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Jogos Eternos – Atlético Nacional 2×0 Olimpia 1989

Data: 31 de maio de 1989

O que estava em jogo: o título da Copa Libertadores da América de 1989.

Local: Estádio Nemesio Camacho (El Campín), Bogotá, Colômbia.

Juiz: Juan Carlos Loustau (ARG)

Público: 50.000 pessoas

Os Times:

Club Atlético Nacional: Higuita; Carmona, Perea, Escobar e Gómez; Álvarez, Fajardo (Arboleda), Alexis García e Arango (Pérez); Usuriaga e Tréllez. Técnico: Francisco Maturana.

Club Olimpia: Almeida; Miño, Benítez, Chamas e Krausemann; Sanabria, Guasch, Bobadilla (Balbuena) e Neffa (González); Amarilla e Mendoza. Técnico: Luis Cubilla.

Placar: Atlético Nacional 2×0 Olimpia (Gols: Miño-OLI, contra, aos 1’, e Usuriaga-ATN, aos 20’ do 2º T). 

Nos pênaltis, Atlético Nacional 5×4 Olimpia. Escobar, Usuriaga, Tréllez, Higuita e Álvarez fizeram para o Atlético. Alexis García, Pérez, Gómez e Perea perderam. Benítez, Chamas, Mendoza e Amarilla fizeram para o Olimpia. Almeida, González, Guasch, Balbuena e Sanabria perderam.

 

“La final de la tortura”

Por Guilherme Diniz

Desde 1978, quando um clube colombiano chegou pela primeira vez a uma final de Libertadores, que a história se repetia: a decisão era disputada… E perdida. Foi assim com o Deportivo Cali, naquela derrota para o Boca Juniors. E foi assim por três anos seguidos com o América de Cali, derrotado pelo Argentinos Juniors, em 1985, pelo River Plate, em 1986, e pelo Peñarol, em 1987. Naquele ano de 1989, lá estava outro clube colombiano. O Atlético Nacional. Era um timaço. Só que eles tinham pela frente o tradicional Olimpia, campeão continental em 1979, vice em 1960 e com um time forte e competitivo. A sina parecia difícil de ser quebrada após a sequência de eventos ruins para os colombianos.

Primeiro, a impossibilidade de jogar em casa pelo fato de o estádio verdolaga ser pequeno. Segundo, pela derrota por 2 a 0 na partida de ida, no Paraguai. Só que a torcida alviverde queria reverter aquela história. Foi em peso até Bogotá. Milhares e milhares de torcedores encheram o El Campín. E o Atlético retribuiu sua hinchada jogando com fibra uma final angustiante, de nervos à flor da pele. Eles precisavam de dois gols. Fizeram. Mas precisavam de mais um. Não saiu. O jogo acabou indo para os pênaltis.

E longas 17 cobranças certamente originaram problemas cardíacos em muita gente na Colômbia. Na marca da cal, um herói “loco” ajudou a transformar Medellín na capital sul-americana do futebol: Higuita. Ele fez o seu gol.  E defendeu quatro chutes dos rivais. Quando Álvarez converteu o seu, o 9º do Atlético, enfim a Colômbia tinha um campeão da América. Um título em uma final de “tortura”, como tanto os colombianos gostam de lembrar. E cravada como uma das mais emocionantes da história do torneio. É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

O Atlético Nacional colocou a Libertadores como prioridade máxima na temporada de 1989 e desprezou completamente o Campeonato Colombiano (conquistado pelo América de Cali). A competição continental era a grande chance de mostrar a força do conjunto alviverde e de dar ao país uma inédita taça continental, que até então era restrita a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A equipe começou o torneio no Grupo 3, ao lado do rival Millonarios e dos equatorianos Deportivo Quito e Emelec. Ainda frios e sem ritmo, os colombianos empataram os três primeiros jogos todos em 1 a 1 e todos fora de casa. A torcida ficou ressabiada e temeu pelo pior quando o time foi derrotado em casa para o Millonarios por 2 a 0. Felizmente, os comandados de Maturana venceram o Deportivo por 2 a 1 (gols de Arango e Escobar) e o Emelec por 3 a 1 (gols de Fajardo, Usuriaga e Tréllez) e carimbaram a vaga para a fase de mata-mata.

Nas oitavas de final, os colombianos enfrentaram o tradicional Racing-ARG e venceram a primeira partida em casa por 2 a 0. Na volta, a derrota por 2 a 1 não foi suficiente para eliminar os alviverdes, que se classificaram para as quartas de final e reencontraram o Millonarios. E enfrentar o maior rival em plena fase eliminatória de Libertadores foi algo épico para o Atlético. No primeiro jogo, em Medellín, Usuriaga fez o único gol da vitória alviverde por 1 a 0. A imprensa colombiana achou muito magro o triunfo do time de Higuita e companhia e dava como certa a classificação do Millonarios para a semifinal. Porém, mesmo com o placar aberto pelos azuis no primeiro tempo do segundo jogo, o Atlético Nacional se acalmou, comandou as ações posteriores e conseguiu o empate nos pés de Tréllez: 1 a 1. Na casa do rival, o time de Medellín conseguia uma emblemática classificação para a semifinal da Libertadores com uma mostra clara do talento do técnico Maturana, que soube como ninguém acalmar seus atletas num território tão hostil.

O técnico Maturana: comandante de um time puramente colombiano.

 

O duelo seguinte foi contra os uruguaios do Danubio. No primeiro jogo, precioso empate sem gols no estádio Centenário, em Montevidéu. Bastava uma vitória simples, em casa, para o Atlético se garantir em sua primeira decisão de Libertadores. Mas os alviverdes não quiseram apenas vencer. Eles fizeram questão de desfilar e dar show a todos os presentes no estádio Atanasio Girardot com uma goleada histórica de 6 a 0, sendo quatro gols de Usuriaga. Delírio puro em Medellín! O Atlético estava na decisão da Libertadores. Mas o adversário não seria nada fácil: o tradicional Olimpia-PAR, de Almeida, do artilheiro Amarilla e do técnico Luis Cubilla.

Amarilla em ação: atacante só não fez chover na Libertadores de 1989.

 

Os paraguaios conseguiram a classificação para o mata-mata na “bacia das almas”, apenas na terceira posição, com duas vitórias, um empate e três derrotas, atrás de Cobreloa e Sol de América. Mas foi na hora da pressão que a camisa pesou. Nas oitavas, a equipe eliminou o “freguês” Boca Juniors-ARG (derrotado pelo Olimpia na final da Libertadores de 1979) após vencer por 2 a 0 em casa e perder por 5 a 3 em La Bombonera, resultado que levou a decisão da vaga para os pênaltis.

Na marca da cal, deu Olimpia: 7 a 6. Nas quartas, a equipe despachou o Sol de América após vencer em casa (2 a 0) e empatar fora em 4 a 4 (os paraguaios tinham um ataque fora de série, com Amarilla em grande fase). Nas semis, a equipe perdeu em casa para o Internacional por 1 a 0, mas conseguiu vencer no Beira-Rio por 3 a 2 e bateu os brasileiros nos pênaltis por 5 a 3. Os alvinegros vinham muito fortes e tinham um espírito combativo impressionante, típico de Libertadores.

Além do peso da camisa e do embalo que o Olimpia ganhou naquela reta final, o alvinegro paraguaio recebeu uma boa notícia da Conmebol, que impediu o Atlético Nacional de jogar a segunda partida em sua casa, o estádio Atanasio Girardot, pelo fato de ele não comportar o público mínimo exigido pela entidade (50 mil pessoas). Por isso, a diretoria alviverde teve que escolher um novo local para a partida decisiva: o estádio Nemesio Camacho, na capital Bogotá. Os verdolagas viajaram ao Paraguai para a primeira partida contra o Olimpia no Defensores del Chaco e, diante de um adversário forte e quase imbatível jogando em casa, os colombianos perderam por 2 a 0 e teriam que buscar a “remontada” jogando na Colômbia, mas longe de sua torcida.

No entanto, em um claro exemplo de amor incondicional ao seu clube, a torcida do Atlético Nacional viajou em peso até a cidade de Bogotá para apoiar seu time rumo ao título da Libertadores. Mais de 30 mil torcedores percorreram quilômetros e mais quilômetros para lotar o estádio Nemesio Camacho, que havia se transformado num verdadeiro caldeirão. O Atlético jogou com sua força máxima e iria impor pressão desde o primeiro minuto. O Olimpia, mesmo jogando fora de casa e com a vantagem do empate, não mediria esforços para assustar o goleiro Higuita com o atacante Amarilla, artilheiro da Libertadores com 10 gols, e as jogadas construídas por Bobadilla e Neffa. 

 

Primeiro tempo – Olimpia neutralizador

Em um gramado cheio de papéis e tiras, típico de final de libertadores, o Olimpia deu a saída e rapidamente perdeu a posse de bola em poucos segundos para um Nacional elétrico, ávido pelo gol logo no início do jogo. Com uma pressão tremenda, o time colombiano conseguiu uma falta perigosíssima na entrada da área com menos de cinco minutos. No entanto, a bola explodiu na barreira, e, no contra-ataque, o atacante Amarilla foi em direção ao gol de Higuita, mas a zaga conseguiu se recompor e evitar o gol. A jogada de bate-pronto dos paraguaios não assustou o Nacional, que demonstrava muita tranquilidade e qualidade na hora dos passes. O time mantinha a bola no campo de ataque e tinha plena consciência de que era capaz de ao menos igualar o placar agregado adverso de 2 a 0. E, de pé em pé, Usuriaga quase fez aos 8’, ao receber na entrada da área e chutar cruzado. Com ele, Fajardo, Tréllez e García, o Nacional conseguia criar várias oportunidades.

A zaga paraguaia tentava marcar, mas sofria um bocado, principalmente Krausemann, que não sabia o que fazer nas investidas de Usuriaga. Aos 10’, o Olimpia tentou chegar em troca de passes entre Amarilla, Bobadilla e Neffa, mas Higuita saiu muito bem do gol e tirou a bola do rival. Aos 12’, outro susto para o Nacional quando Escobar atrapalhou Higuita em uma bola alçada na área e o goleiro conseguiu ganhar de Bobadilla ao dar um carrinho e sair jogando como um verdadeiro líbero. Na sequência do lance, Usuriaga recebeu uma bola preciosa de García, ganhou mais uma pela direita, invadiu a área, chutou rasteiro e Ever Almeida fez uma defesaça.

O jogo ficou um pouco mais estudado, com passes pra cá e pra lá, até que Sanabria conseguiu descolar um lindo passe pela esquerda do ataque para Bobadilla, aos 20’, que chutou cruzado e a bola passou perto do gol de Higuita, que ainda tocou levemente na bola e cedeu escanteio. O Olimpia conseguia criar algumas chances mesmo com a intensa pressão que levava do time colombiano. Na cobrança do tiro de canto, toda a calma do mundo para Bobadilla – e toda a vaia do mundo, ou melhor, de uma furiosa torcida colombiana, para ele. A cera fez com que o árbitro desse cartão para o meia do Olimpia. Depois de muito lenga lenga, o paraguaio chutou, mas Higuita agarrou sem problemas e já engatilhou um contra-ataque, desperdiçado pelos alviverdes.

Os times em campo: Olimpia se fechou e aproveitou os contra-ataques, enquanto o Nacional buscou as investidas mais pelas pontas e pela direita. Os paraguaios resistiram perfeitamente na primeira etapa, mas no segundo tempo a tática ruiu.

 

O Olimpia tinha muita força no meio, principalmente com os desarmes de Guasch, em grande fase. Do lado colombiano, Fajardo era o maestro do lado esquerdo, com dribles, passes e um futebol incisivo, abrindo espaços na zaga adversária. Aos 25’, Amarilla disparou pela esquerda, ganhou na corrida de Perea e chutou cruzado, levando outro perigo ao gol de Higuita. De fato, os alvinegros criavam as melhores chances. Como os dois times eram técnicos, o jogo era limpo, com pouquíssimas faltas, algo louvável se tratando de Libertadores e de anos 1980. Aos 27’, Tréllez recebeu na meia lua, e, diante de tantos paraguaios à sua frente, mirou o chute para longe deles – e também do gol. O problema do Nacional era o último toque. O time abria espaços, avançava, mas não acertava o gol ou era neutralizado pela muito bem postada defesa paraguaia.

Aos 35’, o Olimpia construiu outra jogadaça. Mendoza avançou pela esquerda, passou por dois e tocou para Amarilla, que devolveu de primeira para o companheiro, este saiu em disparada ao ataque, ganhou dos marcadores, chutou e Higuita defendeu, evitando a devolução da bola para Amarilla, pronto dentro da área para dar o bote. O ataque do Olimpia mostrava o motivo de ser um dos mais letais daquela Libertadores. E não se importava nem um pouco com o campo adversário e toda a torcida contra.

A resposta do Nacional veio com mais ataques, tiros de canto e um chute perigoso de Usuriaga – imparável e absoluto na direita do ataque – aos 39’. Nos minutos finais, mais faltas que futebol, e o primeiro terminou sem gols. Foi elétrico, intenso, corrido, com grandes lances, sendo os principais do Olimpia, que fazia uma partida típica de quem tinha a vantagem em uma final de Libertadores. E ainda com o “bônus” de criar as melhores chances e não se intimidar com o rival hostil.

 

Segundo tempo – Empate e a travessura de Higuita

Usuriaga corre para comemorar: Nacional vivo!

 

Com tantos sustos sofridos na etapa inicial, o Atlético Nacional tratou de amenizar sua situação logo no primeiro minuto da volta do intervalo. Após receber um passe longo na direita, Usuriaga chutou cruzado para dentro da área esperando que algum companheiro desviasse a bola. Ninguém de verde apareceu, mas sim um jogador de branco e preto: Miño, que acabou mandando a bola para dentro: 1 a 0. Foi um prêmio por tudo o que o atacante fazia naquela partida e o suficiente para o estádio explodir! Maturana decidiu tirar Arango, um dos mais tímidos do meio de campo, e colocou Pérez, para dar mais movimentação ao ataque alviverde. 

Aos 11’, Escobar cabeceou para fora uma bola alçada pela direita na área paraguaia. Minutos depois, outra vez Usuriaga levou perigo ao chutar de fora da área e forçar o goleiro Almeida a espalmar no susto uma bola cheia de curvas e bamboleios para escanteio. Na cobrança, Perea cabeceou e Almeida fez outra defesaça, expondo um Nacional muito mais objetivo do que no primeiro tempo. Com toques rápidos, jogadas bonitas e o meio de campo mais avançado, o time da casa encurralava o Olimpia e não deixava a bola chegar em Higuita. Aos 18’, Leonel Álvarez recebeu na entrada da área, cortou o zagueiro e chutou forte. Seria um golaço, mas a bola passou perto da trave de Almeida e foi para fora.

Usuriaga foi o principal nome do ataque colombiano na partida.

 

Depois de tanto pressionar, o Nacional, enfim, fez o gol que tanto queria. Aos 20’, García mandou para a área, Miño cabeceou para cima e deu praticamente um passe para Usuriaga subir mais alto do que todo mundo e testar firme para fazer 2 a 0. Tudo igual! Loucura em Bogotá! Só que o Olimpia era perigosíssimo fora de casa. E tudo poderia acontecer. 

O jogo entrou em ritmo máximo. Cubilla colocou González no lugar de Neffa para tentar tirar seu time da defensiva, mas o Nacional era dono do jogo. E Usuriaga… Como jogava o atacante! Segundos após a mexida do Olimpia, o colombiano recebeu na direita, saiu em disparada, ganhou mais uma do marcador, foi para a linha de fundo, cruzou, mas ninguém de seu time apareceu para concluir na defesa cheia de buracos do Olimpia. Toda bola para o camisa 19 era certeza de jogada perigosa. Ou de gol, afinal, os dois do Nacional haviam passado por ele.

Nos minutos seguintes, muita correira, bolas rifadas e defesas bem postadas, com mais ações do Nacional e apenas uma do Olimpia, em escanteio que foi na mão do Higuita. Falando no arqueiro, aos 35’, ele protagonizou uma cena histórica. O Olimpia lançou uma bola para Amarilla, mas antes que ela chegasse ao atacante, Higuita, que jogava quase como um líbero, saiu do gol e tomou a redonda do adversário perto da linha lateral. Ao invés de dar um chutão, o goleiro saiu jogando como se fosse o lateral-esquerdo do Nacional! Ele passou por Amarilla, driblou outro e só foi parado no terceiro (que deu carrinho!), já no campo de defesa do time paraguaio! Era loucura total de um goleiro folclórico do futebol. A torcida ficou ensandecida com a jogada do camisa 1, que fazia uma partidaça e queria escrever seu nome na história da Libertadores.

Aos 37’, outra jogada de Leonel Álvarez pelo meio, que tocou para Usuriaga e o atacante mandou uma bola cruzada com perigo ao gol de Almeida, que deu um leve toque para desviar a redonda e evitar o gol. Um minuto depois, Fajardo surgiu pelo meio, invadiu a área, mas demorou demais para chutar e foi desarmado pela defesa paraguaia. Foi a última chance clara de gol. Nos cinco minutos finais, praticamente bola de goleiro a goleiro e nada de chutes mais incisivos, apenas chutões. A Libertadores de 1989 teria que ser decidida na marca do pênalti. E, com dois goleiros icônicos, os jogadores teriam missões complicadas pela frente…

 

Pênaltis – La leyenda de Higuita

As cobranças foram iniciadas pelo Olimpia, e coube ao goleiro Almeida bater o primeiro pênalti do time paraguaio. O arqueiro chutou rasteiro, fraco, e Higuita defendeu sem dificuldade alguma, agarrando a bola. Que início do Nacional! Escobar foi o primeiro batedor do Nacional, ouviu os conselhos de Higuita e chutou no canto oposto de Almeida para fazer 1 a 0. Benítez converteu a segunda cobrança do Olimpia e Usuriaga fez o seu, minando o famoso dito “herói no jogo, vilão nos pênaltis”. Chamas marcou o segundo gol do Olimpia “chorado”, pois Higuita acertou o canto – se fosse mais alto, o goleiro teria pegado. Jota Jota Tréllez bateu o terceiro do Nacional e fez. Mendoza manteve o Olimpia vivo. Até que García bateu mal demais e Almeida nem fez força para agarrar a bola. Tudo igual! Amarilla bateu o último chute dos paraguaios e fez 4 a 3. O último chute do Nacional era de Higuita. Se ele fizesse, a disputa continuava. Se errasse, o Olimpia ficava com a taça. El Loco chutou forte, não deu a mínima chance para Almeida e forçou as cobranças alternadas.

Higuita pega um…

 

… E mais outro: goleiro defendeu QUATRO cobranças!

 

A partir dali, a tensão aumentou ainda mais em Bogotá. González bateu e Higuita defendeu. Repórteres invadiram o gramado para registrar o momento, dando a entender que o Nacional já era campeão. A torcida aumentou o som, tremulava ainda mais as bandeiras, a festa eclodiu no estádio… Mas Pérez tinha que converter seu chute. Ele bateu e a bola explodiu no travessão… O próximo era Guasch. Ele mandou no canto esquerdo e Higuita voou mais uma vez para defender! Que jogo fazia o camisa 1! Ágil, ele conseguia se deslocar de maneira impressionante, olhando para a redonda e chamando-a para bailar. Gómez tinha a bola da América em seus pés. Ele correu, bateu e mandou para fora… Quanta angústia!

Balbuena era o batedor da vez do Olimpia. E adivinhe o que aconteceu? Higuita pegou de novo! De novo no canto esquerdo! QUATRO defesas do camisa 1! Era só o time colaborar que a América era do Nacional! Perea foi para a oitava bola. Ele chutou forte, no meio do gol, e Almeida defendeu! Por Dios! Higuita fazia tudo e os batedores não faziam nada! Até quando!? O técnico Maturana andava pra lá e pra cá, angustiado. O torcedor não acreditava. Era um verdadeiro thriller. Será que a Colômbia nunca iria vencer uma Libertadores? Por que tanto sofrimento? Oras, era a cartilha da competição. A primeira vez sempre será difícil, angustiante e com grandes chances de ir para os pênaltis – uma lição que vários clubes brasileiros aprenderam nos anos 1990 e 2000.

Sanabria era o nono batedor do Olimpia. Ele chutou alto para deslocar Higuita, mas tão alto que a bola foi para fora! Quarto erro seguido dos paraguaios! Não faltava sorte ao Nacional. Mas, poxa, os jogadores precisavam ser mais competentes! Leonel Álvarez chamou a responsabilidade. Olhou para toda aquela gente. Lembrou-se de Medellín, vidrada nos rádios e nas TVs. Não queria mais aquela tortura. Aquela indefinição. O camisa 14 bateu. E marcou. 5 a 4. O Atlético Nacional era campeão da América pela primeira vez. E o futebol colombiano campeão da América pela primeira vez na mais longa decisão por pênaltis de toda a história da Libertadores até hoje.

 

Um título suado, brigado, mas vencido com técnica e talento por um dos maiores esquadrões da história do futebol cafetero. Que consagrou uma geração inteira e inspirou uma seleção colombiana a grandes jogos nos anos 1990. Na volta para casa, o trajeto dos jogadores e comissão técnica do aeroporto até o estádio levou seis horas em meio às ruas cheias de torcedores em Medellín. Uma festa que durou dias, semanas e que foi possível graças a Higuita, Usuriaga, Escobar e todas as estrelas de um Nacional que encheu de orgulho um país inteiro.

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Atlético Nacional: o time colombiano se classificou para a disputa de Mundial de Clubes de 1989 e viajou ao Japão para enfrentar o poderoso Milan de Van Basten, Gullit, Rijkaard, Maldini, Baresi e companhia. Os colombianos não conseguiram superar os italianos, mas resistiram à força dos milanistas e perderam por apenas 1 a 0, com o gol rossonero saindo na prorrogação. No ano seguinte, os alviverdes entraram já nas oitavas de final por serem os campeões vigentes e despacharam o Cerro Porteño-PAR e o Vasco da Gama campeão brasileiro de 1989 nas quartas de final.

Nas semis, adivinhe, reencontro com o Olimpia. E os alvinegros conseguiram a revanche: vitória em casa por 2 a 1, derrota fora por 3 a 2 e triunfo nos pênaltis por 2 a 1, em novo show de erros dos cobradores, incluindo Higuita – que até fez um gol (de pênalti) no tempo normal, mas desperdiçou seu chute na decisão por penalidades.

O goleiro Almeida superou o revés de 1989 e faturou a Liberta de 1990 pelo Olimpia.

 

Olimpia: os paraguaios mantiveram a base vice-campeã da América e refizeram o caminho em busca do título perdido. Na edição de 1990, o time alvinegro passou em primeiro lugar em seu grupo e avançou direto para as quartas de final pelo fato de não haver terceiro colocado no Grupo 2, pois as equipes colombianas que deveriam estar naquela chave não disputaram a Libertadores por não haver campeão nem vice do campeonato colombiano de 1989, suspenso por causa do assassinato de um árbitro a mando do narcotráfico na época. O único clube colombiano naquele ano foi o Nacional, campeão vigente. Nas quartas de final, o Olimpia eliminou a Universidad Católica, e, nas semis, passou pelo algoz Nacional. Na decisão, vitória sobre o Barcelona-EQU e bicampeonato para os alvinegros, que também enfrentaram o Milan na final do Mundial. E também perderam, só que de goleada: 3 a 0.

 

Leia mais sobre o Atlético Nacional campeão da América clicando aqui.

Leia mais sobre o Olimpia 1988-1991 clicando aqui!

 

 

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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. Belo texto imortais , vi o video dessa final , impressionante como perderam tantos penaltis , esse foi o 1 titulo da libertadores conquistada por 1 clube colombiano e com suspeitas que com financiado com dinheiro do narco trafico . entre as torcidas colombianas é comentado esse assunto. mas pela final , foi merecido ser imortalizado.

    outros colombianos merecem ser imortalizados , America de Cali pelo tri vice campeoanto da libertadores , 85,86,87, tb foram penta campeões colombianos de 82 a 86 , era um timaço , infelizmente foi financiado pelo cartel , como a maioria dos clubes colombianos na epoca , mas era grande equipe.

    Once caldas – a maior zebra da historia da libertadores – clube considerado pequeno na colombia , montou time competitivo , com uma defesa solida e superou 3 grandes santos , sp e boca e quase venceu o porto , estando 1 penalti da gloria , merece ser imortalizado , zebra como essa nunca mais !!!

Craque Imortal – Okocha

Esquadrão Imortal – Boavista 2000-2001