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Craque Imortal – Facchetti

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Nascimento: 18 de Julho de 1942, em Treviglio, Itália. Faleceu em 04 de setembro de 2006, em Milão, Itália.

Posições: Lateral-esquerdo e líbero.

Clubes: Trevigliese-ITA (1959-1960) e Internazionale-ITA (1960-1978).

Principais títulos por clube: 2 Mundiais Interclubes (1964 e 1965), 2 Ligas dos Campeões da UEFA (1963-1964 e 1964-1965), 4 Campeonatos Italianos (1962-1963, 1964-1965, 1965-1966 e 1970-1971) e 1 Copa da Itália (1977-1978) pela Internazionale.

Principal título por seleção: 1 Eurocopa (1968) pela Itália.

 

Principais títulos individuais:

Eleito o 42º Melhor Jogador do Século XX pela IFFHS

Eleito o 16º Melhor Jogador Europeu do Século XX pela IFFHS

Eleito o 3º Melhor Jogador Italiano do Século XX pela IFFHS

Eleito um dos 100 Melhores Jogadores do Século XX pela revista World Soccer: 1999

Eleito o 75º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999

FIFA 100: 2004

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Itália do Imortais: 2020

Eleito para o Time dos Sonhos da Inter de Milão do Imortais: 2022

 

 

“Classe e gols na defesa italiana”

Por Guilherme Diniz

Enquanto os times italianos pensavam em sistemas intransponíveis e ferrolhos, aquele defensor alto e forte abria sua mente para o ataque. Esguio, mas muito habilidoso, ele passava com facilidade por qualquer rival, chegava à linha de fundo e dava passes precisos para os companheiros ou marcava gols ele mesmo. E foram muitos, ainda mais para o padrão do calcio e por ele jogar na lateral-esquerda. Mas, quando era preciso defender, ele o fazia com muita autoridade e, acima de tudo, classe. Líder, multivencedor e presente na mais vitoriosa Internazionale da história, Giacinto Facchetti, mais conhecido como Facchetti, foi leal à nerazzurri de Milão por longos 18 anos, vestiu a braçadeira de capitão da Seleção Italiana e levantou a primeira e única taça da Eurocopa conquistada pela Azzurra.

Talentoso, Facchetti foi um dos mais elogiados jogadores de seu tempo e um opositor ao defensivismo extremo. Com suas arrancadas, excelente preparo físico e técnica, o craque foi o melhor “ala sinistro” de sua época e um exemplo a ser seguido por vários laterais do futebol europeu. Como forma de respeito e gratidão a um homem que tanto ajudou em seu crescimento futebolístico, a Internazionale fez questão de aposentar a camisa 3 do gigante lateral. É hora de relembrar.

 

A joia encontrada

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Giacinto Facchetti nasceu sob os sons explosivos e escombros do caos da II Guerra Mundial, em 1942, na cidade de Treviglio, província de Bérgamo, no norte da Itália, e bem perto de Milão, sua futura casa. Na adolescência, o jovem aproveitava o porte atlético que exibia para praticar atletismo e futebol e tinha como principal objetivo ser um grande campeão nos 100m rasos. Com o passar do tempo, Facchetti decidiu optar pelo futebol por causa do futuro mais promissor e vantajoso financeiramente, e deu seus primeiros chutes no pequenino Trevigliese. Por lá, o jovem atuava como atacante e esbanjava velocidade, categoria e ótimo controle de bola graças aos 1,91m de altura e 85 kg. Foi em uma dessas grandes exibições que Facchetti chamou a atenção de Helenio Herrera, então técnico da Internazionale, que ficou encantado com o futebol apresentado pelo garoto. Sem pestanejar, o argentino tratou de levar a notícia para o conhecimento da Inter, e Facchetti se mandou para Milão já no ano de 1960. Era apenas o início de uma laureada e fantástica carreira.

 

Um lateral diferente

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Vestindo nerazzurri, Facchetti teve longas conversas com Herrera, que “persuadiu” o jogador para que ele modificasse sua maneira de jogar. Como era alto, forte e técnico, Herrera via Facchetti como um defensor praticamente perfeito, com todas as habilidades necessárias para atuar em uma posição que possibilitasse avanços constantes ao ataque e marcação ao adversário quando o momento fosse de perigo. E, para que tudo isso saísse do papel, a lateral-esquerda foi o ambiente escolhido para que o jovem começasse a treinar de maneira mais incisiva – mesmo ele sendo destro.

Já pensando no catenaccio que daria à Inter um poder de fogo tremendo nos anos seguintes, Herrera fez de Facchetti um lateral-esquerdo clássico que tinha uma característica extra de atacar em profundidade e até marcar gols, algo surreal para a época, principalmente no comedido futebol italiano. Em 1961, quando estreou na Série A na vitória por 2 a 0 sobre a Roma, Facchetti arrancou elogios de Herrera, que deixou bem claro para a imprensa que “esse garoto será um dos pilares da minha Inter”. E como seria!

 

Craque no nascimento da Grande Inter

O 11 ideal da Grande Inter, um dos maiores esquadrões da história.
O 11 ideal da Grande Inter, um dos maiores esquadrões da história.

 

A partir da temporada 1962-1963, Facchetti assumiu a titularidade plena na Inter e começou a despontar para o país com um futebol que transbordava categoria, técnica apurada e dinamismo. Jogando ao lado de Picchi, Burgnich e Guarneri, Facchetti se tornou a máxima referência no setor esquerdo do time e não só defendia com precisão e maestria como também municiava Jair da Costa, Sandro Mazzola, Mario Corso, Luis Suárez e Carlo Tagnin com preciosas bolas por meio de cruzamentos, passes rasteiros ou lançamentos em profundidade. Além disso, Facchetti não hesitava em se mandar para o ataque e anotar gols quando percebia que os companheiros estavam marcados. Na temporada 1962-1963, o craque fez quatro gols e ajudou sua Inter a vencer o Scudetto com 19 vitórias, 11 empates e quatro derrotas, com 56 gols marcados e 20 sofridos (melhor defesa).

A taça simbolizou o nascimento da Grande Inter, como ficaria conhecida a Internazionale comandada por Herrera. Aquele time teria como principais destaques a impressionante força defensiva, a plena marcação e um ataque que não errava as chances de gol que tinha (leia mais no final do texto). Jogando quase sempre num 1-3-3-3, o esquadrão nerazzurri promoveu uma revolução no futebol italiano na época e virou notícia em todo o continente. Mas as manchetes teriam ainda mais diversidade nas temporadas seguintes. Motivo? A enxurrada de títulos que estava na rota interista.

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Reconhecimento internacional

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Após o título de 1962-1963, a Inter de Facchetti disputou a Liga dos Campeões da UEFA de 1963-1964 e conseguiu igualar a façanha do rival Milan logo na temporada seguinte ao título continental dos rossoneros. No caminho até a final, a equipe superou Everton-ING, Monaco-FRA, Partizan-IUG e Borussia Dortmund-ALE. Na decisão, os italianos não temeram a camisa e a tradição do Real Madrid-ESP e venceram por 3 a 1, com dois gols de Mazzola e um de Milani. A taça coroou um trabalho que só não foi melhor por causa do vice no Campeonato Italiano, que acabou nas mãos do Bologna.

No final do ano, a equipe encarou o Independiente-ARG e conquistou o título do Mundial Interclubes após duas vitórias (2 a 0 e 1 a 0) e uma derrota (1 a 0) em três jogos disputados. Os títulos pela Inter foram o combustível para que Facchetti esbanjasse seu melhor, também, na Seleção Italiana, pela qual ele jogava desde 1963, quando foi convocado para um duelo contra a Turquia. Entre aquele ano e 1965, o jogador atuou em 16 jogos, perdeu apenas três e marcou dois gols – um na vitória por 6 a 1 sobre a Finlândia, em novembro de 1964, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1966, e outro na goleada por 3 a 0 sobre a Escócia, também pelas Eliminatórias, em dezembro de 1965.

Facchetti marca o golaço contra o Liverpool que classificou a Inter para a final.
Facchetti marca o golaço contra o Liverpool que classificou a Inter para a final.

 

Na temporada 1964-1965, a Inter de Facchetti foi atrás do bi na Liga dos Campeões. Após eliminar Dinamo Bucaresti-ROM e Rangers-ESC, a equipe encarou o Liverpool-ING de Bill Shankly na semifinal e levou um susto quando perdeu por 3 a 1 no duelo de ida, na Inglaterra. Na volta, os italianos deram show e fizeram 3 a 0, com o gol da vitória marcado por Facchetti, que deu uma de atacante, se infiltrou na zaga inglesa, recebeu em velocidade pelo meio e chutou forte, sem chance alguma para goleiro Lawrence. Na decisão, os nerazzurri tiveram o privilégio de decidir o título continental em casa, no estádio Giuseppe Meazza tomado por mais de 88 mil pessoas, contra o Benfica-POR de Eusébio e Coluna.

Jogando de branco, a Inter venceu por 1 a 0, gol do brasileiro Jair, e ficou com o bicampeonato europeu. Ainda naquela temporada, a equipe de Facchetti foi campeã italiana e, mais tarde, bicampeã mundial ao vencer mais uma vez o Independiente-ARG na final. Jogando um futebol primoroso, Facchetti por pouco não venceu a prestigiada Bola de Ouro da revista France Football, em 1965. O prêmio ficou com o português Eusébio, que teve 67 pontos, contra 59 do italiano.

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Tinindo, o craque voou ainda mais na temporada 1965-1966 ao marcar incríveis 10 gols em 32 jogos da campanha de mais um título italiano. Foi um recorde pessoal de Facchetti e a prova de que ele vivia uma fase esplendorosa. Na Liga dos Campeões, o lateral marcou dois gols, mas não evitou a queda de sua equipe diante do Real Madrid-ESP, na semifinal, quando Facchetti marcou o gol da Inter no empate em 1 a 1 que beneficiou os espanhóis (no primeiro duelo, em Madrid, o Real venceu por 1 a 0). A Inter não voltaria a conquistar a Liga nos próximos anos. Em 1967 e 1972, o time chegou às finais, mas perdeu para Celtic-ESC e Ajax-HOL, respectivamente.

 

Pesadelo na Inglaterra e volta por cima

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Em 1966, Facchetti viveu um de seus piores momentos na carreira num torneio que ele acreditava ter grande chance de brilhar – a Copa do Mundo. A Itália viajou para a Inglaterra, sede da competição, e protagonizou talvez seu maior vexame na história dos Mundiais. A equipe venceu o Chile, na estreia, por 2 a 0, mas emendou duas derrotas que a eliminaram logo na primeira fase. A queda precoce não seria tão marcante se os italianos não tivessem perdido por 1 a 0 para a inexpressiva Coreia do Norte, em uma das maiores zebras das Copas. O revés diante dos norte-coreanos e a queda por 1 a 0 para a URSS encheram Facchetti e companhia de críticas. Mas, ao invés de se magoar, o capitão apagou da memória o fracasso na Copa para focar nos próximo desafio da Azzurra: a Eurocopa.

A volta por cima veio com o título da Euro de 1968.
A volta por cima veio com o título da Euro de 1968.

 

A competição teria como sede a própria Itália e a pressão pelo título aumentou consideravelmente após o papelão na Inglaterra. Os italianos não decepcionaram e superaram os desafios até a fase final, quando a equipe azul encarou a URSS, em Nápoles, e empatou sem gols. Como na época não havia prorrogação, a vaga para a final foi decidida, acredite, na moedinha! Coube a Facchetti escolher o lado que selaria o futuro italiano na competição. E o capitão teve sorte, pois deu “cara” e a Itália foi para a final. Nela, a equipe venceu a Iugoslávia por 2 a 0, após empate em 1 a 1 no primeiro jogo, e ficou com o título inédito – foi o primeiro troféu da Azzurra após 30 anos de jejum.

 

A Copa para a memória

Facchetti e Seeler, antes do duelo entre Itália e Alemanha pela semifinal da Copa de 1970.
Facchetti e Seeler, antes do duelo entre Itália e Alemanha pela semifinal da Copa de 1970.

 

Se o Mundial de 1966 Facchetti fez questão de se esquecer, em 1970, no México, o jogador teve grandes momentos para recordar e guardar com muito carinho. Jogando em uma das melhores seleções italianas da história, o craque foi o líder e capitão da Azzurra durante a campanha que levou o selecionado até a decisão. Na primeira fase, foi dele o passe para o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Suécia, marcado por Domenghini, e sua enorme segurança defensiva contribuiu para que a Itália segurasse, à sua maneira, empates contra Uruguai (0 a 0) e Israel (0 a 0). Nas quartas de final, o capitão foi soberano e a Itália não teve problemas para golear o México por 4 a 1, resultado que colocou a equipe na semifinal, na qual os italianos fizeram um duelo épico contra a Alemanha, que você pode ler mais clicando aqui.

Contra Pelé (à dir.), Facchetti teve momentos de "mortalidade".
Contra Pelé (à dir.), Facchetti teve momentos de “mortalidade”.

 

Após a emocionante vitória por 4 a 3, a Itália chegou à final e teve pela frente o Brasil. Facchetti teria a ingrata missão de marcar Pelé, mas ele percebeu durante os 90 minutos e o baile canarinho por 4 a 1 que o Rei era “imparável e uma exceção”. O vice não diminuiu o brilho do craque, que saiu do México mais fortalecido diante do povo italiano e consagrado como um dos melhores no mundo em sua posição.

Facchetti, Pelé e Burgnich.
Facchetti, Pelé e Burgnich.

 

Mais títulos, última Copa e aposentadoria da lenda

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Na temporada 1970-1971, Facchetti voltou a erguer um Campeonato Italiano pela Inter, dessa vez como grande líder de um time que não era mais comandado por Herrera e que passava por um período de transição após vários anos de glórias. O craque marcou cinco gols em 30 jogos e foi o jogador com mais jogos na temporada. Aquele foi o último Scudetto do craque pela Inter, que só voltaria a vencer o Campeonato Italiano na temporada 1979-1980. Pela seleção, Facchetti seguiu como capitão e titular absoluto durante vários anos e disputou sua terceira e última Copa em 1974, na Alemanha. Por lá, o craque atuou quase como um líbero no time do técnico Valcareggi e não conseguiu ajudar a Azzurra, que caiu na primeira fase. Os italianos venceram o fraco Haiti, por 3 a 1, na estreia, mas empataram em 1 a 1 com a Argentina e perderam por 2 a 1 para a Polônia, resultado que tirou a equipe da Copa. Facchetti ainda vestiria a camisa azul até 1977, seu último ano como titular após 94 partidas, três gols marcados e mais de 10 anos como capitão do selecionado italiano.

Pela Inter, Facchetti continuou intocável até a temporada 1977-1978, quando disputou poucos jogos e decidiu se aposentar do futebol, mas não antes de vencer um último título: a Copa da Itália. Símbolo da Inter, o mito da lateral-esquerda fez questão de seguir no dia-a-dia do clube e passou por todos os cargos administrativos da Inter até chegar à presidência, em 2004, como o primeiro ex-jogador a assumir o clube na história. Facchetti permaneceu no cargo até os últimos dias de sua vida, que teve o capítulo final em 04 de setembro de 2006, após o eterno capitão falecer em decorrência de um câncer no pâncreas.

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Como gratidão máxima, a Inter aposentou pela primeira vez uma camisa: a de nº3, vestida durante 18 anos por Facchetti, que fez da equipe nerazzurri uma extensão de sua vida e o lar para seu belo e virtuoso futebol, que não tinha lances ríspidos, soladas nem chutões: apenas dribles, passes sob medida e uma quantidade de gols que zagueiro algum da Itália jamais pensou em fazer. Depois dele, o padrão e o estilo de jogo dos laterais na Europa mudou para sempre. Como ficou para sempre o legado e as atuações de um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 634 jogos e marcou 75 gols com a camisa da Internazionale.

Disputou 476 jogos e marcou 59 gols na Serie A pela Internazionale. É o defensor com o maior número de gols na história do Calcio.

Disputou 94 jogos e marcou 3 gols pela Itália.

Facchetti foi expulso apenas uma vez na carreira. Por reclamação.

 

Leia mais sobre a Grande Inter clicando aqui.

Leia mais sobre a Itália campeã da Euro e vice-campeã do mundo clicando aqui.

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Comentários encerrados

Um Comentário

  1. Tenho Fachetti no meu sobrenome, meu avô materno já falecido, conta que tem um grau de parentesco um pouco longínquo com o jogador Facchetti, meus bisavôs vieram da Itália, muito legal ver esta história.

Esquadrão Imortal – Olimpia 1978-1980

Esquadrão Imortal – Benfica 1960-1965