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Seleções Imortais – Peru 1970-1975

Em pé: Eloy Campos, Roberto Chale, Héctor Chumpitaz, Luis Rubiños, Rafael Risco e Orlando La Torre. Agachados: José del Castillo, Hugo Sotil, Pedro "Perico" León, Teófilo Cubillas e Alberto Gallardo.
Em pé: Eloy Campos, Roberto Chale, Héctor Chumpitaz, Luis Rubiños, Rafael Risco e Orlando De La Torre. Agachados: José del Castillo, Hugo Sotil, Pedro “Perico” León, Teófilo Cubillas e Alberto Gallardo.

 

Grandes feitos: Campeã da Copa América (1975) e 7ª colocada na Copa do Mundo da FIFA (1970). Encerrou um jejum de 36 anos sem títulos da Seleção Peruana de futebol.

Time-base: Sartor (Rubiños); Soria (Eloy Campos), Meléndez (De La Torre), Chumpitaz e Díaz (Fuentes / Risco); Quesada (Roberto Chale), Ojeda (Ramón Mifflin) e Rojas (Baylón / José del Castillo / Ramírez / José Fernández); Cubillas (Cueto), Sotil (León / Gerónimo Barbadillo / Casaretto) e Oblitas (Alberto Gallardo). Técnicos: Didi (1970), Alejandro Heredía (1971), Lajos Baróti (1972), Roberto Scarone (1972-1974) e Marcos Calderón (1975).

 

“La Generación de Oro”

Por Guilherme Diniz

La Bombonera, 31 de agosto de 1969. Argentina e Peru decidem uma vaga na Copa do Mundo do México de 1970. A albiceleste, jogando em casa e naquele alçapão, é favorita, mas precisa da vitória a qualquer custo. Ao Peru, basta um empate. E, com dois gols de Oswaldo “Cachito” Ramírez, o time vermelho e branco segura o placar de 2 a 2 e conquista uma vaga histórica para o Mundial. Zebra? Que nada. Era o prenúncio do poder de fogo daquela seleção. Comandados por Didi, eterno maestro da “folha seca”, os peruanos disputaram uma das mais lendárias Copas de todos os tempos, jogaram bem e conseguiram um lugar de destaque em meio a tantas seleções de peso.

E, em 1975, conquistaram a América com autoridade e passando por ninguém mais ninguém menos que o Brasil em pleno Mineirão, encerrando um jejum de quase quatro décadas sem taças importantes. Durante cinco anos, a Seleção Peruana foi protagonista na América do Sul com um futebol de imensa qualidade e uma geração de jogadores simplesmente incontestável. Chumpitaz. Hugo Sotil. León. Meléndez. Oblitas. E o mito Teófilo Cubillas, maior jogador peruano de todos os tempos e que viveu seu auge justamente no auge de uma seleção que fez novos torcedores aprenderem a torcer por seu país. É hora de relembrar.

 

Mudando o presente

O Peru dos Jogos Olímpicos de 1936. Em pé: Tovar, Lavalle, Valdivieso, Arturo Fernández, Castillo, Jordán e o técnico Alberto Denegri. Agachados: Magallanes, Alcalde, Fernández, Morales e Villanueva.

 

Naquele final de anos 1960, falar e pensar em futebol sul-americano era se restringir a apenas três países: Brasil, campeão do mundo em 1958 e 1962 e com jogadores fantásticos surgindo a cada ano, Uruguai, também muito forte e sob a base do Peñarol multicampeão em 1960 e 1961 e 1966, e Argentina, que crescia cada vez mais com o protagonismo de seus times na Libertadores, em especial o Independiente bicampeão continental em 1964 e 1965, o Racing, campeão em 1967, e o Estudiantes tricampeão entre 1968 e 1970. Mas você deve se perguntar: e o Peru? Bem, a equipe ainda vivia sob as lembranças dos anos 1930, quando disputou a primeira Copa do Mundo, no Uruguai, e na ocasião em que obteve uma histórica vitória de virada sobre o temido Wunderteam da Áustria por 4 a 2, nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, partida que batizou até um túnel em Áncash (departamento peruano) de Túnel Punta Olímpica.

Três anos depois, a seleção faturou o título do então chamado Campeonato Sul-Americano de Seleções de 1939 de maneira invicta, com base no talento do goleador Lolo Fernández, autor de sete gols naquela competição, e José Alcalde, que anotou cinco. Após aquela conquista, a equipe não conseguiu manter a boa fase e viu o protagonismo no continente voltar ao trio de gigantes, principalmente à Argentina e sua espetacular seleção nos anos 1940.

No entanto, após três décadas, tudo começou a mudar. Jogadores de muito talento surgiram nos clubes do país, entre eles Alianza Lima, Sporting Cristal e Universitario. No gol, Rubiños, convocado desde 1963, era o camisa 1 e grande nome do Sporting. No setor defensivo, Chumpitaz (Universitario) e De La Torre (Sporting) eram incontestáveis e demonstravam muita segurança no miolo de zaga com ótimo posicionamento, tempo de bola, marcação e bons passes. No meio de campo, Mifflin (apenas 23 anos, do Sporting), Roberto Chale (Universitario) e Alberto Gallardo (Sporting) faziam lançamentos e tocavam bem a bola para os nomes do principal setor do time: o ataque.

“Perico” León (Alianza Lima), Hugo Sotil (Deportivo Municipal), Oswaldo Ramírez (Sport Boys) e Teófilo Cubillas (de 21 anos, do Alianza Lima) eram rápidos, oportunistas, inteligentes, polivalentes e capazes de decidir partidas com uma facilidade notável. Para fazer com que aquela talentosa geração de jogadores pudesse dar liga, a federação de futebol do país decidiu contratar em 1969 uma pessoa que entendia muito bem do assunto e do futebol bem jogado: Waldir Pereira, mais conhecido como Didi, um dos maiores craques de todos os tempos, bicampeão do mundo pela seleção brasileira e que vinha trabalhando como treinador no Sporting Cristal desde a metade dos anos 1960.

Didi (à dir.) chegou para mudar a história do Peru.

 

Didi chamou a atenção da federação por causa do título nacional de 1968 conquistado pelo Sporting, no chamado Campeonato Descentralizado. A equipe celeste foi campeã após ficar em segundo lugar no turno e vencer o Juan Aurich na final por 2 a 1 e graças ao talento de Rubiños, Eloy Campos, De La Torre, Mifflin e Alberto Gallardo, todos aproveitados por Didi na seleção. Ele ganhou carta branca para impor seu trabalho, baseado no futebol “solto”, com trocas de passes precisas e sem o complexo de inferioridade que pairava sobre a seleção na época. Além disso, Didi queria um grupo unido, forte, e fazia das concentrações e dos treinos intensos os principais artífices do seu trabalho. Embalado e com moral, o brasileiro tinha como missão classificar o Peru para a Copa do Mundo de 1970. Mas a tarefa não seria fácil.

 

Da “falta de ar” à glória em La Bombonera

O Peru de 1969. Em pé: Eloy Campos, Rafael Risco, Luis Cruzado, Luis Rubiños, Héctor Chumpitaz e Orlando De La Torre. Agachados: Julio Baylón, Roberto Chale, Pedro “Perico” León, Teófilo Cubillas e Oswaldo “Cachito” Ramírez. Foto: Fotos del Fútbol Peruano.

 

O Peru tinha dois adversários na luta por uma vaga na Copa: Bolívia e Argentina. O primeiro tinha como único ponto forte a sempre desumana altitude de La Paz – quase 4 mil metros! Já o segundo era a sempre forte seleção albiceleste, comandada pelo mito Adolfo Pedernera e que tinha como base jogadores que brilhavam no Racing – o goleiro Cejas, o zagueiro Perfumo e o meio-campista Rulli – e no Estudiantes – o volante Pachamé – além de Marzolini (Boca), Brindisi (Huracán) e Yazalde (Independiente). A estreia peruana foi a melhor possível: vitória por 1 a 0 sobre a Argentina, em Lima, com gol de Perico León.

Na segunda partida, os peruanos não conseguiram superar a altitude de La Paz e perderam para a Bolívia por 2 a 1, em partida bastante polêmica pelo fato de o árbitro Sergio Chechelev ter anulado um gol legítimo de Gallardo a favor dos peruanos. Revoltado, Chale deu uma cabeçada no juiz, que fechou os olhos e, quando abriu, viu Mifflin, expulsando o jogador por acreditar que havia sido ele o agressor – o meio-campista ainda levou uma suspensão de nove meses da FIFA! Para piorar, anos depois, o mesmo árbitro confessou que anulou aquele gol por um sórdido motivo: a Argentina havia lhe dado dinheiro para prejudicar o Peru…

No returno, a revanche veio com facilidade (e na bola): 3 a 0, gols de Cubillas, Cruzado e Gallardo. O placar, somado à vitória da Argentina sobre a Bolívia em casa (1 a 0) e a derrota da albiceleste para os bolivianos fora (3 a 1), deixou o seguinte cenário: a Argentina precisava vencer em casa o Peru para se classificar. Já o Peru só precisava de um empate para garantir uma vaga em um Mundial depois de 40 anos.

Ramírez (à dir.), o carrasco de La Bombonera.

 

No entanto, tudo estava a favor da albiceleste. A partida foi marcada para o estádio de La Bombonera, que recebeu mais de 53 mil pessoas. Além disso, havia a tensão por conta da arbitragem. Só que aquele Peru estava determinado em fazer história. E tinha em seu técnico o porto seguro para manter o equilíbrio diante de um cenário tão hostil. No primeiro tempo, a equipe blanquirroja segurou o placar sem gols graças a grande atuação de seu sistema defensivo e as brilhantes defesas de Rubiños. E, na segunda etapa, Oswaldo Ramírez fez 1 a 0, aos 25’. A Argentina partiu para o desespero e empatou 12 minutos depois com Albrecht. Mas Ramírez estava impossível. Ele ganhou de Perfumo e deixou o Peru na frente menos de dois minutos depois. Rendo empatou de novo, aos 44’, mas era tarde. O empate em 2 a 2 classificou o Peru ao Mundial. Foi épico e impressionante. E Ramírez, que acabou ganhando o apelido de “El Verdugo de La Bombonera”, escreveu seu nome na história da seleção.

 

“Eu tinha certeza que poderia reverter o status que tinha na época na seleção, de ‘eterna promessa que não vingou’. E, quando surgiram as duas chances de gol, eu estava convicto de que poderia vencer o goleiro Cejas. Tive a calma para saber onde colocar a bola. […] E, na noite antes do jogo, o Didi me falou para aproveitar ao máximo as chances criadas que eu iria conseguir marcar um gol. Ele estava certo!”. – Oswaldo Ramírez, em entrevista ao site da FIFA, abril de 2008.

O argentino Rendo, autor do gol de empate da Argentina, comentou sobre a eliminação da albiceleste na mesma entrevista.

 

“Meu gol foi o mais triste que marquei em toda minha carreira. Eu nem sequer comemorei. Corri para pegar a bola no fundo do gol para tentarmos o terceiro, que nunca aconteceu. Eu nunca vi tanta decepção em um vestiário. Muitos dos meus colegas choravam e o Pedernera estava sentado sozinho em um canto, fumando. Foi uma decepção coletiva e individual muito grande, pois era a última chance de disputar uma Copa”.

 

Contra tudo e todos, o Peru estava na Copa. Era hora de mostrar ao mundo aquela geração de futebolistas e provar que a América do Sul era muito mais do que o trio Brasil, Argentina e Uruguai.

 

A volta por cima

Durante a preparação peruana para a Copa do Mundo, uma catástrofe abalou todos os jogadores e cidadãos do país. Um terremoto fortíssimo de magnitude 7.9 na Escala de Magnitude de Momento (MMS) atingiu a região de Áncash, o norte do país, e as regiões de Huánuco, o norte de Lima e La Libertad, no dia 31 de maio de 1970 – apenas dois dias antes da estreia peruana na Copa. O tremor causou, também, avalanches destruidoras que sepultaram a cidade de Yungay. O terremoto resultou na morte de mais de 50 mil pessoas, além de deixar outras 20 mil feridas ou desabrigadas. Foi o maior abalo sísmico da história do Peru não só em termos naturais, mas também em perdas de vidas humanas.

Os jogadores, já no México, ficaram desesperados pelo fato de a comunicação com a capital Lima ter sido cortada e eles ficarem impossibilitados de entrar em contato com seus familiares. Diante de um cenário triste e irreparável, a equipe do técnico Didi demonstrou enorme apatia na estreia, no estádio de León, contra a Bulgária. Em profundo luto, os jogadores entraram dispersos, e, logo aos 12’, sofreram o primeiro gol dos búlgaros, que mantiveram total controle do jogo. No intervalo, Javier Aramburú, presidente da delegação peruana, entrou no vestiário do time para tentar inflar os jogadores.

Munido de um punhado de terra nas mãos, disse: “essa terra é do Peru, beijem-na!”. Roberto Chale, um dos craques do time, disse que os jogadores ficaram tocados com aquilo e cumpriram a ordem de Aramburú. Novatos, acreditaram nas palavras do presidente e lembraram dos entes queridos, do povo que tanto sofreu. E, mesmo após sofrer o segundo gol logo aos 4’, deram a volta por cima. 

Jogadores peruanos entraram em campo com um sinal de luto na manga da camisa.

 

Primeiro, com Gallardo, num chutaço, aos 6’. Depois, com Chumpitaz, aos 9’, cobrando falta e escorregando no lance. E, aos 28’, a virada peruana veio dos pés de Cubillas, conduzindo a bola como se fosse sua e fuzilando o goleiro na entrada da área. O placar de 3 a 2 levou a torcida à loucura. E comoveu os mexicanos, que abraçaram aquela seleção naquele dia histórico, da primeira vitória do Peru em Copas. E um adendo: a tal terra não era peruana. Aramburú colheu de um vaso qualquer lá no estádio… Mas que a artimanha deu certo, isso deu!

 

Sotil é carregado pela torcida após a estreia peruana.

 

No segundo duelo, contra Marrocos, o Peru viu o adversário dominar as ações na primeira etapa e cansar na segunda. Melhor para os sul-americanos, que abriram o placar aos 20’, após troca de passes na entrada da área que resultou em chute de Gallardo defendido por Kassou. No rebote, a bola sobrou para Cubillas, que só teve o trabalho de empurrar para o gol vazio. Três minutos depois, Cubillas tocou de calcanhar para Chale, que passou por dois e chutou no alto, sem chances para o goleiro: 2 a 0. Aos 30’, Sotil dominou, driblou o zagueiro e tocou para Cubillas fazer o segundo dele no jogo e fechar o placar: 3 a 0. Com um futebol envolvente, dinâmico e muito bonito, o Peru estava classificado para as quartas de final. Destaque para Cubillas, que marcou dois gols, deu um passe para outro e ainda mandou uma bola na trave. Foi uma partidaça do craque, que demonstrava seu talento no maior palco do futebol mundial.

 

Na última partida, que iria definir o primeiro colocado do Grupo 4, o Peru encarou a Alemanha, sempre perigosa e com Gerd Müller infernal. E, contra os sul-americanos, não deixou por menos. Marcou três gols em um intervalo de 19 minutos no primeiro tempo e liquidou a fatura para os europeus: 3 a 1. Cubillas descontou para o Peru após cobrança de falta que desviou na barreira também na etapa inicial, mas não foi o bastante para superar a equipe germânica, que tinha um fortíssimo sistema defensivo com o goleiro Sepp Maier, e os grandes Schnellinger e o imortal Beckenbauer. O Peru terminou na segunda posição do grupo, e, com isso, teria pela frente o primeiro colocado do Grupo 3. Quem era? O Brasil de Pelé, Tostão, Jairzinho, Rivellino, Carlos Alberto

 

Adeus de cabeça erguida

Cubillas em ação contra o Brasil.

 

Didi e Zagallo, companheiros de seleção até poucos anos, estavam frente a frente como técnicos naquele dia 14 de junho de 1970, no estádio Jalisco, em Guadalajara. Adeptos do futebol ofensivo e rápido, a dupla colocou suas seleções para frente e o duelo entre sul-americanos foi um dos mais energéticos e empolgantes do Mundial. Graças a duas falhas defensivas dos peruanos, o Brasil abriu 2 a 0 nos primeiros 15 minutos de jogo, com Rivellino e Tostão. Tempo depois, Gallardo driblou Carlos Alberto e chutou para diminuir. Vivo, o time peruano dava trabalho para o Brasil e não exibia o complexo de inferioridade de antes. Era o trabalho de Didi dando resultado. Mesmo assim, era difícil duelar com uma das mais incríveis seleções da história. Logo no começo do segundo tempo, Tostão fez 3 a 1. O Peru diminuiu de novo com Cubillas, que chegou ao seu quinto gol na Copa.

Mas Jairzinho, o Furacão, marcou o quarto e decretou a classificação brasileira: 4 a 2. Foi o fim da trajetória peruana no Mundial. Mas um fim de elogios e aplausos pelo futebol apresentado pela equipe, que terminou na 7ª colocação, à frente da poderosa Inglaterra de Bobby Moore e Gordon Banks da época. Foram quatro jogos, duas vitórias, duas derrotas, nove gols marcados e nove sofridos. Cubillas, com cinco gols, foi o terceiro na lista de goleadores da Copa, atrás apenas de Gerd Müller, com dez, e Jairzinho, com sete. Além disso, o craque ganhou o prêmio de Melhor Jogador Jovem da Copa e a seleção peruana foi a primeira na história a receber o troféu Fair Play de equipe mais disciplinada da competição – nenhum peruano foi advertido com cartões! Enfim, depois de muito tempo, o Peru figurava entre as melhores seleções do planeta. Mas será que eles iriam conseguir manter o bom futebol nos próximos anos?

 

Tempo de transição

Sotil e Cubillas: lendas peruanas nos anos 70.

 

Na volta para casa, uma multidão recebeu os jogadores no aeroporto e Didi foi tratado como herói. Pediram até para o brasileiro assumir a nacionalidade peruana, mas ele preferiu “continuar” brasileiro. No entanto, aquela euforia foi passageira. Em atrito com os dirigentes, Didi deixou o comando da seleção naquele mesmo ano e foi treinar mais uma vez o Sporting, pelo qual faturou mais um título nacional em 1970. Após a passagem de Didi, a seleção disputou vários jogos amistosos entre 1971 e 1973, mas não apresentou o desempenho de outrora. Com vários técnicos no período, faltava o jogo bonito que tanto ficou caracterizado durante o trabalho de Didi.

Sotil e Cubillas, antes do duelo contra o Bayern.

 

Por outro lado, os clubes do país conseguiram destaque no continente, em especial o Universitario, vice-campeão da Libertadores de 1972 com Soria, Chumpitaz e Ramírez entre os titulares. Além disso, o time do Alianza Lima se uniu ao Deportivo Municipal em 1971 e formou um combinado que disputou alguns amistosos. O mais lendário foi a goleada de 4 a 1 sobre o Bayern München-ALE de Beckenbauer, Müller e companhia, com dois gols de Cubillas, um show que levou ao delírio os mais de 40 mil torcedores no Estádio Nacional de Lima. Dias depois, o combinado acabou derrotado por 2 a 1 para o Benfica de Eusébio, mas foi um ano histórico pelo fato de equipes da Europa virem até a América com seus elencos titulares para a disputa de simples amistosos, algo que mostra a importância que o futebol peruano adquiriu após o Mundial de 1970 e que encheu de orgulho o torcedor. E foi essa repercussão internacional que acabou levando Cubillas e Sotil ao futebol europeu, com Sotil jogando inclusive no Barcelona-ESP e formando uma parceria inesquecível com ninguém mais ninguém menos que Johan Cruyff.

Uma escalação do Universitario de 1971. Em pé: Félix Salinas, Pedro Gonzáles, Luis La Fuente, Luis Cruzado, Héctor Chumpitaz e Humberto Ballesteros. Agachados: Juan José Muñante, Roberto Chale, Percy Rojas, Héctor Bailetti e Oswaldo Ramírez.

 

Combinado Municipal-Alianza fez a alegria da torcida em 1971.

 

Mas, quando o assunto era seleção, as notícias não eram boas. Em 1973, a equipe não conseguiu superar o Chile de Figueroa e ficou de fora da Copa do Mundo de 1974 após perder dois jogos e vencer apenas um contra os chilenos nas Eliminatórias. Precisando de um rumo, a federação decidiu nomear Marcos Calderón como novo técnico peruano, no lugar do uruguaio Roberto Scarone. Calderón tinha como objetivo retomar a confiança da equipe, tentar “repatriar” os jogadores que atuavam no exterior – em especial Cubillas, no Porto-POR, e Sotil, no Barcelona-ESP (este último só jogaria na final pelo fato do técnico do Barça, Rinus Michels, negar a liberação da estrela ) – e formar um time que tivesse a mescla dos já consagrados jogadores de 1970 e novos nomes que surgiam naquela segunda metade da década, entre eles Díaz, Oblitas, Meléndez, Sartor e Soria.

O técnico Calderón.

 

O grande desafio da equipe era a disputa da Copa América de 1975, que pela primeira vez não teria sede fixa. Para a disputa, Calderón convocou os jogadores que viviam grande fase em seus clubes e ainda os “estrangeiros” Sotil e Cubillas, principais estrelas do futebol peruano na época. A equipe tinha mais uma vez um elenco forte o bastante para tentar ao menos uma vaga na fase final.

 

Em busca da glória

Os participantes da Copa América de 1975 foram divididos em três grupos com três equipes cada. Os primeiros de cada grupo iriam se classificar para as semifinais, para a qual o Uruguai, campeão da edição anterior, já tinha vaga. As partidas seriam de ida e volta e as vitórias ainda valiam dois pontos. O grupo peruano tinha as seleções da Bolívia e do eterno rival Chile, adversário da estreia da equipe blanquirroja, em Santiago. O jogo foi disputado sob muita chuva e terminou empatado em 1 a 1, e Cubillas quase marcou o gol da vitória de virada no minuto final, mas a bola raspou a trave do goleiro Vallejos. No duelo seguinte, contra a Bolívia, em Oruro, Ramírez foi o herói da vitória fora de casa por 1 a 0, em grande jogo coletivo da equipe peruana, que usou e abusou das tabelinhas entre Rojas e Oblitas, estrelas do ataque da seleção blanquirroja. O ponto triste do jogo foi o fato de a equipe peruana ter que fugir das garrafas e pedras atiradas pelos torcedores bolivianos após o final da partida.

No duelo da volta, em casa, o Peru voltou a vencer a Bolívia, dessa vez por 3 a 1, gols de Ramírez, Oblitas e Cueto, que se machucou nesse jogo e não voltou mais ao time. No último compromisso da fase de grupos, a equipe peruana encarou o Chile em um estádio Nacional, em Lima, tomado por mais de 40 mil pessoas. E, no calor da torcida, e sempre com a “faca entre os dentes” por causa das feridas jamais cicatrizadas por causa do passado de conflitos contra o país vizinho, o Peru abriu o placar logo aos 3’, com Rojas. Oblitas, em grande fase, fez o segundo gol, aos 32’. E, aos 39’, Cubillas fez o terceiro.

Na segunda etapa, o Chile descontou, mas a partida era toda do Peru, que demonstrou um controle absoluto do jogo a ponto do zagueiro Meléndez, também em grande fase, dominar uma bola nos minutos finais entre dois atacantes chilenos e sair jogando com uma tranquilidade impressionante. A vitória classificou o Peru à fase seguinte com autoridade: sete pontos, três vitórias e um empate em quatro jogos, com oito gols marcados e apenas três sofridos. O problema é que a equipe peruana teria pela frente um rival bem indigesto: o Brasil, comandado por Oswaldo Brandão e com nomes como o goleiro Raul, o lateral Nelinho, os defensores Luis Pereira e Piazza, e os talentosos Palhinha, Roberto Batata e o goleador Roberto Dinamite.

 

Sem medo do gigante

 

A partida de ida contra o Brasil foi disputada no Mineirão, que recebeu um público bem abaixo da média – pouco mais de 22 mil pessoas. Com um esquema de jogo muito bem armado e uma linha de quatro homens na frente, o Peru foi pra cima do Brasil e abriu o placar aos 19’, com Casaretto, após passe de Cubillas. O Brasil empatou com Roberto Batata, aos 9’ do segundo tempo, mas Cubillas, em cobrança de falta perfeita, fez 2 a 1. Minutos depois, Casaretto se mandou em direção ao ataque, encheu o pé e ampliou: 3 a 1. Parecia mentira, mas era verdade: o Peru derrotava o Brasil em sua própria casa pela primeira vez. Foi uma das maiores vitórias da história da seleção peruana e uma apresentação inesquecível do time comandado por Cubillas.

 

Veja os gols:

 

Oblitas deixa Nelinho para trás: peruano deu trabalho ao brasileiro!

 

O resultado deu ao Peru a vantagem de jogar pelo empate na partida de volta, em Lima. O Brasil foi modificado, com mudanças no time titular. As mexidas do técnico Brandão deram resultado e o time canarinho venceu por 2 a 0. No entanto, o resultado deixou as equipes em igualdade de pontos e gols, e, como na época não havia critério de gols marcados fora de casa nem terceiro jogo, adivinhe como a vaga na final foi definida? Na bolinha – ao contrário do que dizem algumas fontes, não foi na moedinha. Era mais uma prova do amadorismo que sempre imperou na famigerada Conmebol… Foram colocadas duas bolinhas em um pote e uma criança ficou incubida de pegar a da seleção classificada. Dizem que uma das bolinhas ficou no refrigerador e disseram para a criança pegar a “bolinha gelada”, que era a do Peru. Dito e feito. A bolinha com a letra “P” apareceu e o Peru foi para a final.

 

A coroação de uma geração inteira

Sotil, herói da conquista, prepara a finalização contra a Colômbia.

 

O rival do Peru na decisão foi a Colômbia. Ao contrário da fase anterior, se ambas as equipes ficassem empatadas em pontos, haveria um terceiro jogo. O saldo de gols não era utilizado como critério de classificação. Na ida, em Bogotá, a Colômbia aproveitou as ausências de Sotil e Cubillas do lado peruano e venceu por 1 a 0, em um jogo bastante truncado sob gramado cheio de lama por causa da chuva que caiu na cidade naquele dia. Na volta, o Peru se impôs e venceu por 2 a 0, gols de Ramírez (sempre decisivo) e Oblitas, de calcanhar. Outra vez a equipe peruana não contou com sua força máxima e mesmo assim venceu. A igualdade de pontos provocou um terceiro jogo, em campo neutro, na cidade de Caracas (VEN). Com Cubillas de volta, a esperança peruana aumentou. Mas o grande retorno ficou por conta de Sotil, que teria “escapado” da concentração do Barcelona e pegado o primeiro voo para ajudar sua seleção em busca de um título que não vinha desde 1939. E a presença do craque inflamou a seleção, que jogou a “partida da vida”.

A equipe de 1975 tinha mais maturidade e apostava na velocidade de Oblitas e no talento de suas estrelas.

 

Peru 1975. Em pé: Eleazar Soria, Otorino Sartor, Santiago Ojeda, Héctor Chumpitaz, Rubén Díaz e Julio Meléndez. Agachados: Alfredo Quesada, Percy Rojas, Hugo Sotil, Teófilo Cubillas e Juan Oblitas.

 

A equipe levou um susto quando o goleiro Zape defendeu um pênalti cobrado por Cubillas, mas manteve a calma e controlou o jogo. Cubillas, infernal, quase fez o seu e mandou uma bola que raspou o travessão. Até que Sotil, aos 25’, marcou o gol da vitória e do título peruano na Copa América. Enfim, depois de 36 anos de jejum, a seleção blanquirroja pôde soltar o grito de “campeón”. Foram nove jogos, seis vitórias, um empate e duas derrotas, com 14 gols marcados e sete sofridos. Oblitas e Ramírez, com três gols cada, foram os artilheiros da equipe na competição, que teve o argentino Luque e o colombiano Díaz como goleadores máximos com quatro gols cada.

O título coroou de maneira definitiva aquela grande geração de futebolistas peruanos, que iniciou lá em 1969 uma era de muito brilho, bom futebol e grandes partidas. Mais do que isso, colocou nomes como Cubillas, Chumpitaz, Ramírez, Meléndez, Oblitas, Sotil entre outros no rol de imortais do futebol do país.

 

À espera de novos “dorados”

Cubillas com a taça da Copa América: sonho realizado.

 

O Peru manteve o embalo após o título continental e conseguiu a classificação para a Copa do Mundo de 1978. Na primeira fase, a equipe deu show, venceu a Escócia (3 a 1) e o Irã (4 a 0), empatou com a Holanda (0 a 0) e se garantiu na etapa seguinte. Mas aí deu tudo errado. A equipe perdeu o rumo e todos os jogos que disputou: 3 a 0 para o Brasil, 1 a 0 para a Polônia e o infame 6 a 0 para a Argentina, partida bastante polêmica na época (leia mais clicando aqui). A eliminação melancólica foi o fim daquela era. Desde então, a seleção só participou das Copas de 1982 e 2018, e foi eliminada na primeira fase em ambas. A torcida espera que uma nova geração dourada cresça, apareça e repita os feitos daquele timaço dos anos 1970. Mas, sabe como é, não é sempre que jogadores como Chumpitaz, Cubillas, Sotil, León e companhia surgem assim, num estalar de dedos…

 

Os personagens:

Sartor: foi convocado pela primeira vez em 1966, mas perdeu espaço nos anos seguintes para Rubiños. Após a Copa de 1970, voltou a ser chamado e assumiu a meta peruana na conquista da Copa América de 1975. Foi convocado, também, para a Copa do Mundo de 1978. Disputou 27 jogos pela blanquirroja e sofreu 33 gols.

Rubiños: foi um dos principais goleiros do país nos anos 1960 e titular na campanha histórica que levou o Peru à Copa de 1970. Ágil e sempre bem colocado, foi um dos símbolos daquela seleção e disputou 38 partidas com a camisa vermelha e branca. Fez carreira no Sporting Cristal, pelo qual venceu quatro campeonatos nacionais.  

Soria: defensor que podia atuar como lateral-direito e também zagueiro, brilhou com a camisa do Universitario e chamou a atenção do Independiente-ARG, onde conquistou a Copa Libertadores de 1975, mas como reserva. Fez bons jogos na campanha do título continental do Peru e disputou 29 partidas pela seleção entre 1972 e 1978.

Eloy Campos: lateral-direito da equipe peruana na Copa de 1970, jogou quase toda a carreira no Sporting Cristal, onde ganhou o apelido de “El Doctor” pela qualidade no domínio de bola e grandes partidas no setor defensivo. Foram 46 jogos pela seleção entre 1963 e 1972.

Meléndez: alto, extremamente técnico e com uma classe rara para um defensor, Meléndez foi um dos maiores zagueiros da história do Peru e um ícone daquela geração. Formou, ao lado de Chumpitaz, a melhor dupla de zaga de todos os tempos da seleção blanquirroja e foi fundamental na conquista da Copa América de 1975. Foi ídolo do Boca e atuou no clube xeneize entre 1968 e 1972. Talvez pelo fato de jogar fora do Peru, acabou não sendo convocado por Didi para o Mundial de 1970. Disputou 35 jogos pela seleção.

De La Torre: outro grande zagueiro peruano da época, brilhou com a camisa do Sporting Cristal e mostrava muita raça e sangue frio no setor defensivo. Exímio marcador, não tinha medo dos adversários e era difícil de se enfrentar. Foi um dos destaques na partida contra a Argentina, em 1969, que sacramentou a classificação peruana ao Mundial, torneio onde ele fez dupla de zaga com Chumpitaz. Disputou 39 jogos pela seleção.

Chumpitaz: segundo jogador que mais vestiu a camisa da seleção peruana na história com 105 jogos, El Grán Capitán é considerado o maior zagueiro que o futebol peruano já produziu. Eleito o 36º Maior Jogador Sul-Americano do século XX pela IFFHS, Héctor Chumpitaz se posicionava muito bem e transmitia segurança para os companheiros, além de exibir um espírito de liderança muito forte. Tinha um chutaço de perna direita e marcava vários gols de falta – ele marcou quase 50 gols na carreira, um número altíssimo para um zagueiro. Foi um dos maiores símbolos daquela seleção, ídolo do Universitario e titular absoluto de todos os técnicos que passaram pela blanquirroja no período. Jogou de 1965 até 1981 pelo Peru. Uma lenda.

Díaz: o lateral-esquerdo e defensor disputou 89 jogos pela seleção e duas Copas do Mundo – 1978 e 1982. Atuou como titular em vários jogos durante a campanha do título continental em 1975. Foi ídolo do Sporting Cristal.

Fuentes: lateral-esquerdo de muita qualidade, com bom passe e forte na marcação, foi outro defensor que brilhou nos anos 1960 e 1970 no futebol peruano. Ao lado de De La Torre e Chumpitaz, formou a espinha dorsal defensiva da equipe que se classificou e disputou a Copa do Mundo de 1970. Viveu sua melhor fase no Universitario. Disputou 17 jogos pela seleção.

Risco: o lateral disputou algumas partidas nas Eliminatórias para a Copa de 1970 no lugar de Fuentes e demonstrou regularidade, mas acabou não indo ao Mundial. Nos anos seguintes, perdeu espaço com a ascensão de Díaz.

Quesada: volante incansável, com bom domínio de bola e muito bom na marcação, foi o grande motor do meio de campo da equipe campeã da América em 1975. Disputou 50 jogos pela seleção e marcou um gol. Colecionou títulos pelo Sporting Cristal.

Roberto Chale: foi o destaque do meio de campo da equipe de Didi na Copa de 1970. Ao lado de Mifflin, fez grandes partidas, além de brilhar nas Eliminatórias. Tinha bom passe, se movimentava bem e aparecia para dar apoio ao ataque. Seu problema era o temperamento, que o fazia ser expulso algumas vezes. Disputou 48 jogos e marcou quatro gols pela blanquirroja.

Ojeda: disputou apenas cinco jogos pela seleção, todos na Copa América, e foi muito bem. Atuava como meio-campista e dava proteção para os pontas do ataque. Jogou no Alianza Lima, no Sport Boys e também no futebol venezuelano.

Ramón Mifflin: outro grande talento daquele Peru de 1970, fez partidas impecáveis no meio de campo com muita tranquilidade no controle de bola, bons passes e boa movimentação. Disputou 44 jogos pela seleção entre 1966 e 1973 e chegou a jogar até pelo Santos, entre 1974 e 1975. E uma curiosidade: em 1975, foi contratado pelo New York Cosmos a pedido de uma pessoa que brilhava pela equipe novaiorquina. Um tal de Pelé…

Rojas: veloz, habilidoso e com faro de gol, Percy Rojas foi um dos principais atacantes peruanos dos anos 1970. Com 49 jogos e sete gols pela seleção, foi titular na campanha do título continental de 1975 e brilhou, também, com as camisas do Universitario – pela equipe crema, foi um dos artilheiros da Libertadores de 1972 com seis gols –  e do Independiente-ARG, pelo qual venceu a Libertadores de 1975.

Baylón: atuava como ponta-direita e ganhou o apelido de “Tanque” graças à força física e aos disparos em velocidade que resultavam em passes e cruzamentos para a grande área. Foi um dos convocados para a Copa de 1970, mas não brilhou como o esperado por causa de uma contusão no joelho que o atormentou durante muito tempo. Disputou 32 jogos e marcou dois gols pela seleção.

José del Castillo: polivalente, jogava como meio-campista ou atacante com a mesma qualidade, passando bem a bola, com toques rápidos e boa visão de jogo. Esteve no time peruano na Copa de 1970, mas não chegou a ser titular absoluto. Disputou 13 jogos e marcou um gol pela blanquirroja.

Ramírez: talismã da equipe em vários jogos decisivos, em especial o da classificação para a Copa, sobre a Argentina, o “carrasco de La Bombonera” foi um dos principais atacantes peruanos daqueles anos 1960 e 1970. Goleador e sempre bem colocado, se transformou no maior artilheiro peruano da história da Copa Libertadores e é também o maior artilheiro de campeonatos locais do Peru – 190 gols. Foram 57 jogos e 17 gols pela seleção entre 1969 e 1982. Anos depois, virou presidente da federação peruana, em 1985.

José Fernández: atuava como defensor e também volante, sempre com muita liderança e raça. Conquistou seis títulos nacionais pelo Universitario e disputou 37 jogos pela seleção.

Cubillas: com apenas 16 anos, já entortava rivais pelo Alianza Lima. E, ano a ano, consolidou-se como o maior jogador peruano de todos os tempos. Rápido, inteligente, habilidoso, letal em bolas paradas, em chutes de curta, média e longa distância, driblador, artístico, único. Artilheiro peruano em duas Copas, ícone de gerações e ídolo. Teófilo Cubillas foi tudo isso e muito mais. Marcou 26 gols em 81 jogos pela seleção e foi, por décadas, o maior artilheiro da história da blanquirroja até ser superado por Paolo Guerrero. Foi fundamental para a campanha do Peru na Copa de 1970 e ainda mais no título continental de 1975 e na participação peruana no Mundial de 1978. Leia mais sobre esse craque imortal clicando aqui.

Cueto: meia de muita habilidade e apelidado de “El Poeta de la Zurda”, foi outro grande talento peruano nos anos 1970. Com habilidade notável e plena visão de jogo, poderia ter se destacado mais na Copa América de 1975 se não tivesse se lesionado tão cedo. Se recuperou e seguiu na equipe nos anos seguintes, participando das Copas de 1978 e 1982. Disputou 51 jogos e marcou seis gols pela blanquirroja.

Sotil: técnico, habilidoso, driblador, elétrico, letal dentro da área. Hugo “El Cholo” Sotil foi um dos maiores jogadores peruanos de todos os tempos, daqueles que encantam os olhos. Ganhou o mundo com seu talento e foi jogar no Barcelona de Cruyff e Michels nos anos 1970, onde também arrancou aplausos. Foi um dos destaques do Peru na Copa de 1970 e chegou no apagar das luzes na finalíssima da Copa América de 1975 para fazer o gol do título continental. Só não teve uma carreira mais longeva por gostar muito da vida noturna e das bebidas…Disputou 62 jogos e marcou 18 gols pelo Peru.

León: para muitos, o maior atacante peruano da história, acima até do que Cubillas em termos de finalização e estilo. Forte, rápido, com domínio de bola impecável, impulsão impressionante e de pensamento rápido, Pedro “Perico” León brilhou intensamente pelo Alianza Lima. Jogou no futebol equatoriano e também na Venezuela. Depois de pendurar as chuteiras, foi viver nos EUA e não quis seguir sob os holofotes do esporte. Disputou 49 jogos e marcou 15 gols pela seleção.

Gerónimo Barbadillo: atacante muito rápido, oportunista, o “Patrulla” foi titular em vários jogos da campanha do título continental do Peru em 1975 e foi convocado, também, para a Copa do Mundo de 1982. Fez história no futebol mexicano e jogou, também, no futebol italiano. Foram 20 jogos e três gols pela blanquirroja.

Casaretto: centroavante nato, bom no jogo aéreo, finalizador e preciso no arremate, foi um dos principais atacantes do Peru nos anos 1960 e 1970. Disputou apenas 10 jogos pela seleção, mas marcou oito gols, uma média de quase um gol por jogo. Se movimentava bastante e confundia as defesas rivais. Foi importante nas fases iniciais da Copa América de 1975 e também na histórica vitória sobre o Brasil no Mineirão, com dois gols marcados.

Oblitas: ponta-esquerda de muito talento, é considerado o melhor em sua posição na história do futebol peruano. Rápido, driblador e com domínio de bola preciso, brilhou no Universitario e foi fundamental no título da Copa América de 1975 com muita regularidade e ótimas partidas – Nelinho, do Brasil, que o diga… Disputou a Copa de 1978 e também a de 1982. Foram 64 jogos e 11 gols com a camisa blanquirroja.

Alberto Gallardo: com um fôlego impressionante para sair em velocidade em direção ao ataque, Gallardo era puro brilho no ataque peruano daquele final de anos 1960 e início de anos 1970. “El Jet”, como ficou conhecido, foi o maior ídolo da história do Sporting Cristal, a ponto do estádio do clube ser batizado com seu nome. No começo dos anos 1960, jogava tanto no clube celeste que chegou a ser contratado pelo Milan, mas não teve grandes chances. Na volta ao Peru, seguiu jogando em alto nível e foi fundamental para a classificação do país à Copa de 1970, onde jogou em todos os jogos da equipe no México e ainda marcou dois gols. Foram 37 jogos e 11 gols com a camisa peruana.  

Didi, Alejandro Heredía, Lajos Baróti, Roberto Scarone e Marcos Calderón (Técnicos): de todos os técnicos que passaram pela seleção peruana naquele período, apenas Didi e Calderón tiveram brilho e prestígio no comando da blanquirroja. Didi foi quem mudou para sempre a história da equipe com a classificação para a Copa de 1970 e a mudança na mentalidade dos jogadores, que nunca acreditavam que podiam duelar com os grandes times do continente. Sua saída foi traumática e demorou para a equipe voltar a brilhar. Isso só aconteceu com Marcos Calderón, multicampeão de torneios nacionais e que conhecia muito bem vários jogadores que haviam sido treinados por ele no Universitario, no Alianza Lima e no Sporting. Com pulso firme e perseverança, conduziu o Peru ao título com todo louvor. Classificou a seleção ao Mundial de 1978, mas tudo ruiu com a péssima segunda fase. Calderón faleceu de maneira trágica em 08 de dezembro de 1987, em um acidente aéreo que vitimou 43 pessoas, entre elas jogadores e membros da comissão técnica do Alianza Lima, clube que ele dirigia na época.

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2 Comentários

  1. UM ACERVO EXTREMAMENTE ACURADO E CUJA DIMENSÃO REVELA A IMENSA CURIOSIDADE HISTORIOGRÁFICA DO AUTOR E ADEMAIS O TRATAMENTO DIAGRAMÁTICO E ICONOGRÁFICO A DENOTAR UMA ABORDAGEM ACIMA DE QUAISQUER SUSPEITAS QUANTO À VEROSSIMILHANÇA E A PERMISSÃO AOS INTERESSADOS EM ACESSAR A ASSIMILAR E A APRENDER UM SABER QUE NÃO OCUPA LUGAR. DESEJANDO CADA DIA MAIS SUCESSO E DESPEÇO- ME COM SAUDAÇÕES CANARINHOS E TRICOLORES DO PLANTA DO DESERTO II A QUEM BASTA TÃO SOMENTE O ORVALHO DO ALVORECER…

  2. Vendo esse texto do Peru e a biografia do Cubillas, me lembrei de um chileno lendário que talvez mereça uma biografia aqui: Carlos Caszely, considerado o maior jogador do Colo-Colo e um dos maiores do Chile.

    Textos muito bons como sempre

    Abs.

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