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Seleções Imortais – Alemanha 1996

Em pé: Strunz, Sammer, Babbel, Eilts, Hässler e Helmer. Agachados: Ziege, Kuntz, Scholl, Klinsmann e Köpke.

 

Grandes feitos: Campeã da Eurocopa de 1996. Fez da Alemanha a maior campeã da história da Eurocopa.

Time-base: Andreas Köpke; Thomas Strunz (Stefan Reuter), Markus Babbel, Matthias Sammer, Thomas Helmer e Christian Ziege; Dieter Eilts (Marco Bode), Mehmet Scholl e Thomas Hässler (Andreas Möller); Jürgen Klinsmann e Stefan Kuntz (Fredi Bobic / Oliver Bierhoff). Técnico: Berti Vogts.

 

“The Great ‘Rache’!”

Por Guilherme Diniz

Wembley, 30 de julho de 1966. Após empate em 2 a 2 no tempo normal, Inglaterra e Alemanha terão que decidir a final da Copa do Mundo da FIFA na prorrogação. Aos 11’ do primeiro tempo, o inglês Hurst chuta para o gol. A bola bate no travessão, quica no chão e sai. Os alemães gritam que não foi gol. Mas o bandeirinha diz que foi. A Alemanha não acredita. No segundo tempo, Hurst acaba com as dúvidas marcando outro gol. E o sonho do bicampeonato mundial cai por terra. Ou melhor, por grama. Os germânicos não engoliram aquela polêmica derrota – já contada neste grande texto aqui no Imortais. Mas eles sabiam esperar. Os anos se passaram e eles levantaram o bi, em 1974. E o tri, em 1990, quando reencontraram os ingleses na semifinal e venceram nos pênaltis. Claro que uma vingança (ou rache, em alemão) só seria possível em uma nova final de Copa, mas e se surgisse uma grande competição na casa inglesa? Bem, eles souberam esperar.

Em 1996, exatos 30 anos daquela fatídica final, eis que o Football came home e a Eurocopa foi sediada na Inglaterra. Nas semifinais, lá estavam alemães e ingleses decidindo uma vaga na decisão. No mesmíssimo Wembley. Sob os olhares de quase 80 mil pessoas. E, após empate em 1 a 1 no tempo normal, os rivais foram para os pênaltis. E deu Alemanha. Vitória por 6 a 5. Saborosa vitória. Dias depois, veio a final. E os alemães venceram a República Checa por 2 a 1, com Gol de Ouro de Bierhoff. Enfim, eles subiram as arquibancadas de Wembley para receber o troféu da Rainha. Fizeram a festa que esperavam fazer em 1966. A taça não era a sonhada de 30 anos atrás, mas significava muito. Era o trono do continente. A consagração da Alemanha como a maior campeã da Europa justamente na primeira taça do país após a reunificação, algo que só seria igualado muito tempo depois pela Espanha. Mas, até hoje, jamais superado. É hora de relembrar a “vingança” germânica no último suspiro da geração vitoriosa de 1990.

 

Ainda há fôlego?

Após a conquista do tricampeonato mundial na Copa de 1990, na Itália, a Alemanha passou por uma mudança em seu comando técnico. Franz Beckenbauer, lenda como jogador e que havia treinado a seleção em dois Mundiais (1986 e 1990), deixou o comando da Nationalelf para que seu auxiliar, Berti Vogts – outra lenda do futebol do país tanto pela seleção campeã do mundo em 1974 quanto pelo Borussia Mönchengladbach dos anos 1970 – assumisse o selecionado germânico. Com a experiência adquirida nos últimos anos como auxiliar e também como treinador do time sub-21, Vogts manteve obviamente a base campeã do mundo e começou a dar chances a jogadores ausentes no grupo de 1990, entre eles o goleiro Andreas Köpke, o líbero Matthias Sammer e os defensores Thomas Helmer e Cristian Wörns. O primeiro desafio do novo técnico foi a disputa da Eurocopa de 1992, na Suécia. A equipe se classificou para a fase de mata-mata, eliminou a anfitriã Suécia por 3 a 2 na semifinal só que, na final, perdeu de maneira surpreendente para a Dinamarca por 2 a 0, em uma das derrotas mais marcantes da história do time alemão.

O revés não abalou Vogts, que seguiu no comando da equipe e conduziu a Alemanha durante a Copa do Mundo dos EUA, em 1994. Mas, outra vez, os alemães caíram diante de uma “zebra”. Após superar a Bélgica nas oitavas de final, os germânicos perderam para a Bulgária de Stoichkov, que venceu por 2 a 1 e eliminou os campeões mundiais. Na época, muitos acreditaram que Vogts iria cair não só pelos resultados ruins, mas também pelos egos aflorados do time e problemas de disciplina, como o caso em que o meia Effenberg foi expulso da delegação durante o Mundial após fazer gestos obscenos para torcedores e jornalistas ao ser substituído no duelo contra a Bélgica, nas oitavas, em Chicago.

Matthäus e Vogts, em 1994: técnico acabaria deixando o craque de lado após o Mundial dos EUA. Foto: Getty Images.

 

Mas aquelas derrotas só confirmaram uma antiga sina alemã: tropeçar em adversários azarões. Tradicionalmente, a Alemanha adora desafios, grandes duelos. Porém, quando ela enfrenta equipes “menores”, tende a ter problemas. Foi assim em 1992. Em 1994. E seria em várias outras ocasiões. Franz Beckenbauer, em entrevista à Placar nos anos 1990, confirmou isso ao dizer:

“A Alemanha precisa de um adversário forte. Eles sempre têm problemas contra Albânia, Argélia, Chipre… Jogos assim parecem ser uma obrigação. Mas se eles enfrentam o Brasil, se jogam contra a Inglaterra, é um time diferente. Eu estava em Nova York, naquela partida contra Bulgária. Quem viu, sabe: até os 75 minutos não havia dúvidas sobre quem ganharia o jogo. A Alemanha vencia por 1 a 0 e estava próxima do segundo gol. Aí a Bulgária empatou e logo depois fez o segundo gol. Então, já era muito tarde para a Alemanha reagir”. 

Contra esse estigma e a desconfiança de que a “era de ouro” havia terminado, a equipe foi para as Eliminatórias da Euro de 1996 em busca da vaga e de uma classificação convincente. Jogando um futebol mais tático do que técnico, em prol do resultado, Vogts queria que seu time simplesmente vencesse. Convencer já era outra história. O importante era o triunfo.

 

Reencontro e classificação

Sammer: craque ganhou espaço com o técnico Vogts.

 

No Grupo 7 da fase qualificatória da Euro, a Alemanha fez sua estreia contra a Albânia, fora de casa, e venceu por 2 a 1 (gols de Klinsmann e Kirsten). Na sequência, vitória por 3 a 0 sobre a Moldávia (gols de Kirsten, Klinsmann e Matthäus – ainda convocado na época), e nova vitória por 2 a 1 sobre a Albânia (gols de Matthäus e Klinsmann). Em março, a vitória por 2 a 0 sobre a Geórgia, fora de casa, com dois gols de Klinsmann, deixou os germânicos em posição bastante confortável, com 100% de aproveitamento. Mas, nos dois jogos seguintes, o alerta foi ligado. A equipe empatou em 1 a 1 com País de Gales em casa e perdeu de virada para a algoz Bulgária por 3 a 2, em Sofia, após abrir 2 a 0 com Klinsmann e Strunz no primeiro tempo, levar o empate com dois gols do craque Stoichkov e ver Kostadinov (famoso carrasco da França) fazer o gol da vitória.

Nova derrota para a Bulgária acendeu o alerta no time alemão durante as Eliminatórias.

 

Mas a seleção alemã não se abateu e goleou a Geórgia por 4 a 1 já na partida seguinte (gols de Möller, Ziege, Kirsten e Babbel), e fez 6 a 1 na Moldávia também em casa, com show de Sammer e Möller, que marcaram dois gols cada. Com a vaga praticamente garantida, a equipe venceu País de Gales em Cardiff por 2 a 1 (gols de Klinsmann e Symons, contra) e venceu (até que enfim!) a Bulgária jogando em Berlim diante de 75 mil pessoas por 3 a 1, com dois gols de Klinsmann e um de Hässler. Líderes, os alemães carimbaram a vaga para a Euro com oito vitórias, um empate, uma derrota, 27 gols marcados e dez sofridos em dez jogos. Klinsmann, matador como sempre e capitão do time, foi vice-artilheiro do grupo com nove gols, atrás apenas de Stoichkov, com dez.

Balakov e Eilts, no duelo entre Bulgária e Alemanha, no returno das Eliminatórias da Euro.

 

Em 1995, a Alemanha ainda venceu um torneio amistoso comemorativo ao centenário da Federação Suíça de Futebol batendo a Itália por 2 a 0 e a anfitriã Suíça por 2 a 1. Os alemães venceram também um amistoso contra a Bélgica por 2 a 1 e empataram sem gols outros dois jogos, contra Espanha e África do Sul, ambos fora de casa. O ano terminou de maneira bastante positiva para o time de Vogts, que demonstrava eficiência, a tradicional competitividade e ainda contava com a fase magnífica de Klinsmann, que terminou a temporada como artilheiro da equipe com seis gols, além de ser o 2º colocado na premiação do Ballon d’Or da revista France Football, atrás de George Weah e à frente de Jari Litmanen.

 

Bom presságio

Klinsmann em ação contra a Holanda: vitória fora de casa.

 

Antes da Euro, a Alemanha disputou seis jogos e teve um desempenho muito bom. Com a base das Eliminatórias e testes com outros jogadores (entre eles o atacante Bierhoff), a equipe bateu Portugal no estádio das Antas por 2 a 1 (dois gols de Möller), venceu a Dinamarca em Munique por 2 a 0 (dois gols de Bierhoff), derrotou a Holanda por 1 a 0 (gol de Klinsmann) em plena cidade de Roterdã, empatou com a Irlanda do Norte em 1 a 1 fora de casa e só perdeu em junho, para a França, por 1 a 0. O último jogo antes da Euro foi contra a frágil seleção de Liechtenstein, goleada por 9 a 1.

Klinsmann e Bierhoff no triunfo sobre a Dinamarca. Foto: Bongarts/Getty Images.

 

Com bons resultados e o time pronto, Vogts convocou seus jogadores sem grandes surpresas. Como esperado, não levou o experiente Matthäus e preferiu manter o time que vinha jogando desde a metade das Eliminatórias, com Klinsmann como capitão e várias opções para o ataque como Bode, Bobic, Bierhoff e Kuntz, além de nomes indiscutíveis para a zaga (Sammer e Helmer), para o meio de campo (Möller, Hässler e Basler) e laterais (Ziege e Strunz). 

Embora fosse de poucas palavras e avesso à mídia, Vogts era um estudioso do futebol. Preparava o terreno para seu time se adaptar perfeitamente ao local e aos adversários. Ele pesquisou os melhores restaurantes de comida italiana (inglesa ninguém merece!) em Manchester (sede dos jogos da equipe na primeira fase) para evitar perrengues. Ele conhecia as vizinhanças adequadas para que a viagem à África do Sul, no amistoso lá de 1995 com a seleção local, fosse harmonioso em tempos hostis do pós-Apartheid.

Isso só para citar algumas das atitudes do treinador, que conseguia extrair o melhor de seu elenco e não hesitava em fazer quantas mudanças fossem necessárias no decorrer dos jogos e antes de cada partida. Todos tinham chances. E ele entendia muito de tática com conhecimento de causa extremo (Vogts simplesmente anulou Johan Cruyff em plena final da Copa de 1974, você tem ideia do que é isso!!!???). 

Vogts não deixou Cruyff respirar na final da Copa de 1974.

 

Na época, a Inglaterra, anfitriã e com Paul Gascoigne jogando muito, era uma das favoritas, além da Itália, vice-campeã mundial, a França – já nos preparativos para a Copa do Mundo de 1998 – e a Holanda – começando a ajeitar suas estrelas sob o comando de Guus Hiddink. Pela primeira vez, todas as principais forças do continente estavam classificadas e juntas para aquela Eurocopa, considerada na época uma das mais aguardadas de todos os tempos. E ainda tinha a Croácia, novo país que despontava como força promissora com jogadores como Jarni, Suker, Prosinecki, Boban, Boksic entre outros. Isso sem contar a República Checa, a Dinamarca (então campeã), Espanha e as sensações do Mundial de dois anos antes Bulgária e Romênia.

A Alemanha estava entre as favoritas, claro, mas muitos duvidavam do time por causa do futebol burocrático e o excesso de jogadores experientes. Para se ter uma ideia, apenas quatro dos 23 convocados tinham menos de 25 anos: Bobic (24), Babbel (23), Schneider (23) e Ziege (24). Oito jogadores tinham 30 anos ou mais – Köpke (34), Helmer (31), Hässler (30), Kuntz (33), Kohler (30), Klinsmann (31), Eilts (31) e Reck (31). E cinco tinham entre 28 e 29 anos – Reuter (29), Sammer (28), Möller (28), Strunz (28) e Bierhoff (28).

Experiência sobrava, mas será que aquela seleção teria pique para encarar os grandes adversários, que tinham como estrelas justamente atletas mais novos? E, para piorar, a equipe foi sorteada justamente no chamado “grupo da morte” ao lado de República Checa, Itália e Rússia, uma chave tão difícil que o jornal The Guardian (UK) elegeu esse grupo, em 2007, como o maior “grupo da morte” da história da Eurocopa, baseando-se nas posições de cada país no ranking da FIFA na época – Alemanha (2ª), Rússia (3ª posição bizarra…vá entender…), Itália (7ª) e República Checa (10ª).

O Ranking da FIFA em 1996: Rússia em 3º…

 

Só que tudo aquilo era bom para a Alemanha! Com vários atletas experientes, uma camisa pesadíssima e a sina de adorar jogar sob pressão e ser capaz de brigar contra qualquer adversário por mais forte que ele seja (Hungria-1954 e Holanda-1974 que o digam…), ter um grupo daquele nível era tudo o que a Nationalelf precisava naquele momento. Imagine a força daquela seleção se conseguisse a vaga no mata-mata em primeiro lugar, por exemplo? Difícil segurar depois.

 

À moda alemã

Bobic (à dir.) comemora na estreia alemã.

 

Sem Klinsmann (suspenso) para a estreia contra a República Checa, a Alemanha não sentiu a falta de seu capitão e conseguiu uma convincente vitória por 2 a 0 sobre o time de Pavel Nedved. Com controle de jogo e toque de bola preciso, a equipe tomou a iniciativa desde o início da partida e superou até mesmo uma precoce lesão do zagueiro Kohler logo aos 14’ do primeiro tempo, que acabou tirando-o do restante da competição. Babbel entrou no lugar do experiente zagueiro e manteve a qualidade na marcação e proteção à zaga. Mas quem comandava tudo lá atrás era Matthias Sammer. Com uma leitura de jogo perfeita e capacidade plena para defender e atacar, o líbero era o coração do time, aquele que fazia com que todas as engrenagens alemãs funcionassem perfeitamente. Vogts espelhava seu trabalho no talento do defensor e sabia que, com ele, a Alemanha não teria problemas na defesa. 

Klinsmann voltou contra a Rússia e marcou duas vezes. Foto: Getty Images.

 

No segundo jogo, contra Rússia, Klinsmann voltou, mas foram os russos que começaram pressionando, com direito a bola na trave e defesa à queima roupa do goleiro Köpke. Mas, no começo do segundo tempo, Sammer apareceu no ataque, recebeu, chutou, o goleiro deu rebote e o zagueiro não desperdiçou: 1 a 0. Minutos depois, Kovtun foi expulso e a Alemanha foi ainda mais incisiva no ataque. Após desperdiçar uma grande chance com Bierhoff dentro da área, o time alemão ampliou aos 32’, quando Klinsmann deixou um zagueiro para trás, foi em direção à área e, na meia-lua, bateu de trivela para marcar um golaço: 2 a 0. Gol clássico, estupendo, de quem entende das coisas! O mesmo Klinsmann, no minuto final, fez o terceiro ao receber sozinho dentro da área em bela jogada de Kuntz, num gol típico de treino. Virou passeio! O resultado de 3 a 0 classificou a Alemanha por antecipação à fase final.

Na última rodada, o técnico Vogts mudou algumas peças da zaga para o duelo contra a Itália, que precisava da vitória a qualquer custo se quisesse a classificação, pois tinha perigosos três pontos e vinha de derrota para a República Checa por 2 a 1. Mesmo como jogadores como Maldini, Di Matteo, Albertini, Donadoni e Zola, a Azzurra não jogava de jeito nenhum. O técnico Arrigo Sacchi, célebre por seu trabalho no Milan do final dos anos 1980, não conseguia repetir na seleção o que fizera no clube rossonero. 

Klinsmann e Maldini.

 

Köpke garantiu a invencibilidade alemã ao defender o pênalti de Zola.

 

E, num jogo que teve atuação decisiva de Köpke, que defendeu um pênalti de Zola, a Alemanha segurou o 0 a 0 com um homem a menos – Strunz foi expulso no começo do segundo tempo – e se classificou em primeiro lugar com sete pontos, duas vitórias e um empate, cinco gols marcados e nenhum sofrido. Já a Itália amargou uma precoce eliminação que selou o fim da era Sacchi na seleção italiana. Mesmo sem encantar, a Alemanha provava sua força e seguia viva em busca do título europeu. Mas o próximo adversário seria perigoso: a estreante Croácia de Suker e companhia.

 

Susto às avessas

Enfrentar uma seleção novata e estreante em Eurocopas como a Croácia causava uma certa tensão na Alemanha. O histórico de problemas contra equipes consideradas “pequenas” pesava e o torcedor não conseguia dissociar o histórico revés para a Bulgária na Copa de 1994. Só que Klinsmann tranquilizou a nação logo aos 20’, quando abriu o placar para a Alemanha, de pênalti. No entanto, o capitão se contundiu e teve que ser substituído aos 39’ do primeiro tempo. No começo da segunda etapa, o matador Suker empatou e deu um pouco de drama à partida até que Sammer, de novo como elemento surpresa no ataque, fez o segundo gol e garantiu a vitória alemã por 2 a 1.

Sem sofrer o susto esperado, a equipe se classificou temerosa. Klinsmann não poderia jogar a semifinal, o terceiro problema seguido para o técnico Vogts, que já não tinha Kohler desde a primeira fase, nem Bobic nem Basler (ambos lesionados). E, para piorar, o próximo adversário seria a Inglaterra, em Wembley, anfitriã, embalada e sob um clima contagiante criado pela torcida. Dois cenários eram possíveis: ou a Alemanha encarnava sua tradicional mística e vencia como tantas vezes já venceu sem ser favorita ou o time seria presa fácil para os ingleses sem Klinsmann lá na frente. Qual lado iria pesar mais na balança?

 

The Great Rache

No dia 26 de junho de 1996, há um mês e quatro dias do aniversário de 30 anos da final da Copa de 1966, lá estavam Inglaterra e Alemanha frente a frente em uma partida importante e histórica no estádio de Wembley tomado por quase 76 mil pessoas. A Inglaterra ia com o que tinha de melhor: Seaman, Tony Adams, McManaman, David Platt, Paul Gascoigne, Alan Shearer, Paul Ince e Teddy Sheringham. Era um time que vinha de uma classificação nos pênaltis sobre a Espanha e vitórias marcantes na primeira fase daquela Euro, como os 4 a 1 sobre a Holanda e os 2 a 0 na Escócia com o golaço do “beberrão” Gascoigne. Já a Alemanha vinha com sua forte base defensiva que havia levado apenas um gol em quatro jogos, o meio de campo comandado por Andreas Möller, mas a interrogação no ataque com apenas Kuntz isolado na frente e municiado por Möller e Scholl. 

Shearer (centro) marcou logo no começo do jogo.

 

E esse ponto ficou evidente logo aos três minutos, quando o artilheiro Shearer fez 1 a 0 para a Inglaterra, levando ao delírio o estádio de Wembley. Mas, ao dar a saída, a Alemanha foi a Alemanha. Destemida. Aquela que cresce contra os mais fortes adversários, como Beckenbauer frisou no início deste texto. Era uma oportunidade de passar a história a limpo. Por mais que a vitória nas semis da Copa de 1990 estivesse fresca na memória, vencer ali, na casa inglesa, teria um sabor mais do que especial. E, aos 16’, Kuntz empatou o jogo. 

O jogo seguiu tenso, com a Inglaterra mais presente no ataque e a Alemanha se defendendo, sempre à espreita para o bote. Sem gols, o jogo foi para a prorrogação, que na época ainda tinha o famigerado “Gol de Ouro”, ou “morte súbita”, se preferir um ar mais dramático. E a Inglaterra esteve por centímetros da vaga na final. Primeiro, com Darren Anderton, que acertou a trave do goleiro Köpke. Depois, com Gascoigne, que recebeu um cruzamento na pequena área de Shearer e passou batido da bola de maneira inacreditável. A Alemanha ainda fez um gol com Kuntz, mas o árbitro apontou falta de ataque. 

Gascoigne perdeu um gol inacreditável!

 

Após 120 minutos, o jogo foi para os pênaltis. Mesmo filme de 1990. Talvez o desejado pela Alemanha lá em 1966. Os jogadores foram convertendo plenamente suas cobranças, um a um. Até que, nas cobranças alternadas, Southgate bateu rasteiro e Köpke defendeu, para na sequência o meia Möller converter seu chute e classificar a Alemanha para mais uma final de Euro. A grande revanche (ou The Great Rache, num misto de inglês com alemão) estava consolidada! Mais uma para aumentar a freguesia inglesa diante dos germânicos.   

 

Dilacerados

Após a celebração, o técnico Berti Vogts não tinha muito tempo para comemorar. Na verdade, ele tinha problemas imensos, algo talvez inédito na história da Eurocopa. Para a partida final contra a República Checa, o rombo no banco de reservas por causa de jogadores suspensos e lesionados era absurdamente grande. Veja a situação: Freund lesionou os ligamentos no duelo contra a Inglaterra e não podia jogar. Andreas Möller e Stefan Reuter estavam suspensos. Basler, Bobic e Kohler não eram opções por causa de lesões. Ziege e Helmer também não estavam em plenas condições e jogariam no sacrifício.

Klinsmann ganhou aval dos médicos e poderia jogar, mas longe dos 100%. Ou seja: Vogts tinha apenas 12 jogadores em reais condições de jogo. Ele chegou ao ponto de pedir camisas de jogadores de linha para os goleiros reservas Oliver Kahn e Oliver Reck caso fosse necessário! E o treinador ganhou ainda a permissão da UEFA para convocar um jogador extra para compor o elenco, o meio-campista Jens Todt, do Freiburg.

A seleção estava simplesmente “dilacerada”. Mesmo assim, o time estava focado no título e na chance de se consolidar como a mais vencedora da história da Eurocopa. “Não tínhamos estrelas, o time era a estrela. Vogts confiava nos jogadores e todos se dedicaram pelo objetivo final que era o título. Eu joguei em um time que tinha uma química real, tudo ligado”, comentou o craque Jürgen Klinsmann ao site Bundesliga Fanatic, em junho de 2012, sobre aquela equipe. 

O time da final: defesa e meio de campo eram os principais destaques do time alemão.

 

De fato, era uma Alemanha experiente, competitiva ao extremo e que sabia lidar com qualquer situação não só tomando como exemplo grandes equipes do passado, mas por tudo o que eles haviam passado naquela Euro e nas competições recentes. Mentalmente, eles eram muito fortes, talvez os mais fortes daquela competição. E, após as trágicas derrotas de 1992 e 1994, eles sabiam que a chance da volta por cima era na final de 1996. Mesmo com tantos problemas, eles acreditavam na taça. E não almejavam outra coisa que não fosse o ponto mais alto de Wembley.

 

Golden Germany!

Após enfrentar – e vencer – os checos na primeira fase, os alemães esperavam pelo menos repetir o placar daquele duelo na decisão da Eurocopa de 1996. Diante de quase 74 mil pessoas, a equipe alemã estava sem o vigor físico e a força do elenco de antes, mas tinha a força psicológica nas alturas. Com Klinsmann em campo, a seleção era outra. Mais alegre, mais temida. Do outro lado, os virtuoses eram Poborsky e Nedved, responsáveis pela grande campanha checa naquela Euro após uma vitória sobre a Itália na fase de grupos e triunfos sobre Portugal e França no mata-mata.

Tanto Alemanha quanto República Checa vinham de decisões por pênaltis nas semifinais, por isso, uma eventual prorrogação seria agonizante para ambos. Isso explica o jogo estudado e sem margem para erros desde o início do primeiro tempo. As melhores chances foram da Alemanha, com Kuntz, mas a República Checa também levou perigo ao goleiro Köpke, principalmente com Kuka. 

Bierhoff celebra: início da virada!

 

Até que, no segundo tempo, Sammer derrubou Poborsky dentro da área e concedeu um pênalti aos checos. Berger bateu e fez 1 a 0. O técnico Berti Vogts resolveu colocar Oliver Bierhoff para tentar algo nas jogadas aéreas e fazer companhia a Kuntz e Klinsmann na frente. E a mudança do treinador deu certo. Apenas quatro minutos depois de entrar, o atacante aproveitou cobrança de falta de Ziege na área e subiu sozinho para testar firme e empatar o jogo, aos 28’: 1 a 1.

O empate seguiu até o minuto final e o jogo foi para a prorrogação. Que também tinha a regra do “Gol de Ouro”. Diferente das semis, a Alemanha não queria pênaltis. Queria decidir logo. Atacar. Jogava com mais insistência, pelas pontas, tentava a bola aérea, os cruzamentos. E, aos cinco minutos, a bola veio lá do campo de defesa com destino certo: Bierhoff. O camisa 20 desviou e a bola sobrou para Klinsmann. O craque avançou pela direita enquanto Bierhoff foi para a área. O capitão gingou, olhou e cruzou de perna esquerda. A bola não subiu muito. Foi o suficiente para Bierhoff receber, dominar com as pernas e controlar a redonda se protegendo da marcação do zagueiro checo. Bierhoff ajeitou, virou e chutou pro gol. Não foi forte, mas o suficiente para a bola espirrar na mão mole do goleiro Kouba, que não segurou e viu a redonda parar mortalmente dentro do gol, num lance bizarro, trágico e cômico, tudo ao mesmo tempo.

Bierhoff prepara o “chute de ouro”: foi a primeira grande final decidida assim na história do futebol. Foto: Mark Sandten/Bongarts/Getty Images.

 

Bierhoff não tinha nada com isso. Correu para comemorar com a multidão alemã ensandecida. Multidão antes dividida por um muro que agora aprendia a torcer e vibrar juntas. A Alemanha, enfim Alemanha, era campeã da Europa. Levantava sua primeira taça “unificada”, gritada do leste ao oeste, do oriente ao ocidente. Com gol de ouro de Bierhoff, atacante que só foi convocado graças à esposa do técnico Berti Vogts, Monika, que disse para o marido “levar o jogador com ele para a Inglaterra” e dar-lhe uma chance, pois “ele iria recompensá-lo”. Premonição ou lenda, o fato é que ele recompensou!

Enfim, Alemanha campeã em Wembley! Foto: Getty Images.

 

A Alemanha foi campeã invicta, com quatro vitórias e dois empates em seis jogos, dez gols marcados e três gols sofridos. Matthias Sammer foi eleito o melhor jogador da competição e esteve no All Star Team do torneio, ao lado do goleiro Köpke e do meio-campista Eilts. Klinsmann, com três gols, foi o vice-artilheiro da Euro, atrás apenas de Shearer, com cinco. E foi o capitão quem subiu no ponto mais alto de Wembley para levantar o emblemático troféu de campeão, no gesto que tantos alemães sonharam ver em 1966, com Uwe Seller.

Mas a festa foi igual. Tão emblemática quanto seria há 30 anos. Provou de uma vez por todas que a Alemanha não desiste nunca e pode tudo, contra tudo, em tudo. Mesmo com lesionados. Mesmo com suspensos. Mesmo com o capitão fora de sua melhor forma física. A Alemanha sempre dá um jeito. Nunca a frase do craque inglês Gary Lineker soou tão plena naquela dia:

“O futebol é um jogo simples: 22 homens correm atrás de uma bola durante 90 minutos e, no final, os alemães sempre vencem”.

 

À espera do novo milênio

O título em solo inglês lavou a alma do torcedor alemão, mas era difícil cravar a equipe como favorita na Copa do Mundo de 1998. Principalmente pelo fato de o técnico Vogts manter a mesma base campeã e não renovar o elenco. Com isso, os jogadores que já eram experientes em 1996 obviamente se tornaram ainda mais em 1998. Resultado? Um time envelhecido que não conseguiu brilhar. Para se ter uma ideia apenas dois (isso mesmo, DOIS!) jogadores entre os 22 convocados tinham menos de 25 anos: Jens Jeremies e Dietmar Hamann. Vogts ainda deu uma chance para Matthäus disputar sua última Copa na carreira, com 37 anos!

Na primeira fase, a Alemanha se classificou graças ao grupo fácil no qual se encontrava, despachando Irã (2 a 0) e EUA (2 a 0) e empatando com a Iugoslávia em 2 a 2. Nas oitavas, os alemães venceram o México por 2 a 1, mas reencontraram a Croácia nas quartas e levaram um vareio de 3 a 0, um show histórico do time de Suker, em fase esplendorosa (leia mais clicando aqui!). 

Vogts não resistiu à queda e deixou a seleção. Em 2002, Rudi Völler até levou a Alemanha à final da Copa do Mundo com uma equipe renovada, mas ainda longe de ser brilhante e incapaz de vencer o forte Brasil de Ronaldo, Rivaldo e companhia. Só em 2010 que a equipe voltou com tudo graças aos jovens e a um estilo de jogo que deixou totalmente para trás o pragmatismo e a morosidade de outrora. Tanto brilho culminou com o título mundial de 2014.

Mas o fato é que o time de 1996 marcou o fim de uma era de protagonismo alemão no futebol mundial que durou quase duas décadas. Começou lá em 1980, com o título europeu. Em 1982 e 1986 vieram os vices nas Copas do Mundo com times fortes e competitivos. O grito de campeão voltou em 1990, com o brilho de grandes craques que fizeram daquela Alemanha a única equipe realmente brilhante em um Mundial esquecível. E terminou com o título europeu de 1996, conquistado sob intensas adversidades, problemas físicos e em um território hostil superado de maneira plena por uma seleção que sempre se reinventa e adora vencer titãs. O time que lapidou um novo caminho em uma nova era de um país unido novamente. Uma Alemanha imortal. 

 

Os personagens:

Andreas Köpke: eleito melhor jogador alemão do ano de 1993, Köpke virou a primeira opção do técnico Vogts e assumiu de vez a meta da Alemanha a partir daquela época. Foi fundamental na campanha do título da Euro com dois pênaltis defendidos – na primeira fase, no clássico contra a Itália, e nas semis, contra a Inglaterra. Muito seguro e sempre bem colocado, transmitia enorme tranquilidade à zaga e manteve a sina de bons goleiros produzidos pelo futebol alemão. Disputou as Copas de 1994 e 1998 e esteve no grupo campeão de 1990. Foram 59 jogos pela seleção. Köpke foi ídolo no Nuremberg, onde jogou a maior parte da carreira. 

Thomas Strunz: lateral-direito, alternou com Reuter na posição durante a Euro e foi titular na primeira fase e também na final. Não era tão veloz quanto o companheiro, mas dava proteção ao sistema defensivo. Disputou 41 jogos de 1990 até 1999 pela Alemanha.  

Stefan Reuter: era um foguete pela lateral-direita, capaz de correr 100 metros em apenas 11 segundos, o que lhe rendeu o apelido de “Turbo”. Reuter foi soberano na grande equipe do Borussia Dortmund de 1992 até 2004, disputando mais de 300 jogos de Bundesliga pelo clube. Venceu quase tudo com o time e só não era titular na equipe da Alemanha da Copa de 1990 porque Berthold era o preferido de Beckenbauer. Foi titular em boa parte da campanha da Euro de 1996, mas acabou de fora da final por suspensão.

Markus Babbel: atuava mais como lateral-direito e seria reserva, mas se beneficiou com a lesão de Kohler e foi para o time titular como zagueiro. Foi bem na função e garantiu a eficiência do sistema defensivo do time ao lado de Sammer e Helmer. Disputou 51 jogos pela Alemanha de 1995 até 2001 e marcou época pelo Bayern München da virada do milênio.

Matthias Sammer: depois de Beckenbauer e Matthäus, Sammer foi o último grande líbero da história do futebol alemão. Com senso de colocação pleno, fôlego para ir ao ataque e voltar e impecável na marcação e desarme, o jogador foi o principal nome da Alemanha naquela Eurocopa. Não é à toa que venceu o prêmio de melhor jogador do torneio e, no mesmo ano, o Ballon d’Or da France Football de melhor jogador europeu. Fo ídolo do Borussia Dortmund e só não teve uma carreira mais longeva por causa de lesões. Disputou 51 jogos pela seleção entre 1990 e 1997.

Thomas Helmer: outro grande defensor alemão dos anos 1980 e 1990, Helmer atuava como zagueiro central e também volante. Disputou 68 jogos e marcou cinco gols pela seleção entre 1990 e 1998. Brilhou pelo Bayern dos anos 1990.

Christian Ziege: era o mais ofensivo dos laterais alemães e muito eficiente na armação de jogadas, cruzamentos e chutes de longa distância. Foi uma das principais referências da seleção nos anos 1990 e até a primeira metade dos anos 2000. Disputou 72 jogos e marcou nove gols pela Alemanha, um deles na vitória por 2 a 0 sobre a República Checa, na fase de grupos. 

Dieter Eilts: conhecido como o “Alemão de East Frisia”, em referência ao jogador brasileiro Alemão, Eilts foi uma das grandes surpresas da Alemanha naquela Euro de 1996. O meio-campista jogou muito e foi um dos principais nomes do time na campanha do título. Com ele, Sammer e Helmer, a Alemanha teve um sólido alicerce defensivo fundamental para o ótimo desempenho do time tanto na fase de grupos quanto no mata-mata. Foi uma lenda do Werder Bremen, seu único clube na carreira, pelo qual disputou 390 jogos entre 1985 e 2002. Pela seleção, foram 31 jogos entre 1993 e 1997.

Marco Bode: atacante, podia jogar também mais aberto pela esquerda, como ponta. Outro que fez história no Werder Bremen, seu único clube na carreira. Na campanha da Euro não foi titular absoluto, mas entrou no decorrer de algumas partidas. Disputou 40 jogos e marcou nove gols pela seleção.

Mehmet Scholl: jogava como meia, segundo atacante e também ponta-direita. Era muito útil e inteligente na construção de jogadas de ataque, além de ser muito ágil. Foi ídolo no Bayern, disputou 36 jogos pela seleção e marcou oito gols.

Thomas Hässler: pequenino na altura e um gigante em campo, Hässler compôs o miolo central cheio de talento da Alemanha campeã do mundo em 1990 e seguiu no time graças ao desarme preciso e apoio ao ataque, com dribles, velocidade e bons chutes. Com a ascensão de Möller no time principal, perdeu um pouco de espaço na disputa da Euro, mas ainda sim foi titular na primeira fase, entrou durante as partidas contra Croácia e Inglaterra e foi titular na decisão contra a República Checa. Se teve sorte e sucesso na seleção, Hässler foi azarado em sua carreira de clubes, sendo vice-campeão da Copa da UEFA, da Bundesliga, da Copa da Itália e da Copa da Alemanha. O jogador nunca venceu um título sequer por um clube. Disputou 101 jogos e marcou 11 gols pela seleção alemã.

Andreas Möller: com uma habilidade formidável e impecável nos passes e lançamentos, Andreas Möller foi um dos grandes maestros do futebol alemão nos anos 1990. Não teve muitas chances na Copa de 1990, mas conseguiu o título tão almejado por um jogador de futebol. Disputou e venceu a Euro de 1996 e viveu sua melhor fase no Borussia Dortmund, conquistando um bicampeonato alemão, uma Liga dos Campeões da UEFA e um Mundial Interclubes. Só não jogou a final da Euro por estar suspenso. Foram 85 jogos e 29 gols pela seleção entre 1988 e 1999.

Jürgen Klinsmann: carismático, brincalhão, goleador, craque. Klinsmann foi sem dúvida alguma um dos grandes atacantes da década de 1990 na Alemanha e no mundo, perigosíssimo nas investidas ao ataque e um terror para qualquer zagueiro. Foi a referência no ataque alemão na Copa de 1990 e um dos grandes na conquista da Euro de 1996. Disputou também as Copas de 1994 e 1998 e compôs a legião alemã da Internazionale-ITA campeã da Copa da UEFA de 1991, ao lado dos compatriotas Matthäus e Brehme. Leia mais sobre esse craque clicando aqui.

Stefan Kuntz: assumiu a responsabilidade quando a Alemanha mais precisou – na semifinal, quando Klinsmann não pôde jogar – e cumpriu sua função ao marcar o gol de empate no tenso duelo contra os anfitriões, além de converter seu pênalti na disputa de penalidades. O atacante disputou apenas 25 jogos pela Alemanha entre 1993 e 1997 e marcou seis gols.

Fredi Bobic: atacante alto (quase 1,90m) e eficiente no jogo aéreo, Bobic foi um dos grandes atacantes alemães dos anos 1990 e artilheiro da Bundesliga de 1995-1996 pelo Stuttgart, clube pelo qual fez um grande trio de ataque ao lado do brasileiro Élber e do búlgaro Balakov. Pela Alemanha, foram 37 jogos e 10 gols, mas nenhum deles na Euro. Disputou dois jogos na primeira fase, se lesionou nas quartas de final contra a Croácia e não jogou mais. 

Oliver Bierhoff: o atacante vinha brilhando por equipes pequenas até antes da Eurocopa, mas foi após os seus dois gols na final contra a República Checa que Bierhoff chegou ao estrelato. Sempre bem colocado e muito bom no pivô nas jogadas de ataque, o atacante foi uma das apostas do técnico Vogts. E ele não decepcionou. Era forte, também, nas jogadas aéreas, além de demonstrar muita força nos arremates. Teve uma passagem incrível pela Udinese, conseguindo ser artilheiro do Campeonato Italiano de 1997-1998 com 27 gols, ficando à frente de jogadores como Ronaldo, Roberto Baggio, Batistuta e Del Piero (“só” isso!!!!) e foi contratado pelo Milan na virada do século. Foi capitão da Alemanha após a aposentadoria de Klinsmann. Disputou 70 jogos e marcou 37 gols, uma boa média de 0,53 gol por jogo, maior inclusive do que a de Miroslav Klose, maior artilheiro da história da seleção alemã com 71 gols em 137 jogos (média de 0,52).

Berti Vogts (Técnico): com amplo conhecimento do futebol e experiência incontestável, Vogts assumiu a Alemanha com o privilégio de ser o primeiro a poder convocar jogadores do ocidente e do oriente após a reunificação do país. E, mesclando a base campeã do mundo com novas promessas, ele conseguiu superar dois tombos feios para ser campeão da Europa em 1996. Utilizou muito bem o elenco, não tratou ninguém com estrelismo, teve peito para deixar Matthäus e Effenberg de fora e escreveu seu nome na história. Comandou a seleção de 1990 até 1998 e acumulou 66 vitórias, 24 empates e 12 derrotas em 102 jogos, aproveitamento de 64,7%, o segundo maior em toda a história da seleção, atrás apenas de Jupp Derwall, que teve 65,6% entre 1978 e 1984.

 

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Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Lembro da Band transmitindo essa Euro. Alemanha é Alemanha. Sempre, sempre. Klinsmann foi um dos meus ídolos, e essa camisa? Putaqueopariu. Parabéns pelo texto!!!

  2. A seleção alemã que disputou a Copa de 1982 era realmente forte? Está certo que aquela seleção tinha alguns craques, mas chegou à final daquela Copa de forma vergonhosa. E não se trata de exagero melodramático, já que a seleção alemã só passou para a segunda fase depois que venceu a Áustria, no que ficou conhecido como “o jogo da vergonha” e que fez com que, a partir de 1986, os jogos da última rodada dentro do mesmo grupo fossem disputados no mesmo horário. E na semifinal contra a França contou com uma senhora ajuda do árbitro.

    E quando chegou na final, todo mundo na Nationalelf sabia que eles não teriam a menor chance contra a Itália. Isso segundo o que disse o Breitner.

    • Verdade, ninguém esperava! Mas ainda falta a Alemanha 1980, a única campeã da Euro que ainda não está aqui no Imortais! Vou estender também até 1982, contando o trajeto dela até a final da Copa daquele ano. Ela deve ser imortalizada até o final do ano! 😀

Esquadrão Imortal – Fluminense 1969-1971

Craque Imortal – Andrea Pirlo