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Craque Imortal – Xavi

Foto: David Ramos/Getty Images Europe.

 

Nascimento: 25 de Janeiro de 1980, em Terrassa, Espanha.

Posição: Meio-campista.

Clubes: Barcelona-ESP (1998-2015) e Al-Sadd-QAT (2015-2019).

Principais títulos por clubes: 2 Mundiais de Clubes da FIFA (2009 e 2011), 4 Ligas dos Campeões da UEFA (2005-2006, 2008-2009, 2010-2011 e 2014-2015), 2 Supercopas da UEFA (2009 e 2011), 8 Campeonatos Espanhóis (1998-1999, 2004-2005, 2005-2006, 2008-2009, 2009-2010, 2010-2011, 2012-2013 e 2014-2015), 3 Copas do Rei (2008-2009, 2011-2012 e 2014-2015) e 6 Supercopas da Espanha (2005, 2006, 2009, 2010, 2011 e 2013) pelo Barcelona.

1 Qatar Stars League (2018-2019), 1 Copa Príncipe da Coroa do Qatar (2017), 1 Copa do Emir (2017) e 1 Copa Sheik Jassem (2017) pelo Al-Sadd.

Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2010) e 2 Eurocopas (2008 e 2012) pela Espanha.

 

Principais títulos individuais e recordes:

Jogador do Ano pela revista World Soccer: 2010

Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2008 e 2012

Melhor Jogador da Eurocopa: 2008

2º Melhor Jogador da Europa pela UEFA: 2011

3º Lugar no Ballon d’Or: 2009, 2010 e 2011

3º Melhor Jogador do Mundo pela FIFA: 2009

Meio-campista do Ano da UEFA: 2008-2009

Melhor Playmaker do Mundo pela IFFHS: 2008, 2009, 2010 e 2011

Prêmio Don Balón de Revelação do Campeonato Espanhol: 1999

Jogador Espanhol do Ano de La Liga: 2005

Meio-campista do Ano de La Liga: 2009, 2010 e 2011

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2010

Eleito para o FIFA FIFPro World XI: 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013

Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012

Eleito para o Time do Ano da ESM: 2008-2009, 2010-2011 e 2011-2012

Eleito para o Time da Década de 2000 do Don Balón Awards: 2010

Globe Soccer Awards: 2013

UEFA Ultimate Team: 2015

Marca Legend Award: 2015

Esportista Espanhol do Ano: 2009

Real Ordem ao Mérito Esportivo: 2010

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Espanha do Imortais: 2020

Eleito para o Time dos Sonhos do Barcelona do Imortais: 2021

Eleito para o Dream Team do Ballon d’Or da revista France Football: 2020

Maior assistente da Liga dos Campeões da UEFA de 2008-2009: 7 assistências

Maior assistente de La Liga: 2008-2009 (22 assistências) e 2009-2010 (14 assistências)

2º Jogador que mais vestiu a camisa do Barcelona na história: 767 jogos

 

“O Senhor do Tempo”

Por Guilherme Diniz

Durante 17 anos, principalmente entre 2008 e 2013, um raro fenômeno acontecia no meio de campo do FC Barcelona. Quando a bola chegava aos pés do camisa 6 blaugrana, o relógio parava. Era a alquimia do tempo. Ele mexia na ordem natural das coisas e transformava o jogo. Abria espaços para os companheiros, fechava para os rivais. Encontrava lacunas vistas apenas por ele para os passes precisos que resultavam em gols históricos, decisivos. Enquanto muitos tinham o privilégio de ficar dois, três minutos com a bola durante todo um jogo, ele permanecia muito mais. Quatro. Cinco. Parecia ter a bola a todo momento, a todo instante. E, sempre que a recebia, o tempo parava. Não precisava ficar correndo e correndo. Bastava ter a bola. E fazer o que deveria ser feito. Foi assim durante 17 anos vestindo azul e grená. Foi assim nos anos de esplendor com a camisa da Espanha. Foi assim na tradução literal de um estilo de futebol.

Xavier Hernández Creus, mais conhecido como Xavi, traduziu aos leigos o que era o tiki-taka. Foi a alma de um treinador novato que se apresentou como Pep Guardiola. Foi a essência da Espanha que deixou dezenas de tropeços no passado para se tornar bicampeã da Europa e campeã do mundo. Foi o homem com assustadores 91% de precisão nos passes na Copa do Mundo que venceu, em 2010, superando todos os prognósticos de futebol. Foi um dos ícones da maior fase da história do Barcelona ao lado de seu “irmão gêmeo”, Iniesta, e de Messi. Foi o senhor do tempo. Dos passes. Da bola. Do futebol. Um dos maiores meio-campistas de todos os tempos. É hora de relembrar a carreira dessa lenda.

 

O garoto que não perdia a bola

Xavi (à dir.) já capitão do time do Barça. Garotinho de futuro! Foto: Mundo Deportivo.

 

Nascido em Terrassa, região central da Catalunha, Xavi sempre respirou futebol. Seu pai, Joaquim, jogou na equipe do Sabadell e ajudou a moldar o espírito futebolístico do filho. Embora estivesse em um país repleto de clubes e inspirações, Xavi gostava mesmo de ver grandes craques do futebol inglês, entre eles Paul Gascoigne, Matt Le Tissier e John Barnes. Com apenas seis anos, o pequeno Xavi deslumbrou Oriol Tort, lendário descobridor de talentos do Barcelona, mas o blaugrana hesitou em levar o garoto para La Masia por causa de sua baixa estatura e físico frágil. O pai de Xavi conversou com Tort e disse: “o garoto é muito pequeno, mas vocês vão assinar com ele em breve”. Cinco anos depois, em julho de 1991, Xavi reencontrou Tort e marcou três gols em uma partida teste. Dessa vez sem hesitar, ele mandou o jovem direto para o Barcelona B do técnico Josep Maria Gonzalvo. A “profecia” de Joaquim estava completa!

Na época, Xavi já demonstrava algumas de suas virtudes. O faro goleador exibido no jogo que o colocou no clube catalão foi atípico, pois ele gostava mesmo era de passar a bola e construir jogadas. Ele mesmo admitiu, em entrevista à BBC (UK) em novembro de 2014 que “com 11 anos, eu não era muito diferente do que as pessoas veem nos estádios de hoje. Eu era um passador desde garoto e gostava de dar passes para meus amigos em partidas nas ruas, praças ou na escola”, disse o craque. Mas o que mais espantava a todos no clube era o controle de bola que Xavi demonstrava. Prova disso surgiu em uma história contada por Joan Vilà ao portal iG, em novembro de 2011.

Técnico da categorias de base do Barça em 1995, ele costumava levar o filho para o trabalho nas férias escolares e, para que ele não ficasse entediado, dizia a ele para contar quantos chutes a gol determinados jogadores davam, quantos passes certos, errados e assim por diante. Cada dia era uma “missão” diferente. Em uma das tardes, Vilà pediu para seu filho contar quantos bolas um garoto de 15 anos iria perder nos treinamentos. O tal garoto era Xavi. Na volta para casa, o filho de Vilà disse ao pai: “hoje o dia foi muito chato”. Intrigado, Vilà perguntou o motivo. O filho disse: “é que não pude contar nada. Ele não perdeu nenhuma bola!”.

Desde aquela idade, Xavi era muito superior aos colegas taticamente. Tinha uma inteligência fora do comum com a bola nos pés e na leitura das jogadas. Fazia tudo o que lhe era possível para ajudar na construção de jogadas e deixar os companheiros na cara do gol. Abria espaços, pressionava a defesa sem a bola para reduzir os espaços do rival. Não corria de maneira desenfreada. Era calmo. Pensava previamente para depois agir. Evoluía dia após dia.

Xavi e Guardiola: “rivais” de posição no final dos anos 1990, eles seriam simbiose pura anos depois.

 

Como não poderia deixar de ser, ele já ganhava comparações ao meio-campista titular do Barça na época: Pep Guardiola. Mas Xavi não queria ser comparado a ninguém. Ele buscava seu espaço e tinha noção de que poderia ser titular assim que surgisse uma oportunidade. E ela apareceu pela primeira vez em um jogo válido pela Copa Catalunha, contra o Lleida, em 1998, até o debute oficial na final da Supercopa da Espanha de 1998, contra o Mallorca, na qual o jovem marcou um gol na derrota por 2 a 1 dos blaugranas.

 

Assumindo a titularidade em tempos difíceis

O técnico Louis van Gaal foi o primeiro a dar uma oportunidade a Xavi naquela temporada 1998-1999. Jogando ao lado de Rivaldo, Cocu e Luis Enrique, o craque entrou em 17 jogos no Campeonato Espanhol, mas ainda era difícil encontrar um espaço entre os titulares. Mesmo assim, o jovem ganhou o prêmio de Revelação do Campeonato daquele ano, vencido pelo Barça e com Rivaldo jogando demais. Foi o primeiro dos muitos títulos que o meio-campista iria conquistar. Mesmo com a taça, Xavi se sentia incomodado com a falta de sequência no time titular e a concorrência com Guardiola. Sua família dizia, inclusive, que ele deveria deixar o Barcelona. Ainda mais depois do craque, naquele mesmo ano de 1999, ser um dos destaques da seleção da Espanha que venceu o Mundial Sub-20 da FIFA, na Nigéria, e despertar o interesse do Milan-ITA, que estava disposto a pagar a multa contratual para levar o jogador a Milão e compor um meio de campo com ele e o experiente Albertini. Mas Xavi sentia que não era hora de partir e precisava deixar sua marca no clube.

Van Gaal (à dir.) foi o primeiro a dar oportunidades a Xavi no time principal do Barça.

 

Foi então que tudo começou a conspirar a favor da permanência do craque no Camp Nou. Van Gaal passou a utilizá-lo mais vezes na temporada 1999-2000 e Guardiola sofreu uma grave lesão, que culminaria inclusive com sua saída, em 2001, para jogar no Brescia-ITA. Xavi disputou 38 jogos naquela temporada, outros 36 na de 2000-2001 e aumentou o número para 52 partidas em 2001-2002. Só que justo quando ele passou a ganhar mais espaço entre os titulares, o Barça viveu momentos de crise com problemas financeiros, falta de boas contratações e a boa fase do rival Real Madrid, que virou “Galáctico” exatamente naquela época. Mas era questão de tempo até a maré ficar favorável ao meio-campista.

 

Seleção, Copa e ascensão

Em 2002, Xavi disputou sua primeira Copa do Mundo na carreira. Ainda sem ser titular absoluto da Fúria, ele entrou em campo no finalzinho do jogo contra o Paraguai na fase de grupos (vitória por 3 a 1) e começou como titular na vitória por 3 a 2 sobre a África do Sul, no último jogo daquela fase. No mata-mata, ele só voltou a campo na fatídica partida contra a Coreia do Sul, quando entrou na prorrogação e foi um dos que converteram sua cobrança na decisão por pênaltis que acabou eliminando a seleção espanhola após derrota por 5 a 3. Aquele jogo ficou marcado pelos gritantes erros de arbitragem que favoreceram os anfitriões.

Dois anos depois, Xavi disputou a Eurocopa de 2004, mas a campanha pífia da Espanha, eliminada na primeira fase, minou as esperanças do jogador de conquistar um grande torneio pela equipe. Por outro lado, ele já era titular do Barcelona e via com bons olhos a chegada de Frank Rijkaard ao comando técnico do time na temporada 2003-2004. Além do holandês, o clube começou a contratar nomes certeiros para o elenco como Ronaldinho, Rafa Márquez, Van Bronckhorst e ainda a promoção ao elenco profissional de Victor Valdés e Andrés Iniesta. O time começou a dar liga e, na temporada 2004-2005, com as chegadas de Eto’o, Deco, Edmílson e Sylvinho (além da promoção das categorias de base de um tal de Lionel Messi…), engrenou de vez e encantou o mundo graças ao futebol extraterrestre de Ronaldinho e a beleza de seus jogos.

Xavi disputou 36 jogos da campanha do título espanhol daquela temporada e foi eleito o melhor jogador espanhol de La Liga. Ao lado de Deco e com a proteção de Edmílson, Rafa Márquez e por vezes Thiago Motta, Xavi tinha liberdade para atacar e ajudar na construção de jogadas ofensivas sob o comando de Rijkaard. Era o cenário perfeito para dar passes e mais passes para os companheiros. Para confirmar ainda mais seu status de peça-chave no elenco, o craque foi eleito vice-capitão do time, atrás de Puyol.

Quarteto fantástico: Xavi, Rijkaard, Ronaldinho e Puyol.

 

Mas, na temporada 2005-2006, o jogador sofreu um dos maiores sustos da carreira. Em 02 de dezembro de 2005, durante um treinamento, ele rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e temeu pelo seu futuro. Mas, com fisioterapia e força de vontade, lá estava ele treinando novamente em abril de 2006. Só que, àquela altura, o meio-campista havia perdido espaço no time titular para Van Bommel e teve que ver do banco o Barça conquistar os títulos do Espanhol e da Liga dos Campeões da UEFA. Ele disputou apenas 22 partidas e não marcou gols. No entanto, uma nova era estava chegando…

 

O dono da Eurocopa

Após o título continental pelo Barça, Xavi voltou à titularidade e foi presença constante, também, na seleção da Espanha comandada por Luis Aragonés. A roja tinha como meta a disputa da Eurocopa de 2008 e alcançou seu objetivo após liderar o Grupo F com nove vitórias, um empate e duas derrotas em 12 jogos, ficando à frente de equipes como Suécia, Dinamarca, Irlanda do Norte e Islândia. Na Euro, Xavi teria a oportunidade de ser titular em um time muito bem treinado e com promissores jogadores. Era, também, a chance definitiva de ele provar seu valor aos que ainda não o conheciam. Por mais que jogasse no Barça desde 1998, o meio-campista não era famoso nem badalado. Bem, não ainda…

Na primeira fase, a Espanha não tomou conhecimento dos rivais e venceu todos: 4 a 1 na Rússia, 2 a 1 na Suécia e 2 a 1 na Grécia. Nas oitavas, duelo contra a então campeã do mundo Itália e vitória nos pênaltis por 4 a 2 após empate sem gols no tempo regulamentar. E, na semifinal, Xavi abriu o placar de uma nova goleada espanhola sobre a Rússia: 3 a 0. Absoluto no meio de campo, nas roubadas de bola, nos passes, na construção de jogadas e na cadência e aceleração do jogo da Espanha, ele fazia uma Eurocopa estupenda. E, na grande final contra a Alemanha, coroou uma atuação magistral ao dar o passe para o gol do título, anotado por Fernando Torres. Se ele gostava mais de dar um passe do que marcar um gol, aquilo era deleite puro para o camisa 8 – curiosamente, aquela foi a única assistência dele no torneio.

A Espanha foi campeã da Europa depois de 44 anos (desde o título de 1964 que a roja não vencia o torneio) e Xavi foi eleito o melhor jogador do torneio. O craque, enfim, mostrava seu talento ao grande público.

“Foi algo bonito. Talvez seja uma palavra muito utilizada no futebol, mas a verdade é que o futebol que jogamos em 2008 foi bonito. Não apenas o lado ofensivo, mas como nós nos comportamos dentro de campo. Fomos coroados campeões sem ter clamado por aquela velha expressão “fúria espanhola”. Nós jogamos um estilo de futebol baseado no toque de bola combinado com talentosos jogadores. O Luis (Aragonés) gostava de jogar o jogo como (Johan) Cruyff”.Xavi, em entrevista ao site da UEFA, maio de 2016.

 

A permanência por uma filosofia

Após a Eurocopa, naturalmente que muitos clubes procuraram o Barcelona para tentar a contratação de Xavi. E o Bayern München-ALE surgiu com força para levar o craque já na temporada 2008-2009, com conversas bem avançadas com o jogador. Só que a chegada de uma pessoa foi fundamental para reverter aquela situação: Pep Guardiola, nomeado técnico do Barcelona em 2008 e justo o homem que deixou Xavi sem esperanças lá no final dos anos 1990. Já trabalhando na formação do elenco, Guardiola fez questão de conversar com Xavi, que perguntou ao novo treinador, em julho de 2008:

“Pep, você conta comigo no time para essa temporada?”.

Sem pestanejar, ele respondeu: “Eu não imagino esse time sem você”.

Xavi disse: “Não precisava ouvir mais nada!”.

E, para o alívio dos blaugranas, o craque permaneceu na Catalunha. Começaria ali a transformação do clube. Guardiola tinha em Xavi o cérebro de todo o seu estilo de jogo, o tiki-taka. Tudo iria passar pelos pés do craque. As jogadas, a velocidade, a cadência, a espera. O tempo do FC Barcelona seria controlado por Xavi. Somente ele teria o “poder” de autorizar a pausa, a aceleração. Com ele, Busquets e Iniesta, o Barça teria o melhor, mais completo e mais genial meio de campo do futebol mundial. Criativo, marcador, habilidoso, que pressionava a saída de bola, que protegia a defesa, que municiava o ataque, que controlava o jogo. O futebol nunca mais seria o mesmo a partir de julho de 2008. E Xavi seria o estandarte daquela revolução.

 

O melhor meio-campista do mundo

As apresentações de Xavi na Eurocopa de 2008 foram uma simples mostra do que ele iria protagonizar nos meses (e anos) seguintes. Na temporada 2008-2009, ele foi o melhor meio campista de La Liga, da Europa e um dos comandantes do time histórico que venceu simplesmente todos os torneios que disputou. Os blaugranas venceram em 2009 o Campeonato Espanhol, a Copa do Rei (com gol de Xavi na final contra o Athletic Bilbao), a Supercopa da Espanha, a Liga dos Campeões da UEFA, a Supercopa da UEFA e o Mundial de Clubes da FIFA, completando um inédito e impressionante “sextuple”. Xavi foi o maior assistente de La Liga com 22 passes para gols e também da Liga dos Campeões, com sete assistências. Ele foi eleito para o FIFA FIFPro World XI, para o Time do Ano da UEFA e foi o 3º Melhor jogador do Mundo da FIFA.

Xavi em um “normal” domínio de bola… (Photo by Michael Regan/Getty Images).

 

Entre os shows do craque, destaque para a goleada de 6 a 2 sobre o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, com quatro passes (!) de Xavi para os gols de Puyol, Henry e dois de Messi. Além da vitória categórica, aquele jogo é considerado até hoje como o “início” de tudo, quando o Barcelona começou de fato os seus shows no futebol mundial. Leia mais sobre esse jogo eterno clicando aqui. Para o jogador, a temporada 2008-2009 foi a melhor do time em toda a história.

“Nada pode ser comparado com aquela temporada e acho que não vou ver algo parecido. Foi o melhor futebol praticado por um time. Incrível. Nós tínhamos quase 70% da posse de bola em todo jogo. Dominávamos os jogos desde o primeiro minuto. Criávamos 20, 25 chances de gol todo jogo. Vencemos seis títulos! Éramos quase invencíveis”, disse o jogador em entrevista à Four Four Two, em maio de 2016.

A coleção do Barça: imagem para a história!

 

Mas ainda faltava uma coisa: jogar bem uma Copa do Mundo. Após a decepção de 2002 e a precoce queda de 2006, o Mundial de 2010 era a chance de ele e toda aquela geração fantástica de futebolistas darem o sonhado título mundial para a Espanha. E, sob o comando de Vicente Del Bosque, o craque foi ainda mais decisivo. Ele foi o dono da maior média de passes certos de toda a Copa com 91% de aproveitamento – foram 599 passes! Ele percorreu, em média, 11 km por partida, e, na finalíssima contra a Holanda, beirou os 15 km. Foi o “coração pulsante” daquela Espanha, que não se abateu após a surpreendente derrota na estreia para a Suíça, deu a volta por cima, despachou Portugal nas oitavas (com passe de Xavi no gol da vitória, anotado por Villa), Paraguai, nas quartas, e a forte Alemanha na semifinal (com outro passe decisivo de Xavi em cobrança de escanteio que resultou em gol de Puyol).

Xavi foi o principal nome do meio de campo da Espanha na Copa…

 

… E levantou a taça!

 

Na decisão, a Espanha venceu a Holanda por 1 a 0 na prorrogação, gol de Iniesta, a “alma gêmea” de Xavi naquela equipe e também no Barcelona. O título mundial colocou Xavi no Olimpo do esporte. Se faltava alguma coisa, após aquela taça não faltava mais nada. Ele se transformou no melhor e mais completo meio-campista do planeta, já rendendo comparações a grandes expoentes do futebol como Platini e Matthäus, isso só para citar alguns.

 

Os recitais

Na temporada 2010-2011, Xavi deu shows memoráveis, alcançou Migueli, com 549 jogos, entre os jogadores com mais jogos na história do clube, e comandou o Barcelona em novos títulos. Além das atuações de gala e dos gols, o craque deixou exatamente para as duas finais mais importantes do ano espaços para recitais. O primeiro foi a decisão da Liga dos Campeões de 2011, contra o Manchester United. Foi dele o passe perfeito para o gol que abriu o placar para a suprema vitória por 3 a 1 dos blaugranas sobre os ingleses, uma das maiores finais da história da competição. Após o jogo, o técnico do United, Alex Ferguson, disse que “era como se seu time estivesse num carrossel, como a Holanda deixava seus rivais lá em 1974. E, para Xavi, a assistência naquela final foi inesquecível.

“Vi os jogadores do United me pressionando. Olhei o Pedro e ele se desvencilhou da marcação de maneira brilhante. Só tive que esperar… Esperar… Esperar e ‘pum’, toquei com a parte de fora do pé. Aqueles três ou quatro segundos entre o passe e o gol do Pedro me deram um entusiasmo muito grande. Fazer isso, cortar toda uma linha defensiva com um passe em plena final, é algo único”. – Xavi, em entrevista à Four Four Two, maio de 2016.

 

O outro recital aconteceu meses depois, na final do Mundial de Clubes da FIFA, contra o Santos de Neymar e Ganso. Se muitos acreditavam que o duelo seria parelho, tudo caiu por terra quando o mundo parou aos 17’ do primeiro tempo. Xavi estava na entrada da área santista e recebeu uma bola meia quadrada, de difícil domínio. Mas ele era o senhor do tempo. Quando ela veio em sua direção, o meio-campista a dominou com uma classe simplesmente estonteante, arrebatadora. Os torcedores nas arquibancadas em Yokohama produziram, em uníssono, um “ohhhhhhh!”. Após o domínio, Xavi acelerou o tempo novamente e tocou para Messi, que invadiu a área e completou com um toque por cobertura a obra de arte: 1 a 0. Foi um lance para a história do futebol. Para ver e rever de todos os ângulos, por todas as velocidades.

Xavi domina…

 

… e toca para Messi fazer o gol.

 

Naquele instante…

 

… O tempo parou. Mágico!

 

Minutos depois, foi Xavi quem marcou o seu. Fàbregas completou 3 a 0 ainda no primeiro tempo. E, no segundo tempo, Messi fechou a conta: 4 a 0. Um baile que poucos cravaram o placar na BetClic. O Barcelona teve mais de 71% de posse de bola. E garantiu mais um título mundial para sua galeria. Foi o auge do time de Guardiola. O auge do futebol bem jogado daquele esquadrão. E a prova da simbiose profunda entre Xavi e Iniesta, uma das maiores duplas da história do futebol. Se entendiam por telepatia, pareciam gêmeos tamanha qualidade com a bola nos pés e no raciocínio das partidas.

 

No topo da Europa (de novo!) com a Espanha

Pirlo e Xavi durante a Euro de 2012.

 

Em 2012, Xavi e sua Espanha entraram em busca de mais um título da Eurocopa. Após desfilar nas Eliminatórias com oito vitórias em oito jogos, a equipe se classificou em primeiro lugar do Grupo C após empate em 1 a 1 com a Itália e vitórias sobre Croácia (1 a 0) e Irlanda (4 a 0). Nas quartas, vitória por 2 a 0 sobre a França, e, na semifinal, duelo tenso contra Portugal. Após 0 a 0 no tempo normal, vitória espanhola por 4 a 2 na disputa de pênaltis. Na grande final, outra vez a Itália pela frente. E a Espanha simplesmente não tomou conhecimento dos italianos e venceu por 4 a 0, com dois passes de Xavi para os gols de Jordi Alba e Fernando Torres. O craque se consagrou como o primeiro em toda a história a efetuar assistências em duas finais distintas de Eurocopa (2008 e 2012).

Naquela decisão, Xavi teve 94% de aproveitamento nos passes – dos 136, acertou 127 – e comprovou seu auge, além de entrar para a lista dos mais vitoriosos jogadores da história não só do futebol espanhol, mas também mundial, com todos os principais títulos que um jogador pode almejar na carreira: Copa do Mundo, Eurocopa, Liga dos Campeões da UEFA e Mundial de Clubes. Pelo Barça, o meio-campista ainda levantou a taça da Copa do Rei de 2012 como capitão da equipe, troféu que foi o adeus de Guardiola no comando do time.

 

Adeus à seleção e um novo treble

O título da Euro em 2012 foi um desfecho para a Espanha. Em 2014, na Copa do Mundo, a equipe caiu já na primeira fase e levou de 5 a 1 da Holanda logo na estreia da fase de grupos. Com o estilo de jogo já “manjado” pelos rivais e uma visível falta de motivação por ter ganhado tudo nos anos anteriores, a equipe espanhola deixou de flertar com taças a partir dali. Após a Copa, Xavi anunciou sua aposentadoria da seleção após 133 jogos e 13 gols em 14 anos. Vicente Del Bosque disse na época ao Daily Mail (UK) que Xavi “foi o símbolo máximo do estilo de jogo da Espanha naqueles anos de glórias, com futebol e personalidade, e mais importante do que qualquer outro jogador”.

Após terminar a temporada 2011-2012 com o recorde pessoal de gols marcados pelo Barcelona – foram 14 gols em 51 jogos, superando os 10 anotados na temporada 2008-2009 -, Xavi viu o protagonismo de seu clube esmaecer no continente e passar para as mãos do Bayern, em 2013, e do Real Madrid, em 2014. Com a idade chegando e a queda de rendimento do Barça como um todo, o jogador decidiu, em junho de 2014, deixar o clube. Com propostas do Qatar e da Major League Soccer, ele via boas oportunidades para novos ares e últimos desafios antes da aposentadoria. Mas o novo técnico do clube para a temporada 2014-2015, Luis Enrique, conseguiu convencer o maestro a permanecer ao menos mais um ano na Catalunha. Xavi aceitou após ouvir: “fique mais um ano conosco, você será muito importante. Vamos ganhar tudo, tenho certeza”.

Foto: Giuliano Bevilacqua/ABACAPRESS.COM

 

E a permanência do capitão foi crucial para o Barça. Com o trio MSN marcando gols e mais gols e após superar desavenças internas em janeiro de 2015, o Barcelona engatilhou uma sequência de grandes jogos e venceu um novo treble: Campeonato Espanhol, Copa do Rei e Liga dos Campeões da UEFA. Por conta da idade, Xavi atuou como reserva de luxo em alguns jogos com o objetivo de prender a bola em partidas já vencidas pelo Barça. E não havia pessoa melhor para tal tarefa. Ele atuou em “apenas” 44 jogos na temporada, o menor número desde os 22 jogos da temporada 2005-2006. E, na final da Liga dos Campeões contra a Juventus, o craque entrou no segundo tempo no lugar do “irmão” Iniesta só para vestir a braçadeira de capitão e erguer a taça. Não havia despedida melhor para o gênio do meio de campo.

Xavi e Iniesta: eles venceram 4 Ligas dos Campeões da UEFA.

 

“As estrelas se alinharam para mim naqueles três meses. E eu não imaginava uma homenagem como a que ganhei no último jogo do Campeonato Espanhol, contra o Deportivo. Foi muito emocionante. E levantar a Copa do Rei em casa e a Liga dos Campeões como capitão, pffff, não há despedida melhor!”, disse Xavi à Four Four Two, em maio de 2016.

 

Mais taças e aposentadoria

O adeus ao Barça…
Mosaico da torcida do Barça para Xavi, em 23 de maio de 2015, contra o Deportivo, emocionou o craque. (Photo by David Ramos/Getty Images)

 

… E com a camisa do Al-Sadd. Foto: Getty Images.

 

Xavi decidiu jogar no futebol do Qatar e se apresentou ao Al-Sadd, pelo qual estreou em setembro de 2015, dando, claro, uma assistência ao primeiro gol do time na goleada de 4 a 0 contra o Mesaimeer. No país, Xavi virou embaixador da Copa de 2022 e dois anos depois faturou sua primeira taça, a Copa do Qatar, e venceu outras três nas temporadas seguintes. Jogando com sua classe de sempre, o craque disputou uma média de 25 jogos por temporada e marcou alguns gols. Na temporada 2016-2017, anotou 10 em 32 partidas. Foi nessa época que ele se tornou pai e, mesmo distante do grande centro futebolístico do planeta, não deixava de acompanhar os principais campeonatos europeus. Apaixonado pelo esporte, Xavi anunciou a aposentadoria em 2019, aos 39 anos, mas já deixou claro que quer seguir a carreira de treinador. “Eu quero fazer algo corretamente e meu objetivo final é treinar o Barcelona, não posso esconder isso. Quero trabalhar novamente em uma casa que eu considero meu lar”, comentou.

 

Uma lenda do futebol arte

Vai uma taça aí?

 

Com uma carreira incontestável, Xavi escreveu seu nome na história do futebol como um dos maiores meio-campistas de todos os tempos. Foi o jogador símbolo de uma era e da mudança de patamar de todo o futebol espanhol. Se antes a seleção espanhola era marcada pelas decepções e por nunca vencer um grande torneio, com Xavi ela virou temida e vencedora. E, no Barcelona, ele foi a síntese de anos absolutos. Era impossível pensar o Barcelona daquela época sem Xavi. Como foi impossível não apreciar aquele futebol sem mencionar Xavi. O senhor do tempo. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 767 jogos e marcou 85 gols pelo Barcelona.

Disputou 133 jogos e marcou 13 gols pela Espanha.

Disputou 1076 jogos e marcou 126 gols na carreira.

 

Leia mais sobre os grandes times que tiveram Xavi no auge aqui no Imortais!

Barcelona 2008-2012

Espanha 2008-2012

Barcelona 2014-2017

 

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Extra:

Veja uma compilação de passes do gênio. Aquele famoso da final do Mundial de 2011 está no minuto 4:40.

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  1. Sensaiconal a análise do maestro Xavi. Eu só queria muito saber o número de assistências que o jogador deu tanto na carreira, quanto na sua passagem pela seleção espanhola (sei que não é um dado fácil de se encontrar).
    Mas enfim, é sensaiconal o artigo sobre Xavi Hernández, impossível não me tornar mais fã!

  2. Parabéns mais uma vez pelo trabalho de vocês! Esse site é sensacional! Belíssimo texto!
    Certamente um dos melhores meio-campistas da história do futebol. Não deve nada aos craques de antigamente que muitos saudosistas gostam de comparar e dizer que foram melhores que os de hoje. Xavi ganhou tudo como jogador e fez parte do time mais espetacular do Barcelona que eu vi jogar.

  3. Ótimo texto. Acho que o Philipp Lahm, pelo peso que possui nessa era vitoriosa do Bayern e da Alemanha (destaque em três Copa é para poucos), também merece ser imortalizado, assim como o Klose.

Seleções Imortais – EUA 1991-1999

Esquadrão Imortal – Juventude 1998-1999