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Esquadrão Imortal – Peñarol 1966

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Em pé: Caetano, Mazurkiewicz, Gonçalves, Díaz, Lezcano, Forlán e o técnico Máspoli. Agachados: Abbadie, Pedro Rocha, Spencer, Cortés e Joya.

 

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (1966) e Campeão da Copa Libertadores da América (1966). Tornou-se o primeiro clube tricampeão da Copa Libertadores da América na história.

Time-base: Mazurkiewicz; Lezcano; Pablo Forlán e Omar Caetano (Tabaré González); Néstor Gonçalves e Díaz (Luis Alberto Varela); Abbadie, Pedro Rocha, Alberto Spencer, Cortés e Joya. Técnico: Roque Máspoli.

 

“Aurinegros soberanos da América. E do mundo.”

Por Guilherme Diniz

Depois de dominar os cenários continental e mundial nos anos de 1960 e 1961, o Peñarol repousou por alguns anos e conquistou apenas taças em território nacional. A equipe foi ofuscada pelo Santos de Pelé e pelo Independiente (ARG), que venceram as Libertadores de 1962/1963 e 1964/1965, respectivamente. Foi então que o time deu a volta por cima e fez do ano de 1966 histórico. Com seus maiores craques no auge e tinindo, o clube uruguaio retomou o posto de rei da América e se tornou o primeiro tricampeão da Libertadores, em uma campanha marcante recheada de gols. Para coroar uma temporada que já era perfeita, a equipe conquistou o Mundial Interclubes com duas vitórias categóricas sobre o poderoso Real Madrid, tanto em Montevidéu quanto em Madrid, vingando a perda do mesmo título em 1960 para o rival espanhol. Aquele Peñarol é considerado por muitos um dos melhores esquadrões da história do futebol, por reunir os míticos remanescentes das primeiras Libertadores conquistadas pelo clube (Spencer, Joya) e craques que expandiram seus talentos após aquele período ou chegaram depois ao time (Caetano, Pedro Rocha, Forlán, Mazurkiewicz e Néstor Gonçalves). Comandados pelo lendário Roque Máspoli, goleiro da seleção do Uruguai bicampeã mundial em 1950, no Maracanazo, o Peñarol pintou, em 1966, a América e o mundo de preto e ouro. E entrou de vez para o rol dos imortais do futebol. É hora de relembrar.

 

Chega de torneio nacional!

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Em 1966, o Peñarol era o bicampeão uruguaio e não tinha rivais à altura no país. O time estava “cansado” de levantar canecos nacionais e ansioso por levantar uma nova Libertadores, que havia escapado em 1965, quando perdeu para os argentinos do Independiente numa melhor de três partidas. Cabreiro, o time uruguaio entrava na temporada louco para conquistar o torneio continental, que teria pela primeira vez a participação dos vice-campeões nacionais, ao invés de contar apenas com os campeões de cada país. Essa mudança gerou a intriga de Brasil e Colômbia, que, por acharem que a medida “descaracterizava o torneio”, decidiram não enviar representantes a Libertadores de 1966.

Base de ouro e o início

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Com craques como Mazurkiewicz, Pablo Forlán (pai de Diego Forlán, hoje no Internacional), Néstor Gonçalves, Caetano, Pedro Rocha, Alberto Spencer e Joya, o Peñarol era fortíssimo e um dos maiores times da América naquele ano de 1966. A equipe tinha uma força ofensiva sensacional, jogando muitas vezes num 4-2-4, tamanha qualidade de seus jogadores. Menosprezando o Campeonato Uruguaio, o time aurinegro se dedicou a Libertadores, onde o time esteve no Grupo 3, ao lado do rival Nacional, dos bolivianos Jorge Wilstermann e Deportivo Municipal e dos equatorianos Emelec e 9 de Octubre.

A estreia do Peñarol foi a pior possível, com derrota por 4 a 0 para o Nacional. Em seguida, nova derrota, por 1 a 0, para o Jorge Wilstermann. Será que o aurinegro iria decepcionar? De jeito nenhum. A equipe começou a reação ao derrotar o 9 de Octubre, no Equador, por 2 a 1 (gols de Pedro Rocha e Spencer), o Emelec, no Equador, por 2 a 1 (gols de Cortés e Joya) e encerrando a via sacra longe de casa com um novo 2 a 1 sobre o Deportivo Municipal (gols de Abbadie e Spencer).

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Quando voltou ao estádio Centenário, o time deu show ao vencer todos os jogos: 3 a 1 no Deportivo (gols de Silva, Spencer e Joya), 2 a 0 no 9 de Octubre (gols de Caetano e Pedro Rocha), 4 a 1 no Emelec (dois gols de Silva e dois de Alfano) e um 3 a 0 sobre o rival Nacional (dois gols de Pedro Rocha e um de Joya). Líder de seu grupo, com oito vitórias e duas derrotas em 10 jogos, com 20 gols marcados e 10 sofridos, o clube aurinegro se classificou para as semifinais, que seriam disputadas em formato de grupo, ao lado do Nacional e Universidad Católica (CHI).

 

Sem chances para o rival

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O Peñarol começou com derrota sua participação nas semifinais, ao levar 1 a 0 da Universidad no Chile. Mas aquele seria apenas um acidente. Na sequência, o time massacrou novamente o Nacional por 3 a 0, com um show de Pedro Rocha, que marcou os três gols do jogo. Depois, vitória por 2 a 0 sobre a Universidad, em casa, com gols de Pedro Rocha e Joya. Na partida derradeira, nova vitória sobre o Nacional, 1 a 0, com gol salvador de Cortés, e vaga garantida na final da Libertadores de 1966. O time tinha a segunda chance seguida de levantar o cobiçado troféu. Mas teria pela frente o River Plate e sua máquina de gols chamada Daniel Onega.

 

Deslumbre de gols

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A grande final da Libertadores de 1966 colocou de um lado o Peñarol, decano em busca do inédito tricampeonato, e o River Plate, time argentino que tentava seu primeiro caneco e contava com o faro devastador de seu artilheiro Daniel Onega, que terminaria aquela Libertadores como o maior goleador em uma só edição da história do torneio com 17 tentos. No primeiro jogo, em Montevidéu, o Peñarol conseguiu frear o ímpeto dos argentinos e venceu por 2 a 0, gols de Abbadie e Joya. No segundo jogo, um empate ou vitória do Peñarol dava o título à equipe. Pedro Rocha abriu o placar aos 35´do primeiro tempo, mas o artilheiro Onega empatou dois minutos depois. No segundo tempo, um show de gols. Spencer, outro mito, deixou o Peñarol na frente aos 53´. Aos 56´, Sarnari empatou para o River. Aos 69´, Ermindo Onega, irmão mais velho de Daniel Onega, virou para o River, dando números finais ao jogaço: 3 a 2. Os times teriam que disputar uma partida extra, em campo neutro, para ver quem seria o campeão da América em 1966.

 

Na raça, na técnica, no coração. Tricampeão!

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No estádio Nacional, em Santiago, Chile, Peñarol e River Plate fizeram outro jogo de tirar o fôlego para pouco mais de 40 mil pessoas. No primeiro tempo, os argentinos dominaram as ações e abriram 2 a 0, com gols da família Onega, um de Daniel e um de Ermindo. Na segunda etapa, Spencer e Matosas (contra) empataram o jogo para o Peñarol, que forçou a prorrogação.

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Nela, brilhou a tradição e a experiência dos craques do time uruguaio, que marcaram dois gols em sete minutos, com Spencer e Pedro Rocha, garantindo a vitória por 4 a 2 do Peñarol. O time aurinegro conquistava, enfim, seu terceiro título continental e se tornava o primeiro no continente a conseguir tal feito. Ninguém tinha mais taças da América que os imponentes uruguaios. Leia mais sobre esse jogaço do aurinegro clicando aqui.

No Peñarol de 1966, o 4-2-4 já não era mais o esquema ideal. A força agora vinha pelo meio de campo, com Pedro Rocha e Cortés mais recuados e munindo o trio de ataque. Deu certo.

 

O time para a história – Em pé: Caetano, Mazurkiewicz, Gonçalves, Díaz, Lezcano, Forlán e o técnico Máspoli. Agachados: Abbadie, Pedro Rocha, Spencer, Cortés e Joya.

 

Hora da vingança

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Após levantar a Libertadores, o Peñarol recebeu a notícia de que o Real Madrid havia conquistado a Liga dos Campeões da UEFA. Ou seja: o time uruguaio teria a chance, no final do ano, de vingar a dolorida derrota no primeiro Mundial Interclubes da história, em 1960, quando o Real Madrid de Di Stéfano e Púskas atropelou os uruguaios por 5 a 1 na partida decisiva, após empate no Uruguai. O clube uruguaio se concentrou como nunca, manteve a base campeã e vencedora e contou os segundos para começar sua vingança, com o primeiro jogo marcado para 12 de outubro de 1966.

 

Titã em casa…

Gonçalves, capitão do Peñarol (à direita), cumprimenta o capitão do Real, Manolín Bueno, antes do duelo contra o Real no Centenário.

 

No primeiro jogo, no estádio Centenário, o Peñarol contou com o apoio de sua fanática torcida e, principalmente, de Alberto Spencer, para derrotar os espanhóis por 2 a 0, com os dois gols marcados pelo craque equatoriano. Foi uma partida maiúscula do time uruguaio, que não deu espaços para o Real, dominou o meio de campo com o capitão Gonçalves e poderia ter feito até mais gols não fosse a falta de pontaria. O placar de 2 a 0 ficou barato para os espanhóis, que foram cheios de soberba para a volta certos de que iriam vencer.

 

…histórico e enorme fora dela

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Quatorze dias depois, o Peñarol voltou ao Santiago Bernabéu para encarar o Real Madrid na partida de volta. Um empate bastava para os uruguaios. Mas quem disse que eles cruzaram o Atlântico para empatar? Os aurinegros ignoraram a pressão da torcida espanhola e liquidaram o rival logo no primeiro tempo. Pedro Rocha, de pênalti, abriu o placar aos 28´. Nove minutos depois, foi a vez de Spencer marcar o dele, o terceiro em apenas dois jogos. Com 4 a 0 no placar agregado, o Peñarol conquistava seu bicampeonato mundial, vingava a derrota de 1960 e entrava de vez para o rol dos maiores clubes do planeta. A equipe coroava definitivamente a maior e melhor geração de craques da história do Peñarol, responsável por dar a equipe dois mundiais (1961 e 1966) e três Libertadores (1960, 1961 e 1966), além de outros tantos Campeonatos Uruguaios. Uma pena que o gigante estava perto de adormecer.

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Fim da era de ouro

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O título Mundial de 1966 foi o último de grande expressão do Peñarol na década de 60. A equipe ainda venceria vários torneios nacionais e a Recopa dos Campeões Mundiais, em 1969, mas longe de ter o peso de uma Libertadores ou um Mundial. Os aurinegros chegariam, também, a final da Libertadores de 1970, mas perderiam para o Estudiantes de Verón. Depois disso, a torcida do clube esperaria mais de uma década para poder voltar a celebrar um caneco da América (em 1982, leia mais clicando aqui), tendo que conviver com as conquistas do rival Nacional em 1971 e 1980. Com isso, coube aos torcedores relembrarem os feitos de um esquadrão que escreveu para sempre o nome do Peñarol no rol dos maiores clubes da história do futebol mundial. Uma equipe eterna. E imortal.

 

Os personagens:

Mazurkiewicz: considerado um dos maiores goleiros da história do futebol mundial, Ladislao Mazurkiewicz fechou o gol do Peñarol de 1965 até 1970, sendo referência na meta da equipe, pegando quase tudo e “sofrendo” pelo fato de o time ser tão ofensivo. Foi goleiro da seleção do Uruguai na Copa do Mundo de 1970. Uma lenda do esporte. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Lezcano: grande defensor paraguaio, Juan Lezcano jogou muito nas partidas finais do Mundial de 1966, ajudando o Peñarol a levantar a tão sonhada taça.

Díaz: zagueiro que jogou firme na Libertadores de 1966, Nelson Díaz foi titular do Uruguai na Copa do Mundo do mesmo ano, na Inglaterra.

Luis Alberto Varela: compôs com Forlán a ótima zaga que não deixou o Real Madrid atrapalhar o caminho do Peñarol no Mundial Interclubes de 1966. Muito bom no posicionamento e na antecipação.

Pablo Forlán: exímio lateral-direito e também zagueiro, Forlán “pai” fez história no Peñarol ao conquistar 7 troféus pelo clube, entre eles a Libertadores e o Mundial de 1966. Jogou muito e foi um dos símbolos da raça do time.

Néstor Gonçalves: uma lenda do Peñarol, vencedor e que só vestiu a camisa aurinegra em toda carreira. Conquistou 14 taças em 13 anos de Peñarol, sempre com muita técnica, raça e vontade no meio de campo. Craque e considerado um dos maiores meio campistas da década de 60. Foi o substituto de ninguém mais ninguém menos que Obdulio Varela no meio de campo aurinegro. E cumpriu muito bem a missão.

Caetano: era lateral-esquerdo e meia com muita habilidade em ambas as posições, além de possuir liderança e personalidade. Caetano brilhou no Peñarol de 1961 até 1975, onde colecionou muitos e muitos títulos, entre eles duas Libertadores, dois Mundiais Interclubes e oito Campeonatos Uruguaios. Jogou duas Copas do Mundo pelo Uruguai (1966 e 1970) e foi um símbolo do clube.

Tabaré González: podia jogar tanto no meio de campo quanto na zaga, sempre com raça e entrega. Era ofuscado pelo talento dos companheiros, mas não comprometeu. Jogou os dois jogos da final do Mundial de 1966.

Abbadie: muito habilidoso e oportunista, Abbadie começou no Peñarol antes de partir para a Europa e jogar no Genoa e no Lecce. Voltou ao clube em 1962 para continuar sua sina de conquistar títulos pelo Peñarol. Jogou muito e encerrou a carreira com chave de ouro, como campeão da América e do Mundo.

Pedro Rocha: prodígio, Pedro Rocha despontou em definitivo como titular do Peñarol em 1962, justo no ano em que o clube perdeu a chance de ser tricampeão continental. Porém, esteve presente em todas as conquistas de 1959 até 1970. Meia-atacante com muita habilidade, técnica, força e precisão nos passes, além de ser goleador, Rocha foi um dos maiores futebolistas da história do Uruguai e também do futebol mundial. Foi genial no ano de 1966, quando refinou o faro de gol e se tornou ainda mais decisivo para o time, principalmente na Libertadores, quando marcou 10 gols. Disputou quatro Copas do Mundo consecutivas, em 1962, 1966, 1970 e 1974. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Alberto Spencer: um dos maiores ídolos da história do Peñarol, Spencer foi o maior atacante da história do Equador. É lembrado até hoje por ser o dono do recorde de maior artilheiro da história da Copa Libertadores, com 54 gols. Era perito em marcar gols de cabeça, tanto é que ganhou o apelido de “Cabeza Mágica”. Em 2004, muitos reclamaram de Spencer não ter sido lembrado na lista da FIFA dos 100 melhores jogadores do século XX, pelo fato de ele nunca ter disputado uma Copa do Mundo ou ter jogado em algum clube da Europa. Spencer foi artilheiro do Campeonato Uruguaio 4 vezes e da Libertadores outras duas. Venceu 12 títulos com o Peñarol e é um mito do esporte. Marcou três dos quatro gols que o Peñarol aplicou no Real Madrid na final do Mundial de 1966. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Cortés: foi herói do Peñarol ao marcar o gol da vitória sobre o Nacional que colocou o time na final da Libertadores em 1966. Meia habilidoso e cheio de talento, Cortés foi brilhante e peça chave nos títulos da América e do Mundo naquele ano, além de ajudar nos canecos do Uruguaio de 1967 e 1968.

Joya: foi um dos maiores atacantes da história do Peru e também um dos maiores do Peñarol. Jogou de 1961 a 1969 no clube uruguaio, onde conquistou 11 títulos. Marcou gols importantes em decisões, como os dois na final do Mundial de 1961, o primeiro vencido pelo Peñarol. Fez uma dupla maravilhosa com Spencer no ataque do Peñarol, que virou até música.

Roque Máspoli (Técnico): quando goleiro, Máspoli foi um mito ao fazer parte da Celeste Olímpica que calou mais de 200 mil pessoas no Maracanã, na Copa do Mundo de 1950. Ao virar treinador, continuou a sina vencedora e colecionou títulos no Peñarol. Em 1966, viveu o auge como técnico com os títulos da Libertadores e do Mundial, recheados de gols, raça e muito amor a camisa aurinegra. Soube incorporar o futebol uruguaio em sua plenitude em um time já vencedor, superou a perda da Libertadores de 1965 e entrou para a história. Mais uma vez.

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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. adorei ver que a memória está salva da amnésia do péssimo futebol atual.obrigado por manter a chama daqueles que enobreceram essa arte chamada futebol.que bela camisa essa do penãrol.

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