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Esquadrão Imortal – São Paulo 2005-2006

São_Paulo_2005
Em pé: Amoroso, Fabão, Rogério Ceni, Lugano, Danilo e Edcarlos. Agachados: Aloísio, Júnior, Josué, Cicinho e Mineiro.

 

Grandes feitos: Campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2005), Campeão da Copa Libertadores da América (2005), Campeão Brasileiro (2006) e Campeão Paulista (2005).

Time base: Rogério Ceni; Fabão, Lugano (Miranda) e Edcarlos (Alex); Cicinho (Ilsinho / Souza), Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Luizão (Aloísio / Diego Tardelli) e Amoroso (Grafite / Leandro). Técnicos: Emerson Leão e Paulo Autuori (2005) e Muricy Ramalho (2006).

Dentre os grandes, és novamente o primeiro

 

Por Guilherme Diniz

 

Depois de anos de dramas, títulos perdidos, crises, escassez de ídolos e a fama de “amarelão”, enfim, o torcedor do São Paulo pôde comemorar com juros em 2005. Com uma equipe cascuda, chata de se enfrentar, e extremamente talentosa, o tricolor paulista papou três canecos na temporada que fez ressurgir a imponência do clube do Morumbi no cenário continental e mundial. O time era impecável no Morumbi, perigoso fora dele, e transbordava eficiência na zaga e no meio de campo, com o paredão Lugano e os “gêmeos” Mineiro e Josué. Na frente, Danilo ganhou o apelido de “Zidanilo” por conta das atuações magistrais, principalmente na Libertadores. No ataque, Luizão foi o senhor Liberta, e Amoroso a estrela que faltava para dar mais alegria e velocidade à comissão de frente, que era muito bem servida pelos laterais Júnior, pela esquerda, e o fenomenal Cicinho, pela direita. E no gol? Oras, simplesmente Rogério Ceni, que marcou gols em profusão em 2005 e começou a construir sua imortalidade no rol de ídolos do São Paulo.

O goleiro, aliás, foi o maior responsável pelo tricampeonato mundial no Japão, quando pegou tudo e mais um pouco na partida contra o marrento Liverpool e, em 2006, se transformou no maior goleiro-artilheiro de todos os tempos, superando o paraguaio Chilavert. No mesmo ano, o tricolor teve que superar as perdas de Lugano, Cicinho e Amoroso, além de inesperados três vice-campeonatos (Paulista, Libertadores e Recopa), para dar a volta por cima e acabar com outro jejum, dessa vez no Campeonato Brasileiro, que não ia para a galeria tricolor há 15 anos. O tetra nacional serviu para sacramentar o 4-3-3 tricolor. Esquema tático? Que nada! Apenas a referência aos títulos Brasileiros, Mundiais e da Libertadores do tricolor. É hora de relembrar as façanhas do mais cascudo São Paulo de todos os tempos.

 

O início vem da derrota

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O São Paulo que conquistaria a América e o Mundo em 2005 começou a ser construído em 2004, pelo então técnico Cuca. O time do Morumbi, que depois de 10 anos conseguia voltar a uma Libertadores, graças ao terceiro lugar no Brasileiro de 2003, trouxe vários reforços vindos do Goiás, sensação da competição nacional. Danilo, Grafite e Fabão integraram o elenco do tricolor (que já tinha Rogério Ceni, Luís Fabiano e Gustavo Nery). Junto com eles, chegaram Cicinho (vindo do Atlético-MG), Júnior (vindo do Parma-ITA) e Rodrigo (vindo da Ponte Preta), que deram a força que faltava ao time na zaga e na lateral (esta carente desde os tempos de Fábio Aurélio e Belletti). Pronto, o São Paulo estava devidamente reforçado para fazer bonito em sua volta à Libertadores, em 2004. O time foi bem, se classificou na primeira posição de seu grupo na primeira fase e eliminou o Rosário Central, nas oitavas, e o Deportivo Táchira, nas quartas. A equipe estava embalada, jogava bem, e mostrava muita força dentro de casa.

Porém, ninguém esperava que um certo Once Caldas-COL fosse acabar com o sonho tricolor de ir para uma hipotética final contra o Boca Juniors-ARG. No primeiro jogo, com mais de 70 mil pessoas no Morumbi, o time colombiano segurou o São Paulo, que ficou no empate em 0 a 0. Na volta, na Colômbia, o jogo estava empatado em 1 a 1 até perto do fim da partida quando o Once Caldas conseguiu o gol da vitória: 2 a 1. O São Paulo era eliminado de maneira trágica e dolorosa, e a pressão da torcida aumentou ainda mais. Alguns jogadores saíram e a equipe perdeu força. O Brasileiro serviu apenas para o time conquistar novamente a terceira colocação e a vaga na Libertadores de 2005. Dessa vez, porém, os erros e a desatenção de 2004 não seriam cometidos.

 

Tinindo

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O São Paulo ganhou mais reforços em 2005. Vieram os volantes Josué e Mineiro e o atacante Luizão, este mais por conta da experiência na Copa Libertadores (competição que o matador já havia vencido, em 1998, com o Vasco). Comandado pelo técnico Emerson Leão, o tricolor disputou o Campeonato Paulista como um laboratório para a competição continental. E que laboratório! O time dominou o torneio, que foi disputado por 20 clubes, em pontos corridos, e venceu seu 20º estadual com duas rodadas de antecedência. O caneco veio após um empate sem gols com o Santos, em Mogi Mirim. A equipe foi soberana em quase tudo: mais vitórias (14), melhor ataque (49 gols) e segunda melhor defesa (21 gols sofridos). O título foi um ótimo aquecimento para a menina dos olhos do time: a Libertadores.

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Sem rivais na primeira fase

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O São Paulo passou fácil pelos rivais na primeira fase da Libertadores. O time estreou contra o The Strongest, na Bolívia. Em plena altitude, o time brasileiro até que começou vencendo, com gol de Danilo, mas os bolivianos viraram para 3 a 1. Na segunda etapa, Luizão, aos 12´, e Grafite, aos 42´, arrancaram um heroico empate. Na partida seguinte, goleada pra cima da Universidad de Chile: 4 a 2, com gols de Lugano, Rogério Ceni, Cicinho e Grafite. Na sequência, empate em 2 a 2 contra o Quilmes, na Argentina (gols de Diego Tardelli e Grafite) e vitória contra os argentinos, no Morumbi, por 3 a 1 (dois gols de Diego Tardelli e um de Cicinho), num jogo polêmico onde o zagueiro Desábato xingou o atacante Grafite de “macaco” e teve que se explicar na delegacia.

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Na quinta partida da fase de grupos, o São Paulo viajou para o Chile sem técnico, pois Emerson Leão havia deixado o clube para treinar um time do Japão. Milton Cruz, eterno salvador do tricolor, comandou a equipe no empate em 1 a 1 com a Universidad (gol de Luizão). No último jogo, contra o The Strongest, no Morumbi, o time já estava de técnico novo: Paulo Autuori, vencedor da Libertadores de 1997, pelo Cruzeiro. O experiente treinador havia feito sua estreia pelo Campeonato Brasileiro, na histórica goleada de 5 a 1 sobre o Corinthians “galáctico” de Roger, Carlos Alberto, Gustavo Nery e o técnico Daniel Passarela, que foi demitido após o jogo. Autuori comandou a equipe na vitória fácil por 3 a 0 (gols de Edcarlos, Luizão e Grafite). O tricolor, sem dramas, estava nas oitavas de final. E pronto para qualquer desafio.

 

Freguês nas oitavas

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O São Paulo teve pela frente o rival Palmeiras logo nas oitavas de final da Libertadores de 2005. O rival trazia receio ao tricolor, mas o retrospecto era todo favorável ao São Paulo, que sempre se dava bem contra o Palmeiras em jogos pela Libertadores. O primeiro jogo foi no lotado Parque Antártica. O Palmeiras tentou colocar pressão, mas foi o São Paulo que dominou o rival. O time mostrou maturidade, eficiência e pegada de Libertadores para vencer por 1 a 0, num golaço monumental do lateral direito Cicinho, que fazia sua melhor temporada na carreira. O gol foi crucial para o tricolor, que poderia jogar pelo empate na volta, no Morumbi.

Cicinho (à esq.) comemora seu golaço no primeiro jogo da Libertadores de 2005.

 

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Cicinho vibra: lateral foi carrasco do Palmeiras em 2005.

 

Com mais de 60 mil pessoas, o São Paulo não teve vida fácil contra o Palmeiras. O jogo foi tenso, disputado, e o tricolor teve que se virar com um a menos (Josué foi expulso no começo do segundo tempo) em boa parte do jogo. Até que, aos 36´, pênalti para o São Paulo. Rogério bateu e fez o gol: 1 a 0. Nos acréscimos, Cicinho, de novo, provou que era mesmo o carrasco alviverde e marcou o segundo gol do jogo, garantindo a classificação do São Paulo.

Goleiro artilheiro

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Nas quartas de final, o São Paulo encarou o Tigres, do México. No primeiro jogo, no Morumbi, o time brasileiro não tomou conhecimento dos mexicanos e goleou: 4 a 0, com dois gols de Rogério Ceni, ambos de falta, um de Luizão e um de Souza. Rogério só não foi mais épico na partida porque perdeu um pênalti, quando o jogo já estava 4 a 0 para o São Paulo. Mas o gol perdido nem fez falta, pois o São Paulo perdeu por apenas 2 a 1 na volta, no México, e se garantiu pelo segundo ano seguido na semifinal da competição. Aquela derrota foi a única do time em toda a Libertadores.

Haja coração!

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O São Paulo teve pela frente simplesmente o River Plate, da Argentina, nas semifinais da Libertadores. O esquadrão argentino tinha feito a melhor campanha da primeira fase e contava com um time de respeito: Lucho González, Mascherano, Farías, Gallardo e Salas.  A equipe fazia a primeira partida no Morumbi e teria que se virar com as ausências de Cicinho (na seleção) e Edcarlos (seleção sub-20). Mineiro foi para a lateral e Alex, ex-Santo André, foi escalado para a zaga. No entanto, o time contava com um reforço de peso: o atacante Amoroso, contratado às vésperas da partida para suprir a ausência de Grafite, lesionado.

O River, embora fosse letal no ataque, jogou para empatar e ficou fechadinho na primeira etapa do jogo, conseguindo o 0 a 0. Para o segundo tempo, Paulo Autuori colocou Souza e mudou o jogo. O meia infernizou a zaga do River e o São Paulo passou a criar mais, porém, o gol não saia. O filme de 2004, quando o tricolor empatou sem gols em casa e perdeu fora, para o Once Caldas, começava a rondar a cabeça do torcedor, que ficou agonizado.

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Mas, aos 31´, tudo mudou. Danilo, depois de uma bola rebatida pela zaga argentina, encheu o pé e abriu o placar para o São Paulo, explodindo o Morumbi. O gol incendiou o time brasileiro, que sufocou o River em seu campo de defesa. Foi então que Luizão fez uma ótima jogada pela direita, cruzou, e o volante Lucho González botou a mão na bola: pênalti! Rogério bateu e fez o segundo gol, aos 43´: São Paulo 2 a 0. Festa no Morumbi! O resultado permaneceu assim até o final do jogo e o tricolor conseguiu levar uma vantagem considerável para a partida de volta, no caldeirão do Monumental de Núñez. A final estava muito mais próxima.

 

A primeira vitória na Argentina

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O São Paulo foi para a “guerra” contra o River Plate com uma enorme vantagem de poder perder por até um gol de diferença. Mesmo assim, o tricolor não se intimidou com o estádio Monumental e fez do local a sua casa. Danilo, aos 11´, abriu o placar para o São Paulo. Farías, aos 35´, empatou. No segundo tempo, contra ataque fatal do São Paulo e Amoroso marcou o primeiro dele na Libertadores, aos 13´: 2 a 1. Aos 34´, Fabão fez 3 a 1 e Salas, aos 38´, descontou, mas era tarde: São Paulo 3×2 River Plate. O tricolor conquistava a sua primeira vitória na Argentina em competições internacionais, enterrava o fantasma que o assombrou no ano anterior e chegava à final da Libertadores depois de 11 anos. Era hora de lutar pelo tri.

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Duelo doméstico

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Em pé: Rogério Ceni, Fabão, Lugano, Alex e Danilo. Agachados: Luizão, Júnior, Amoroso, Cicinho, Mineiro e Josué.

 

Em 2005, pela primeira vez na história, a Copa Libertadores foi decidida por equipes de um mesmo país. De um lado, o São Paulo, bicampeão e louco pelo tri inédito para o futebol brasileiro. Do outro, o surpreendente Atlético-PR, comandado pelo experiente Antônio Lopes. As equipes travaram uma batalha antes mesmo de os jogos começarem, nos bastidores. O São Paulo contestou e conseguiu vetar uma arbitragem caseira nas partidas decisivas, e árbitros estrangeiros apitaram os jogos. Outra batalha foi com relação ao campo da primeira partida. O Atlético queria que a sua casa, a Arena da Baixada, fosse o palco do embate. Porém, por não comportar o número mínimo exigido pela Conmebol para um jogo final (40 mil pessoas) o estádio foi vetado.

Essa decisão provocou a ira dos dirigentes atleticanos, que foram obrigados a levar o jogo para o gélido e distante Beira-Rio. Sem sua torcida e longe de casa, o Atlético não conseguiu encurralar o São Paulo como pretendia e apenas empatou em 1 a 1, com direito a gol contra de Durval a favor do tricolor. O resultado foi ótimo para o São Paulo, que só precisava vencer em casa para ficar com o tricampeonato da América.

O Tricolor de 2005: laterais eram quase meias, volantes pareciam gêmeos tamanha precisão e ataque resolvia quando mais era preciso. A zaga? Era simplesmente impecável.
O Tricolor de 2005: os laterais eram quase meias, volantes pareciam gêmeos tamanha precisão e ataque resolvia quando mais era preciso. A zaga? Simplesmente impecável.

 

Tricampeão!

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Na decisão, mais de 71 mil pessoas lotaram o Morumbi, que virou um caldeirão apoteótico. O Atlético sentiu a pressão do estádio do São Paulo e não jogou absolutamente nada. Já o tricolor, completo e tinindo, desfilou. Amoroso abriu o placar aos 16´do primeiro tempo. No finalzinho da primeira etapa, o Atlético esboçou uma reação com um pênalti a seu favor, mas Fabrício chutou na trave. No segundo tempo, o São Paulo dominou ainda mais o adversário e fez 2 a 0 com Fabão, de cabeça, aos 7´. O zagueirão chorou de emoção. Vinte minutos depois, foi a vez de outro jogador chorar: Luizão, autor do terceiro gol.

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No final do jogo, houve tempo para Diego Tardelli, aos 43´, dar números finais ao jogo: São Paulo 4×0 Atlético-PR. O tricolor aplicava outra goleada em uma final de Libertadores (a exemplo de 1993, quando fez 5 a 1 na Universidad Católica) e conquistava de maneira inquestionável sua terceira Libertadores com 9 vitórias (sete em casa), quatro empates e uma derrota, com 34 gols marcados e 14 sofridos. De quebra, se tornava o primeiro clube do Brasil a ser tricampeão. O Morumbi explodiu de alegria, e Rogério Ceni, o capitão, pôde realizar o sonho de erguer o tão cobiçado troféu. Depois de 12 anos, o São Paulo era, de novo, o rei da América.

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Treinos para o Mundial

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Com a Libertadores no Morumbi, o São Paulo ficou de ressaca e desprezou sem dó o Campeonato Brasileiro de 2005, que ficaria marcado pelo escândalo de manipulação de resultados, conhecido como a “Máfia do Apito”, que teve como principal nome o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, que apitou, inclusive, o jogo São Paulo 3×2 Corinthians, no Morumbi, em que Amoroso deu show e o tricolor manteve a freguesia do rival na época. O jogo, porém, foi remarcado e houve empate em 1 a 1. Mas a torcida tricolor não esqueceu de jeito nenhum o primeiro jogo… No mesmo Brasileiro, o São Paulo deu um de seus mais memoráveis shows: uma goleada de 6 a 1 sobre o Flamengo, no Rio, com gols de Edcarlos (2), Amoroso, Thiago, Mineiro e Souza. O time estava embalado. E pronto para o Mundial.

 

De volta ao Japão

O São Paulo voltou ao Japão em dezembro de 2005, mais de uma década depois de ter feito história na terra do sol nascente, quando venceu Barcelona e Milan e abocanhou o bicampeonato mundial. Dessa vez, o time disputava o Mundial de Clubes da FIFA, novamente organizado pela entidade máxima do futebol depois de um hiato de cinco anos. O clube do Morumbi era o favorito, ao lado do Liverpool, da Inglaterra, que tinha conquistado de maneira épica a Liga dos Campeões da UEFA sobre o Milan. Mas antes da final, era preciso passar pelas semis, na qual o São Paulo não teve vida fácil e suou para vencer o Al-Ittihad, da Arábia Saudita, por 3 a 2, com gols de Amoroso (2) e Rogério Ceni. Passado o susto, era hora de se preparar para a decisão.

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No Mundial, o São Paulo deixou para trás o lado ofensivo de seus laterais para se fechar na defesa contra o Liverpool. Com Rogério, Lugano e Mineiro beirando a perfeição, o time faturou o tri.

 

A final

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O São Paulo viu o Liverpool passear nas semifinais ao golear por 3 a 0 o Deportivo Saprissa, da Costa Rica. Muitos temiam que o Liverpool pudesse vencer fácil, também, o tricolor, principalmente pelo fator Peter Crouch, o gigante que anotou dois gols na primeira partida dos reds. Porém, para a sorte dos brasileiros, o técnico Rafa Benítez não escalou o grandalhão, o que facilitou muito as coisas para o São Paulo. Na decisão, o Liverpool foi melhor desde o início, dando muito trabalho para a zaga brasileira. Porém, quando o São Paulo agredia, era mais incisivo e direto. Foi então que aos 26´do primeiro tempo, Aloísio recebeu e tocou para Mineiro, o elemento surpresa, fazer o primeiro gol do jogo e acabar com a invencibilidade de mais de 1000 minutos do Liverpool sem levar gols: São Paulo 1×0 Liverpool. O pequenino Mineiro furava a gigante zaga composta por Hyypia e Carragher e colocava o tricolor na frente. A partir dali, no entanto, começou um verdadeiro teste para cardíacos.

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O Liverpool pressionou demais, chutou inúmeras bolas, teve inúmeros escanteios, mas não conseguia fazer gols. Quer dizer, até fez (três!), mas o excelente bandeirinha do jogo, e o árbitro Benito Archundia, anularam por impedimento. O São Paulo se defendia como podia e presenciava atuações simplesmente fantásticas de Lugano, Mineiro e principalmente do goleiro Rogério Ceni, que fechou o gol com defesas sensacionais. O tricolor foi bem aquém de suas raízes, mas conseguiu segurar a vitória até o apito final: São Paulo campeão! Tricampeão! O time se igualava aos gigantes Real Madrid, Milan, Peñarol, Nacional e Boca Juniors como tricampeão mundial de futebol, e colocava fim a série de revezes dos clubes brasileiros contra europeus em mundiais. O tricolor chegava ao topo do mundo e era o primeiro brasileiro a estar lá por três vezes. Era o final de ano perfeito para um ano mais que perfeito para o torcedor são-paulino.

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Muricy mantém a pegada do campeão

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Em 2006, o São Paulo perdeu o técnico Paulo Autuori, o atacante Amoroso e o lateral Cicinho, peças fundamentais para as conquistas de 2005, e teve que se reorganizar para manter o embalo em busca de mais glórias. No banco, chegou o treinador Muricy Ramalho. No ataque, Ricardo Oliveira chegou para manter a qualidade perdida com a saída de Amoroso. Na lateral, o time teve que improvisar com Souza (Ilsinho seria titular apenas depois). No Campeonato Paulista, o time amargou o vice, mas a torcida nem deu bola, afinal, o foco era a Libertadores. Na competição continental, o time foi líder de seu grupo, mas sofreu duas derrotas amargas, ambas por 2 a 1 e ambas para o Chivas Guadalajara-MEX, que impôs a primeira derrota em casa do tricolor desde 1987 na competição.

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Nas oitavas, novamente o Palmeiras pela frente, e novamente o São Paulo saiu vitorioso: empate em 1 a 1 no primeiro jogo e vitória por 2 a 1 no segundo. Nas quartas, duelo complicado contra o Estudiantes (ARG). O tricolor perdeu o primeiro jogo por 1 a 0, venceu pelo mesmo placar a volta, e ganhou nos pênaltis por 4 a 3, com show de Rogério, que defendeu um pênalti e marcou um dos gols. Nas semis, o time brasileiro iria reencontrar o algoz da primeira fase: o Chivas.

Bebim de felicidade!

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O São Paulo deu o troco no Chivas Guadalajara nas semifinais da Libertadores de 2006. No primeiro jogo, no México, o time jogou com maturidade e eficiência de campeão e venceu por 1 a 0, gol de Rogério Ceni, que se igualava a Chilavert em números de gols marcados. Na volta, no Morumbi, o São Paulo atropelou. No começo do jogo, o Chivas teve um pênalti, causando susto nos brasileiros, mas Rogério mostrou novamente que era um gigante e defendeu de maneira magnífica. A defesa serviu para embalar o tricolor, que fez 3 a 0 nos mexicanos, com Leandro, Mineiro e Ricardo Oliveira. Com classe, com show, o São Paulo estava na final novamente.

 

A derrota onde menos se esperava

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O São Paulo protagonizou, pelo segundo ano consecutivo, a segunda final entre times de um mesmo país na Libertadores. Só que, em 2006, o adversário era o poderoso Internacional de Fernandão, Rafael Sóbis, Fabiano Eller, Jorge Wagner, Alex e Tinga. O time colorado havia perdido apenas um jogo e mostrava força não só em casa, mas também fora. O São Paulo decidiu o primeiro jogo no Morumbi com mais de 71 mil pessoas. Mas o que era para ser uma festa virou pesadelo. Josué, o incansável volante tricolor, foi expulso logo com nove minutos de jogo, colocando toda a tática de ataque do São Paulo por água abaixo. Com isso, o Inter foi mais ofensivo até ele perder um volante, também, aos 38´ da primeira etapa, quando Fabinho levou o vermelho.

No segundo tempo, o jogo pegou fogo, ou melhor, o Inter colocou fogo. Rafael Sóbis, arisco e letal, marcou duas vezes e colocou o Inter muito próximo do título. O zagueiro tricolor Edcarlos ainda descontou, mas o São Paulo não conseguiu reverter a vantagem gaúcha. No final, o Morumbi, que fora tão decisivo na conquista de 2005, tinha virado do avesso o seu status de caldeirão.

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No Beira Rio, o São Paulo viveu novos dramas e não superou o Inter. Ricardo Oliveira não pôde jogar (acabara seu empréstimo), Rogério falhou feio no primeiro gol do jogo, de Fernandão, Lugano perdeu um gol incrível quando a partida ainda estava 0 a 0 e o empate em 2 a 2 deu o título inédito ao Internacional. Muito choro e decepção no lado tricolor: a América perdia o preto, e ficava apenas vermelha e branca.

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A volta por cima

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Com a perda do título da Libertadores, o São Paulo teve que recomeçar a caminhada das glórias. O time, logo após a derrota, encarou o Cruzeiro, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro. O jogo começou com os mineiros a todo vapor, que abriram 2 a 0. Quando eles estavam prestes a fazer o terceiro, de pênalti, Rogério começou a dar a volta por cima após a falha na decisão da Libertadores. O goleiro defendeu o pênalti cruzeirense e marcou os dois gols do heroico empate do tricolor. Ali, ele fazia uma de suas melhores partidas na carreira e se tornava o maior goleiro artilheiro da história do futebol mundial. Era o recomeço que ele, e o São Paulo, precisava para lutar pelo fim do jejum de 15 anos sem o título do Campeonato Brasileiro.

Para ser tetra

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Com um elenco de respeito e com várias peças de reposição, o São Paulo seguiu absoluto no Campeonato Brasileiro de 2006. A equipe mostrou força em casa e fora dela, conquistando vitórias decisivas como 3 a 1 no Santa Cruz (fora), 2 a 0 no Internacional (casa), 5 a 1 no Vasco (casa), 2 a 1 no Fluminense (fora), 2 a 0 no Figueirense (fora), 1 a 0 no Santos (fora), 3 a 0 no Botafogo (casa) e 2 a 0 no Goiás (fora). Mesmo com a perda do título da Recopa para o Boca Juniors (derrota fora de casa por 2 a 1 e empate em 2 a 2 no Morumbi), o clube seguiu firme rumo ao tetra no Nacional.

4-3-3

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Parecia o filme de 2005, da final da Libertadores, mas o jogo era pela 36ª rodada do Brasileiro. São Paulo e Atlético-PR duelavam no Morumbi lotado e o tricolor poderia ser campeão brasileiro pela primeira vez jogando em casa. O time começou vencendo, com gol de Fabão, mas levou o empate no segundo tempo. Ao término da partida, os jogadores do São Paulo continuaram em campo para esperar o fim do jogo entre Paraná e Internacional. Os paranaenses venciam por 1 a 0 e o resultado dava o título ao tricolor paulista. Apenas no apito final em Curitiba é que o Morumbi pôde comemorar: o São Paulo, depois de 15 anos, era campeão brasileiro.

O caneco fez o time encerrar de maneira feliz um ano complicado e com muitos momentos tristes. A conquista coroou o trabalho de Muricy Ramalho, que já dava sinais de que sabia muito bem do assunto “pontos corridos”. A campanha tricolor foi impecável: 22 vitórias, 12 empates e apenas 4 derrotas em 38 jogos, com 66 gols marcados e 32 sofridos. Era o São Paulo no topo do Brasil e lançando moda com o “novo esquema tático” 4-3-3: quatro Brasileiros, três Mundiais e 3 Libertadores.

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O fim do esquadrão “mundial”

Em pé: Rogério Ceni, Danilo, Lugano, Fabão e Alex Bruno. Agachados: Luizão, Cicinho, Amoroso, Júnior, Josué e Mineiro. Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press.

 

O time campeão brasileiro em 2006 ainda contava com remanescentes dos títulos do Mundial e da Libertadores em 2005 como Rogério, Júnior, Fabão, Mineiro, Josué, Danilo e Souza. Porém, em 2007, grande parte desses craques deixou o tricolor, que começou a mudar constantemente, mas seguiu vencendo, até chegar ao ápice do tricampeonato brasileiro, em 2008 (leia mais clicando aqui!). Porém, nem os times campeões em 2007 e 2008 tiveram tanto brilho, talento, pegada e eficiência como o elenco campeão da América e do Mundo, um time que qualquer são-paulino escala de olhos fechados até hoje, do goleiro Rogério Ceni ao matador Amoroso.

O São Paulo 2005-2006 foi responsável por voltar a fazer o clube respeitado e temido por todos, e por conquistar novos e apaixonados torcedores. Além disso, fez o torcedor saber idolatrar de todas as maneiras um novo (velho) jogador: Rogério Ceni, que foi simplesmente perfeito e decisivo em 2005, líder e motivador em 2006 e referência nos anos seguintes. Pelos feitos, pelos títulos, e por fazer o torcedor sorrir sempre, é fácil entender porque esse São Paulo é, para sempre, um time imortal.

Os personagens:

Rogério Ceni: considerado o maior ídolo da história do São Paulo, maior até mesmo que Raí, Rogério fez uma temporada magnífica e perfeita em 2005. Marcou gols, defendeu tudo e levantou três canecos: Paulista, Libertadores e Mundial. Em 2006, quase repetiu a dose, mas falhou na decisão e teve que se reerguer para levantar o Brasileiro. É um mito no São Paulo. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Fabão: fez um trio de zaga memorável ao lado de Lugano e Edcarlos nas conquistas da América e do Mundo. Jogou sério, sem firulas e ainda marcando gols. Anotou um dos gols da goleada de 4 a 0 sobre o Atlético-PR, na final da Libertadores de 2005. Muito querido pela torcida.

Lugano: ganhou o apelido de “Dios” Lugano por ser a referência e o senhor da zaga do time nas conquistas de 2005. Impecável na marcação, cheio de raça e apaixonado pelo clube, Lugano repetiu o sucesso de uruguaios que foram ídolos e campeões com o São Paulo nas décadas de 70 e 80. Sua saída, em 2006, ainda é sentida até hoje pela torcida. Ídolo eterno do tricolor.

Miranda: substituiu muito bem o ídolo Lugano na campanha do tetracampeonato brasileiro de 2006. Muito eficiente no jogo aéreo, na cobertura e no posicionamento, Miranda cativou a torcida e foi titular absoluto do tricolor, onde venceria três brasileiros.

Edcarlos: era o “patinho feio” da zaga do time em 2005, mas não comprometeu e cumpriu seu papel nas conquistas do time. Era outro que marcava gols nas subidas ao ataque.

Alex: após brilhar no Santo André campeão da Copa do Brasil de 2004 (leia mais clicando aqui), o zagueiro chegou ao tricolor em 2004 e mostrou muita personalidade quando exigido. Fez boas partidas na Libertadores de 2005, inclusive como titular.

Cicinho: o lateral direito foi um monstro em 2005. Jogou muito, deu assistências impecáveis, cruzamentos milimétricos e marcou gols épicos, principalmente contra Palmeiras e Corinthians. Virou xodó da torcida e ganhou seu espaço na seleção brasileira, onde foi peça chave na conquista da Copa das Confederações. Voou e nunca mais conseguiu repetir as atuações que teve no São Paulo em outros clubes.

Ilsinho: conquistou a torcida (e o técnico Muricy) com seus dribles fáceis e as subidas ao ataque. Conseguiu ter lampejos de Cicinho na caminhada do tetracampeonato brasileiro em 2006.

Souza: ótimo curinga do tricolor, Souza foi peça fundamental na conquista da Libertadores de 2005 (quando sufocou o River Plate, nas semifinais) e do Brasileiro de 2006. Jogava como meia e até como lateral direito, posição onde atuou em grande parte da Libertadores de 2006.

Mineiro: ídolo tricolor, Mineiro foi o autor do gol mais importante da história recente do São Paulo: o gol do tricampeonato mundial, contra o Liverpool, em 2005. Incansável, habilidoso e um leão no meio de campo, Mineiro fez, ao lado de Josué, uma das melhores duplas de volantes da história do futebol brasileiro. Marcava muito, roubava bolas como quem bebe água, e chegou à seleção brasileira. Gigante no coração da torcida são-paulina.

Josué: outro mito no meio de campo do São Paulo, Josué só teve como pontos negativos as duas expulsões que teve na Libertadores que complicou o time em 2005 (contra o Palmeiras, nas oitavas) e que dilacerou o time em 2006 (contra o Internacional, no primeiro jogo da final). Tirando essas duas manchas, o jogador foi impecável e peça chave nas conquistas da América, do Mundo e do Brasil. Parecia que ele e o companheiro, Mineiro, eram 20 em campo, tamanha mobilidade e eficiência da dupla.

Danilo: virou Zidanilo pela falsa lerdeza e pela eficiência no ataque como maestro do time. Foi decisivo nso duelos contra o River Plate, na Libertadores de 2005, e peça chave no Mundial do mesmo ano e no Brasileiro de 2006. Muito querido pela torcida, foi campeão da Libertadores em 2012 pelo Corinthians.

Júnior: depois de fazer história no Palmeiras, Júnior voltou a jogar bem no São Paulo, em 2005. Clássico, rápido e exímio na lateral esquerda, Júnior foi outro xodó do time e conquistou quase tudo em 2005 e 2006.

Luizão: o homem gol da Libertadores fez jus ao apelido com seus cinco tentos decisivos na competição, em 2005. Um perigo na área para os adversários, Luizão chorou quando marcou o terceiro gol tricolor na decisão contra o Atlético e caiu nas graças da torcida. Não ficou para ser campeão mundial. Mas lá o tricolor teve Aloísio…

Aloísio: o “Chulapa” caiu nas graças do torcedor com a sua ireverência e pelo passe telepático que deu para Mineiro marcar o gol do título mundial de 2005. Trombador e perigoso nas bolas aéreas, teve destaque na campanha do tetracampeonato brasileiro de 2006.

Amoroso: foi a contratação certa, na ocasião certa, e no time certo. Amoroso caiu como uma luva no time de Paulo Autuori e mostrou serviço nas partidas contra o River Plate (jogou demais nos dois jogos e fez um gol) e nas finais contra o Atlético-PR (fez um gol e deu passe para outro). Irreverente e provocador, Amoroso seguiu marcando gols no Brasileiro de 2005 e fez dois na semifinal do Mundial. Muito querido pela torcida, uma pena que tenha ficado por pouco tempo.

Grafite: era o goleador do time ao lado de Luizão na Libertadores de 2005 até se contundir e ficar de fora por um bom tempo. Com a chegada de Amoroso, perdeu espaço e não conseguiu repetir as atuações de gala que teve. Mesmo assim, teve seu papel na conquista.

Leandro: foi peça chave na conquista do Brasileiro de 2006 e na campanha do vice-campeonato da Libertadores do mesmo ano. Ganhou o apelido de “Guerreiro” pela raça e vigor em campo.

Diego Tardelli: eterno “garoto problema”, Tardelli foi domado pelo técnico Emerson Leão e jogou muita bola nas conquistas do Paulista e da Libertadores de 2005. Marcou o quarto gol da final da Liberta contra o Atlético-PR.

Emerson Leão, Paulo Autuori e Muricy Ramalho (Técnicos): Leão foi o responsável por desenvolver no São Paulo a faceta de “equipe cascuda”, campeã estadual de 2005. Com a sua saída, Paulo Autuori virou “São Paulo Autuori”, melhorou o que já era bom, e conquistou a Libertadores e o Mundial jogando com muita inteligência, com um forte esquema defensivo e uso pleno dos ousados e rápidos laterais. Já Muricy conseguiu manter a pegada do time em 2006 e fez o São Paulo ser forte longe de seus domínios, fator crucial para o sucesso nos Brasileiros de 2006, 2007 e 2008. Os três conseguiram, em apenas 2 anos, renascer um gigante para as mais altas glórias. Um feito notável. Que nunca será esquecido pela torcida. Leia mais sobre Muricy Ramalho clicando aqui!

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Extras:

Pé na final

O São Paulo sufocou o River e fez 2 a 0 no primeiro jogo da semifinal.

Chocolate no rival

O tricolor meteu 5 a 1 no Corinthians pelo Brasileiro, na estreia de Paulo Autuori. Que estreia!

Meia dúzia no Mengo

Veja os gols da goleada de 6 a 1 do São Paulo sobre o Flamengo, pelo Brasileiro de 2005.

 

Na final!

O São Paulo deu show, e fez 3 a 0 no Chivas na semifinal da Libertadores de 2006.

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. Parabéns, muito bem descrito… Recentemente tivemos a honra de receber a visita do Mineiro e Alex Bruno aqui na comemoração da embaixada SP-Pr, os caras são incríveis, exemplo de humildade e vão ficar eternizados na nossa memória, como jogadores e como pessoas maravilhosas que são…

  2. “A imagem do Mineiro comemorando o gol do nosso último Mundial é uma das imagens que me faz lembrar daqueles dias em que eu só tínham 15 anos e o Tricolor dava muito orgulho para mim é meu Pai que tem o quadro do time de 2005 até hoje na sala de estar de casa todo moldurado para mostras à todos como era maravilhoso ver aquele time em campo”

  3. nossa que saudade….este time era demais…vivi como torcedor 2 épocas apaixonantes pelo tricolor 1991 a 1994 e 2005 a 2008….hoje….da até tristeza de ver o time jogar….

  4. Foi um time excelente. Como eu sou são paulino, adorei o texto. Pra mim, o segundo melhor time da história do São Paulo. Perde apenas para o São Paulo de 1991-1994

  5. Esse time do São Paulo era um time enjoado, difícil de ganhar, bem parecido com o Corinthians de hoje. Lembro que era um saco aguentar os torcedores do SP naquela época, ainda mais que eles não perdiam para o Corinthians. Mas como apreciador do futebol, não posso negar que foi um grande time.

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