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Técnico Imortal – Giovanni Trapattoni

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Nascimento: 17 de Março de 1939, em Cusano Milanino, Itália.

Times que treinou: Milan-ITA (1974-1976), Juventus-ITA (1976-1988 e 1991-1994), Internazionale-ITA (1986-1991), Bayern München-ALE (1994-1995), Cagliari-ITA (1995-1996), Fiorentina-ITA (1998-2000), Seleção Italiana (2000-2004), Benfica-POR (2004-2005), Stuttgart-ALE (2005-2006), Salzburg-AUT (2004-2005) e Seleção Irlandesa (2008-2013).

Principais títulos por clubes: 1 Mundial Interclubes (1985), 1 Liga dos Campeões da UEFA (1984-1985), 1 Recopa Europeia (1983-1984), 2 Copas da UEFA (1976-1977 e 1992-1993), 1 Supercopa da UEFA (1984), 6 Campeonatos Italianos (1976-1977, 1977-1978, 1980-1981, 1981-1982, 1983-1984 e 1985-1986) e 2 Copas da Itália (1978-1979 e 1982-1983) pela Juventus.

1 Copa da UEFA (1990-1991), 1 Campeonato Italiano (1988-1989) e 1 Supercopa da Itália (1989) pela Internazionale.

1 Campeonato Alemão (1996-1997), 1 Copa da Alemanha (1997-1998) e 1 Copa da Liga Alemã (1996-1997) pelo Bayern München.

1 Campeonato Português (2004-2005) pelo Benfica.

1 Campeonato Austríaco (2006-2007) pelo Salzburg.

Principal título por seleção: 1 Copa das Nações (2011) pela Irlanda.

Principais títulos individuais:

Eleito o treinador do ano na Itália: 1976-1977 e 1985

Eleito para o Hall da Fama do Futebol Italiano: 2012

 

“O Insuperável ´Senhor Juventus´”

Por Guilherme Diniz

Texto publicado em maio de 2013 e atualizado em 2022

A Juventus Football Club é o que é por conta de jogadores emblemáticos, times sensacionais, feitos eternos e também por causa de um homem. A “Velha Senhora” já conquistou todos os títulos que disputou e grande parte deles foram sob o comando desse tal homem em duas eras distintas, mas iguais em adoração por parte do torcedor. Esse homem pode ser considerado um “Senhor Juventus” tamanha importância na história da equipe de Turim. Estamos falando de Giovanni Trapattoni, um dos mais vitoriosos e respeitados técnicos do futebol mundial e campeão de todos os torneios organizados pela UEFA em todos os tempos. Isso mesmo. Trapattoni venceu Liga dos Campeões, Copa da UEFA, Recopa Europeia e Supercopa da UEFA, além de um Mundial Interclubes, feito único e jamais igualado por nenhum outro treinador (Udo Lattek e Rafael Benítez são os mais próximos de Trapattoni. Lattek venceu Liga dos Campeões, Copa da UEFA e Recopa Europeia, e Rafael Benítez conquistou Liga dos Campeões, Copa da UEFA, Supercopa da UEFA e Mundial de Clubes da FIFA, além de uma Liga Europa). Energético, com amplo conhecimento tático e vindo de uma escola vencedora da Itália, Trapattoni criou um estilo todo particular de comandar seus times e foi campeão em quase todos pelos quais passou, além de ser genial na montagem e concepção de esquadrões vencedores. É hora de relembrar a carreira desse mito do futebol que se confunde e se funde com a Juventus.

 

Inspiração rossonera

Nereo Rocco, Gianni Rivera e Giovanni Trapattoni: mitos do Milan nos anos 60.
Nereo Rocco, Gianni Rivera e Giovanni Trapattoni: mitos do Milan nos anos 60.

 

Meio campista (e defensor) vitorioso no grande Milan dos anos 60, Giovanni Trapattoni teve como principal “mentor” para seu início da carreira como treinador justamente seu antigo professor no Milan: Nereo Rocco, técnico italiano responsável por dar ao time de Milão duas Ligas dos Campeões da UEFA, uma Recopa da UEFA, um Mundial Interclubes e outros seis títulos. Rocco era adepto do Catenaccio, sistema que priorizava a força defensiva, mas sem desperdiçar chances de criação e ataque, uma antítese do esquema defensivo da Internazionale de Helenio Herrera, que tratava placares como 1 a 0 e 2 a 0 como verdadeiras goleadas. Porém, Trapattoni não quis fazer do defensivismo o mote para seu trabalho, que começou justamente no Milan, em 1974, quando assumiu o comando da equipe no lugar de seu companheiro de clube nos anos 60 Cesare Maldini. Trapattoni ficou pouco tempo no comando, deu lugar a Gustavo Giagnoni, e voltou em 1976 já mostrando que queria ver seu time no ataque e postado num esquema 4-3-3. Foi em 1976 que o técnico recebeu um convite para treinar a Juventus, que tinha acabado de perder o Scudetto para o rival Torino. Mesmo novato (37 anos), Trapattoni mostraria já em sua temporada de estreia o enorme talento que ele tinha guardado em si.

 

Começa a dinastia

Trapattoni é erguido pelos jogadores da Juventus após o título da Copa da UEFA de 1977.
Trapattoni é erguido pelos jogadores da Juventus após o título da Copa da UEFA de 1977.

 

Quando chegou à Juventus para a temporada 1976-1977, Trapattoni tinha em mãos um plantel de jovens talentos (Cabrini, Gentile e Tardelli) e jogadores já conhecidos (Zoff, Bettega e Furino). O técnico começou a criar uma identidade própria ao elenco e ao time com foco na marcação, na velocidade do contra-ataque e na aplicação tática. Além disso, “Trap” dava mostras de sua personalidade com muita energia, berros e entusiasmo pleno pela vitória. Tanta vontade deu resultado logo naquela temporada, quando a Juventus reconquistou o Scudetto com apenas duas derrotas em 30 jogos, vencendo 23 e empatando cinco, com 50 gols marcados e 20 sofridos. Se a equipe não conseguiu derrotar o rival Torino naquele campeonato (uma derrota por 2 a 0 e um empate em 1 a 1), a Juve mostrou força ao vencer tanto os jogos de ida quanto os de volta contra a dupla Milan e Internazionale, provas de que o esquema formado por Trapattoni era coeso e eficiente. Além do título, aquela Juventus bateu o recorde de maior pontuação na história do Calcio em campeonatos de 16 clubes e com as vitórias valendo dois pontos: 51 pontos.

Além do título nacional, Trapattoni conduziu a Juventus em uma inédita conquista internacional: a Copa da UEFA. A equipe eliminou no caminho até a final Manchester City-ING, Manchester United-ING (com direito a uma vitória por 3 a 0 em casa), Shakhtar Donetsk (à época da URSS), Magdeburg-ALE e AEK-GRE. Na final, a equipe de Turim venceu o primeiro jogo contra o Athletic Bilbao-ESP por 1 a 0 (gol de Tardelli) e perdeu a volta, na Espanha, por 2 a 1, resultado que deu o título à Juve por conta do gol marcado fora de casa (feito por Bettega). A Juventus, enfim, era campeã de uma taça internacional. E, uma vez provado o doce sabor de uma taça continental, a equipe ficaria viciada e sedenta por mais. Que Trapattoni trataria de buscar.

 

Colecionador de taças

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Os dois títulos conquistados na temporada 1976-1977 foram muito mais do que um cartão de visitas de Trapattoni para a diretoria da Juventus. Eles mostraram que ali começaria a maior e mais vertiginosa era da equipe alvinegra, que tinha um elenco de peso e um técnico diferente, novo, entusiasmado e muito inteligente. Trapattoni tinha conquistado, também, o presidente Giampiero Boniperti, que dava carta branca ao treinador e tornava o trabalho de organização e planejamento muito mais fácil. Nas temporadas 1977-1978 e 1978-1979, a Juventus venceu mais um campeonato italiano e uma Copa da Itália. O time jogava cada vez melhor, os craques se entrosavam e os alvinegros pareciam não ter rivais. A certeza disso começou a ficar mais explícita no início da década de 80.

Na temporada 1980-1981, a Juventus voltou a conquistar a Itália com mais um Scudetto, o 19º de sua história, ao deixar para trás Roma, Napoli e Internazionale. Avessa ao escândalo do Totonero, que vitimou times como Milan e Lazio, a Juve venceu 17 partidas, empatou 10 e perdeu apenas três. Foram 46 gols marcados e 15 sofridos, registrando a melhor zaga da competição. Em 1981, a equipe contratou o artilheiro Paolo Rossi, que teve que esperar até 1982 para estrear pela equipe, pois estava suspenso pelo escândalo de manipulação de resultados. Mas a Juve nem ligou. O time estava se preparando para armar um esquadrão para a história.

 

A segunda estrela. E a chegada da estrela

Trapattoni e Platini: estrelas da Juventus dos anos 80.
Trapattoni e Platini: estrelas da Juventus dos anos 80.

 

Na temporada 1981-1982, a Juventus conseguiu o feito histórico de conquistar o bicampeonato italiano e faturar o Scudetto pela 20ª vez. O título fez a equipe se tornar a primeira (e até hoje única) a poder estampar acima de seu escudo uma segunda estrela (na Itália, cada estrela equivale a 10 títulos nacionais). A campanha foi ainda melhor que no ano anterior, com 19 vitórias, oito empates e três derrotas, com 48 gols marcados e apenas 14 sofridos, tendo a Juve novamente a melhor defesa. A torcida fez a festa e comemorou como nunca a hegemonia do time no país. Mas era pouco. Aquele esquadrão podia mais, bem mais, como sabiam seus torcedores e o técnico Trapattoni. Foi então que após a Copa do Mundo da Espanha, em 1982, com a Itália levantando o tricampeonato mundial graças a seis jogadores que eram da Juventus (Zoff, Scirea, Cabrini, Gentile, Tardelli e Paolo Rossi), chegou a Turim a maior estrela do futebol francês da época: Michel Platini. O craque era, enfim, o gênio do futebol arte que faltava para a Juventus deixar de ser tão nacional e se transformar em uma potência a nível continental. No mesmo ano, o polonês Boniek também chegou para integrar o ataque alvinegro. Pronto. A Juventus estava preparada para começar a escrever algumas das páginas mais brilhantes de sua história.

 

Choque continental

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Trapattoni levou um baita susto em sua primeira temporada com as estrelas Platini e Boniek. No Campeonato Italiano, a Juventus não conseguiu superar a Roma de Falcão, que conquistou o Scudetto. Na Liga dos Campeões da UEFA, a equipe fez uma boa campanha, eliminando Hvidovre (SUI), Standard Liège (BEL), Aston Villa (ING) e Widzew Lódz (POL). Porém, na decisão, tudo deu errado e a Juventus sucumbiu diante do Hamburgo (ALE) e do talento de Felix Magath, autor do único gol do jogo. A decepção foi enorme, afinal, era a segunda vez que a Juve chegava a uma decisão de Liga e perdia pelo mesmo placar (na década de 70, a Juve perdeu por 1 a 0 para o Ajax de Cruyff). O único caneco de uma temporada que era para ser recheada de glórias foi a Copa da Itália, vencida sobre o Verona. A torcida ficou ressabiada, ainda mais pelo fato de o goleiro Dino Zoff se aposentar. Mas aquilo não era motivo para pânico. Trapattoni e Platini resolveriam tudo em 1983-1984.

 

Voltando a reinar em casa

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Mordida pelo fato de ter perdido o Scudetto em 1983, a Juve voltou a levantar o caneco nacional em 1984, em cima da Roma, com 17 vitórias, nove empates e quatro derrotas, registrando o melhor ataque (57 gols) e a terceira melhor defesa (29 gols sofridos). Michel Platini foi decisivo e artilheiro do torneio com 20 gols marcados. Com a coroa de volta em casa, a Juve aproveitou como nunca a chance de faturar um caneco internacional naquela temporada: a Recopa Europeia, conquistada em cima do Porto-POR com uma vitória por 2 a 1. Era o segundo título internacional diferente do time, bem como de Trapattoni, que ainda deu à equipe a Supercopa da UEFA de 1984, vencida sobre o poderoso Liverpool-ING por 2 a 0. Com três troféus na temporada, a Juve estava com tudo e embalada. Era hora da epopeia na Europa.

 

Foco total na Liga

A Juve não queria saber de outra coisa na temporada 1984-1985: o foco era total na Liga dos Campeões da UEFA. O time menosprezou sem dó o Campeonato Italiano, que ficou com o surpreendente Verona. A Juve teve o melhor ataque e pela terceira vez seguida o artilheiro, Platini, com 18 gols. Na Liga, a Juve eliminou Ilves-FIN, Grasshopper-SUI Sparta Praga-RCH e Bordeaux-FRA, carimbando a vaga para mais uma final. Era hora de, enfim, levantar a cobiçada Liga dos Campeões.

A grande Juve de Platini: Scirea era o soberano da defesa e via à sua frente uma constelação de craques que transmitiam segurança e abusavam do talento.
A grande Juve de Platini: Scirea era o soberano da defesa e via à sua frente uma constelação de craques que transmitiam segurança e abusavam do talento.

 

O sonhado título na mais terrível tragédia

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No dia em que os torcedores de Juventus e Liverpool, adversário dos italianos na final, tinham tudo para celebrar, vibrar e torcer, a Europa e o mundo viram uma barbárie. A cidade de Bruxelas, na Bélgica, foi palco de uma tragédia que ficou conhecida como a “Tragédia de Heysel”, quando um confronto dos hooligans ingleses provocou a queda de um alambrado e matou 39 torcedores da Juventus, além de deixar centenas de feridos. Diversos jogadores, dirigentes e organizadores foram punidos pela polícia e pela UEFA. O Liverpool foi banido das competições europeias por seis anos, e os clubes ingleses pegaram uma pena de cinco anos. Em meio a tanto drama, o jogo que tinha tudo para ser espetacular ficou em segundo plano naquele dia 29 de maio de 1985. Sem vibração alguma, a Juventus jogou o básico para vencer o Liverpool por 1 a 0, gol de pênalti de Platini, e levantar sua primeira Liga dos Campeões da história. Naquele dia trágico, a equipe prestava uma justa homenagem aos seus falecidos fãs ao se tornar a primeira equipe da Europa a conquistar todos os principais torneios da UEFA. O feito fez a Juve vencer o “The UEFA Plaque”, que eternizou o feito com os dizeres:

“Tribute

The UEFA to Juventus F.C.

First club having won the three international UEFA club competitions

European Champions Clubs’ Cup

European Cup of the Winners’ Cup

UEFA Cup.”

Ninguém podia com os comandados de Trapattoni. Muito menos com Platini e Boniek. A Europa já estava dominada. Mas ainda faltava o mundo.

 

Apogeu

1985

Em 1985, a Juventus completou sua festa com o título do Mundial Interclubes, ao derrotar o Argentinos Juniors (ARG) em um jogo emocionante. A equipe argentina abriu o placar com Ereros, aos 55´. Platini, de pênalti, empatou aos 63´. José Antonio Castro deixou os argentinos na frente novamente aos 75´, mas Michael Laudrup empatou de novo, aos 82´. Depois de uma prorrogação sem gols, as equipes foram para as penalidades e a Juventus venceu por 4 a 2. Platini foi eleito o homem do jogo e a Juventus escrevia mais um feito inédito e histórico no futebol: o clube se tornava o primeiro a vencer todos os títulos continentais e internacionais possíveis para um clube, o que inclui Liga dos Campeões da UEFA, Recopa da UEFA, Copa da UEFA, Copa Intertoto, Supercopa da UEFA e Mundial Interclubes. Com a modernização do Mundial, vale lembrar que falta a Juve vencer o torneio nos moldes atuais, organizado pela FIFA.

 

Novos ares

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Depois de vencer tudo com a Juventus (e mais um título italiano em 1985-1986), Giovanni Trapattoni decidiu mudar de ares na temporada 1986-1987 ao se transferir para a Internazionale. Com a nerazzurri, Trapattoni passou duas temporadas em branco, mas em 1988 foi outra vez beneficiado pela vinda de um craque para compor o elenco, ou melhor, dois: o lateral-esquerdo Andreas Brehme e o multifuncional Lothar Matthäus. A dupla passaria a integrar um elenco que perdera nomes importantes como Passarella, Enzo Scifo e Altobelli, mas ainda forte com o goleiro Walter Zenga, os defensores Giuseppe Bergomi, Giuseppe Baresi (irmão mais velho de Franco), Andrea Mandorlini e Riccardo Ferri, além de Bianchi, Díaz, Berti e Serena. Com a dupla alemã e um time entrosado há dois anos, Trapattoni faria da temporada 1988-1989 simplesmente inesquecível para qualquer torcedor da Inter.

 

O Scudetto dos recordes

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A Inter campeã italiana de 1988-1989: esquema montado pelo técnico Trapattoni dava liberdade para Brehme e Matthäus armarem jogadas. Serena fez a festa.
A Inter campeã italiana de 1988-1989: esquema montado pelo técnico Trapattoni dava liberdade para Brehme e Matthäus armarem jogadas. Serena fez a festa.

 

Enquanto os principais rivais da Inter se digladiavam nas competições europeias (Milan na Liga dos Campeões, Napoli na Copa da UEFA e Sampdoria na Recopa), a equipe nerazzurri teve para si um Campeonato inteiro para desfilar. E fazer história. A Internazionale fez uma das melhores campanhas do Calcio em todos os tempos naquela temporada de 1988-1989. O time simplesmente trucidou seus rivais com gols, shows e uma eficiência assustadora. Foram 26 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas em 34 jogos, com 67 gols marcados e 19 sofridos. Preste atenção na sequência de recordes a seguir para não se perder: a Inter foi a equipe que mais venceu, que menos empatou, que menos perdeu, que mais fez gols, que menos sofreu gols, que mais venceu em casa (15 vitórias e dois empates, invicta), que mais venceu fora de casa (11 vitórias) e a que menos perdeu fora de casa (duas vezes, para Fiorentina e Torino). Para coroar uma campanha tão avassaladora, Aldo Serena foi o artilheiro do campeonato com 22 gols, com Ramón Díaz sendo o outro goleador da equipe, com 12. Aquela Inter ainda marcou época como a que mais fez pontos na história do Calcio com 18 equipes, quando as vitórias ainda valiam dois pontos: 58. Apenas a Juventus de 1994-1995 quebraria esse recorde ao marcar 73, mas com as vitórias já valendo três pontos.

A torcida vibrou como nunca com uma conquista tida como improvável na época, tamanha a badalação pra cima dos outros rivais. Mas a Inter se impôs e desfilou. Os destaques foram as vitórias sobre Milan (1 a 0), Napoli (2 a 1), Roma (2 a 0 e 3 a 0) e Sampdoria (1 a 0 e 1 a 0). O time mesclava uma segurança fenomenal na zaga com precisão cirúrgica no ataque. Os alemães Brehme e Matthäus caíram como luvas no esquema de Trapattoni, que podia usar a abusar do talento ofensivo de ambos para surpreender os rivais. Uma pena que aquele seria o último título italiano da equipe em 17 longos anos. A Itália só voltaria a ser da Inter em 2006.

 

Trindade completa e nova taça continental

Matthäus, Trapattoni, Brehme e Klinsmann.
Matthäus, Trapattoni, Brehme e Klinsmann.

 

Em 1989, a Inter trouxe a peça que faltava para completar o seu trio estrangeiro de sucesso: o atacante Jürgen Klinsmann, uma das maiores estrelas de seu país após várias temporadas de sucesso no Stuttgart. Pouco depois da estreia do craque, em uma vitória sobre o Spezia pela Copa da Itália, a equipe venceu em setembro de 1989 a Supercopa da Itália, derrotando a fortíssima Sampdoria por 2 a 0, com gols de Cucchi e Serena. Depois de uma má campanha na Liga dos Campeões, Trapattoni colocou seu time nos trilhos novamente e faturou a Copa da UEFA de 1990-1991, derrotando a rival Roma-ITA na decisão com um 2 a 0 em casa (gols de Matthäus e Berti) e derrota por 1 a 0 fora, resultado que deu o título à Inter graças ao placar agregado de 2 a 1. Depois de 26 anos, a torcida podia comemorar uma taça internacional e, acima de tudo, inédita. Era a consagração daquele time marcante e que conseguiu, mesmo diante de tantos adversários poderosos, abocanhar taças. Um fator de destaque foi a força demonstrada pela Inter dentro de sua casa naquela Copa (seis vitórias em seis jogos). Maciça e inesquecível.

 

De volta ao lar

ITA: Juventus Training Session

Na temporada 1991-1992, Giovanni Trapattoni deixou o comando da Inter para voltar à sua querida Juventus, que não tinha mais Boniperti como presidente. Mesmo sem a sintonia e a flexibilidade em poder atuar como treinador-dirigente de antes, Trapattoni voltou a vencer uma taça internacional com a sua “Velha Senhora”: a Copa da UEFA de 1992-1993, com duas vitórias incontestáveis na decisão sobre o Borussia Dortmund-ALE: 3 a 1 fora de casa (dois gols de Roberto Baggio e um de Dino Baggio) e 3 a 0 em casa (dois gols de Dino Baggio e um de Möller). Mesmo com vários talentos na equipe, Trapattoni não conseguiu levar a Juve ao título nacional, fato que deixou a exigente diretoria alvinegra descontente. Foi então que o treinador começaria uma nova era na carreira: a de técnico estrangeiro.

Trapattoni no alto e festa alvinegra: filme repetido em 1993.
Trapattoni no alto e festa alvinegra: filme repetido em 1993.

 

Pérolas e títulos

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Trapattoni dirigiu na temporada 1994-1995 seu primeiro clube fora da Itália: o Bayern München-ALE. A passagem foi (bem) breve e Trap voltou à Itália para comandar o Cagliari, onde também ficou pouco tempo. Na temporada 1996-1997, Trapattoni voltou ao Bayern e conseguiu, enfim, glórias por um clube de fora da bota. Comandando seus antigos pupilos de Internazionale Matthäus e Klinsmann, Trapattoni se sentiu mais confortável e levou o Bayern ao caneco da Bundesliga daquele ano com 20 vitórias, 11 empates e apenas três derrotas em 34 jogos, com 68 gols marcados e 34 sofridos (melhor defesa). Além do título nacional, Trapattoni ainda faturou uma Copa da Liga Alemã naquele ano e uma Copa da Alemanha em 1998.

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Em sua passagem por Munique, Trapattoni arrancou vários risos dos jornalistas por causa de sua dificuldade em se adaptar à língua alemã, falando várias frases erradas e com sentidos diferentes do que ele queria dizer, muito parecido com o “portunhol” de Vanderlei Luxemburgo nos tempos de Real Madrid-ESP. Uma de suas mais famosas entrevistas aconteceu em 1998, após uma derrota para o Schalke 04 por 1 a 0 pelo campeonato alemão. Trapattoni recheou a coletiva com neologismos e falas equivocadas como “eu estou acabado” ao invés de dizer “eu terminei (a coletiva)” entre outros. O relativo sucesso na Alemanha não ajudou Trapattoni a ter mais longevidade no time muito pelo fato de o Bayern não fazer boas campanhas em competições internacionais no período.

 

Seca e seleção

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Entre 1998 e 2000, Trapattoni comandou a Fiorentina-ITA de Batistuta, mas não conseguiu conquistar taças com a Viola. Já experiente, vencedor de tudo e conceituado, o treinador conseguiu em 2000 realizar um sonho: dirigir a seleção da Itália e classificá-la para a Copa do Mundo de 2002. Na Azzurra, Trapattoni poderia escolher os melhores e fazer o seu melhor. Muitos acreditavam que ele seria capaz de tirar a equipe da seca de títulos mundiais que em 2002 completaria exatos vinte anos. Mas Trap não conseguiu sucesso. No mundial da Coreia do Sul e Japão, a Itália não tinha nem a identidade nem a força tática marcantes nos times de Trapattoni e caiu já nas oitavas de final diante da Coreia do Sul, num jogo polêmico e cheio de erros de arbitragem que prejudicaram demais os italianos.

Naquele mundial, Trapattoni aprontou mais uma de suas excentricidades ao levar água benta (!) e jogar em seus atletas para ajudar no caminho do sonhado tetra. Mas de benta aquela água não tinha era nada… Após o revés na Copa, Trapattoni ainda comandou a Azzurra na Eurocopa de 2004 e outra vez o time caiu cedo, ainda na fase de grupos, o que provocou a demissão do treinador depois de 44 jogos, 25 vitórias, 12 empates, sete derrotas, 68 gols marcados e 30 sofridos – aproveitamento de 56,82%.

 

Redenção em Portugal e mais recordes

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Trapattoni só voltou a sorrir no futebol quando assumiu o Benfica-POR na temporada 2004-2005 e levou o time de Lisboa à conquista do campeonato nacional depois de 11 anos de jejum. O italiano virou ídolo da torcida após o título, mas ficou somente até o final daquela temporada em Portugal, quando retornou ao futebol alemão para comandar o Stuttgart. Lá, voltou a sucumbir e partiu para uma nova aventura em outro país: a Áustria, mais precisamente no Salzburg. E foi em solo austríaco que Trapattoni conseguiu uma nova façanha: a de ser um dos poucos treinadores a vencer títulos nacionais em quatro países diferentes. O Salzburg foi campeão austríaco na temporada 2006-2007 com o melhor ataque (70 gols), melhor defesa (23 gols sofridos), maior número de vitórias (22 em 36 jogos) e menor número de derrotas (cinco).

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Cidadão irlandês

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Em 2008, Trapattoni aceitou mais um desafio: o de comandar a seleção da Irlanda. O treinador conseguiu, enfim, implantar seu estilo na equipe ao contrário dos tempos de Itália e fez da Irlanda uma das boas equipes da Europa. O time esteve muito perto de disputar a Copa do Mundo de 2010, mas uma polêmica partida contra a França nas eliminatórias (que teve uma mão clara do francês Thierry Henry no lance do gol que eliminou os irlandeses) tirou os britânicos de maneira injusta do mundial sul-africano.

Em 2012, Trapattoni teve a curiosa tarefa de enfrentar a Itália na Eurocopa daquele ano comandando a Irlanda. O técnico perdeu o jogo por 2 a 0, assim como as outras duas partidas do grupo (3 a 1 para a Croácia e 4 a 0 para a Espanha), mas ele segue firme no comando da seleção e com um título no currículo: a Copa das Nações de 2011, disputada contra Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales.

 

Vencedor insuperável

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Trapattoni seguiu até 2013 no comando da Irlanda e deixou a equipe após fracassar na tentativa de levar o país à Copa do Mundo de 2014. Giovanni Trapattoni foi um dos mais vitoriosos técnicos da história e responsável por montar a melhor Juventus de todos os tempos e uma das melhores Internazionale de todas. Além de tudo isso, o treinador será eternamente insuperável pelo fato de ter conquistado todos os troféus possíveis por clubes, algo que nem mitos como Arrigo Sacchi, Vittorio Pozzo, Rinus Michels e Ernst Happel conseguiram. Coisa de técnico imortal.

 

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Esquadrão Imortal – Liverpool 2004-2007

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