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Jogos Eternos – Internacional 2×1 Grêmio 1989

 

Data: 12 de fevereiro de 1989

O que estava em jogo: uma vaga na final do Campeonato Brasileiro de 1988 (por causa da organização sempre exemplar da CBF, as finais foram disputadas no ano seguinte, ou seja, 1989).

Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre, RS, Brasil.

Juiz: Arnaldo Cezar Coelho

Público: 78.083 pessoas

Os Times:

Sport Club Internacional: Taffarel; Luiz Carlos Winck, Aguirregaray, Nenê e Casemiro; Norberto, Leomir (Diego Aguirre) e Luis Carlos Martins; Maurício (Norton), Nilson e Edu Lima. Técnico: Abel Braga.

Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense: Mazarópi; Alfinete, Trasante, Luis Eduardo e Airton; Bonamigo, Cristóvão e Cuca; Jorginho (Reinaldo Xavier), Marcos Vinicius e Jorge Veras (Serginho). Técnico: Rubens Minelli

Placar: Internacional 2×1 Grêmio (Gols: Marcos Vinicius-GRE, aos 26’ do 1º T; Nilson-INT, aos 16’ e aos 26’ do 2º T).

Cartão vermelho: Casemiro-INT, aos 38’ do 1º T.

 

“O Gre-Nal do Século”

Por Leandro Stein

 

Há uma longa discussão para apontar qual o maior clássico do futebol brasileiro. Porém, qualquer lista que ignore o Gre-Nal entre os primeiros não merece ser tratada com credibilidade – por isso que ele está entre os 10 maiores clássicos do mundo, matéria especialíssima aqui do Imortais (leia mais clicando aqui!). A cidade dividida basicamente entre duas cores potencializou a rivalidade desde os seus primórdios, e a paixão carnal do povo gaúcho pelo futebol só cultivou a rixa ao longo das décadas. A alternância de momentos entre os clubes é outro fator fundamental, em que a vontade de encerrar as próprias misérias e superar as glórias dos vizinhos girava a roda da fortuna. E um grande clássico, é claro, depende de grandes histórias. Uma das maiores, ocorrida há exatos 30 anos. O “Gre-Nal do Século” não tem essa alcunha pomposa à toa. Serve para demarcar a semifinal do Brasileirão de 1988, ocasião mais importante em que tricolores e colorados mediram forças além do Gauchão. Uma partida obrigatória ao passado do futebol brasileiro. E que o futebol permitisse a apenas um lado recontar a epopeia gloriosa, o Internacional conquistou este direito por alguns séculos. É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

Aguirregaray, do Inter.

 

Eram tempos distintos a Internacional e Grêmio, como tantas vezes o destino provocou. O Grêmio vinha de uma década bem mais imponente e, embora os tempos de conquistas expressivas tivessem ficado para trás, o clube mandava no Rio Grande do Sul com o então tetracampeonato estadual. Já o Internacional sofria na parte mais baixa da gangorra, por conta do jejum de títulos que perdurava desde 1984, mesmo que vislumbrasse outros caminhos além das fronteiras. Em 1987, havia sido vice-campeão da Copa União, derrotado pelo Flamengo na decisão. O Brasileiro de 1988, então, abriria um vórtice nesta história.

Internacional e Grêmio faziam campanhas parecidas no torneio até aquele momento. Ambos terminaram na segunda posição de suas respectivas chaves durante o primeiro turno, o que assegurou a classificação aos mata-matas. Já no segundo turno, o desempenho não seria o mesmo, o que não traria grandes custos – embora o Inter acumulasse uma pontuação superior na tabela geral, o que se transformava em vantagens na etapa decisiva. E a recuperação viria no momento certo, a partir dos mata-matas, com os gaúchos triunfando nas quartas de final.

O Tricolor tinha um desafio relativamente maior. O Flamengo era o atual campeão da Copa União e possuía um time qualificado, então dirigido por Telê Santana. No fim, após a igualdade no Olímpico, a classificação aconteceu dentro do Maracanã. Testada firme de Cuca, que determinou a vitória dos visitantes por 1 a 0. Não que o Cruzeiro, adversário do Colorado, fosse exatamente uma missão digesta. Os mineiros também acumulavam campanhas nacionais relevantes e haviam crescido no segundo turno, sob as ordens de Carlos Alberto Silva. Após o empate no Mineirão, no qual os anfitriões foram superiores, Nenê e Maurício (aquele, símbolo do fim do jejum botafoguense no Carioca de 1989) abrilhantaram a noite no Beira-Rio, com a vitória por 2 a 0 e a passagem garantida às semifinais.

“Para o Internacional, é, antes de tudo, uma esperada revanche. A hora de despedaçar o humilhante tabu de onze jogos sem vencer o Grêmio. A chance de provar que os anos 80 não passarão para a história apenas como a década do Grêmio. No sonho dos colorados, ainda este ano, o Brasil verá o Internacional campeão nacional. Do outro lado do front, os gremistas não querem somente derrotar o adversário ou manter a longa invencibilidade de dois anos. A palavra-chave é Libertadores. Mais que no resto do país, no Rio Grande do Sul vencer a Taça é uma glória. E, como lembram os tricolores, uma glória exclusiva do Grêmio entre os gaúchos”, escreveu a reportagem da Placar, após a confirmação do clássico.

O Gre-Nal das semifinais prenunciava uma versão moderna da Revolução Farroupilha. A denominação de “Gre-Nal do Século” já ganhava as colunas dos jornalistas gaúchos. Mais importante que chegar à final ou se classificar à Libertadores era, de fato, ter um motivo para espezinhar os rivais por todo o sempre. Não havia ocasião maior. Por isso mesmo, cobrava-se dedicação máxima e imaginava-se que o vencedor sairia fortalecido para buscar a taça contra Bahia ou Fluminense – dois times que também faziam campanhas expressivas e se pegariam do outro lado da chave. A narrativa, de qualquer maneira, era mais forte ao que ocorria em Porto Alegre.

Havia um certo desdém em ambos os discursos, aquela provocação sadia que apimenta o clássico. O Inter, com a vantagem de dois empates por ter a melhor campanha, pensava em administrar mais os jogos e trabalhar melhor a bola. Era a ideia de Abel Braga, iniciando sua trajetória à beira do campo. O que não continha as palavras do presidente Pedro Paulo Zachia, em declaração à Placar: “O time está chegando junto e dando porrada. É assim que quero”. Já o Grêmio sustentava uma confiança com contornos de menosprezo. “O campeão sairá de Grêmio ou Fluminense. Nilson? É apenas um bom jogador, nada mais”, dizia o zagueiro uruguaio Obdulio Trasante, provocador nato. Mesmo o técnico Rubens Minelli, tão marcado por suas conquistas com os próprios colorados, preferia apontar que a classificação era certa aos tricolores e projetava reforços à Libertadores.

O calendário pregou as suas peças àquele Gre-Nal. O clássico aconteceu logo depois do Carnaval. A ida, no Olímpico, se deu justamente na quinta-feira pós-cinzas. E a mentalidade dos treinadores seria bastante diferente. Minelli optou por concentrar os gremistas numa pousada, sem permitir que os seus comandados curtissem as festanças. Abelão, por outro lado, abriu concessões. Deixou que seus atletas caíssem na folia, deixando claro que não poderiam se exceder. O problema veio quando Nilson saiu nas capas dos jornais de Porto Alegre ao lado de duas loiras. Polêmica à toa, que não agradou o comandante.

“O Abel Braga nos liberou para brincar o Carnaval sábado e domingo. E falou: quem quiser namorar, namora, quem quiser tomar sua cerveja, toma, aproveita porque na segunda-feira nós vamos concentrar. Lá em Tramandaí, acabei indo para um clube. Brincando o Carnaval, duas meninas me chamaram para tirar uma foto. Eu abracei as meninas, duas loiras, lá no Sul você imagina as gaúchas. Maior que eu, duas loiraças. E o Abel tinha pedido para não se exceder. O cara do Zero Hora, jornal mais famoso do Rio Grande do Sul, estava ali e eu não vi. Ele tirou a foto, eu nem vi. No domingo de manhã, peguei o jornal, está na capa eu abraçado com duas loiras, imagina. Ainda botaram: Abel pede pra não se exceder e Nilson com duas. Aí você vê o bafafá”, contou Nilson, ao jornal O Popular, em 2015. “Eu tentei explicar. Abel falou: não quero nem saber, correu em campo para mim não importa o que vocês fazem fora”.

Nilson era um jogador em ascensão naquele momento. Dono de um bom porte físico, o meia havia se transformado em centroavante depois de sua contratação pelo Internacional. Antes, passara o início de sua carreira rodando por clubes do interior de São Paulo, até fazer um ótimo Paulistão com a camisa do XV de Jaú. E foi a partir de sua chegada ao Beira-Rio, em 1988, que o paulista de 23 anos realmente estourou – sobretudo pelos gols que acumulava no Brasileirão. Assim, natural que as expectativas se concentrassem sobre si. Todavia, demoraria um pouco mais a dar sua resposta aos detratores.

Para o primeiro jogo, o Internacional adotou uma postura mais defensiva no Olímpico. Diante da suspensão de Luiz Carlos Winck, um dos melhores laterais do país, Abel Braga escalou Casemiro no setor. Era uma troca bem-vinda, considerando que uma das principais válvulas de escape do Grêmio se concentrava por ali, ante as investidas do ponta Jorge Veras. Já Minelli precisaria armar o Grêmio sem Cuca, destaque naquela campanha, que estava suspenso. De qualquer maneira, mesmo sem o seu craque, prometia uma equipe ofensiva e que resolvesse o confronto já dentro de casa. O problema seria suprir justamente a ausência de Jorge Veras, que lesionou o tornozelo na véspera e deu seu lugar a Roberto Gaúcho.

Nilson, do Inter, em ação.

 

O Inter que entrou em campo naquele jogo épico. Em pé: Luiz Carlos Winck, Taffarel, Nenê, Norberto, Casemiro e Aguirregaray. Agachados: Maurício, Leomir, Nilson, Luis Carlos Martins e Edu Lima.

 

O Gre-Nal da quinta-feira não encheu os olhos. O equilíbrio prevaleceu, com o Grêmio começando melhor e dominando o primeiro tempo, antes que o Inter respondesse no segundo e até acertasse o travessão com Nilson. Prevaleceu o empate por 0 a 0, fazendo valer as instruções de Abel Braga. Além disso, em um clássico naturalmente tenso, o embate ficaria marcado pelas entradas duras e pela pegada constante. “Se os times refletem a personalidade e o estilo dos seus treinadores, o que o futebol brasileiro pode esperar de Abel Braga e Rubens Minelli, um jovem e um veterano em termos de contribuição para o desenvolvimento do futebol? Durante pelo menos 70 minutos do jogo de ontem, Inter e Grêmio travaram um combate onde o que a bola era o que menos importava”, avaliou o Jornal dos Sports, salientando que “o Grêmio até tentou jogar futebol, mas a disposição do Inter era a de apenas fazer o tempo passar”. Nada menos que dez cartões amarelos foram distribuídos. Ficaria tudo para três dias depois, no domingo, quando o clássico se repetiria no Beira-Rio.

 

Primeiro tempo – Esqueça escanteios e jogadas pelas pontas

Foto: Valdir Friolin / Agência RBS.

 

O Grêmio tinha a necessidade da vitória e passava por cima de seus problemas, rumo ao reencontro decisivo. Jorge Veras retornou ao ataque, mesmo sendo dúvida até a véspera do jogo. O ponta Jorginho, por sua vez, sentiu uma lesão no treino e foi para o sacrifício. Era ele o principal responsável pela armação, ao lado de Cristóvão (Borges), em fase esplendorosa. E havia o retorno de Cuca, um meia de muita chegada ao ataque. Abel, por sua vez, teve o seu principal entrave com Nilson. O centroavante sofreu uma pancada no joelho no Olímpico, mas não podia ser deixado no banco. Com sua confirmação, a escalação estava desenhada desde a antevéspera do clássico. A espinha dorsal se mantinha: Taffarel, Luiz Carlos Winck, Aguirregaray, Norberto, Maurício, Nilson, Edu Lima. O único ausente era o meio-campista Luis Fernando, suplantado por Leomir, mais combativo. Já nas arquibancadas, o reforço vinha com massa vermelha na velha casa.

O sol forte castigava os presentes no Beira-Rio durante aquele domingo, 12 de fevereiro. E os colorados, maioria entre os 78 mil presentes (apesar do número expressivo de tricolores), não demorariam a ficar apreensivos. Apesar do equilíbrio inicial, o Grêmio faria a balança pender para o seu lado aos 25 minutos. Após um lindo passe de Cristóvão na intermediária, o lateral Airton executou um lançamento perfeito e encontrou Marcos Vinicius na entrada da área. O centroavante ganhou dos marcadores na corrida e bateu cruzado, no canto de Taffarel. A vitória parcial beneficiava os gremistas, que se defendiam muito bem. A tentativa de reação do Inter se limitava às bolas paradas. A melhor chance surgiu em uma bela jogada ensaiada, com Maurício saindo na cara do gol, mas Mazarópi realizou o milagre.

Como se não bastasse, o pior aos anfitriões estava por vir. Aos 38 minutos, Casemiro caiu na pilha de Trasante e deu uma entrada violenta no uruguaio. Na lateral do campo, o colorado se esqueceu da bola e acertou as travas da chuteira no tricolor, que rolou no gramado. O vermelho direto aplicado por Arnaldo Cezar Coelho foi mais do que merecido. E, mesmo prejudicando seu time, o lateral fez questão de inflamar a torcida antes de sair aos vestiários. O que não estava bem era a situação do Inter em campo. Antes que o intervalo chegasse, o Grêmio empilhou lances de perigo. Bonamigo soltou uma bomba do meio da rua e estremeceu a trave de Taffarel. Além disso, o goleiro precisou abafar uma bola nos pés de Cuca e o tricolor, mesmo com a sobra, não aproveitou a meta vazia. O final do primeiro tempo marcava a angústia do que parecia prestes a desabar.

Marcos Vinicius chuta para fazer o primeiro do Grêmio.

 

Abel podia ser bem mais jovial e inexperiente naqueles tempos. Independentemente disso, o jeito explosivo já marcava a sua personalidade e ele chegou aos vestiários fumegando. Gritou com os jogadores, chutou a parede, cobrou os seus foliões. Mais importante, conseguiu mexer com o brio dos seus comandados. Pediu que jogassem por Casemiro, caso contrário a carreira do companheiro estava acabada naquela tarde. Acima disso, seria ousado o suficiente para armar o time ao ataque, mesmo em desvantagem numérica. Perguntou se os colorados queriam a virada ou preferiam evitar a goleada. Ao ouvir a resposta óbvia, surpreendeu na alteração. Sacou o volante Leomir e botou em campo Diego Aguirre, atacante recém-contratado do Peñarol, que já havia sido salvador em uma final épica na Libertadores meses antes. O uruguaio se tornou o homem de referência na linha de frente, enquanto Nilson recuou, retomando a antiga posição como meia. Não seria isso que atrapalharia o faro de gol do artilheiro. O incansável Norberto iria segurar as pontas na cabeça de área. Já na lateral esquerda, Edu Lima cobriria o rombo no setor sem abdicar de suas incumbências como ponta nos avanços da equipe.

 

Segundo tempo – Gol camarada e título forasteiro

 

O segundo tempo começou totalmente aberto. Os dois times estavam ávidos pela vitória. E o Grêmio teve a sua chance de matar o jogo, sem que aproveitasse. Cuca apareceu livre na risca da pequena área, mas cabeceou para fora. O lamento era evidente em sua expressão. Concedeu a sobrevida que o Inter precisava, logo passando a dominar o Gre-Nal. O gol de empate não tardaria e saiu aos 15 minutos. Alfinete só conseguiu parar Edu Lima com uma falta na ponta esquerda. O próprio atacante cobrou e mandou na cabeça de Nilson. Na conclusão, o “Pirulito” lembrou outro antigo ídolo colorado: Dadá Maravilha. Pairou no ar e desferiu a cabeçada fatal, superando Mazarópi. Durante a comemoração, o artilheiro saiu desembestado à lateral do campo para desatar a euforia da torcida. Se os anfitriões passaram um tempo quietos diante da pressão gremista, aquele gol transformou o Gigante da Beira-Rio em um caldeirão em ebulição.

O empate já favorecia o Internacional, mas não podiam dar margem ao azar. Abel urgia que seus jogadores continuassem atacando e exatamente isso o que fizeram, até que a virada se consumasse aos 26 minutos. Aguirre fez uma jogadaça na entrada da área. Aplicou uma meia lua no primeiro marcador e, quando tentou meter por entre as canetas de Trasante, foi derrubado em excelente posição. Luiz Carlos Winck carimbou o travessão na cobrança da falta. Já na sequência, após um lateral, Maurício recebeu na direita. O ponta deixou dois marcadores falando sozinhos apenas com a finta de corpo e mandou um chute rasante. Inteligentemente, Nilson se antecipou rumo à pequena área e escorou com tremendo oportunismo. Ignorando a confusão com as loiras ou o desdém de Trasante, era ele o herói na vitória por 2 a 1. Saiu correndo à celebração emocionada na bandeirinha de escanteio, na qual até Abelão se juntou.

Nilson faz o gol da virada (foto: Zero Hora)…

 

…Corre para comemorar…

 

… E não segura a emoção: virada colorada!

 

Ainda assim, restavam 20 minutos para segurar o placar. O Grêmio não deixaria barato e insistiria em busca da vitória. Eis que o espírito aguerrido dos 10 homens do Internacional fez a diferença. Sobraram pancadas, é verdade. Mesmo assim, os colorados cumpriram à risca sua missão, liderados por um gigantesco Aguirregaray no miolo de zaga – não à toa, recebeu nota 9 na Bola de Prata, mesma pontuação atribuída a Nilson. E, sob as traves, havia a segurança do melhor goleiro do Brasil: Taffarel. O camisa 1 da Seleção não tinha muita sorte em clássicos, com a triste lembrança de um frangaço pela Copa União de 1987. Todavia, estava em excelente forma e protagonizava as boas campanhas nacionais dos colorados. Caberia ao jovem conter a pressão tricolor e confirmar a vitória por 2 a 1. O Gre-Nal do Século seria ainda mais memorável pela maneira como dobrava as probabilidades, com a festa em vermelho e branco no Beira-Rio. Os torcedores do Inter ganhavam uma história para contar e recontar por todo o sempre.

“Aquela vitória foi um prato cheio. O Grêmio estava numa casa de repouso e o pessoal reclamando. Aí eu falei depois da virada: ‘Manda o Grêmio voltar pra casa de repouso que, dos meus dois gols, foi um pra cada loira daquela’. Aproveitei o momento. Entrei mais motivado por isso. Tem que entrar, porque eu sabia que se a gente perdesse, a coisa ia vir em cima de mim. Isso me deu mais vontade. Por causa desse Gre-Nal do Século, vou passear e encontro pessoas que vêm me abraçar, agradecendo a felicidade por aquele jogo”, apontou Nilson, quase três décadas depois, ao jornal O Popular.

O orgulho se espalha entre os colorados, marcados por uma vitória que valeu tanto ou mais que um título, porque permanece como uma façanha singular. Seria essa a maior lembrança a Taffarel, Luiz Carlos Winck e outros jogadores notáveis no passado do Beira-Rio.

Na saída de campo, Minelli afirmava que o Grêmio teve uma “vitória tática”, mas que isso não valeu para conseguir o resultado positivo. Lamentou a falta de sorte de seus jogadores, que não aproveitaram as chances de matar a partida, seja no primeiro tempo ou diante dos espaços gerados pela expulsão de Casemiro. “Mesmo com um jogador a menos, eles tiveram tranquilidade para virar. Entregamos o jogo nos 45 minutos finais. Fica difícil de explicar”, analisou. A maior dificuldade de entender, no fim das contas, era da própria torcida gremista.

A festa do técnico Abel Braga. Foto: Fernando Gomes / Agência RBS.

 

A virada com 10 homens virou o grande bastião do orgulho colorado, em anos tão difíceis. Os gremistas poderiam contar vantagem da maneira que fosse, mas nunca encheriam a boca para dizer que venceram o clássico mais importante – e da maneira catártica como se consumou. Abel Braga, por sua vez, voltaria a outras noites heroicas no Beira-Rio. É o comandante dos maiores feitos do Inter, com a Libertadores e o Mundial no currículo. Mesmo assim, o veterano aponta que as sensações provadas naquele 12 de fevereiro de 1989 são inigualáveis. Sua erupção ao apito final, saindo em disparada ao centro do campo durante a invasão de torcedores, é o sinal eterno da insanidade que experimentou e também proporcionou à nação colorada.

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Internacional: para quem olhar as consequências do Gre-Nal do Século através da frieza das tabelas, o Internacional não seria tão feliz assim. Perdeu a final do Brasileirão para o timaço do Bahia e, na Libertadores, esbarrou no Olimpia durante as semifinais. Tempos para esquecer? Não exatamente. Em 1991 e 1992, a equipe venceu um bicampeonato estadual. E, também em 1992, faturou sua primeira Copa do Brasil. Em 1997, venceu o Gauchão e aplicou uma inesquecível goleada de 5 a 2 sobre o rival em pleno Olímpico, no famoso Gre-Nal dos 5 a 2, pelo Campeonato Brasileiro. E, nos anos 2000, o Inter voltou aos tempos de glórias e faturou títulos estaduais e os lendários canecos da Libertadores e do Mundial justamente sobre o comando de Abel Braga, o comandante do Gre-Nal do Século lá de 1989. Leia mais clicando aqui.

Abel foi o técnico do time campeão mundial de 2006. (Foto: Koichi Kamoshida/Getty Images).

 

Grêmio: os tricolores esvaziaram as arquibancadas antes do apito final. Cuca virou um emblema da derrota. Naquele mesmo dia, o meia veria um boneco com sua imagem, que os torcedores costumavam levar às partidas, sendo queimado dentro do Beira-Rio. Ficou o fantasma dos gols que perdeu e que ainda hoje o atormentam. Mas a equipe fez questão de esquecer rapidamente aquele drama naquele ano de 1989, que guardou o pentacampeonato gaúcho do Grêmio e o título na edição inaugural da Copa do Brasil. Pouco tempo depois, a equipe iniciou uma de suas eras mais vitoriosas entre 1994 e 1997, com títulos nacionais e uma Libertadores em 1995. No entanto, os tricolores ainda esperam por uma revanche em um grande torneio. Pelo orgulho. E para cicatrizar a ferida de 1989.

Adílson com a Libertadores de 1995.

 

 

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