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Jogos Eternos – Real Madrid 2×6 Barcelona 2009

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Data: 02 de maio de 2009

O que estava em jogo: a vitória, claro, e três pontos fundamentais na corrida pelo título do Campeonato Espanhol de 2008-2009.

Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madrid, Espanha.

Juiz: Undiano Mallenco (ESP)

Público: 80.354 pessoas

Os Times:

Real Madrid Club de Fútbol: Casillas; Sergio Ramos (Van der Vaart, 16´do 2º T), Metzelder, Cannavaro e Heinze; Lassana Diarra, Gago, Robben (Javi García, 33´do 2º T) e Marcelo (Huntelaar, 13´do 2º T); Higuaín e Raúl. Técnico: Juande Ramos.

Fútbol Club Barcelona: Valdés; Daniel Alves, Puyol, Piqué e Abidal; Touré (Busquets, 40´do 2º T), Xavi e Iniesta (Bojan, 40´do 2º T); Messi, Eto´o e Henry (Keita, 15´do 2º T). Técnico: Josep “Pep” Guardiola.

Placar: Real Madrid 2×6 Barcelona (Gols: Higuaín-RMD, aos 13´, Henry-BAR, aos 17´, Puyol-BAR, aos 20´, e Messi-BAR, aos 35´do 1º T; Sergio Ramos-RMD, aos 10´, Henry-BAR, aos 13´, Messi-BAR, aos 29´, e Piqué-BAR, aos 37´do 2º T).

 

“Os encantados da Catalunha: quando tudo começou”

Por Guilherme Diniz

Algumas partidas valem título. Outras, o fim de um incômodo jejum. Muitas, uma simples vitória. Mas existem aquelas cujo valor transcende o algo comum, o trivial. São os jogos que simbolizam o início de uma era, a mudança da ordem, a história sendo escrita. E foi um jogo exatamente com estas características que as mais de 80 mil pessoas que lotaram o estádio Santiago Bernabéu, em Madrid (ESP), no dia 02 de maio de 2009 presenciaram. A maioria esmagadora de torcedores vestia as cores do time da casa, o Real Madrid, mas o futebol esmagador praticado pelo adversário merengue, o Barcelona, foi o dono dos holofotes, dos comentários e das exaltações. Naquele dia, o time catalão aplicou uma goleada homérica de 6 a 2 sobre seu maior rival com doses de requinte, beleza e encantamento. Foi o jogo que marcou o início da mais brilhante era do clube azul e grená e que iria transformar em mitos jogadores como Xavi, Iniesta e Messi, e um treinador que mostrou um jeito diferente de praticar futebol: Pep Guardiola. O Barcelona conseguiu dilacerar o Real Madrid em seu próprio estádio e fez gols com uma naturalidade impressionante. O placar, acredite, não refletiu o que foi o jogo. Era para ter sido mais. Uns 10 a 2, jogando baixo, tamanha influência do goleiro Iker Casillas, que fez um punhado de defesas dificílimas e evitou um resultado muito mais acachapante. Pensou em humilhante? Não, soaria pesado. É que aquele Barcelona era bom demais, artístico demais, lindo demais. A capital espanhola virou o marco zero da trajetória de um time que iria faturar 14 taças em cinco anos inesquecíveis. É hora de relembrar o baile surreal dos encantados blaugranas.

 

Pré-jogo

Mesmo gastando a bola, o Barcelona ainda precisava mostrar suas qualidades num jogo "daqueles".
Mesmo gastando a bola, o Barcelona ainda precisava mostrar suas qualidades num jogo “daqueles”.

 

Líder desde a 9ª rodada, o Barcelona chegava àquela 34ª rodada com quatro pontos de vantagem sobre o vice-líder, o Real Madrid, e só pensava na vitória para abrir sete pontos e continuar sua caminhada rumo ao título. A equipe apresentava um futebol muito vistoso e competitivo graças ao esquema de jogo arquitetado por Pep Guardiola, que remodelou o time após a Era Rijkaard, deu mais espaço para as crias da base e ensinou que a bola deveria ser passada de pé em pé, sempre em direção ao gol, sem chutões ou lances feios. O futebol deveria ser praticado com beleza e eficiência contra qualquer adversário e sobre qualquer circunstância. Sob estes aspectos, jogadores como Valdés, Piqué, Puyol, Xavi, Iniesta, Messi e muitos outros fizeram das palavras de Guardiola um mantra para seguirem no time titular ao lado de estrelas que não vinham de La Masia, mas tinham talento de sobra como Thierry Henry e Samuel Eto´o, a dupla que compunha o devastador ataque catalão ao lado de Messi. Embora estivessem brigando por todos os títulos que disputavam àquela altura (Copa do Rei e Liga dos Campeões), o Barcelona ainda precisava de uma apresentação diferente e num cenário especial para provar à Espanha, à Europa e ao mundo que ele era especial. E a tal ocasião, enfim, havia chegado. Naquela 34ª rodada, os blaugranas teriam pela frente o Real Madrid, fora de casa, contra centenas de milhares de torcedores merengues e jogadores cheios de prestígio e fama como Iker Casillas (capitão da Seleção Espanhola campeã da Eurocopa do ano anterior), Fabio Cannavaro (melhor do mundo em 2006 e capitão da Itália campeã da Copa no mesmo ano), Arjen Robben, Higuaín, Raúl e ainda outros nomes como Diarra, Sergio Ramos e Gago.

Robben celebra: Real Madrid vinha em franca ascensão e tinha a chance definitiva de encostar no líder.
Robben celebra: Real Madrid vinha em franca ascensão e tinha a chance definitiva de encostar no líder.

 

Pelo lado de Madrid, o técnico Juande Ramos tentava repetir no time merengue os grandes feitos que tinha conseguido no Sevilla, clube onde ele havia conquistado duas Copas da UEFA, uma Supercopa da UEFA, uma Copa do Rei e uma Supercopa da Espanha entre 2006 e 2007 – leia mais clicando aqui.

A torcida madrilena parecia acreditar em uma nova era após Ramos assumir o Real em dezembro de 2008 e conquistar 52 dos 57 pontos disputados e diminuir uma diferença de 12 para quatro pontos em relação ao Barça. Com a chance de ficar a apenas um ponto do rival, o Real foi com força máxima para o duelo e apostava no trio Higuaín, Raúl e Robben para azucrinar a defesa catalã. O jovem Marcelo, lateral-esquerdo de origem, seria uma aposta como meia pela esquerda, enquanto Heinze tentaria, ao lado de Cannavaro, conter os avanços de Daniel Alves e Messi pelo setor esquerdo da defesa. Do lado blaugrana, Guardiola tinha seus melhores jogadores à disposição e o estímulo natural de buscar uma vitória crucial na casa do adversário. Seria, como sempre, um “El Clásico” imperdível, no mais puro sentido da palavra. E a primeira visita do Barcelona de Guardiola ao Santiago Bernabéu…

 

Primeiro tempo – Os primeiros atos de um time diferente

Henry voa: francês foi sublime no clássico.
Henry voa: francês foi sublime no clássico.

 

Com menos de um minuto de jogo, o Barcelona deu uma checada na área madrilena para ver se o goleiro Casillas estava atento. O incumbido da tarefa foi Xavi, que disparou um chute de fora da área e obrigou o camisa 1 a defender em dois tempos. O Real tentou não se abater e foi para o abafa sempre pela direita, com a velocidade e habilidade de Robben, mas encontrava dificuldade para encontrar espaços diante das linhas blaugranas. Quando tinha a bola, o Barcelona a tratava com respeito, classe e estudava cada canto do campo para a construção de uma jogada que resultasse em gol. O Real chegava muitas vezes com força excessiva e errava passes bobos que certamente arrancavam risos de Guardiola, que deveria pensar “eles não sabem de nada mesmo…”. Mas, aos 13´, o time da casa decidiu mostrar suas qualidades. Cannavaro, no campo de defesa, fez um lançamento em profundidade para Robben. O holandês venceu Abidal, tocou atrás para Diarra e este deixou com Sergio Ramos. O defensor olhou para a área e fez um cruzamento preciso para Higuaín, livre, subir tranquilamente para fazer 1 a 0. Que desatenção dos barcelonistas! E que festa dos madrilenos, que já podiam apreciar o jogo com mais calma e sem a tensão dos minutos iniciais.

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Mas o Barcelona era diferente. Ele não sentia golpes, pressões nem placares adversos. Um minuto depois do gol, Abidal deixou com o compatriota Henry, na esquerda, e este saiu em disparada em direção à área. O francês deixou Sergio Ramos no chão, olhou para a área e esperou o momento certo para cruzar para Eto´o, mas o camaronês tentou o chute ao invés de um peixinho. Foi por pouco! O Real tentava um novo ataque, mas quem disse que o Barcelona deixava? O time catalão estava quase todo no campo merengue e sufocava a saída de bola dos rivais, que erravam passes e perdiam a redonda para o sublime meio de campo catalão. Aos 17´, eis que acontece o primeiro gol pintado em azul e grená. Pela esquerda, Abidal ganhou de graça uma bola rifada por Metzelder e tocou para Henry. O atacante viu Messi, tocou e já se apresentou mais à frente. Com um raciocínio instantâneo, o argentino tocou por cima e surpreendeu a zaga madrilena. Cannavaro só olhou, Sergio Ramos furou bisonhamente, e Henry dominou e esperou o tempo certo do quique da bola no gramado para dar apenas um tapa seco sem chances para Casillas: 1 a 1. Pronto, estava tudo como havia começado.

A provocação ácida de Puyol...
A provocação ácida de Puyol…

 

... E a festa com Xavi (à dir.): virada em sete minutos!
… E a festa com Xavi (à dir.): virada em sete minutos!

 

Na sequência, o Real tentou responder com Robben e Sergio Ramos, pela direita, mas o time catalão recuperou de bate-pronto até que Xavi recebeu no meio e iniciou mais um contra-ataque. Percebendo que Henry partia livre pela ponta, o meio-campista esperou e tocou para o francês, que passou por Diarra com facilidade e só foi parado com falta por Cannavaro. Na cobrança, Xavi olhou para a área e percebeu a chegada de um touro com uma braçadeira pintada com as cores da Catalunha: Puyol. Enquanto a zaga madrilena prestava atenção em Eto´o e Henry, Puyol estava lá, cercando e só esperando o momento certo para o ataque mortal. Xavi entendeu o recado e mandou a bola na cabeça do zagueirão, que testou forte, sem chance alguma para Casillas: 2 a 1. Na comemoração, Puyol tirou a braçadeira com raiva e a beijou, mostrando o orgulho catalão e provocando com muita acidez a torcida madrilena (para delírio pleno dos barcelonistas). O Barça sobrava. E o Real já temia pelo pior.

Aos 22´, o Real teve uma ótima chance com Robben, mas Valdés tirou com os pés um gol certo do holandês. Segundos depois, um cruzamento para a pequena área do Barça quase resultou em gol contra de Daniel Alves, mas Valdés mostrou reflexo e evitou o empate merengue. Entre os 22´e 23´, os madrilenos tentaram brigar pela bola à força, com carrinhos, enquanto o time catalão tentava o bote e também respondia com carrinhos pouco comuns, como um de Touré para a lateral. Perto dos 24´, Marcelo perdeu uma bola para Daniel Alves e o brasileiro engatou um contra-ataque letal do Barcelona. Na entrada da área, o camisa 20 tocou para Messi, e este só não marcou o terceiro porque Casillas fez uma defesa de coragem e à queima roupa espetacular. Aos 26´, o Barcelona parecia treinar em sua própria casa tamanha autoridade com a qual tocava a bola e se desvencilhava dos rivais. Tanta soberania resultou em mais um lance de perigo, quando Xavi tocou para Eto´o e este chutou forte para mais uma linda defesa de Casillas. Dois minutos depois, Iniesta e Messi entraram tabelando na área e, de novo (!), Casillas evitou um gol. Já era para estar uma goleada catalã no Santiago Bernabéu! A torcida merengue não esboçava reação e assistia a tudo de maneira atônita e sem vibração.

Messi deixa Cannavaro no chão: Barça 3 a 1.
Messi deixa Cannavaro no chão: Barça 3 a 1.

 

Aos 35´, Messi, que tanto lutava por seu gol, enfim o encontrou. Após roubar a bola do Real duas vezes, aos 34´, mas falhar na conclusão, o Barcelona voltou a desarmar o rival no minuto seguinte quando Xavi tomou a bola de Diarra e nem precisou ir atrás dela, pois o companheiro Messi apareceu, dominou e chutou sem chances para Casillas: 3 a 1. E que facilidade! Nos minutos seguintes, o Real tentou diminuir, mas sem ordem ou qualidade. Quem mais chegou perto, pra variar, foi o Barcelona, que teve a chance, aos 45´, em uma falta cobrada por Daniel Alves, mas defendida por Casillas, o principal responsável por evitar um placar astronômico do Barça somente no primeiro tempo. O Real tinha que mudar muita, mas muita coisa se quisesse pelo menos empatar. Já o Barcelona só tinha que manter o seu jeito de jogar bola: toques rápidos e paulatinos quando necessários, investidas perigosíssimas com seus atacantes e um meio de campo simplesmente dominante e absoluto que ganhou todas as disputas contra os pobres mortais Diarra, Gago e Marcelo.

 

Os times em campo: sobrava qualidade e técnica no Barcelona. No Real, alguns lampejos de brilho não foram suficientes para conter o apetite catalão.
Os times em campo: sobrava qualidade e técnica no Barcelona. No Real, alguns lampejos de brilho não foram suficientes para conter o apetite catalão.

 

Segundo tempo – Os novos protagonistas

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Sem modificações em seu onze inicial, o Real Madrid começou a etapa complementar precisando de pelo menos um golzinho nos primeiros minutos para tentar abalar as estruturas catalãs e colocar fogo num jogo todo dominado pelo rival. Mas, logo aos 2´, o retrato da partida parecia uma repetição do primeiro tempo. Em uma troca de passes curta no campo merengue, o Barcelona fez uma mini roda de bobinho com Messi, Xavi e Iniesta colocando para dançar Diarra, Gago e Cannavaro. Após a pequena exibição de arte, domínio de bola e imponência, o time blaugrana finalizou a jogada com Iniesta, que partiu em direção à área, deixou Cannavaro para trás como se ele fosse um jogador de várzea e chutou com muito perigo ao gol. Nem parecia que o rival do time culé era o Real Madrid! Após alguns minutos, o mesmo Iniesta que quase fez o quarto gol cometeu uma falta em Sergio Ramos perto da entrada da área. Na cobrança, Robben cruzou e Ramos testou para o gol: 3 a 2. Enfim, os torcedores que roíam as unhas e olhavam perplexos para o campo se erguiam das arquibancadas com a esperança de uma reviravolta, ou de uma “remontada” bem ao estilo merengue dos anos 80 (leia mais aqui).

O "tapa" de Henry...
O “tapa” de Henry…

 

... E mais uma festa!
… E mais uma festa!

 

Só que aquele Barcelona era o Barcelona de Guardiola. Ele era cruel. Ele não deixava o rival celebrar. Apenas três minutos depois, o time azul e grená estudou mais um gol silenciador. Trocando passes no meio de campo, a bola foi passando de pé em pé até Cannavaro interceptar e iniciar uma resposta merengue, que ruiu após uma fácil defesa de Valdés. No recomeço, o goleiro deixou com Piqué, este tocou para Touré, que deixou com Xavi. O genial meio-campista olhou para a esquerda e esperou o momento certo para que Henry não ficasse em posição de impedimento e pudesse sair em disparada e vencer Sergio Ramos na corrida. Xavi lançou, Henry recebeu, correu, Casillas saiu do gol e o francês deu mais um tapa ao seu estilo para que a bola fosse mansamente para o gol vazio: 4 a 2. Novo silêncio na capital espanhola. E mais uma festa dos barcelonistas!

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O Real foi para o tudo ou nada e Juande Ramos tirou Marcelo para a entrada do atacante holandês Huntelaar, enquanto o Barça tirou Henry, um dos melhores em campo, para a entrada de Keita. Guardiola queria poupar seu magistral atacante para os próximos compromissos da temporada. Nos minutos seguintes, só o Barça ameaçou com mais intensidade e teve até um pênalti a seu favor não marcado pelo árbitro, aos 27´. Porém, a justiça foi feita dois minutos depois. Após uma cobrança de falta rápida, o Barcelona tocou, tocou e a bola chegou nos pés de Xavi. Absoluto, o craque controlou a redonda na entrada da área, girou e tocou com maestria para Messi, livre, fuzilar Casillas e marcar um lindo gol: 5 a 2. Vareio no Santiago Bernabéu! Quanta beleza. Era um futebol poético daquele Barcelona. E ainda era pouco.

Alguns nervosos torcedores merengues começavam a deixar o estádio indignados com aquele baile azul e grená. Era duro admitir que um time diferente do deles jogava um futebol tão belo e tão superior ao sempre badalado Real Madrid. Sem reação alguma, o madrilenos torciam para o tempo passar e Juande Ramos queimava suas substituições em busca do imponderável. Insaciável, o Barcelona continuava com o mesmo jogo do apito inicial e parecia que não tinha a vitória em suas mãos. Era impressionante. A equipe buscava mais um gol como se o placar estivesse 0 a 0 ou 1 a 0 para o Real. Só aos 37 minutos a gula foi saciada. Após mais uma roubada de bola (o Barcelona recuperou 65 bolas na partida), Xavi deixou com Piqué e o zagueiro se mandou para o ataque. Após tocar para Messi, o camisa 3 continuou avançando enquanto Messi tocou na direita para Eto´o, que saiu em disparada como um autêntico ponta. Com três em sua cola, o camaronês cruzou para a área e Casillas evitou que Piqué chegasse para finalizar. Mas, no rebote, o mesmo Piqué girou e chutou para o gol: 6 a 2. Espetáculo azul e grená. Consternação merengue. Se após o quinto gol vários torcedores deixaram o estádio, após o sexto centenas de milhares de pessoas não resistiram e se ausentaram do caldeirão madrileno mesmo faltando pouco mais de dez minutos para o fim. Ninguém queria ver mais nada. Era um resultado catastrófico e que sepultava de vez as chances de título.

Até o zagueirão Piqué deixou sua marca no clássico.
Até o zagueirão Piqué deixou sua marca no clássico.

 

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Em campo, os jogadores do Real não acreditavam no que viam e buscavam entender de onde vinha tanto talento naquele time catalão. Aos 40´, aplausos ecoaram no Santiago Bernabéu após Iniesta, um dos principais nomes do jogo, ser substituído por Bojan, num digno reconhecimento da torcida rival ao talento ímpar do craque. Nos minutos finais, o Barcelona não pressionou como de costume e já estava por demais satisfeito. Nem acréscimos o árbitro deu. Não precisava. A história estava escrita. O Barcelona, em pleno Santiago Bernabéu, havia aplicado uma goleada histórica de 6 a 2 sobre o maior rival. Era o fim do recital para que a Espanha, a Europa e o mundo percebessem que aquele time era, de fato, diferente. Um time que não cessou nem um minuto. Um time que não sentiu o gol inicial dos rivais e chegou à virada sete minutos depois. Um time que teve 58% de posse de bola. Um time que deu 14 chutes a gol contra quatro do rival. Um time que fez apenas nove faltas, enquanto o rival fez 22. Um time que obrigou Casillas a fazer 19 defesas, enquanto Valdés só trabalhou oito vezes. Um time que chegou aos 100 gols no campeonato, sendo 69 desses gols anotados pelo trio Eto´o, Henry e Messi, que quebraram a marca dos 66 gols de Puskás, Di Stéfano e Del Sol pelo Real Madrid de 1960-1961. Enfim, um time mágico que começaria a partir daquele dia a vencer tudo e todos das maneiras mais brilhantes, improváveis e artísticas possíveis. Foi o marco zero, um jogo para a eternidade barcelonistas e que enriqueceu como nunca a história do futebol.

Os artistas agradecem. O futebol também.
Os artistas agradecem. O futebol também.

 

Pós-jogo – o que aconteceu depois?

Real Madrid: além do início da era vencedora do Barça, começou ali uma grande freguesia do Real para os comandados de Guardiola. Os merengues seriam derrotados pelos blaugranas em vários duelos decisivos, uma semifinal de Liga dos Campeões, na temporada 2010-2011, e uma final de Supercopa da Espanha, em 2011. Além disso, os madrilenos levaram 5 a 0 do Barça, no Camp Nou, em novembro de 2010 (mesmo com José Mourinho e Cristiano Ronaldo como protagonistas), acumularam cinco derrotas seguidas, sete jogos sem vencer e cinco derrotas em casa. Foi bem dura a vida madrilena naquela época…

Barcelona: como era esperado, o Barça foi campeão espanhol, da Copa do Rei e da Liga dos Campeões naquela temporada. Ainda em 2009, o time faturou a Supercopa da UEFA, a Supercopa da Espanha e o Mundial de Clubes da FIFA, chegando ao incrível “Sextuple” e vencendo todos os torneios que disputou no ano, uma façanha incrível e que dificilmente será igualada tão cedo. Nos anos seguintes, o time se consolidou como o melhor do mundo e um dos maiores esquadrões de toda a história do futebol, principalmente pelos bailes que protagonizou e por dar tanta sapecada no rival de Madrid. Leia mais sobre aquele Barça imortal clicando aqui.

 

Os "brinquedinhos" do Barcelona em 2009: Copa do Rei, Supercopa da UEFA, Mundial de Clubes, Liga dos Campeões, Supercopa da Espanha e Campeonato Espanhol.
Os “brinquedinhos” do Barcelona em 2009: Copa do Rei, Supercopa da UEFA, Mundial de Clubes, Liga dos Campeões, Supercopa da Espanha e Campeonato Espanhol.

 

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Comentários encerrados

9 Comentários

  1. yaya tourre,samuel eto´o ,abidal,thierry ”Os negros maravilhosos do catar” mesmo tirando o messi ainda ficava foda. 2008 eles tinham os 5 melhores jogadores negros numa escalaçao só,barcelona foi e ate hoje tem um ataque superior aos dos ‘galacticos’ mesmo tendo uns 9 crakes num time só. E NA minha opniao o melhor ataque do barcelona foi sem duvidas nenhuma muitos vão concordar cmg R10,MESSI,ETOO

  2. Nossa, foi a melhor atuação que vi um time de futebol praticar! Na época eu anotava o número de grandes chances de gol dos grandes confrontos no futebol para comparação. O Barcelona, me lembro bem, teve 15 chances claras de gol. Algo muito elevado em qualquer estatística que fiz. A beleza do jogo do time catalão foi extraordinária. Foi uma aula de futebol! Agora, 6 anos depois, revejo a escalação e o time tinha Henry, Xavi, Eto’o, Iniesta e Messi. Sem contar Yaya Touré (ainda com um futebol tímido), hoje um excelente jogador, Daniel Alves (muito mais um meia-direita do que um lateral), no auge combinando muitas jogadas com Messi, e Piqué (também no auge) e Pujol formando uma forte dupla de zaga. Eram muitos craques ou bons jogadores no auge que jogaram uma de suas melhores partidas no mesmo dia. O interessante é que o jogo começou muito equilibrado, com os ataques agressivos. Até quase a metade do primeiro tempo não havia predomínio do jogo por parte do Barcelona. Até então, o Real também jogava muito bem. Pelo início não dava para imaginar, nem de longe, o que aconteceria no restante da partida. O Barcelona de Guardiola foi, certamente, um dos melhores times da história do futebol! Inesquecível!

  3. Como bem escrito, esse jogo foi o que marcou o início da era mágica que viveu o Barcelona e todo amante de futebol, pois na minha visão ao menos, esse foi um dos 5 maiores times da história do futebol e certamente, de longe, o melhor que vi jogar. Mas mesmo sendo emblemático com uma atuação espetacular dos blaugranas, eu acho que o auge do time ainda foi a temporada de 2010-11 também e os 5 x 0 no Camp Nou pra mim ainda foram superiores a esse jogo, o 5 x 0 foi a melhor atuação que eu já vi de qualquer equipe em toda minha vida.

  4. Para os apaixonados pelo futebol arte o jogo praticado pelo Barcelona foi perfeito. Para mim o ápice ocorreu em 2011, por ocasião da final da Uefa Champions League, no qual testemunhamos os catalães darem uma aula de futebol no Manchester United (3-1) em Wembley, bem como, em Dezembro daquele ano, no Japão, onde massacraram o Santos (4-0). Sem esquecer as apresentações de gala, neste período, contra o Real Madrid.

  5. Esse jogo foi inacreditável. Nem mesmo nós torcedores blaugranas esperávamos um baile desses. Sinto que resquícios dessa era ainda existem no time atual, comandado por Lucho, e espero vê-los brilhar assim mais uma vez.

Esquadrão Imortal – Santos 2002-2004

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