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Craque Imortal – Zarra

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Nascimento: 20 de janeiro de 1921, em Erandio, Espanha. Faleceu em 23 de fevereiro de 2006, em Bilbao, Espanha.

Posição: Atacante

Clubes: SD Erandio Club-ESP (1939-1940), Athletic Club-ESP (1940-1955), SD Indautxu-ESP (1955-1956) e Barakaldo-ESP (1956-1957).

Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Espanhol (1942-1943), 5 Copas do Rei (1943, 1944, 1944-1945, 1949-1950 e 1955) e 1 Copa Eva Duarte (1950) pelo Athletic Club.

 

Principais títulos individuais e artilharias:

Artilheiro do Campeonato Espanhol: 1944-1945 (19 gols), 1945-1946 (24 gols), 1946-1947 (34 gols), 1949-1950 (25 gols), 1950-1951 (38 gols) e 1952-1953 (24 gols)

2º Jogador que mais vezes foi artilheiro do Campeonato Espanhol na história: 6 vezes

3º Maior Artilheiro da História do Campeonato Espanhol: 251 gols em 277 jogos (algumas fontes dizem que ele anotou 252 gols)

Maior Artilheiro da História da Copa do Rei: 81 gols

Maior Artilheiro da História do Athletic Club: 333 gols em 352 jogos (média de 0,95 gol por jogo)

Maior artilheiro em uma só final de Copa do Rei: quatro gols, em 1950

Condecorado com a Real Ordem do Mérito Esportivo

Eleito o 9º Melhor Jogador Espanhol do Século XX pela IFFHS

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Espanha do Imortais: 2020

 

“O lendário artilheiro basco”

Por Guilherme Diniz

Ninguém conseguiu superá-lo em mais de um século de futebol na Espanha. Nem os nascidos por lá, nem os estrangeiros de acolá. Com a camisa vermelha e branca do Athletic Club, ele se tornou uma lenda que transcendeu os limites da normalidade e o catapultou a um patamar diferenciado, longe dos seres comuns. Ele foi soberano. Prolífico. Devastador. Decisivo como nenhum outro. Único como só ele. E um patrimônio dos bascos que o tratam até hoje como um verdadeiro deus. Telmo Zarraonandia Montoya, mais conhecido pelo forte e marcante nome Zarra, foi o mais incrível atacante da história do futebol espanhol e um dos mais brilhantes que o esporte já viu. Com números impressionantes e marcas que resistem até hoje mesmo com tantos craques aprontando das suas na badalada liga espanhola, o jogador conquistou títulos e admiração unânime com genialidade, senso de colocação praticamente perfeito e subidas inalcançáveis para fazer dezenas de gols de cabeça, sua característica mais notável.

Segundo maior vencedor do Prêmio Pichichi de artilheiro do Campeonato Espanhol e um ícone da Seleção Espanhola que chegou ao 4º lugar na Copa do Mundo de 1950, Zarra encantou torcedores de todos os cantos e transformou o Athletic Club no time mais temido da Espanha na década de 40 e em parte da de 50. Foi uma pena as principais competições europeias terem aparecido somente depois da aposentadoria do artilheiro. Caso contrário, ele certamente teria deixado uma boa porção de recordes para os mortais (e alguns imortais) correrem atrás. É hora de relembrar.

 

Não dê ouvidos ao pai!

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Nascido em Erandio, município localizado na província de Biscaia, no País Basco, Zarra foi o sétimo dos dez filhos do casal de ferroviários Telmo Zarraonandia e Tomasa Montoya. Desde pequeno que Zarra demonstrou grande aptidão pelo futebol e se inspirava dentro da própria casa, já que o irmão mais velho, Tomás, era goleiro, e outro irmão, Domingo, também se arriscava com a bola nos pés. Era comum Zarra passar o dia inteiro jogando bola nas ruas bascas e ouvir sermões de sua mãe por quebrar seus chinelos de tanto chutar as pelotas de trapos, gomas e qualquer outro material que encontrasse pela frente, além das de capotão que seus irmãos arranjavam.

Quando percebeu que queria mesmo se dedicar totalmente ao esporte, Zarra enfrentou a resistência de seu pai, que não gostava da ideia pelo fato de a família já ter “futebolistas demais”. Para o bem do futebol, Zarra tapou os ouvidos para as palavras do pai e começou a chamar a atenção dos colegas pela habilidade e também por ser bastante tímido, algo que lhe rendeu o apelido de “Telminho, o medroso”. No final dos anos 30, em meio à expectativa de começar sua carreira, Zarra teve que enfrentar os conflitos da Guerra Civil Espanhola, mudou de cidade com sua família para Munguía e, tempo depois, firmou seu primeiro contrato com o Erandio Club, da segunda divisão espanhola.

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Por lá, o atacante mostrou rapidamente seu faro de gols e foi convidado para atuar na seleção da Biscaia em um amistoso contra um combinado de Guipuzcoa, partida na qual Zarra marcou nada mais nada menos que sete dos nove gols da vitória basca por 9 a 1. Não demorou muito para que o Athletic Club, que buscava jogadores a fim de reconstruir seu time por causa da guerra, tomasse conhecimento do talento daquele jovem promissor. E, em 1940, Zarra se mandou para as bandas de San Mamés. Era o início de uma rica, gloriosa e fantástica história.

 

Da guerra aos gols

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Zarra fez seu debute no Athletic em setembro de 1940, no empate em 2 a 2 contra o Valencia, com os dois gols marcados por ele próprio. O jogador disputaria mais algumas partidas até meados de janeiro de 1941, quando teve que se ausentar para servir o exército na cidade autônoma de Ceuta, na margem africana oriental no estreito de Gibraltar, perto do Marrocos. Por lá, Zarra disputou algumas partidas amistosas para manter a forma e o apetite por gols e, quando retornou para a temporada 1941-1942, mostrou suas reais qualidades. O craque marcou 17 gols, incluindo cinco na vitória por 10 a 0 do Athletic sobre o Celta, em janeiro de 1942, e três na goleada de 6 a 0 sobre o Atlético de Madrid, em fevereiro do mesmo ano. O time basco não venceu o Campeonato Espanhol, mas Zarra já cravou seu espaço como um dos principais goleadores do país.

Na Copa do Rei (ou Copa del Generalíssimo, nome do torneio na época), Zarra fez sete gols logo nos primeiros dois jogos do Athletic (três no 8 a 1 sobre o Logroñés e quatro na vitória por 6 a 0 sobre o Xerez), e marcou mais três no triunfo por 6 a 1 sobre o Real Valladolid que embalou o time basco até a final, contra o Barcelona. Nela, Zarra marcou um gol, mas viveu o momento mais triste da carreira ao desperdiçar uma chance crucial de gol quando errou um chute fácil e decisivo na prorrogação diante do goleiro Miró, quando a partida estava empatada em 3 a 3. Em seguida, ele viu o time catalão vencer o jogo por 4 a 3 e o Athletic perder a chance de conquistar um título que não vinha desde 1933. Zarra se sentiu profundamente culpado pelo infortúnio, mas ele mesmo faria questão de dar a volta por cima já na temporada seguinte.

 

Os primeiros louros da “Segunda Delantera”

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O Athletic que quase venceu a Copa do Rei de 1942 conseguiu um histórico doblete na temporada 1942-1943. Contando com Zarra como atacante central e outros quatro talentosos jogadores como Iriondo, Venancio, Panizo e Gaínza, o time basco formou um quinteto de ataque conhecido como “La Segunda Delantera Histórica”, por entupir os adversários de gols e ostentar números fantásticos: juntos, os cinco atacantes disputaram 1773 jogos pelo Athletic e marcaram 848 gols, sendo 333 só de Zarra. No Campeonato Espanhol, a equipe levantou a taça com 16 vitórias, quatro empates, seis derrotas, 73 gols marcados e 38 gols sofridos em 26 jogos. Zarra marcou 16 gols e se destacou ao deixar cinco tentos no 8 a 1 sobre o Oviedo, três no 5 a 2 sobre o Barcelona e dois na goleada de 5 a 1 sobre o Valencia.

O artilheiro se diferenciava dos demais atacantes de sua época por não perder tempo quando recebia a bola. Ele simplesmente pensava mais rápido do que todo mundo, deixava os zagueiros sem ação e marcava gols rápidos, letais e, claro, bonitos. Nas jogadas aéreas vindas de passes dos ponteiros Iriondo e Gaínza, Zarra voava mais do que todo mundo e cabeceava bolas indefensáveis. Os companheiros do craque jogavam com tranquilidade e sabiam que, de um jeito ou de outro, o atacante iria sempre deixar pelo menos um gol nas redes adversárias.

Marcando um gol de cabeça: Zarra foi um dos maiores especialistas no quesito.
Marcando um gol de cabeça: Zarra foi um dos maiores especialistas no quesito.

 

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Na Copa do Rei, o craque deu a volta por cima com estilo: foram oito gols em oito jogos, incluindo o tento (de cabeça) da vitória por 1 a 0 sobre o Real Madrid, na final disputada no Estádio Metropolitano, em Madrid. Na temporada seguinte, o craque sofreu uma lesão na clavícula que o tirou de combate por um tempo, mas ainda assim ele marcou 11 gols no Campeonato Espanhol e mais 10 gols em 10 jogos na campanha do bicampeonato da Copa do Rei do Athletic, que bateu o Valencia na final por 2 a 0 com um gol do craque.

A "segunda delantera": Iriondo, Venancio, Zarra, Panizo e Gaínza.
A “segunda delantera”: Iriondo, Venancio, Zarra, Panizo e Gaínza.

 

Na temporada 1944-1945, Zarra foi pela primeira vez o artilheiro máximo do Campeonato Espanhol com 19 gols em 26 jogos. Ele destruiu o Real Madrid com os dois gols da vitória por 2 a 1, em outubro de 1944, fez quatro dos cinco gols da goleada de 5 a 2 sobre o Deportivo La Coruña, em novembro, e deixou um gol na goleada de 4 a 1 sobre o Barcelona, em dezembro. Se o time basco não conseguia vencer La Liga, na Copa do Rei a hegemonia era plena. Os alvirrubros foram mais uma vez campeões após partidas inesquecíveis contra Barcelona (vitórias por 2 a 1 e 3 a 1, com quatro dos cinco gols do Athletic marcados por Zarra), Atlético de Madrid (2 a 1, fora de casa, com dois gols de Zarra) e triunfo dramático por 3 a 2 sobre o Valencia, na final, jogo que Zarra marcou um gol, claro, mas sofreu sua primeira e única expulsão na carreira, em um lance que o árbitro entendeu que ele havia agredido um rival no chão. Na verdade, o atacante tinha apenas feito um gesto jocoso para provocar o adversário. Furioso, Zarra viu do lado de fora o companheiro Iriondo marcar no último minuto o gol do título. Vale lembrar que naquela edição da Copa do Rei, Zarra marcou 14 gols em apenas nove jogos.

 

Seleção e artilharias

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Em 1945, Zarra recebeu suas primeiras convocações para a Seleção Espanhola e marcou, já em seu segundo jogo, dois gols na vitória por 4 a 2 sobre Portugal, em amistoso disputado em maio daquele ano, no Riazor. Nos anos seguintes, o craque seguiu no time e participou de vários amistosos e das partidas que classificaram a Espanha para a primeira Copa do Mundo do pós-guerra, quando ele marcou dois gols na vitória por 5 a 1 sobre Portugal, em abril de 1950, e mais um no empate em 2 a 2 que carimbou o passaporte espanhol para o Brasil.

Pelo Athletic, Zarra não levou títulos nas temporadas 1945-1946 e 1946-1947 (nesta, o time chegou perto, mas foi vice-campeão mesmo tendo o melhor ataque, com 72 gols em 26 jogos), mas foi absoluto nos torneios nacionais. O craque foi o artilheiro do Campeonato Espanhol em ambas as ocasiões com 24 gols em 18 jogos e 34 gols em 24 jogos, respectivamente. O jogador fez partidas mágicas no período, com destaque para as seguintes:

Temporada 1945-1946

  • Dois gols nos 6 a 0 sobre o Barcelona em pleno Les Corts;
  • Quatro gols nos 7 a 1 sobre o Castellón;
  • Três gols nos 5 a 1 sobre o Espanyol, fora de casa;
  • Dois gols nos 3 a 2 sobre o Real Madrid;
  • Quatro gols nos 6 a 1 sobre o Murcia.

 

Temporada 1946-1947

  • Dois gols nos 5 a 0 sobre o Sevilla;
  • Três gols nos 6 a 0 sobre o Deportivo;
  • Cinco gols nos 6 a 0 sobre o Castellón;
  • Três gols nos 6 a 3 sobre o Real Madrid, em plena casa merengue;
  • Quatro gols nos 6 a 2 sobre o Sporting;
  • Três gols no empate em 3 a 3 com o Deportivo, fora de casa.

 

Contra o Valladolid, em 1950: quatro gols em uma só final de Copa do Rei.
Contra o Valladolid, em 1950: quatro gols em uma só final de Copa do Rei.

 

Na temporada 1948-1949, Zarra continuou com o faro de gol apurado, mas perdeu a artilharia do torneio para César Rodríguez, que marcou 28 gols, contra 22 de Zarra. Na Copa do Rei, o atacante marcou nove gols em dez jogos, mas viu seu Athletic perder a final para o Valencia por 1 a 0. A desforra veio na temporada seguinte, quando o Athletic faturou mais uma Copa nacional e eliminou o carrasco do ano anterior na semifinal com uma vitória por 5 a 1 na ida,  com um gol de Zarra, e derrota por 6 a 3, na volta, que não foi suficiente para tirar os bascos da decisão graças aos dois gols anotados pelo craque.

Na final, Zarra teve o melhor desempenho de um goleador na história das decisões do torneio ao marcar todos os quatro gols da vitória por 4 a 1 do Athletic sobre o Real Valladolid – vale lembrar que três gols saíram já na prorrogação! Naquela competição, Zarra marcou 13 gols em 7 jogos. No Campeonato Espanhol, o craque foi outra vez artilheiro com 25 gols em 26 partidas e faturou o prêmio Pichichi pela quinta vez na carreira. Era a dose de entusiasmo necessária para que ele encarasse com muita gana o maior desafio da carreira naquele ano de 1950: a Copa do Mundo.

O Athletic de 1950: todos jogavam por Zarra. E Zarra sempre retribuía.
O Athletic de 1950: todos jogavam por Zarra. E Zarra sempre retribuía.

 

O herói e a queda no Maracanã

O craque e o gol contra a Inglaterra: momento ímpar na carreira.
O craque e o gol contra a Inglaterra: momento ímpar na carreira.

 

A Espanha chegou ao Mundial do Brasil com grandes esperanças. A equipe tinha no elenco, além de Zarra, jogadores de qualidade como o zagueiro Parra, os pontas Basora e Gaínza e o avançado Panizo. Os espanhóis estrearam em Curitiba e venceram os EUA por 3 a 1, com um gol marcado por Zarra após ele aproveitar um cruzamento da linha de fundo e mandar a bola para o fundo do gol. No duelo seguinte, contra o Chile, no Maracanã com pouco mais de 15 mil pessoas, Zarra driblou dois antes de marcar o gol que selou a vitória por 2 a 0 da Fúria. Na última partida da primeira fase, os espanhóis fizeram um duelo decisivo contra os ingleses para conquistar a vaga na próxima fase. Novamente jogando no Maracanã (dessa vez com mais de 73 mil pessoas), a Espanha foi valente e, aos 3´do segundo tempo, marcou o gol de sua vitória por 1 a 0 com seu mais brilhante goleador: Zarra, claro.

O atacante recebeu um passe magistral de Gaínza e, com um toque sutil de primeira, venceu o goleiro Williams. Foi um gol festejado sem moderação pelos espanhóis e uma vitória épica, lembrada até hoje pela importância e pelo fato de ter sido contra a poderosa Inglaterra, ainda com o status de “seleção imbatível” na época. Uma curiosidade sobre aquele jogo aconteceu na Espanha, quando o pai de Zarra, ao saber que o filho tinha marcado o gol da classificação no Mundial, simplesmente ignorou o fato e continuou jogando cartas em um bar.

Após a classificação e com três gols em três jogos, Zarra era um dos mais temidos jogadores do Mundial e despertava preocupação em todas as seleções. Com isso, Uruguai, Brasil e Suécia, os outros classificados, sabiam que marcar o atacante era fator crucial nos duelos contra a Espanha. No dia 9 de julho, o Uruguai conseguiu neutralizar Zarra e arrancou um empate em 2 a 2 no Pacaembu. Quatro dias depois, a Espanha voltou ao Maracanã, mas foi obrigada a presenciar um baile do anfitrião Brasil: 6 a 1, com direito a olé e canções provocativas. Zarra perdeu um gol feito e mandou uma bola na trave, mas teve pouquíssimas chances de reverter a situação, afinal, o Brasil era muito superior. No duelo de despedida, a Espanha perdeu para a Suécia por 3 a 1, no Pacaembu, e Zarra marcou o último gol da Fúria em solo sul-americano. A 4ª colocação foi a melhor do país europeu até o título mundial de 2010.

Aquela foi a primeira e única Copa de Zarra. O craque jogaria mais três vezes pela seleção, em 1951, incluindo um amistoso contra a Suécia, em Estocolmo, que fez os suecos capricharem na propaganda pré-jogo com dizeres: “Apreciem a melhor cabeça da Europa depois da de Winston Churchill!”, em alusão ao Primeiro-Ministro Britânico da época, que venceria o Prêmio Nobel de Literatura em 1953. Zarra disputou 20 jogos e marcou 20 gols com a camisa da Espanha, uma exata e notável média de 1 gol por jogo.

 

Os últimos anos e a façanha que superou décadas

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Após o Mundial, Zarra fez da temporada 1950-1951 a mais fantástica da carreira no Campeonato Espanhol. O Athletic terminou apenas na sétima posição, não flertou com o título, mas teve o melhor ataque com 88 gols em apenas 30 jogos. Como isso foi possível? Graças a Zarra. O atacante anotou impressionantes 38 gols em 30 jogos, venceu seu sexto Pichichi e estabeleceu um recorde que só seria igualado por Hugo Sánchez na temporada 1989-1990 e superado apenas seis décadas depois, em 2010-2011, por Cristiano Ronaldo (41 gols em 34 jogos) e Lionel Messi, em 2011-2012 (50 gols em 31 jogos). Zarra fez partidas inesquecíveis e marcou, entre outros, seis gols nos 10 a 0 do Athletic sobre o Lleida, em novembro de 1950; cinco gols nos 7 a 1 sobre a Real Sociedad, em março de 1951, e dois gols em três partidas seguidas naquele mesmo mês de março. Ele ainda balançou as redes sete jogos seguidos e, tempo depois, fez os dois gols da vitória por 2 a 0 do Athletic sobre o Atlético de Madrid na final da Copa Eva Duarte, espécie de Supercopa da Espanha da época.

Na temporada 1951-1952, Zarra sofreu a contusão mais grave de sua carreira, quando o goleiro do Atlético de Madrid caiu sobre sua perna e o tirou de combate por longos meses. Só na temporada 1952-1953 que ele conseguiu voltar a tempo de marcar 25 gols em 29 jogos do Campeonato Espanhol e seis gols em sete jogos na Copa do Rei, na qual o Athletic chegou até a final, mas perdeu para o já forte Barcelona de Kubala, Segarra e cia. Em abril de 1954, já veterano, Zarra recebeu uma bonita homenagem em Madrid por seus longos serviços prestados ao futebol espanhol. Vários jogadores como Alfredo Di Stéfano, Antonio Puchades, Estanislao Basora, Agustín Gaínza, Eduardo Manchón e César Rodríguez participaram das festividades que fizeram o craque chorar copiosamente.

Com vários jovens começando suas carreiras no Athletic, incluindo Eneko Arieta, Zarra decidiu se aposentar do futebol na temporada seguinte e disputou algumas partidas por pequenos clubes bascos apenas para brincar e sem cobrar nada. O craque deixou o esporte oficialmente em 1957, aos 36 anos, como o maior artilheiro de toda a história do futebol espanhol, das maiores competições do país e de toda a história do Athletic Club.

 

Um nome para a eternidade

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Depois de pendurar as chuteiras, Zarra recebeu várias homenagens e prêmios, atuou em partidas beneficentes e administrou um restaurante com sua família por toda vida. Em 1997, o ex-jogador recebeu uma homenagem que estava há anos atrasada de seu querido Athletic, no San Mamés, ao lado de vários personagens que jogaram com ele nos anos 40 e 50. Em 2006, o craque sofreu um infarto e faleceu aos 85 anos, deixando órfã a torcida do Athletic, mas inspirando o jornal Marca a criar o “Troféu Zarra”, que premia desde 2006 o maior goleador do Campeonato Espanhol. Mesmo após mais de meio século, os números de Zarra seguem soberanos, notáveis e muitos insuperáveis. Nenhum jogador ganhou mais Pichichis do que ele. Nenhum jogador marcou mais gols na Copa do Rei do que ele. E nenhum jogador levou o nome do Athletic Club para um patamar tão alto como ele. Prolífico e incontestável, Zarra escreveu seu nome entre os maiores do futebol mundial e permanece como uma lenda que transbordará para sempre as luzes da imortalidade dignas de um craque imortal.

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Grande trabalho sobre um mito! A época passada o prémio Zarra foi para… Diego Costa! Não me parece que, neste caso, a memória do grande futebolista tenha sido muito respeitada…

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