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Técnico Imortal – Rubens Minelli

4HOMEMINELLI

Nascimento: 19 de dezembro de 1928, em São Paulo, SP, Brasil. Faleceu em 23 de novembro de 2023, em São Paulo, SP, Brasil.

Times que treinou: América de São José do Rio Preto-BRA (1963-1965 e 1966), Botafogo de Ribeirão Preto-BRA (1966), Sport-BRA (1967), Francana-BRA (1968), Guarani-BRA (1969), Palmeiras-BRA (1969-1971, 1982-1983 e 1987-1988), Ponte Preta-BRA (1971), Portuguesa-BRA (1971-1973), Rio Preto-BRA (1973), Internacional-BRA (1974-1976), São Paulo-BRA (1977-1979), Al-Hilal-ARS (1979-1980), Seleção da Arábia Saudita (1980), Atlético Mineiro-BRA (1984), Grêmio-BRA (1985 e 1988-1989), Paraná-BRA (1990 e 1994-1997), Rio Branco-BRA (1991), Santos-BRA (1992), XV de Piracicaba-BRA (1993), Ferroviária-BRA (1994) e Coritiba-BRA (1997-1998).

Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Paulista – Série A2 (1963) pelo América de São José do Rio Preto.

1 Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1969) e 1 Troféu Ramon de Carranza (1969) pelo Palmeiras.

1 Torneio de Seleções da Primeira Divisão (1973) pelo Rio Preto.

2 Campeonatos Brasileiros (1975 e 1976) e 3 Campeonatos Gaúchos (1974, 1975 e 1976) pelo Internacional.

1 Campeonato Brasileiro (1977) pelo São Paulo.

1 Campeonato Saudita (1980) pelo Al-Hilal.

1 Campeonato Gaúcho (1985) pelo Grêmio.

2 Campeonatos Paranaenses (1994 e 1997) pelo Paraná.

“Genuíno, tático e tricampeão”

Por Guilherme Diniz

Ele construiu um dos maiores times da história do futebol brasileiro. Uma equipe colossal, altamente técnica, mas que não teria tido tanto sucesso sem um comando ávido e de pulso firme. Logo em seguida, lá estava ele à frente de um novo time campeão nacional, dessa vez sem a técnica do esquadrão vermelho de antes, mas com tanto brio, tanta coragem e tanta inteligência que nem o Mineirão lotado nem o favorito e invicto Atlético Mineiro conseguiram bater o tricolor. Em três anos, três títulos brasileiros. Pioneirismo e consagração que tornaram Rubens Francisco Minelli, mais conhecido como Rubens Minelli, um dos mais famosos, talentosos e prestigiados técnicos do futebol. Atento às minúcias que compõem o esporte mais popular do planeta e adepto da plenitude tática, física e psicológica de seus comandados, Minelli foi referência por onde passou e soube como ninguém os macetes para derrotar equipes mais fortes que as dele e reverter situações das mais adversas possíveis. Uma pena que o treinador não tenha comandado nem uma vez a Seleção Brasileira. É hora de relembrar a carreira do primeiro técnico tricampeão brasileiro.

 

Chuteira pendurada, economia e prancheta

No América, em 1963.
No América, em 1963.

 

A trajetória de Rubens Minelli como treinador de futebol começou no início dos anos 60, após a tentativa do paulistano de ser um jogador profissional ser abreviada precocemente, aos 27 anos, por causa de uma séria lesão na perna. A aposentadoria levou Minelli a se formar em Ciências Econômicas e a trabalhar como funcionário público. Mesmo com a vida encaminhada, ele continuou ligado ao futebol e decidiu conciliar o emprego fixo com a função de treinador nas categorias de base do Palmeiras. Ganhando experiência e aprendendo a lidar com a garotada do mundo esportivo, o jovem treinador recebeu um convite do América de São José do Rio Preto, em 1963. Foi na rica cidade interiorana que o técnico iniciou, de fato, sua carreira no banco de reservas. E da melhor maneira possível: com o título do Campeonato Paulista da Série A2, que garantiu o acesso do “Vermelinho” à elite do futebol paulista com direito a uma goleada de 5 a 1 sobre o São Bento na final do torneio. Depois do bom trabalho no América, Minelli viajou até Recife para comandar o Sport, que tentava acabar com a hegemonia do rival Náutico no Campeonato Pernambucano. No entanto, o rubro-negro não conseguiu bater o Timbu e ficou com o vice-campeonato.

 

Ganhando território

Minelli (ao centro) nos tempos de Rio Preto.
Minelli (ao centro) nos tempos de Rio Preto.

 

Após rápidas passagens por equipes menores, Minelli voltou ao Palmeiras, em 1969, dessa vez como técnico do time principal. A tarefa do treinador era reconstruir um time envelhecido após tantas glórias durante os anos 60 graças a Primeira Academia, um dos maiores esquadrões de toda a história do clube alviverde. A diretoria decidiu contratar jogadores do interior e jovens promessas com o intuito de ter uma boa base para a década de 70. Foi então que Minelli começou a lapidar jogadores como Leão, César Maluco, Luís Pereira e o ponta Ronaldo, reforços que se juntaram a Ademir da Guia, Dudu, Eurico e Zeca para formar a Segunda Academia, time que conquistaria o bicampeonato brasileiro nos anos de 1972 e 1973. Antes disso, Minelli levou o Verdão ao título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1969, com uma vitória decisiva por 3 a 1 sobre o Botafogo. Ainda naquele ano, o Palmeiras de Minelli viajou até a Espanha e levou o Troféu Ramon de Carranza e o Troféu Cidade de Barcelona, com vitórias sobre o Real Madrid (2 a 0, gols de Zé Carlos e Dé) e Barcelona (2 a 1, com dois gols de Ademir da Guia).

Em 1971, o técnico deixou o Palmeiras, passou por Portuguesa e Ponte Preta e, em 1973, foi campeão pelo Rio Preto, clube rival do América. Feliz no aconchego do interior paulista, Minelli se surpreendeu quando chegou em casa em um dia daquele ano de 1973 e viu que o carro de José Asmuz, presidente do Internacional naquela época, o esperava. Asmuz queria levar o técnico para Porto Alegre e não hesitou em pagar a quantia que Minelli pedisse. No final de 1973, o colorado gaúcho tinha técnico novo. E Minelli a chance da vida para começar a escrever sua imortalidade.

 

Construindo uma lenda

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Quando chegou ao Inter, Minelli gostou muito do ambiente e do elenco que a equipe vermelha tinha. Um meio-campista jovem e que transbordava talento (Falcão) havia acabado de subir das categorias de base e se mostrava impecável tanto na marcação quanto no apoio ao ataque. No gol, a diretoria contratou o experiente e magnífico goleiro Manga e, para o ataque, o ponteiro Lula. Na zaga, um chileno conhecido por Figueroa fincava residência com uma soberania plena. No meio e no ataque, Carpegiani, Caçapava e Valdomiro comandavam as ações. Com esses e outros expoentes, o Internacional “daria trabalho” nas palavras do próprio Minelli, que começou a montar uma equipe fortíssima e que seria pioneira em vários quesitos. Em primeiro lugar, Minelli acabaria com o futebol retranqueiro do time e faria com que seus jogadores se impusessem em campo com força física, marcação no campo dos adversários e, acima de tudo, a consciência de que era preciso atacar e defender de maneira plena e correta, aura da polivalência que tanto Minelli pregava:

“Sou favorável à polivalência. O jogador especialista só seria titular se fosse um jogador fabuloso. Caso contrário, eu o trocaria por alguém que trabalhasse pelo todo”.Rubens Minelli, em entrevista à revista Placar de 15 de abril de 1988 e reproduzida no livro Banho de Bola, de Roberto Assaf.

Além de tudo isso, começava a ficar clara a preferência de Minelli por jogadores altos, com mais de 1,75m, e fortes, com o intuito de facilitar os esquemas de marcação incisiva e a ofensividade em campo. A mão do técnico começou a surtir efeito já em 1974, quando o Inter foi campeão gaúcho com 18 vitórias em 18 jogos, 43 gols marcados e apenas dois sofridos. Uma enormidade mesmo se tratando de um campeonato estadual. Hexacampeão dentro de casa, era hora de o Inter expandir suas qualidades para o Brasil.

 

Brasil vermelho

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Em 1975, o Internacional fez história ao se tornar o primeiro clube gaúcho campeão brasileiro. Após ficar sempre nas primeiras posições nas três primeiras fases do campeonato (em um dos muitos e esdrúxulos regulamentos do futebol brasileiro daquela época), a equipe colorada se classificou para a semifinal, de jogo único, e teve como adversário o poderoso Fluminense de Rivellino, Edinho, PC Caju e Manfrini, time conhecido como Máquina Tricolor e favorito ao título. O confronto foi disputado no Maracanã sob os olhares de 97 mil torcedores. Sabendo da força do adversário, Minelli decidiu inflar seus jogadores com exemplares de jornais com as declarações do técnico do Flu, Didi, que só pensava no rival da decisão, menosprezando o Inter. Minelli cobrou uma postura valente e digna de seus pupilos. E eles entenderam muito bem o recado.

O meio de campo colorado jogou muito, Rivellino não conseguiu fazer nada e o Inter venceu por 2 a 0, com um gol de Lula e um golaço de Carpegiani. A vitória serviu para mostrar definitivamente o poder daquele time e o talento de Minelli em montar times fortes e organizados tanto na parte defensiva quanto na ofensiva. Além disso, era notável o trabalho do técnico nos bastidores para contornar gênios complicados como os do goleiro Manga e do ponta Lula, graças, também, ao vice-presidente de futebol do Inter, Frederico Ballvé, que ajudava a esfriar os ânimos e acalmar o técnico nos momentos de stress.

O gol iluminado do título brasileiro do Inter, em 1975.
O gol iluminado do título brasileiro do Inter, em 1975.

 

Na grande final do Brasileiro de 1975, o Inter encarou outra pedreira: o Cruzeiro de Nelinho, Raul Plassmann, Piazza, Zé Carlos, Palhinha e Joãozinho. Em um jogo tão pegado, quem brilhou foi a zaga colorada. Manga pegou tudo e mais um pouco naquele jogo, Figueroa teve de usar todas as suas armas (todas mesmo!) para parar o veloz ataque cruzeirense e o Inter venceu por 1 a 0, com um gol de cabeça marcado por “Don Elías”. Campeão brasileiro, o Inter comprovou seu título com alguns números de destaque: maior número de vitórias (19 em 30 jogos), menos derrotas (3), melhor ataque (51) e melhor defesa absoluta (12 gols sofridos. Vale lembrar que o Fortaleza levou 11 gols, mas disputou apenas 17 jogos). O artilheiro da competição foi o goleador colorado Flávio, com 16 gols.

 

Octa e bi

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Depois de cair na Copa Libertadores da América de 1976, o Inter não se abalou e conseguiu superar o feito do rival Grêmio ao se tornar o primeiro clube octacampeão gaúcho. Na final, o colorado venceu o tricolor por 2 a 0, gols de Lula e Dadá Maravilha, e fez a festa da torcida.

Tempo depois, foi a vez de confirmar o favoritismo, eliminar os rivais pelo caminho e disputar mais uma final de Campeonato Brasileiro. Antes dela, porém, foi preciso enfrentar o bom time do Atlético-MG em uma semifinal disputada sob calor de 39 graus no estádio do Beira Rio. Perdendo por 1 a 0, o Inter conseguiu empatar com Batista e virou o jogo no segundo tempo após Falcão e Escurinho fazerem uma tabelinha de cabeça extraordinária na entrada da área do Galo e o mesmo Falcão completar para o fundo do gol no último minuto de jogo: Internacional 2×1 Atlético-MG.

Falcão vibra muito após marcar o gol da vitória sobre o Atlético-MG, na semifinal do Brasileiro de 1976.
Falcão vibra muito após marcar o gol da vitória sobre o Atlético-MG na semifinal do Brasileiro de 1976.

 

Na decisão, outra vez em casa, o Inter encarou o Corinthians, que havia eliminado o Fluminense na famosa “Invasão Corintiana” ao Maracanã. Porém, em solo colorado, quem mandou e desmandou foi o time de Minelli. Jogando com postura de campeão e marcando tudo no meio de campo, a equipe gaúcha venceu por 2 a 0, gols de Dadá e Valdomiro, e se sagrou bicampeã brasileira, repetindo o feito do Palmeiras de 1972 e 1973, time que teve, mesmo que por pouco tempo, o dedo de Rubens Minelli.

Foto: J.B. Scalco / Acervo Placar.

 

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O Inter de Minelli: Falcão era o grande maestro do time, que ainda contava com muita força pelas pontas e na zaga.
O Inter de Minelli: Falcão era o grande maestro do time, que ainda contava com muita força pelas pontas e na zaga.

 

Nova velha casa

Mesmo com mais um ano de contrato com o Inter, Minelli abriu mão de sua permanência em Porto Alegre por causa da família, que queria voltar a São Paulo. Foi então que, em 1977, o técnico voltou para sua cidade querida a fim de começar um novo desafio: comandar o São Paulo, que não tinha nem de longe o brilho e o talento do grande Inter de Falcão, mas que poderia fazer algum barulho se tivesse um bom comandante. Levando em consideração que Minelli era o maior de todos na época, o time do Morumbi poderia fazer um verdadeiro estardalhaço!

Ao contrário do que muitos pensavam na época, o São Paulo que Minelli começava a comandar não era ruim. O time contava com um bom goleiro (Waldir Peres), um ótimo e driblador ponta (Zé Sérgio), um temido e raçudo volante (Chicão), um uruguaio técnico, cheio de garra e que esbanjava categoria no meio de campo (Darío Pereyra) e um atacante trombador que sabia marcar gols de todos os jeitos possíveis (Serginho Chulapa). Além de todos eles, o tricolor tinha Muricy Ramalho, que perderia o posto de titular para Neca, preferido de Minelli. Curiosamente, Muricy teria em Minelli um dos espelhos para sua vitoriosa carreira de treinador.

Serginho Chulapa: artilheiro tricolor nos anos 70.
Serginho Chulapa: artilheiro tricolor nos anos 70.

 

Depois de sucumbir no Campeonato Paulista (vencido pelo Corinthians, que encerrou a fila de 23 anos sem taças), o São Paulo foi superando com seriedade e eficiência os desafios do Campeonato Brasileiro. Assim como nos tempos de Inter, Minelli tornou o meio de campo da equipe a maior virtude e principal ponto de referência para o sucesso. O trio Chicão, Teodoro e Darío Pereyra dava toda a proteção necessária para a zaga não sofrer grandes perigos e o ataque não se preocupar com a marcação. Com isso, o tricolor passou pela primeira fase após vencer seis, empatar dois e perder um dos nove jogos que disputou. Na segunda fase, a equipe se classificou em segundo lugar e ficou a frente do campeão do ano anterior, o Inter, que levou de 4 a 1 em pleno Beira Rio (dois gols de Serginho, um de Teodoro e outro de Zé Sérgio). Na terceira fase, o tricolor foi líder de seu grupo ao vencer quatro e perder apenas um dos cinco jogos. Na semifinal, a equipe eliminou o Operário com uma vitória por 3 a 0, em casa, e derrota por apenas 1 a 0, fora. Classificado para a final, o São Paulo teria pela frente o Atlético-MG, invicto e favorito ao título. Fatos que não assustavam nem um pouco o tarimbado Minelli.

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O São Paulo de 1977 – Em pé: Antenor, Tecão, Getúlio, Chicão, Bezerra e Waldir Peres. Agachados: Viana, Teodoro, Mirandinha, Darío Pereyra e Zé Sérgio.

 

O primeiro tricampeão

Chicão com a taça do Brasileiro de 1977: contra tudo e todos, o São Paulo era o campeão nacional.
Chicão com a taça do Brasileiro de 1977: contra tudo e todos, o São Paulo era o campeão nacional.

 

Rubens Minelli foi mais do que fundamental para fazer do São Paulo FC campeão brasileiro de 1977, na final disputada já no ano de 1978 no lotado e chuvoso estádio do Mineirão. Comandando um time que era considerado zebra, Minelli conseguiu diminuir toda a pressão que vivia o tricolor na ocasião quando plantou a “semente da polêmica” nos mineiros ao incluir o atacante Serginho na viagem e na preparação tricolor para a final. Motivo? O artilheiro estava suspenso por causa de uma agressão a um bandeirinha e não poderia jogar a decisão. Além dele, o atleticano Reinaldo também não jogaria por causa de uma expulsão. A polêmica aconteceu pelo fato de muitos pensarem que Serginho jogaria graças a um efeito suspensivo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Com ele em campo, o São Paulo seria mais forte e diminuiria o favoritismo atleticano. Porém, o camisa 9 não foi para o jogo (nem Reinaldo), mas Minelli conseguiu o que queria: desestabilizar emocionalmente o rival e tirar o foco da decisão do favoritismo da equipe mineira.

Além de tudo isso, Minelli armou o São Paulo com o objetivo de anular de todas as maneiras possíveis as jogadas ofensivas e técnicas dos alvinegros com muita marcação no meio de campo. Para ajudar nessa empreitada, Minelli mostrou aos seus comandados vários jogos do Galo em seu imenso e exclusivo vídeo cassete (algo recente no Brasil na época). A “tática de guerra” de Minelli deu resultado, o São Paulo segurou o 0 a 0 e foi campeão nos pênaltis, com vitória por 3 a 2 e atuação de destaque do goleiro Waldir Peres, que enervou os cobradores mineiros Toninho Cerezo, Joãozinho Paulista e Márcio, que chutaram para fora.

Era a primeira vez na história que o São Paulo conquistava um título nacional. E era a primeira vez na história que um técnico se tornava tricampeão do Campeonato Brasileiro de maneira consecutiva. Se achavam que o bicampeonato de Minelli com o Inter havia acontecido muito graças ao grande elenco, a resposta do treinador vinha com aquele tricampeonato no comando do surpreendente São Paulo, campeão após disputar 21 jogos, vencer 13, empatar quatro, perder quatro, marcar 40 gols e sofrer apenas 15, um nítido exemplo da adoração de Minelli por táticas de guerra aplicadas ao futebol:

“Sou fascinado pelas batalhas da II Guerra Mundial. Os conceitos em relação a uma batalha, do marechal alemão Rommel, a Raposa do Deserto, encaixam-se no futebol. Faz parte da estratégia explorar os pontos vulneráveis do adversário e fortalecer as fragilidades que você tem”.Rubens Minelli, em entrevista à revista Placar de 15 de abril de 1988 e reproduzida no livro Banho de Bola, de Roberto Assaf.

O São Paulo da final de 1977: a força do trio do meio de campo anulou toda e qualquer investida mineira na partida. Tacada de mestre de Minelli.
O São Paulo da final de 1977: a força do trio do meio de campo anulou toda e qualquer investida mineira na partida. Tacada de mestre de Minelli.

 

O azar da Seleção, tour árabe e volta com título

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Em 1977, durante as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1978, Oswaldo Brandão deixou o comando da Seleção Brasileira e muitos pensaram que Rubens Minelli seria o escolhido para o cargo. Nada mais natural levando em consideração o talento do técnico e sua capacidade em armar times fortes na parte tática e principalmente na parte física. No entanto, Cláudio Coutinho foi o escolhido pela CBD e Minelli viu seu trabalho não ser devidamente reconhecido no Brasil. Uma pena, pois a Seleção só teria a ganhar com o treinador no comando do escrete canarinho. Para amenizar a tristeza, Minelli viajou até a Arábia Saudita para se fortalecer financeiramente e comandou o Al-Hilal e a seleção saudita no começo dos anos 80.

Por lá, teve bons momentos, ganhou o campeonato nacional e deixou o país por cima para voltar ao Brasil, em 1982, agora comandando o Palmeiras. Em tempos de vacas magras e talento zero, Minelli não levou o Verdão aos títulos e só foi voltar a celebrar uma taça em 1985, no comando do Grêmio de Renato, Caio, Valdo, Mazarópi e Raúl. O tricolor superou o rival Inter na decisão do Campeonato Gaúcho por 2 a 1 e faturou o título daquele ano, uma forma de Minelli “recompensar” a torcida gremista pelos anos de sofrimento causados pelo Inter que ele comandou na década de 70.

 

Precursor e campeão paranaense

Minelli

Após passar por várias equipes no final dos anos 80, Minelli aceitou o desafio de ser o primeiro técnico do recém-fundado Paraná Clube, que se originou após as fusões do Colorado e do Pinheiros. Minelli mesclou atletas dos dois clubes, formou um time e ajudou o novo tricolor paranaense a nascer e aparecer para o futebol. No primeiro campeonato estadual disputado, o Paraná ficou em uma ótima terceira posição. Na Série C do Brasileiro, o time conseguiu logo de cara o acesso para a Segundona.

Por causa da rivalidade que ainda existia entre os jogadores e diretores de Pinheiros e Colorado (que ainda brigavam por causa das cores a ser utilizadas no dia a dia do clube – vermelho, do Colorado, e azul, do Pinheiros), Minelli deixou a equipe no final de 1990 e voltou em 1994 para ser campeão paranaense, feito que se repetiu em 1997. Foi no futebol paranaense que Minelli encerrou a carreira comandando o Coritiba entre 1997 e 1998.

Minelli foi o primeiro técnico da história do Paraná Clube.
Minelli foi o primeiro técnico da história do Paraná Clube.

 

Já consagrado, o paulistano decidiu expor suas ideias de planejamento a longo prazo e suas diretrizes administrativas em clubes. No entanto, o amadorismo da maioria dos dirigentes brasileiros brecou um possível sucesso de Minelli como coordenador ou cartola. Mesmo assim, o tricampeão brasileiro seguiu no mundo futebolístico como comentarista ou convidado de programas de rádio e TV.

 

Talento incontestável

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Embora não tenha tido a valorização que merecia ao longo da carreira e ficado ausente da história da Seleção Brasileira, Rubens Minelli se tornou um dos principais treinadores de toda a história do futebol nacional ao pensar além do óbvio e armar equipes completas e muito bem montadas em todos os sentidos. Os fatores táticos, técnicos, físicos e psicológicos eram levados a sério e nenhum deles ficava acima do outro. Tudo era equilibrado e os jogadores sabiam muito bem o que fazer em campo depois de treinos constantes, pausas para redefinir posicionamentos e aprimoramento da marcação e dos fundamentos básicos. Multicampeão com o Internacional dos anos 70, primeiro técnico campeão nacional com o São Paulo e muito querido no Palmeiras, Rubens Minelli inspirou gerações e gerações de técnicos, teve seu feito igualado apenas por um homem (seu pupilo, Muricy Ramalho, no São Paulo tricampeão brasileiro de 2006, 2007 e 2008) e é, para o todo e sempre, um técnico imortal.

 

Números de destaque:

Comandou o Internacional em 217 partidas, venceu 153 jogos, empatou 44 e perdeu apenas 20.

Comandou o São Paulo em 168 jogos, venceu  79, empatou 48 e perdeu 41.

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O Imortais já relembrou o grande Inter de Minelli. Para ler, clique aqui.

 

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Comentários encerrados

4 Comentários

    • Parabéns pelo trabalho. Rubens Francisco Minelli é, sem dúvida, um dos quatro ou cinco melhores técnicos da história do futebol brasileiro. Apenas uma correção: o presidente do Internacional não era José Asmuz, quando ele foi buscado, e sim Eraldo Hermann. Asmuz, que não seria exatamente um dos melhores presidentes da história do clube, assumiu o cargo ao final da década de 1970. No período referido, era um dos integrantes do departamento de futebol. Sou jornalista em Porto Alegre e fui conselheiro colorado, entre 1998 e 2006. Saudações Vermelhas.

Craque Imortal – Gento

Esquadrão Imortal – Real Madrid 1998-2003