Grandes Feitos: Campeão da Copa da UEFA (2003-2004), Campeão da Supercopa da UEFA (2004), Vice-campeão da Liga dos Campeões da UEFA (1999-2000 e 2000-2001), Bicampeão do Campeonato Espanhol (2001-2002 e 2003-2004), Campeão da Copa do Rei (1998-1999) e Campeão da Supercopa da Espanha (1999).
Time base: Cañizares; Angloma (Curro Torres), Djukic (Roberto Ayala), Pellegrino (Marchena) e Gerardo (Carboni / Fábio Aurélio); Farinós (Luís Milla / Rufete), Mendieta (Albelda) e Kily González (Baraja); Angulo (Adrian Ilie / Juan Sánchez), Gerard (Pablo Aimar / Vicente) e Claudio López (John Carew / Mista). Técnicos: Claudio Ranieri (1998-1999 e 2004), Héctor Cúper (1999-2001) e Rafael Benítez (2001-2004).
“O desjejum do morcego”
Depois de virar um dos grandes do futebol espanhol a partir dos anos 40, o Valencia Club de Fútbol amargou quase duas décadas de jejum terríveis. Depois de levantar as taças da Recopa da UEFA e da Supercopa da UEFA em 1980, o time viu os rivais Barcelona e Real Madrid voltarem a dominar o cenário espanhol e não conseguiu conquistar nenhuma taça. Vários técnicos passaram pelo time, contratações foram feitas de baciada, e nada de o clube do morcego voltar a ser campeão. Porém, na virada do século XX, o clube do Mestalla chacoalhou tudo e todos, colocou a pelota no chão e tratou de recuperar o tempo perdido. De 1999 até 2004 foram seis títulos, séries invictas, goleadas e várias finais disputadas, incluindo duas Ligas dos Campeões e uma Copa da UEFA. Se a Velhinha Orelhuda não veio, os morcegos não fizeram feio na Copa e voltaram a triunfar em solo europeu com justiça e depois de encantar a todos com um futebol ofensivo, cheio de variações táticas e muito, mas muito competitivo. Os torcedores valencianos cansaram de comemorar vitórias maiúsculas com paellas e mais paellas, o que com certeza fez subir a taxa de obesidade dos cidadãos da cidade… É hora de relembrar.
Chega de bagunça!

O Valencia vivia um período turbulento e de completa desordem naquela década de 90. De 1991 até 1997 foram 11 técnicos (contando as duas passagens de Guus Hiddink), incluindo Carlos Alberto Parreira e Luis Aragonés, e nenhum conseguiu arrumar o time, que teve de viver no ostracismo e atrás dos gigantes Barcelona e Real Madrid. Em setembro de 1997, Jorge Valdano deixou o comando do clube para a chegada do italiano Carlos Ranieri, que viu o ambiente ideal para começar do zero um trabalho que poderia render bons frutos em curto prazo. O treinador passou a investir nas categorias de base do time valenciano e apostar em jogadores jovens que estavam encostados nos rivais. Estrelas não teriam vez com o italiano, o que acabou por abreviar as passagens do brasileiro Romário e do argentino Ariel Ortega no clube espanhol. Com isso, uma garotada boa de bola passou a vestir a camisa titular do Valencia e encher de expectativa a torcida. Mendieta, Miguel Ángel Angulo e Javier Farinós foram só alguns dos jogadores que integraram essa nova era do time, além do recém-contratado goleiro Santiago Cañizares, que rapidamente se tornaria um dos maiores símbolos da história do clube. Logo em sua primeira temporada, Ranieri conduziu o Valencia até o 9º lugar do Campeonato Espanhol, posição que garantiu a participação do clube na Copa Intertoto, uma espécie de torneio que dava aos vencedores uma vaga na Copa da UEFA de 1998-1999. E seria na temporada seguinte que o morcego iria, enfim, acordar de um profundo sono de quase 20 anos.
Top 5 e base de respeito

Na temporada 1998-1999 o Valencia conseguiu formar uma base forte e com bons jogadores em todos os setores do campo. A equipe tinha um ótimo goleiro (Cañizares), um meio de campo consistente e criativo (Mendieta, Farinós e Angulo), laterais de talento (Angloma e Carboni) e um ataque rápido com Adrian Ilie e Claudio López em grande fase. Muito bem treinados por Ranieri, os morcegos do Mestalla fizeram uma boa campanha no Campeonato Espanhol e terminaram na quarta posição, atrás do campeão Barcelona, do vice Real Madrid e do terceiro colocado Mallorca. López foi o artilheiro da equipe com 21 gols, apenas quatro a menos que o goleador do torneio (Raúl, do Real, com 25). Na Copa da UEFA, o time até passou pela primeira fase ao derrotar o Steaua Bucareste-ROM por 7 a 3 no placar agregado, mas sucumbiu já na segunda fase diante do Liverpool-ING por causa do saldo de gols ao empatar em 0 a 0 na Inglaterra e em 2 a 2 em casa. Mesmo com os revezes nesses torneios, a equipe ainda daria uma alegria imensa para sua torcida: um título. E o fim do amargo jejum.
Vareios e a sonhada taça

Na Copa do Rei de 1998-1999, o Valencia eliminou o Levante nas oitavas de final (3 a 0 fora e 1 a 0 em casa) e teve dois ingratos desafios a partir das quartas de final. O primeiro deles foi o Barcelona e sua legião de holandeses reforçada por Rivaldo. No duelo do Camp Nou, um jogaço e vitória magistral do Valencia por 3 a 2, com dois gols de Claudio López e um de Mendieta. Na volta, no Mestalla tomado pela massa valenciana, López (2), Angulo e Mendieta anotaram os gols de outra vitória incrível dos morcegos, dessa vez por 4 a 3. Com 7 a 5 no placar agregado, o Valencia encantou a todos e provou ser mesmo um dos melhores times da Espanha na época. A imprensa do país classificou aquele duelo como uma verdadeira final antecipada. Mas ainda tinha outro duelo pela frente: o Real Madrid.
No jogo de ida, no Mestalla, o Valencia proporcionou ao seu torcedor um dos maiores bailes da história do futebol espanhol em todos os tempos. Mesmo jogando contra o poderoso clube merengue, campeão europeu e mundial em 1998 e cheio de estrelas como Illgner, Roberto Carlos, Karembeu, Seedorf, Redondo, Raúl e Morientes, o Valencia atropelou e venceu por 6 a 0, num show com as assinaturas de Claudio López (2), Mendieta, Roche (2) e Vlaovic. Só no primeiro tempo o time alvinegro fez 4 a 0 em um atordoado e estupefato Real Madrid, que foi vítima da organização tática do esquadrão valenciano e de suas letais jogadas de bola parada. Na volta, mesmo com uma arbitragem bem suspeita e com a imprensa madrilena dizendo que era possível a “remontada”, o Valencia segurou os merengues e perdeu de apenas 2 a 1, resultado que colocou a equipe na final.

Em Sevilha, o Valencia não tomou conhecimento do Atlético de Madrid e goleou por 3 a 0, com dois gols de Claudio López e um de Mendieta. Enfim, o Valencia era campeão e acabava com o jejum que durava 19 anos. A festa foi enorme e a torcida comemorou como nunca uma taça merecida e que foi ganha pelo time mais competente e que tinha craques que viviam seus auges, a começar pelo meio-campista Mendieta, um gigante que construía jogadas, marcava gols e ditava o ritmo daquele esquadrão. Claudio López foi outro essencial para o sucesso do time naquela temporada com a enxurrada de gols decisivos marcados. Mais do que nunca, a torcida esperava muito mais títulos no ano seguinte.
Muda o técnico, mas melhora a pegada

Foi com muito receio que a torcida valenciana recebeu a notícia de que o técnico Claudio Ranieri deixaria o comando do time na temporada 1999-2000 para dirigir o Atlético de Madrid. Porém, o argentino Héctor Cúper chegou para apaziguar os ânimos e mostrar que seu trabalho maravilhoso no Mallorca, com duas finais disputadas e um título da Supercopa da Espanha não tinha acontecido por acaso. A equipe ficou mais forte com a chegada de Kily González e manteve a mesma pegada da temporada anterior. Ainda sem força para levantar o troféu do Campeonato Espanhol (ficou com o Deportivo La Coruña), o time alcançou a terceira posição e teve a segunda melhor defesa com 39 gols sofridos em 38 jogos. Na Copa do Rei, o time não foi bem e caiu logo na segunda fase, mas seria na maior competição da temporada que o Valencia provaria não só para a Espanha, mas também para toda a Europa que muita coisa tinha mudado pelas bandas alvinegras. E que nem só de Barcelona e Real Madrid vivia a Espanha.
Sem medo de ninguém
Na Liga dos Campeões da UEFA de 1999-2000, o Valencia despachou facilmente o Hapoel Haifa-ISR com 4 a 0 no placar agregado antes de entrar na fase de grupos da competição. Nela, o time ficou à frente de Bayern München-ALE, Rangers-ESC e PSV-HOL com três vitórias e três empates e se garantiu na segunda fase, que também era composta por grupos, nos quais os primeiros e segundos colocados se garantiriam nas quartas de final. Os espanhóis tiveram pela frente o então campeão europeu Manchester United-ING, a Fiorentina-ITA e o Bordeaux-FRA. Depois de seis jogos, três vitórias, um empate e duas derrotas (para o United e Fiorentina, ambas fora de casa), o Valencia conseguiu a classificação. E um lugar entre os oito melhores times do continente.
Com a força do Mestalla, na final europeia

O primeiro embate no mata-mata da Liga foi contra a forte Lazio-ITA de Inzaghi e Salas. Mas os espanhóis fizeram os celestes provarem do veneno valenciano e golearam por 5 a 2, com gols de Angulo, Gerard (3) e Claudio López. Foi um show que deu à equipe de Héctor Cúper mais tranquilidade para a volta, em Roma. Na Itália, a Lazio só conseguiu um golzinho com Verón e viu o Valencia se garantir na semifinal.
Antes da decisão, o Valencia teve outro titã pela frente: o Barcelona-ESP. A ida foi no Mestalla, e jogando diante de sua torcida os alvinegros voltaram a dar show com uma goleada por 4 a 1, gols de Angulo (2), Mendieta e Claudio López, claro. No Camp Nou, Mendieta abriu o placar para o Valencia já no segundo tempo, o Barça virou, mas não adiantou. Os morcegos estavam na final da Liga dos Campeões da UEFA pela primeira vez na história. E justamente na primeira decisão envolvendo times do mesmo país. Afinal, o Valencia teria como rival o Real Madrid-ESP.
Dia para esquecer

Na decisão europeia de 2000, a última do século XX, Valencia e Real Madrid se enfrentaram no belíssimo Stade de France, em Saint-Denis. De um lado, os madrilenos Casillas, Helguera, Roberto Carlos, McManaman, Redondo, Raúl, Morientes e Anelka. Do outro, os bravos valencianos Cañizares, Angloma, Pellegrino, Mendieta, Kily González e Claudio López. O Real tinha a chance de se vingar da dolorosa goleada sofrida pelo clube valenciano por 6 a 0 na temporada anterior. Já o Valencia queria manter a “freguesia” e levantar seu primeiro título da Liga. Mas, ao contrário dos prognósticos preliminares, o jogo foi de um time só. O Real Madrid simplesmente atropelou o Valencia e fez 3 a 0, gols de Morientes, McManaman e Raúl, este último um lindo gol de contra-ataque. De maneira categórica e incontestável, o Real Madrid conquistava seu oitavo título europeu, encerrando o século XX da Liga dos Campeões como ele começou, lá em 1955-1956: campeão. A derrota doeu profundamente nos torcedores e no time do Valencia, que viu a chance de fazer história ir por água abaixo. Era preciso refazer o caminho europeu e tentar disputar a final em 2001. Impossível? De jeito nenhum.
Debandada e novos nomes

O sucesso do Valencia na temporada anterior fez com que vários clubes começassem a assediar os atletas do time espanhol, e não demorou muito para que Claudio López, Farinós e Gerard deixassem o Mestalla. Outra vez a torcida temeu pelo pior, mas o clube mostrou ser rápido no gatilho e foi às compras, trazendo o atacante Carew, o meio-campista Baraja, o zagueiro Ayala e o lateral brasileiro Fábio Aurélio. Os reforços ainda não foram o bastante para levar a equipe ao título espanhol e da Copa do Rei, mas todos tinham como principal objetivo uma única competição: a Liga dos Campeões.
Na saga europeia, os espanhóis eliminaram o Tirol Innsbruck-AUT na fase preliminar e não tiveram problemas em superar Lyon-FRA, Olympiacos-GRE e Heerenveen-HOL na primeira fase de grupos. Na segunda fase de grupos, outra vez o Valencia teve o Manchester United-ING pelo caminho, além do Stum Graz-AUT e Panathinaikos-GRE. Ao contrário da temporada anterior, os morcegos não perderam para os ingleses, mas também não venceram (foram dois empates: 0 a 0 na Espanha e 1 a 1 na Inglaterra). Os outros compromissos foram tranquilos e a equipe se classificou após três vitórias e três empates em seis jogos. Era hora de mais um mata-mata.
Fantasmas de ingleses

Nas quartas de final, o Valencia encarou o Arsenal-ING de Seaman, Adams, Ashley Cole, Pires, Vieira, Ljungberg e Henry. O primeiro duelo foi em Londres, com vitória de virada dos ingleses por 2 a 1. A derrota não abalou os espanhóis, afinal, o golzinho de Ayala foi muito importante para a volta, no Mestalla. Com mais de 48 mil torcedores a seu favor, o Valencia venceu por 1 a 0, gol de Carew, e se garantiu nas semifinais, onde teve pela frente mais uma equipe inglesa: o Leeds United de Ferdinand, Kewell e Viduka. Na ida, muita pressão do Leeds, mas o Valencia segurou o empate sem gols. Na volta, Juan Sánchez Moreno (2) e Mendieta assinaram os gols da goleada por 3 a 0 que colocou os morcegos pela segunda vez seguida na final da Liga dos Campeões da UEFA. Era a prova maior de que não foi mero acaso o vice de 2000. O Valencia era bom, sim, e extremamente competitivo. Mas haveria outro titã pela frente: o Bayern München-ALE de Kahn, Kuffour, Sagnol, Lizarazu, Effenberg e Élber.

Pênaltis do bem, pênaltis do mal
Na final da Liga de 2001, Bayern e Valencia disputaram a mais cobiçada taça da Europa diante de 72 mil pessoas no estádio San Siro, em Milão-ITA. Os espanhóis vinham de uma derrota dolorosa para o Real Madrid na decisão de 2000 e estavam dispostos a apagar o revés anterior e conquistar uma inédita e histórica taça. Já o Bayern vivia as traumáticas lembranças da derrota nos minutos finais da Liga de 1999 para o Manchester United e lutava pelo tetracampeonato. O jogo começou a todo vapor e logo aos três minutos o juiz Dick Jol marcou pênalti para o Valencia. Na cobrança, o capitão Mendieta bateu e fez o primeiro gol do jogo. Quatro minutos depois, outro pênalti, dessa vez para o Bayern. Scholl foi para a bola e Cañizares defendeu! Parecia que naquele dia a sorte estava com o Valencia. Porém, tudo começou a virar de cabeça para baixo.

No segundo tempo, outro pênalti para o Bayern e dessa vez os alemães marcaram com Effenberg: 1 a 1. O jogo seguiu tenso, com muitas faltas (47 no total) e maior posse de bola para o Bayern. Depois de 120 minutos, a decisão foi para a marca da cal. Nela, Kahn foi melhor que Cañizares e garantiu a vitória alemã por 5 a 4 ao defender o chute decisivo do zagueiro Pellegrino. A Europa era do Bayern pela quarta vez. E o Valencia ficava com o vice pela segunda vez seguida. Muitos creditaram a derrota à falta de sorte do técnico Héctor Cúper, que acumulou seu terceiro vice em torneios continentais em três anos (duas Ligas pelo Valencia e uma Recopa pelo Mallorca). Sem a vaga na Liga de 2001-2002 (perdida para o Barcelona na última rodada do Campeonato Espanhol, com vitória catalã por 3 a 2), o clube decidiu fazer mudanças para a temporada seguinte e Rafa Benítez assumiu o comando técnico do time. Ali, começaria o fim da zica. E de tempos verdadeiramente gloriosos para os morcegos.

La Liga, 31 anos depois

Com Benítez no comando, o Valencia usou mais a força defensiva do que a ofensiva para manter a sina competitiva dos anos anteriores, além de ter de se virar sem o craque Mendieta, vendido para a Lazio em 2001. Os reforços de Mista, Marchena, Curro Torres e Rufete ajudaram na reformulação do conjunto para que o time tentasse focar o Campeonato Espanhol, que tinha ficado em segundo plano nos anos anteriores. Eliminados nas quartas de final da Copa da UEFA e na primeira fase da Copa do Rei, os morcegos foram eficientes no torneio nacional e conquistaram o título com uma campanha incontestável, apesar de econômica nos gols. Foram 21 vitórias, 12 empates e apenas cinco derrotas em 38 jogos, com 51 gols marcados e 27 sofridos (melhor defesa). O time ficou invicto da primeira até a 14ª rodada, quando perdeu a invencibilidade para a Real Sociedad. Os morcegos somaram sete pontos a mais que o vice-campeão, Deportivo La Coruña, e levaram a torcida ao delírio com um título que não era conquistado pelo clube desde 1971. A taça foi um belo cartão de visitas do então novato técnico Rafa Benítez, que conseguiu logo em sua primeira temporada o que seus antecessores tão famosos e cheios de pompa não tinham conseguido: a sonhada taça do Campeonato Espanhol.
Decepções
Cheios de entusiasmo, os valencianos esperavam conquistar tudo o que disputassem na temporada 2002-2003, mas tanta expectativa gerou uma imensa frustração em todos. No Campeonato Espanhol, o time ficou apenas na quinta posição, na Copa do Rei a eliminação aconteceu já na segunda fase e na Liga dos Campeões o reencontro com Héctor Cúper, então treinador da Internazionale-ITA, resultou em derrota nas quartas de final e adeus ao sonho de mais uma final europeia. O argentino Pablo Aimar foi um dos poucos que se destacou no time, que parece ter relaxado com a histórica conquista de 2002 e simplesmente não jogou o futebol eficiente e característico de antes. Porém, a ressaca ia durar bem pouco.
Apogeu valenciano
Na temporada 2003-2004, o Valencia fez história novamente ao conquistar o Campeonato Espanhol pela segunda vez em três anos. Dessa vez, o time acertou o pé e teve um ataque goleador e eficiente, graças ao talento de Mista, artilheiro do time com 19 gols marcados. Os alvinegros mostraram força logo no começo do torneio com seis vitórias seguidas, entre elas um 3 a 0 sobre o Atlético de Madrid (fora), 2 a 0 no Real Madrid (em casa), 1 a 0 no Barcelona (fora) e 4 a 0 no Espanyol (em casa). A equipe foi campeã com 77 pontos (cinco a mais que o vice-campeão Barça), 23 vitórias, oito empates e sete derrotas em 38 jogos, com 71 gols marcados (segundo melhor ataque) e 27 gols sofridos (melhor defesa). Outra vez a fanática torcida saiu às ruas para festejar e receber seus heróis ainda no aeroporto de Manises. Mas não seria apenas o título nacional que o Valencia ia celebrar naquela temporada. Haveria outra taça prontinha para ser levantada: a Copa da UEFA.
Rumo à Gotemburgo
Enquanto despachava seus rivais em solo espanhol, o Valencia teve compromissos pela Copa da UEFA, competição que lhe restou por causa da má campanha na temporada 2002-2003. A equipe despachou nas primeiras fases do torneio o AIK-SUE, Maccabi Haifa-ISR, Besiktas-TUR, Gençlerbirligi-TUR e Bordeaux-FRA até chegar à semifinal, quando teve pela frente o Villarreal-ESP de Reina, Coloccini, Belletti, Battaglia, Riquelme e Sonny Anderson. No primeiro jogo, no El Madrigal, o empate sem gols mostrou o franco equilíbrio entre as duas equipes, muito fortes na época e com vários latinos em seus elencos. Na volta, no Mestalla, o artilheiro Mista fez a diferença e marcou, de pênalti, o gol da vitória por 1 a 0 e da classificação dos morcegos para a final. Era hora de exorcizar os fantasmas dos vices e conquistar a glória europeia.

Enfim, campeões!
Na decisão da Copa da UEFA de 2004, o Valencia teve pela frente o Olympique de Marselha-FRA do goleiro Barthez e do centroavante Didier Drogba. Os mais de 39 mil torcedores presentes em Gotemburgo, na Suécia, viram um jogo disputado e com o Valencia dando aula de eficiência em sua defesa, além de exigir milagres do goleiro Barthez. Perto do final do primeiro tempo, o carequinha do Olympique teve de impedir Mista de concluir a gol após um cruzamento impecável de Curro Torres derrubando o atacante espanhol dentro da área. Pênalti. O goleiro foi expulso e Vicente abriu o placar para o Valencia. Na segunda etapa, logo aos 13´, Mista ampliou e deu números finais ao jogo: 2 a 0. Depois de dois vices, o Valencia tirava o grito de “é campeão” da garganta e celebrava uma conquista europeia. Era a coroação de um time que marcou época na Europa e na Espanha com um futebol competitivo, eficiente e vencedor, além de sacramentar a campanha impecável dos espanhóis no torneio continental: 13 jogos, 10 vitórias, dois empates e apenas uma derrota, com 20 gols marcados e apenas cinco sofridos. Outro que fez história naquela conquista foi o italiano Carboni, jogador mais velho a vencer um título europeu, com 39 anos e 43 dias.
Última taça e o fim
Na temporada 2004-2005, o técnico Rafa Benítez entrou em conflito com a conturbada diretoria do Valencia e se mandou para o Liverpool-ING, onde ele iria conquistar a Liga dos Campeões da UEFA logo em seu debute. Para o seu lugar voltou o italiano Claudio Ranieri, o mesmo que começou a construir um dos mais talentosos times do Valencia na história. A temporada até que começou bem com o título da Supercopa da UEFA, conquistado em cima do campeão da Liga, o Porto-POR, com vitória por 2 a 1. No entanto, o time voltaria a enfrentar problemas estruturais e não conseguiu manter o brilho de antes, voltando a trocar de técnico ano após ano. Desde então, a torcida espera que os tempos de conquistas e decisões voltem pelas bandas do Mestalla. Enquanto uma nova era de ouro não chega, restam as memórias de um time que marcou época, conquistou títulos e encerrou um jejum torturante com shows, partidas emblemáticas e sapecos nos gigantes Barcelona e Real Madrid, que viram por alguns anos suas supremacias serem abaladas por um morcego letal, arisco e venenoso. Um Valencia imortal.
Os personagens:
Cañizares: ídolo máximo do Valencia e um dos maiores goleiros da história da Espanha e da Europa, Santiago Cañizares foi um ícone daquele time copeiro formado pelo clube do Mestalla. Excêntrico, seguro e muito ágil, garantiu os baixos números de gols sofridos do time por anos e foi presença constante nas convocações da seleção espanhola, pela qual disputou três Copas do Mundo. Disputou 446 jogos pelo Valencia, venceu títulos marcantes e construiu uma rica história no clube que jamais será apagada. Encerrou a carreira no próprio Valencia em 2008, depois de uma década de glórias e atuações inesquecíveis.
Angloma: o lateral francês chegou já experiente ao Valencia em 1997 e com vários títulos no currículo, incluindo uma Liga dos Campeões da UEFA pelo Olympique de Marselha em 1993. Sem o vigor físico de antes, o defensor foi fundamental para garantir a segurança pelo lado direito da zaga alvinegra. Disputou mais de 120 jogos pelo Valencia e foi um dos grandes craques do clube no período.
Curro Torres: lateral-direito, assumiu o lugar que era de Angloma e deu conta do recado com eficiência na marcação, ótimos cruzamentos e apoio ao meio de campo e ataque. Jogou 10 anos no Valencia e ainda integrou o grupo da seleção espanhola que disputou a Copa do Mundo de 2006.
Djukic: foi outro veterano que seu deu bem no Valencia naquele final de anos 90. O zagueiro sérvio já era bem conhecido por seu desempenho com a camisa do Deportivo La Coruña entre 1990 e 1997 e jogou de maneira eficiente e correta em seus anos vestindo a camisa alvinegra. Foi uma boa opção na zaga e também para o papel de líbero.
Roberto Ayala: outro grande ídolo da torcida valenciana, o zagueiro argentino Ayala foi um dos melhores defensores dos anos 90 e ícone, também, da seleção argentina, pela qual disputou três Copas do Mundo. Tinha uma capacidade incrível para se antecipar aos atacantes nas jogadas aéreas e se posicionava muito bem, além de surpreender os rivais com investidas ao ataque que resultavam em gols importantes para o time espanhol. Disputou 275 jogos pelo clube e marcou 12 gols em sete temporadas, de 2000-2001 até 2006-2007.
Pellegrino: zagueiro muito alto (1,93m), o argentino foi um dos principais atletas do Valencia entre 1999 e 2005 com muita segurança, qualidade na marcação e força física. Teve bons momentos com a camisa alvinegra, mas viveu uma noite trágica ao desperdiçar o pênalti decisivo que deu o título da Liga dos Campeões para o Bayern, em 2001.
Marchena: zagueiro cheio de personalidade, segurança e muita qualidade com a bola no pé, Marchena formou uma dupla de zaga inesquecível e impecável ao lado de Ayala naqueles anos de ouro do Valencia. Jogou de 2001 até 2010 no Mestalla e encantou a torcida com seu futebol. As apresentações do jogador o levaram à seleção espanhola, pela qual venceu a Copa do Mundo de 2010 e a Eurocopa de 2008.
Gerardo: integrou o time do Valencia na temporada 2000-2001 e jogou como lateral-esquerdo, embora sua posição de origem fosse a ala direita. Teve apenas alguns bons jogos e logo foi emprestado ao Osasuna. Teve uma boa passagem pelo Málaga entre 2001 e 2006.
Carboni: foi um dos maiores laterais do futebol italiano nos anos 80 e 90 e chegou já veterano ao Valencia em 1997, com 32 anos. Ninguém esperava muita coisa do jogador, mas ele provou ser como vinho: quanto mais velho, melhor. O craque jogou o fino até 2006, colecionou taças históricas e virou ídolo da torcida. Disputou 370 jogos com a camisa alvinegra e só não teve sorte maior na seleção italiana por causa da concorrência no setor.
Fábio Aurélio: depois de gastar a bola no São Paulo-BRA, o lateral brasileiro foi para o Valencia em 2000 na esperança de continuar com seu futebol virtuoso e cheio de habilidade em terras espanholas. Porém, o jogador teve poucas chances naquela era de ouro do clube por causa da boa fase de Carboni e por sofrer uma séria lesão que o tirou de boa parte da temporada 2003-2004, fazendo com que o brasileiro tivesse mais oportunidades exatamente depois dos bons tempos do Valencia.
Farinós: prata da casa e motorzinho do meio de campo do Valencia naquele final de anos 90, Javier Farinós foi essencial para as conquistas da Copa do Rei de 1999 e da Supercopa da Espanha do mesmo ano, quando marcou um dos três gols do empate em 3 a 3 contra o Barcelona. Seu futebol versátil logo despertou o interesse da Internazionale, que levou o espanhol para Milão já em 2000.
Luís Milla: passou boa parte da carreira no Barcelona e no Real Madrid antes de ir para o Valencia em 1997, clube onde foi uma importante peça de meio de campo com qualidade nos passes e eficiência na marcação. Jogou na equipe alvinegra até 2001, mesmo ano de sua aposentadoria.
Rufete: jogou de 2001 até 2006 no Valencia e foi um dos principais articuladores da equipe pelo lado direito, com habilidade, boa visão de jogo e gols importantes. Conquistou quatro taças no Mestalla e foi um dos principais nomes do técnico Rafa Benítez.
Mendieta: cerebral, líder, goleador, articulador, ídolo, craque. Gaizka Mendieta foi um dos maiores jogadores que já vestiu a camisa alvinegra do Valencia e a referência maior de brilho e talento do time por quase uma década. Jogou de 1993 até 2001 no Mestalla e encantou a todos com seu futebol brilhante e uma capacidade mágica de dar gols para os companheiros e marcar ele mesmo tentos maravilhosos. Ganhou diversos prêmios de melhor meio-campista da Europa e da Espanha no final dos anos 90 e foi convocado dezenas de vezes para a seleção espanhola. Uma pena ter deixado o Valencia antes de conquistar um título espanhol. Disputou 305 jogos pelo clube e marcou 45 gols.
Albelda: se tinha um setor onde o Valencia encantava era o meio de campo. E se tinha um homem essencial para toda essa qualidade era David Albelda. Com visão de jogo plena, ótimo poder de desarmar adversários e muito disciplinado taticamente, Albelda foi o capitão do time no período pós-Mendieta e levantou a taça da Copa da UEFA de 2004. Disputou duas Copas do Mundo com a Espanha e jogou de 1996 até 2013 no clube espanhol. Depois de 574 partidas e 15 temporadas, o meio-campista deve se aposentar em breve como uma lenda máxima do clube alvinegro.
Kily González: muito rápido e letal em contra-ataques, o argentino foi uma das principais referências de ataque do Valencia entre 1999 e 2003. Formou uma linha de frente de respeito ao lado do compatriota Aimar e de Mendieta na temporada 2000-2001.
Baraja: ótimo meio-campista que dava a segurança necessária para os meias e atacantes brilharem na frente. Baraja tinha qualidade nos passes de curta e longa distâncias, grande poder de marcação e era um elemento surpresa no ataque. Disputou mais de 400 jogos com a camisa alvinegra e marcou 63 gols. Vestiu também a camisa da seleção espanhola em 43 partidas. Foi ídolo da torcida.
Angulo: no grande Valencia de 2004, Angulo era um dos principais nomes do ataque com um fôlego invejável, versatilidade (podia jogar como meia, volante e até atacante) e poder de decisão. Marcou gols importantíssimos e foi um dos mais queridos da torcida naqueles anos de ouro. Jogou de 1996 até 2009 na equipe do Mestalla e disputou mais de 400 jogos com a camisa alvinegra.
Adrian Ilie: o atacante romeno viveu grande fase no Valencia naquela virada de século e marcou vários gols importantes, principalmente no Campeonato Espanhol e na campanha do título da Copa do Rei de 1999. Tinha força no jogo aéreo e era um perigo nas áreas adversárias.
Juan Sánchez: revelado pelo Valencia, o atacante teve passagens pelo Celta e pelo Mallorca antes de voltar ao Mestalla para viver anos maravilhosos com a camisa alvinegra. Marcou gols importantes e fez uma boa dupla de ataque ao lado de Carew na temporada 2000-2001.
Gerard: não confunda o meio-campista espanhol com o homônimo inglês. Gerard López jogou de 1997 até 2000 no Valencia e foi outra peça importante no esquema tático do time com ótimo controle de bola e precisão nos passes.
Pablo Aimar: o talentoso meia argentino viveu momentos brilhantes no Valencia entre 2001 e 2006, mas poderia ter tido sorte maior se não tivesse sofrido com tantas contusões e até uma meningite. Enquanto esteve bem fisicamente, foi um dos principais craques do ataque valenciano, principalmente nas temporadas 2000-2001 e 2001-2002.
Vicente: no grande Valencia de 2004, era Vicente quem entortava os rivais pelo lado esquerdo da equipe comandada por Rafa Benítez. Jogava muitas vezes como ponta e era muito importante para as jogadas de ataque do time com habilidade, velocidade e ótimos passes. Disputou 398 jogos pelo clube e marcou 65 gols.
Claudio López: simplesmente um matador dentro da área e vivendo uma fase extraordinária, Claudio “El Piojo” López foi um dos grandes ídolos do Valencia entre 1997 e 2000 com gols, dribles e jogadas maravilhosas que encantaram a todos. Parecia que a bola procurava o argentino naqueles tempos de ouro, principalmente em decisões, quando fazia de tudo com uma calibrada perna esquerda. Disputou 179 jogos pelo clube alvinegro e marcou 72 gols, sendo 47 no Campeonato Espanhol.
John Carew: o norueguês de quase 2 metros de altura assumiu o papel de goleador da equipe a partir de 2000, com a saída de Claudio López, e se não conseguiu marcar o mesmo número de gols do argentino, foi importante nas campanhas do time em solo europeu e espanhol. Teve destaque na trajetória do vice-campeonato da Liga dos Campeões de 2001 e no título do Campeonato Espanhol de 2002.
Mista: atacante muito importante para o jogo em equipe do Valencia de Rafa Benítez, Mista foi um dos destaques do time entre 2002 e 2004 ao marcar vários gols e também por dar passes que resultaram em tantos outros. Caiu como uma luva no time no período e virou ídolo da torcida alvinegra, principalmente após o gol do título da Copa da UEFA de 2004.
Claudio Ranieri, Héctor Cúper e Rafael Benítez (Técnicos): os três técnicos tiveram contribuições mais do que eternas para a consolidação do Valencia em uma das melhores equipes europeias do começo do século XXI. Ranieri acabou com o jejum de títulos e começou a montar um time que por muito pouco não faturou a Europa com Héctor Cúper, que deu a pegada copeira ao esquadrão alvinegro. Já Rafael Benítez soube como lapidar um time já entrosado, reforçou o sistema defensivo e deu mais confiança para os jogadores, que acabaram com a pecha de “eternos vices” para levantarem taças inesquecíveis.
Extras:
Valencia 6×0 Real
Veja os gols da histórica goleada do Valencia pra cima do Real Madrid em 1999.
Massacre no Barça
Veja a goleada de 4 a 1 do Valencia sobre o Barcelona pela Liga dos Campeões de 2000.
La Liga de 2004
Veja imagens da campanha vitoriosa do Valencia na liga espanhola de 2003-2004.
Enfim, campeões da Europa
Veja os gols e lances da final da Copa da UEFA de 2004.
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esse time do valencia era muito bom. mendieta era craque de bola junto com o kyli ,claudio lopez , baraja, albelda, canizares era um esquadrao imortal sem duvida.
A imagem do Kahn consolando Canizares é histórica. A mãe de Canizares havia morrido dias antes e a primeira coisa que o goleiro alemão fez, antes mesmo de comemorar o título, foi prestar solidariedade ao goleiro espanhol. Espetacular!