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Craque Imortal – Alberto Spencer

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Nascimento: 06 de Dezembro de 1937, em Ancón, Equador. Faleceu em 03 de Novembro de 2006, em Cleveland, EUA.

Posição: Atacante

Clubes: Everest-EQU (1953-1959), Peñarol-URU (1960-1970) e Barcelona-EQU (1971-1972).

Principais títulos por clubes: 2 Mundiais Interclubes (1961 e 1966), 3 Copas Libertadores da América (1960, 1961 e 1966), 1 Supercopa dos Campeões Mundiais (1969) e 7 Campeonatos Uruguaios (1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968) pelo Peñarol.

1 Campeonato Equatoriano (1971) pelo Barcelona.

 

Principais títulos individuais:

Melhor jogador equatoriano do século XX pela IFFHS

20º Melhor jogador Sul-americano do século XX pela IFFHS

 

Artilharias:

Artilheiro do Campeonato Uruguaio: 1961 (18 gols), 1962 (17 gols), 1967 (11 gols) e 1968 (8 gols)

Artilheiro da Copa Libertadores da América: 1960 (7 gols) e 1962 (6 gols)

Maior artilheiro da história da Copa Libertadores da América: 54 gols

 

“O Homem-Gol da Libertadores”

Por Guilherme Diniz

O Peñarol da década de 1960 entrou para a eternidade como uma das maiores equipes do mundo. Colecionador de títulos, principalmente continentais, o time uruguaio tinha jogadores de respeito, talento e muita criatividade. Porém, um deles se destacava por reunir todos esses atributos e muito mais: o equatoriano Alberto Spencer. Atacante nato, matador e liso com a bola nos pés, ele foi o homem gol da Copa Libertadores da América ao anotar espantosos 54 gols na carreira disputando a principal competição das Américas. Maior joia da história do futebol do Equador, Spencer foi um dos grandes ídolos do clube aurinegro e é um dos grandes goleadores do futebol sul-americano, além de ser um dos maiores fazedores de gols de cabeça que se tem notícia, o que lhe deu o apelido de “cabeça mágica”. O Imortais relembra agora a carreira e os feitos desse brilhante jogador.

 

Despontando para o gigante uruguaio

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Filho de um jamaicano de origem britânica e de uma equatoriana, Spencer cresceu no meio do futebol pelo fato de seu irmão ser jogador. Em 1954, foi levado para o Everest, pequeno clube da cidade de Guayaquil, no Equador. Com muita habilidade, rapidamente subiu para o time titular e passou a integrar o ataque titular da equipe. Dirigentes e jogadores logo perceberam a ótima qualidade do futuro craque com a cabeça, o que resultava em muitos gols. Em 1959, emprestado ao Barcelona de Guayaquil, Spencer participou de um amistoso contra o poderoso Peñarol, do Uruguai, e jogou muito naquele jogo. Logo ao término da partida, o então técnico do time aurinegro Hugo Bagnulo exigiu a contratação do equatoriano, o que de fato aconteceu. Começaria ali o estrelato do jovem atacante.

 

Pronto para arrebentar

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Spencer estreou no Peñarol no mês de março de 1960 em uma partida contra o Atlanta, da Argentina. O clube uruguaio venceu por 6 a 3 com três gols do equatoriano. Tempo depois, marcaria mais dois em um jogo contra o Tigre, também da Argentina, e prontamente seria o grande artilheiro do clube. No Uruguai, Spencer ajudou o Peñarol a conquistar o Campeonato Nacional daquele ano, quando o clube venceu 11 jogos, empatou seis e perdeu apenas um. Mas a menina dos olhos da temporada seria uma inédita competição: a Copa Libertadores da América.

 

O nascimento da Libertadores

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Em março de 1959, durante o 30º Congresso da Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) os dirigentes do continente deram sinal positivo para a ideia apresentada por Chile e Brasil para a criação de um campeonato de clubes campeões envolvendo diversos países. O primeiro esboço de um torneio nesses moldes ocorreu no longínquo ano de 1948, quando dirigentes do Colo Colo (CHI) conseguiram reunir os grandes campeões de vários países da América do Sul de 1947 para um torneio continental, que foi vencido pelo Vasco (BRA). Porém, a ideia ficou restrita àquela edição, e somente uma década depois o assunto voltou à tona. Depois de muita discussão, apontamentos e organização da estrutura do torneio foi criada em definitivo no ano de 1960 a Copa Libertadores da América, com o nome homenageando os heróis independentistas do continente e com seis times participantes: San Lorenzo (ARG), Jorge Wilstermann (BOL), Bahia (BRA), Universidad de Chile (CHI), Millonarios (COL), Olimpia (PAR) e Peñarol (URU). O primeiro jogo ocorreu em abril, com o campeão uruguaio Peñarol goleando o Jorge Wilstermann (BOL) por 7 a 1, com 4 gols de Spencer. O time aurinegro (e Spencer) começava ali a escrever a história do torneio, bem como a sua própria.

 

Pioneiros

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O Peñarol partiu em busca do título inédito como grande favorito. Depois da goleada por 7 a 1 e do empate em 1 a 1 contra os bolivianos, o time avançou até as semifinais. No duelo contra os argentinos do San Lorenzo, após dois empates em 1 a 1 e 0 a 0, um terceiro jogo, no Uruguai, decidiu o finalista, o Peñarol, que venceu por 2 a 1 com dois gols de Spencer. A final foi contra o Olimpia, do Paraguai. No primeiro jogo, em Montevidéu, o goleador Spencer fez o único gol do jogo e se consagrou como o primeiro artilheiro da competição na história, com 7 gols. Na volta, no Paraguai, o empate em 1 a 1 garantiu o primeiro título continental do clube uruguaio, bem como o privilégio de ser o primeiro campeão da competição. O título coroou uma equipe que não tinha rivais em seu país (em 1960 foi conquistado o tricampeonato nacional) e que precisava de um torneio do porte de uma Libertadores para provar o seu valor. De quebra, Spencer conseguia a visibilidade para se tornar um dos maiores na década.

 

Derrota no primeiro Mundial

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Como campeão da América, o Peñarol disputou a primeira edição do Mundial Interclubes, criado também em 1960, por iniciativa do presidente do Real Madrid à época, Santiago Bernabéu. O torneio reunia o campeão da Liga dos Campeões da UEFA (Real Madrid) e o campeão da Libertadores (Peñarol), que iriam decidir em dois jogos o título de melhor equipe do mundo. No primeiro jogo, no Uruguai, o Real segurou o empate em 0 a 0. Na volta, em Madrid, Puskás, Di Stéfano, Gento e companhia deram um baile nos aurinegros: 5 a 1, com o gol solitário do Peñarol marcado por Spencer, resultado que deu aos merengues o primeiro título do torneio na história. A derrota, porém, não abalou os uruguaios, muito menos Spencer, que seguiria fazendo história.

 

Novos shows

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Em 1961 Spencer foi pela primeira vez artilheiro do Campeonato Uruguaio com 18 gols marcados. O craque já estava consagrado como um legítimo matador e queria continuar a provar seu talento. Na Libertadores daquele ano, Spencer marcou dois gols na goleada sobre o Universitario (PER) no primeiro jogo da primeira fase, em casa, por 5 a 0. Na volta, o time aurinegro perdeu por apenas 2 a 0 e se garantiu nas semifinais para enfrentar o Olímpia. Contra os paraguaios, duas vitórias: 3 a 1 e 2 a 1. Depois de passar em branco nas semis, Spencer anotou o único gol da vitória do Peñarol no primeiro jogo da final contra o Palmeiras de Djalma Santos, Geraldo, Julinho Botelho, Chinesinho e do técnico Osvaldo Brandão. Na volta, no Pacaembu, empate em 1 a 1, que garantiu o segundo título consecutivo da Libertadores para o Peñarol. O caneco simbolizava a hegemonia do clube no continente, e a coroação de uma equipe incrível, que tinha no esquema 4-2-4 / 4-4-2 o alicerce para construir vitórias incontestáveis, quase sempre com muitos gols. Mais uma vez Spencer foi um dos destaques do time. Com mais uma Liberta em mãos, era hora de tentar o título mundial, que escapara no ano anterior.

 

No topo do Mundo

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Já experiente pelo ano anterior, o Peñarol enfrentou o perigoso Benfica (POR) de Eusébio, primeiro campeão europeu depois dos cinco títulos do Real Madrid, na final do Mundial Interclubes. A grande diferença da disputa de 1961 para a de 1960 foi que o clube uruguaio iria decidir em casa o título. O primeiro jogo, no estádio da Luz, em Lisboa, teve vitória portuguesa por 1 a 0. Na volta, no Centenário, o Peñarol se inflou, mostrou o extremo de sua eficiência e massacrou os europeus: 5 a 0, com dois gols de Spencer. Com uma vitória para cada lado, foi necessária uma terceira partida, também no Uruguai. Empolgado com a goleada de dois dias antes, o Peñarol voltou a vencer, por 2 a 1, com dois gols de Sasía, e conquistou pela primeira vez em sua história o título de campeão mundial de futebol. Era o topo que o clube buscava há anos, e a redenção pela perda do título no ano anterior.

 

O pentacampeonato uruguaio

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Dono do mundo, o Peñarol começou 1962 em seu auge. O time era o mais temido da América e ficara conhecido por todos. O esquadrão aurinegro fechou seu período de conquistas nacionais com o pentacampeonato uruguaio, com Spencer como artilheiro pela segunda vez seguida (16 gols). Foi o 16º título nacional da equipe na história. A torcida não se cansava de comemorar, ainda mais com a titularidade de novas joias como Caetano e Pedro Rocha (que seria ídolo no São Paulo anos mais tarde). Mas os uruguaios queriam mesmo era o tri da Libertadores.

 

O choque com o Rei

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Como então campeão, o Peñarol de Spencer pôde entrar direto nas semifinais da Libertadores de 1962. Mas o time teve de enfrentar logo de cara seu maior rival, o Nacional (URU). Na primeira partida, vitória dos tricolores uruguaios por 2 a 1. No jogo seguinte, vitória do Peñarol por 3 a 1 com dois gols dele, claro, Spencer. Uma nova partida teve de ser marcada, com empate em 1 a 1 (um gol de Spencer), resultado que classificou o time aurinegro para sua terceira final consecutiva de Libertadores. O adversário seria o Santos, que começava a se notabilizar no Brasil por suas apresentações mágicas. Os uruguaios sentiram a força do time brasileiro logo na primeira partida, no Uruguai, que teve vitória do peixe por 2 a 1, gols de Coutinho (2), com Spencer marcando para o Peñarol. Na volta, em uma partida extremamente tumultuada, com paralizações e objetos atirados em campo, o Peñarol resistiu e venceu o Santos em plena Vila Belmiro por 3 a 2, com show de Spencer, que marcou dois gols. O jogo decisivo ficou para a Argentina, no estádio Monumental. Porém, se o equilíbrio entre Santos e Peñarol foi evidente nas duas primeiras partidas, o mesmo não se viu nesse último jogo. O motivo? Pelé retornou ao time brasileiro após sua ausência nas duas primeiras partidas. E, claro, a presença do Rei do futebol foi decisiva e desequilibrou totalmente o embate. Ele marcou dois gols na vitória do Santos por 3 a 0, que colocou fim a hegemonia do Peñarol na competição. Aquela derrota seria um marco negativo para o clube, que só voltaria a brilhar na Libertadores em 1966.

 

Muitos gols, poucos títulos

 

 

O Peñarol começou a partir de 1962 a viver uma seca de títulos continentais. Spencer e companhia passaram a brilhar apenas no Campeonato Uruguaio, vencido pelos aurinegros em 1964, 1965, 1967 e 1968. Porém, Spencer continuou a marcar muitos, muitos gols, como na Libertadores de 1963 quando ele reencontrou seu antigo clube, o Everest, e sapecou sem dó o rival: 9 a 1, com cinco gols dele, um recorde. Porém, aqueles seriam os únicos gols do craque na competição, pois o Peñarol seria eliminado nas semifinais pelo Boca Juniors. Depois de temporadas mornas, eis que chegou o ano de 1966. O Peñarol queria retomar o posto de maior campeão continental e encarou uma Libertadores dificílima. Em um grupo com seis equipes, o time uruguaio teve pela frente o rival Nacional, que venceu os aurinegros logo na primeira partida por 4 a 0. O revés serviu como motivação para o Peñarol mostrar quem mandava na América. Spencer, Caetano, Joya, Pablo Forlán e Pedro Rocha conduziram com maestria a equipe nas partidas seguintes. De 10 jogos foram 8 vitórias e apenas 2 derrotas. Spencer marcou três gols na primeira fase, ajudando a equipe a avançar para as semifinais. O time encarou novamente o Nacional no triangular e venceu os dois jogos: 3 a 0 e 1 a 0, garantindo a vaga na final.

Tricampeões

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Na final contra o River Plate, do goleador Onega, o Peñarol mostrou poder de decisão e faturou seu terceiro título continental. Na primeira partida, em Montevidéu, vitória por 2 a 0. Na segunda partida, em Buenos Aires, vitória do River por 3 a 2 com um gol de Spencer. Na partida decisiva, o Peñarol estava perdendo por 2 a 0 para os argentinos no primeiro tempo quando, na segunda etapa, deu show: 4 a 2, com dois gols de Spencer. Foi nessa partida que surgiu um dos apelidos mais conhecidos no futebol mundial em referência a uma equipe, mas de maneira bem pejorativa: “Galinhas”. O título foi a coroação de uma geração brilhante do Peñarol e, consequentemente, de Spencer como um dos maiores goleadores e decisivos jogadores do continente. Porém, ainda tinha o Mundial.

Maravilhosa revanche

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O Peñarol teve que esperar seis anos até conseguir uma revanche contra o Real Madrid pela perda do título mundial de 1960. Com um esquadrão bem mais forte que aquele do começo da década, o clube uruguaio deu show nos dois jogos: vitória por 2 a 0 em Montevidéu, com dois gols de Spencer, e nova vitória pelo mesmo placar em Madrid, com um gol de Spencer e outro de Pedro Rocha. Enfim, o clube aurinegro se vingava do Real e conquistava seu bicampeonato mundial. Spencer comemorou como nunca, e sabia que aquela conquista poderia ser uma das últimas de sua brilhante carreira.

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Os últimos lampejos

 

A partir de 1967, Spencer e o Peñarol não conseguiram manter o ótimo ritmo de conquistas da década e só faturaram os campeonatos uruguaios de 1967 e 1968, além de uma pouco prestigiada Supercopa dos Campeões Mundiais. Em 1970, Spencer decidiu voltar para sua terra natal e jogar no Barcelona de Guayaquil, onde foi campeão nacional em 1971. Em 1972, depois de já ter marcado 528 gols na carreira, decidiu pendurar as chuteiras em definitivo.

 

Uma lenda do Equador

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Spencer foi brilhante na América do Sul e, por nunca ter disputado uma Copa do mundo ou ter tido destaque na fraca seleção do Equador, foi pouco conhecido na Europa. Isso fez ele perder em prestígio para outros jogadores daqui e ter trajetória similar a Di Stéfano e George Best, por exemplo, que também foram figuras mágicas em seus clubes, mas com pouco ou nenhum brilho em suas seleções. Spencer ficou marcado para sempre, também, pela extrema habilidade com a cabeça, como ninguém menos que Pelé reconheceu uma vez:

“Um jogador que cabeceava melhor que eu era o Spencer. Eu era bom, mas Spencer era espetacular cabeceando ao gol. Ele tinha uma explosão incrível”, comentou o Rei do futebol.

Ídolo do Peñarol, Spencer faleceu em 2006, aos 68 anos, vítima de um problema cardíaco. Como homenagem, a Federação Equatoriana de Futebol decidiu renomear o Estádio Modelo em Guayaquil para Estádio Modelo Alberto Spencer Herrera. Uma justa e linda homenagem àquele que tanto brilhou e tanto marcou gols por mais de uma década, sendo o mais notável jogador que o Equador já produziu. Um imortal do futebol.

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Peñarol 1960-1962

Peñarol 1966

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