro do River, Fillol, arrumava a barreira: Boca 1 a 0, resultado que garantiu o segundo título argentino em apenas um ano. A vaga na Libertadores estava garantida.

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Em busca do topo

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Em 1977, o Boca entrava, enfim, com boas chances de vencer a Libertadores. O time se apoiava na defesa raçuda e técnica, que tinha a experiência de Francisco Sá, super campeão com o Independiente, além do ataque com Felman e Mastrángelo. O time azul e ouro caiu em um grupo dificílimo ao lado de River Plate, Peñarol (URU) e Defensor Sporting (URU). Mesmo diante de rivais poderosos, o Boca mostrou personalidade e foi o primeiro de seu grupo, com quatro vitórias e dois empates em seis jogos, com destaque para as vitórias sobre o River (1 a 0) e as duas pra cima do Peñarol (1 a 0 no Uruguai e 1 a 0 na Argentina). O time mostrou na primeira fase uma força extrema na defesa, com o ataque sendo econômico e preciso. Foram apenas cinco gols marcados em seis jogos e nenhum gol sofrido. Nas semifinais, em formato de dois grupos com três equipes cada, o Boca enfrentou Deportivo Cali (COL) e Libertad (PAR). Novamente forte na zaga, o time venceu dois jogos e empatou dois, garantindo vaga na final. A final seria contra o então campeão, o Cruzeiro (BRA).

 

Enfim, o melhor da América

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A final seria decidida por pontos, ou seja, se uma equipe vencesse o primeiro jogo por 5 a 0 e perdesse o segundo por apenas 2, haveria uma terceira partida. O Boca jogou o primeiro jogo em casa e venceu por 1 a 0, com gol de Veglio logo no início do jogo. Na volta, no Mineirão, o Cruzeiro impôs a primeira e única derrota ao time argentino na competição: 1 a 0, gol de Nelinho. A partida decisiva foi em Montevidéu, no Uruguai, e, após empate sem gols, o jogo foi para os pênaltis. Todos os batedores estavam convertendo suas cobranças até que Vanderley, do Cruzeiro, viu o goleiro Hugo Gatti pegar sua cobrança. Pronto, o Boca, enfim, era campeão pela primeira vez da Copa Libertadores. De quebra, deixava o rival, River Plate, louco de raiva por ficar à frente no quesito títulos internacionais, já que o River havia perdido a Libertadores de 1976 exatamente para o Cruzeiro. A vaga para a disputa do Mundial estava garantida.

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Duelo diferente do esperado

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O Boca Juniors fez de tudo para negociar datas e poder disputar o Mundial Interclubes de 1977 contra o Liverpool, da Inglaterra, então campeão europeu. Porém, nenhuma data que não competisse com jogos do Campeonato Inglês foi encontrada, com isso, o rival do Boca teve de ser o Borussia Mönchengladbach, vice-campeão da Liga dos Campeões. Mesmo sem a força do Liverpool, o Borussia impunha respeito com nomes consagrados como Berti Vogts, Nielsen, Wohlers e Schäfer, comandados pelo técnico Udo Lattek, célebre por montar a espinha dorsal do estupendo Bayern München tricampeão alemão de 1972 a 1974 e campeão europeu em 1974. Devido à intensa negociação de datas, o primeiro jogo foi disputado apenas em março de 1978, no estádio La Bombonera. O Boca abriu o placar com o artilheiro Mastrángelo aos 16´ do primeiro tempo. Hannes empatou aos 24´. Cinco minutos depois, Bonhof virou para os alemães. Mas, no segundo tempo, o reserva Ribolzi empatou, deixando tudo aberto para a partida de volta, na Alemanha.

A base do Boca naqueles anos dourados: defesa protegida e meio de campo pegador eram as máximas daquele esquadrão.
A base do Boca naqueles anos dourados: defesa protegida, meio de campo pegador e velocidade no ataque eram as máximas daquele esquadrão.

 

Mundo azul e dourado

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A partida de volta foi disputada em agosto daquele ano, na cidade de Karlsruhe. O Boca mostrou imensa categoria, dominou o adversário, e decidiu a partida ainda no primeiro tempo, com gols de Felman, Mastrángelo e Salinas. O time conquistava, pela primeira vez, o título de Campeão do Mundo, e se igualava aos argentinos campeões mundiais Independiente, Racing e Estudiantes. Era o ápice para o esquadrão de La Bombonera. Mas ainda tinha a Libertadores de 1978.

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Saboroso caminho do Bi

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Como campeão do ano anterior, o Boca começou a Libertadores de 1978 já das semifinais. O time encarou novamente o rival River Plate e o brasileiro Atlético-MG. O Boca mostrou toda a sua força ao derrotar duas vezes o Atlético-MG por 2 a 1 em Minas e 3 a 1 na Argentina. Contra o River, após empate em 0 a 0 em casa, o Boca venceu o maior rival em pleno Monumental de Nuñez por 2 a 0, garantindo a vaga em mais uma final. Os Xeneizes não sabiam o que era melhor: ir para a final ou ver o rival novamente eliminado! O adversário na decisão seria o Deportivo Cali (COL).

 

Bicampeão com show

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O Boca viajou até a Colômbia e arrancou um empate sem gols contra o Deportivo. O time queria usar a força de seu estádio e de sua torcida na volta e fazer bonito. E como fez! Com dois gols de Perotti, um de Mastrángelo e um de Salinas, o Boca goleou por 4 a 0 os colombianos e venceu sua segunda Libertadores consecutiva. O time coroava a zaga eficiente e o ataque preciso com mais um caneco internacional. Porém, seria o último daquele esquadrão.

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Nada de mundial e o fim do sonho do tri

Novamente, o Liverpool fez pouco caso do Mundial Interclubes e não chegou a uma data com o Boca para a disputa da competição em 1978. O vice-campeão europeu, o Brugge (BEL), também não demonstrou interesse e o torneio não foi realizado. O time de Buenos Aires perdia a chance de conquistar o bicampeonato mundial. Em 1979, o Boca avançou novamente até a final da Libertadores depois de passar pelo sufoco que foi as semifinais, contra Peñarol e Independiente, que exigiu uma partida extra de desempate contra o rival argentino, vencida pelo Boca por 1 a 0. Lutando pelo tri e por igualar o feito do Estudiantes (tricampeão em 68, 69 e 70), o time sucumbiu diante dos paraguaios do Olimpia, que venceu o primeiro jogo no Paraguai por 2 a 0 e segurou o empate sem gols em Buenos Aires. Em casa, o Boca perdia a chance de vencer sua terceira Libertadores.

Ali, na triste Bombonera, terminava o reinado dos azuis e dourados no continente. O time passaria por duas décadas esquecíveis até voltar a reinar nos anos 2000. Por isso, aquele time que teimava em não tomar gols e que vencia quase todos os adversários ficou por anos na cabeça do torcedor Xeneize como o maior esquadrão da história do clube, responsável pelas primeiras glórias internacionais do time e, acima de tudo, por inesquecíveis sapecadas no maior rival. Apenas isso já faz Mastrángelo, Salinas, Sá, Gatti, Suñé, Mouzo e o técnico Juan Carlos Lorenzo seres imortais na história do Boca. E também no futebol.

 

Os personagens:

Hugo Gatti: conhecido como “Loco” por seu estilo eclético e colorido, Gatti foi um dos maiores goleiros da história do futebol argentino e também um exímio pegador de pênaltis. Foi ídolo no Boca e um dos recordistas em partidas disputadas no Campeonato Argentino, com 765 jogos. Foi um dos primeiros goleiros a se arriscar na linha ajudando no toque de bola do time, algo que ficou mais conhecido com o goleiro mexicano Jorge Campos, na década de 90.

Vicente Pernía: lateral direito marcador e cheio de raça, Pernía foi ídolo no Boca, onde conquistou seis títulos. Mesmo brilhando no Boca, ficou de fora da Copa de 1978, perdendo a chance de ser campeão mundial com a seleção argentina.

Tarantini: lateral esquerdo, conquistou dois campeonatos nacionais e a Libertadores de 1977 pelo Boca. Hábil e bom marcador, Tarantini integrou o time da Argentina campeã mundial na Copa de 1978. Saiu do Boca naquele mesmo ano de 1978 e foi jogar na Inglaterra, para depois voltar e brilhar no rival, o River Plate.

Miguel Ángel Bordón: foi um ótimo marcador tanto nas pontas quanto no centro daquele time, e peça chave nas conquistas internacionais do Boca naqueles anos.

Sá: Francisco Sá causa inveja até hoje em todos os futebolistas sul-americanos. Motivo? Ele é o recordista em títulos da Libertadores: 6 títulos, 4 com o Independiente, de 1972 até 1975, e 2 com o Boca Juniors, em 1977 e 1978. Venceu, também, o Mundial de 1973 com o “Rojo” e o de 1977 com o Boca. Foi um dos ícones na zaga do time da Bombonera e um dos melhores na década de 70 na Argentina. Sua experiência foi fundamental nos títulos internacionais do Boca no período.

Roberto Mouzo: foi o grande xerife do Boca bicampeão da Libertadores de 77 e 78 e símbolo de liderança da equipe. Mouzo é até hoje o jogador com maior número de partidas disputadas na história do Boca, com 426 jogos. Foi um dos grandes zagueiros argentinos da década de 70.

Rubén Suñé: xodó da torcida, Suñé marcou o gol que deu ao Boca o título argentino de 1976 conquistado em cima do maior rival, o River Plate. Lateral e meio campista, foi outro símbolo de raça no clube que defendeu por mais de uma década.

Jorge José Benítez: foi um grande volante no Boca bicampeão da América. Foram 10 anos no clube azul e dourado e seis títulos conquistados.

Carlos Veglio: protagonizou junto com Zanabria ótimas tabelas e jogadas que resultavam em gol. Chegou veterano ao Boca depois de brilhar no San Lorenzo e marcou época no time de La Bombonera. Foi dele o gol da vitória do Boca sobre o Cruzeiro no primeiro jogo da final da Libertadores de 1977.

Mario Zanabria: meia habilidoso e de muita força, Zanabria colecionou títulos no Boca, mas foi ídolo no Newell´s Old Boys, seu clube anterior.

Carlos Horacio Salinas: outro meia atacante muito habilidoso e goleador, que fez uma ótima dupla com Mastrángelo no Boca. Jogou no clube de 1977 até 1980, participando exatamente dos principais títulos do time na época.

Mastrángelo: disputou 134 partidas pelo Boca e marcou 56 gols, a maioria em momentos decisivos. Era a referência no ataque do time e foi peça chave na conquista do bicampeonato da Libertadores e do Mundial. Foi idolatrado pela torcida nos cinco anos em que jogou no time.

Felman: teve papel importantíssimo na conquista do primeiro título mundial do Boca, em 1977, ao marcar um dos gols da decisão contra o Borussia, que teve vitória do Boca por 3 a 0. Foi ídolo, além do Boca, no Gimnasia y Esgrima.

Hugo Perotti: supriu muito bem a saída de Felman no ataque do Boca. Com sua habilidade, velocidade e precisão, foi goleador no time e marcou dois gols na vitória do Boca por 4 a 0 na decisão da Libertadores de 1978, em plena La Bombonera. Era muito identificado com o clube.

Juan Carlos Lorenzo (Técnico): o “Toto” foi o primeiro grande treinador do Boca e um dos maiores ídolos do clube, ao levar o esquadrão azul e dourado a seus primeiros títulos internacionais. Líder, extremamente inteligente e notável por armar equipes competitivas e precisas na defesa, Lorenzo fez do Boca o maior time da América do Sul em 1977 e 1978. Tem seu espaço na galeria dos maiores treinadores da história do clube e, também, do futebol argentino.

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Comentários encerrados

5 Comentários

  1. O Cruzeiro foi roubado nessa disputa de pênaltis contra o Boca, o juiz mandou voltar a primeira cobrança não convertida pelo Boca, a bola bateu na trave esquerda o Raul pulou para a direita, o juiz alegou que ele se mexeu antes da cobrança, um absurdo que a história não conta.

  2. Excelente la nota, hecha con grandeza y respeto hacia la verdad histórica de este equipo que protagonizó grandes y épicas batallas en aquellos años de mediados de los ´70, hasta conquistar el máximo logro del futbol: haber quedado en la memoria de propios y extraños por la Eternidad…todavía los recuerdo, destrozando a cuanto rival, nacional o internacional, les plantase cara en cada partido jugado. Era, precisamente eso: UN EQUIPO INVENCIBLE. Y como lo dice el amigo Valtencir mas arriba, generaba en sus adversarios (grandes rivales como River, Independiente, Peñarol, Cruzeiro, Mineiro, Libertad, Cali, el mismísimo Borussia, subcampeón de la Copa de Campeones de Europa, con 6 jugadores de la Manschaaff, campeones del Mundo en 1.974) una sola cosa: MIEDO, sí, MIEDO daba Boca, de sólo ver esa mística eterna y esos guerreros inoxidables que conquistaron el Universo, ganándose el lugar de privilegio en la Historia del Futbol Mundial. Gracias a los autores de la nota, hermoso recuerdo de mi infancia, cuando yo jugaba a ser Roberto Mouzo (cuando me ponían en la defensa) o Mario Zanabria (cuando jugaba de 10 por la izquierda)….Gracias Boca Juniors, te vamos a alentar hasta la muerte.
    P:D: dedicado a las gallinas que mienten descaradamente cuando dicen que Boca sólo comenzó a ganar a partir del 2.000….Boca ha sido cubierto de gloria desde el 3 de abril de 1.905, desde que fue creado por esos 5 desconocidos garotos en ese banco de la Plaza Solís de Bs. As….desde ese instante, nace la estrella incomensurable de su grandeza, PER SÉCULA SECULORUM.

  3. No es de extrañar que la historia de Boca Juniors en la escena del mundo del deporte. Se trata de un club ganador, más orientado a las controversias internacionales, que siempre está presente y puso el miedo en sus oponentes. No importa quién está en el campo vistiendo la camisa, ya sean jugadores como Maradona, Canigigia, Gati o Riquelme, o simplemente otro jugador sin fama, pero en la decisión de que todos son iguales y se convierten en grandes. Los títulos de la Copa Libertadores y Mundial de Clubes conquistado ya habla por sí mismo, no requieren comentario. Felicidades Boca Juniors, los brasileños que los admiramos.
    Valtencir Ribeiro de Assis- Juiz de Fora-MG- BR

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