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Esquadrão Imortal – Bahia 1959-1962

Em pé: Nadinho, Leone, Henrique, Flávio, Vicente e Beto. Agachados: Marito, Alencar, Léo, Bombeiro e Biriba.
Em pé: Nadinho, Leone, Henrique, Flávio, Vicente e Beto. Agachados: Marito, Alencar, Léo, Bombeiro e Biriba.

 

Grandes feitos: Campeão da Taça Brasil (1959) e Tetracampeão do Campeonato Baiano (1959, 1960, 1961 e 1962). Foi o primeiro clube a vencer uma competição nacional no Brasil e o primeiro clube brasileiro a disputar uma Copa Libertadores na história.

Time-base: Nadinho (Jair); Leone (Nenzinho), Henrique, Vicente e Beto (Florisvaldo); Flávio e Ari (Mário / Bombeiro); Marito, Alencar, Léo (Carlito / Didico) e Biriba (Carioca). Técnicos: Geninho (1959), Carlos Volante (1960), Armando Simões (1961) e Pinguela (1962).

 

“Os Pioneiros do Brasil”

Por Guilherme Diniz

Eles já eram uma força em seu estado. Com poucas décadas de vida, ainda buscavam um reconhecimento maior. E a oportunidade surgiu em 1959. Com a criação da primeira grande competição nacional da história, a Taça Brasil, o Tricolor de Aço poderia apresentar seu futebol a um público inédito. Claro que ninguém apostava no time baiano. As fichas eram depositadas no Vasco de Bellini e no Santos do jovem Pelé, de apenas 18 anos, mas já campeão do mundo com a seleção no ano anterior. Pois o tricolor foi superando seus desafios jogo a jogo até chegar à final. O adversário? Exatamente o Santos. E, diante da temida Vila Belmiro, o Bahia foi sem medo. E venceu. Veio o jogo de volta, em casa. E o Santos deu o troco. Uma terceira partida foi necessária. Campo neutro: Maracanã.

E, no “maior do mundo”, o Bahia foi enorme. Venceu. E conquistou o primeiro título brasileiro da história. De quebra, se tornou o primeiro representante do país na Copa Libertadores da América, cuja primeira edição foi realizada em 1960. Leone, Beto, Vicente, Flávio, Alencar, Léo e companhia entraram de vez para a história do clube e do futebol nacional. Nos anos seguintes, o tricolor ainda dominou o Campeonato Baiano e quase faturou o bi da Taça Brasil. Foram anos mágicos, que apresentaram a vocação do clube para ser o soberano do nordeste, alcunha que seria realçada em 1988. É hora de relembrar.

 

No embalo da Fonte Nova

A inauguração da Fonte Nova na década de 1950 transformou para sempre a história do Bahia.

 

Fundado em 1931, o Bahia já era um dos mais fortes times do estado naqueles anos 1950. E tal condição aumentou ainda mais a partir de 1951, com a inauguração do Estádio Octávio Mangabeira, conhecido nacionalmente como Fonte Nova. Naquela época, o tricolor rivalizava pelos títulos com o Ypiranga, o Galícia e o Botafogo. O Vitória, que só passou a dar mais importância ao futebol em 1953, ainda não era o grande oponente do Bahia na época, embora tenha vencido os campeonatos baianos de 1953, 1955 e 1957 e passado a encarar com mais afinco o tricolor justamente na “era Fonte Nova”. Clássico mais caçula do Brasil, o Ba-Vi se tornou mais frequente naquela década de 1950 e a dupla começou a dominar o torneio estadual. Até que, a partir de 1958, o Bahia iniciaria uma hegemonia marcante e inédita na competição.

O clube queria aproveitar o novo estádio para ampliar sua força no estado e se reforçou com grandes contratações. Chegaram o zagueiro Henrique, vindo da Portuguesa-RJ, Léo Briglia (que havia passado pelo Vitória), Alencar (revelado pelo Ceará e contratado em 1959 pelo Bahia), o habilidoso ponta-esquerda Carioca (ex-Cruzeiro), o volante Flávio (ex-Palmeiras e revelado no Fluminense de Feira de Santana), o defensor Leone (ex-Flamengo) e o lateral e defensor Beto (com passagens por Flamengo, Botafogo e Vasco). Além deles, o time já contava com Carlito, matador e que se tornaria o maior artilheiro da história do Bahia, Marito (no clube desde 1953) e Biriba.

Alencar, um dos principais nomes do ataque baiano.

 

O prenúncio de que as contratações foram certeiras aconteceu já em 1958, com o título do Campeonato Baiano após vitórias nos dois primeiros turnos e na decisão final contra o Vitória por 2 a 0. Um ano antes, em 1957, o clube ainda protagonizou uma grande “zebra” ao vencer o Benfica-POR em amistoso disputado na Fonte Nova por 4 a 1, com um time formado por jovens, além de Florisvaldo, Biriba e Bombeiro entre os titulares. E um detalhe: o Benfica já tinha em seu plantel nomes que fariam história no esquadrão bicampeão europeu nos anos 1960 com Coluna, Águas e Cavém! Mas o grande momento seria mesmo em 1959. E muito por causa de um novo torneio no calendário nacional criado pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF): a Taça Brasil.

 

Enfim, um torneio brasileiro

O primeiro troféu da Taça Brasil.

 

O Brasil já era campeão do mundo, tinha uma quantidade absurda de craques, clubes que cresciam a cada ano, mas nenhum torneio nacional que tivesse pelo menos as principais equipes do país duelando entre si. Só em 1959 que a CBD decidiu tirar do papel uma ideia que vinha desde 1954 e acabar com aquela lacuna vazia criando a Taça Brasil, para suplantar o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, disputado desde 1922 no país. A competição teria 16 clubes, todos campeões estaduais no ano anterior, divididos por zonas: Norte, Nordeste, Leste e Sul. Os campeões de São Paulo e Rio de Janeiro só entrariam na reta final. O sistema de competição era mata-mata, com jogos de ida e volta sem critérios de gols, apenas de pontos. Se após dois jogos as equipes estivessem empatadas em pontos, por exemplo, haveria jogo extra para definir o classificado.

Vicente, um dos polivalentes do elenco tricolor.

 

O Bahia teria o caminho mais longo se quisesse ser campeão – embora fosse algo “improvável” diante dos gigantes Vasco e Santos, favoritos não só por entrarem apenas na reta final como pelos jogadores que tinham (os cruzmaltinos contavam com Bellini, Sabará, Almir Pernambuquinho e o técnico Yustrich, enquanto o Santos já possuía a espinha dorsal do time que iria encantar o mundo nos anos 1960 com Dalmo, Zito, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe). Para ser campeão, o time baiano teria que superar pelo menos uma dezena de jogos. E ainda duelar contra um (ou até os dois!) dos gigantes na reta final. Será que o tricolor tinha tanto brio assim?

 

A caminhada nacional

O Bahia iniciou sua campanha no grupo Nordeste, ao lado de CSA (campeão alagoano), ABC (campeão potiguar) e Ceará (campeão cearense). O tricolor enfrentou o CSA no primeiro jogo, em Alagoas, e goleou por 5 a 0, e coube ao atacante Alencar marcar o primeiro gol da história da Taça Brasil – ele fez três, os outros dois foram de Léo e Carioca. Na partida de volta, em Salvador, o Bahia venceu por 2 a 0 (gols de Marita e Léo) e avançou sem problemas para a “final” do grupo Nordeste contra o Ceará. Na ida, em Fortaleza, empate sem gols. Na volta, em Salvador, novo empate – 2 a 2. Só no jogo extra que o Bahia conseguiu a vitória por 2 a 1, com o gol marcado por Léo há três minutos do fim da prorrogação.

Na segunda fase, na chamada Zona Norte, o Bahia enfrentou o Sport, que havia despachado o Auto Esporte-PB e a Tuna Luso-PA na primeira fase. No duelo de ida, o Bahia venceu de virada os pernambucanos por 3 a 2, com gols de Marito, Biriba e Ari. Mas, na volta, o tricolor sofreu uma derrota inexplicável: 6 a 0, resultado que forçou um terceiro jogo na mesma Ilha do Retiro, palco da surra rubro-negra. Quatro dias depois, o Bahia se recompôs, conseguiu neutralizar as investidas do rival e venceu na casa do leão por 2 a 0, gols de Biriba e Léo. O Bahia estava na semifinal! Só que o time não tinha mais margem para erros. Afinal, o adversário seguinte era o Vasco da Gama, um dos favoritos ao título, com o primeiro jogo marcado para o Maracanã. Seria um teste de fogo para os tricolores. Tudo bem que eles haviam superado um duro revés contra o Sport e vencido na casa do rival, mas não se comparava ao poder do cruzmaltino, à sua tradição. E jogar no maior do mundo também seria uma tarefa bastante difícil. Será que eles tinham chance?

 

É o Tricolor de Aço!

 

No dia 19 de novembro de 1959, o Bahia encarou o Vasco no Maracanã e mostrou que estava mesmo pronto para fazer história. Jogando com muito entrosamento e sem medo, o tricolor venceu por 1 a 0, gol de Alencar. A vitória encheu os baianos de confiança, mas o Vasco conseguiu vencer o rival por 2 a 1, na Fonte Nova, e forçou o terceiro jogo, também na casa do Bahia. E, nele, um belo gol de Léo, que arriscou de longe e mandou a bola no ângulo do goleiro Miguel, decretou a vitória por 1 a 0 e a classificação histórica do Bahia à final. Sem modéstia, Léo relembrou sobre a união daquele time na época.

 

“Sabíamos que nossa equipe também era boa, com jogadores como Flávio, Henrique, Mário, Vicente, Beto. E eu, claro, que era um craque de futebol. Joguei sete anos no Fluminense e o Telê Santana era meu amigo. Ele falava para todo mundo disso, dizia que eu era craque”. – Léo, atacante do Bahia em 1959, em entrevista a Paulo Favero, do Estadão, 15 de dezembro de 2010.

 

Faltava apenas um desafio para o título inédito e histórico. E seria o maior de todos: o Santos de Pelé.

 

Bahêa Imortal!

O Bahia sabia da força do Santos, mas a confiança no título era grande. Além disso, a imprensa não olhava mais com desdém para os baianos após as vitórias sobre o Vasco. O time era forte ofensivamente, tinha jogadores polivalentes e não hesitava em atacar fora de casa. Por isso, tudo podia acontecer no duelo de ida, na Vila Belmiro. Mas é claro que o Santos era favorito. Ainda mais com Pelé, Pepe, Coutinho e Dorval no ataque e Jair Rosa Pinto e Zito municiando aquele quarteto intempestivo. Logo aos 15’, Pelé deixou o seu. Aos 26’, Biriba empatou para o Bahia. No comecinho do segundo tempo, Alencar virou. Pepe, de pênalti, empatou para o Peixe. Mas Alencar fez 3 a 2 faltando um minuto para o fim do jogo e decretou a vitória tricolor em pleno alçapão santista. Bastava um empate na Fonte Nova para o Bahia faturar um título impressionante!

Uma das formações do Bahia: equipe podia jogar com apenas dois homens atrás e cinco mais avançados graças à polivalência de Vicente, Leone e Beto.

 

Vinte dias depois, a Fonte Nova lotou para o duelo entre paulistas e baianos. Mas, a exemplo do que aconteceu contra o Vasco, o Bahia perdeu de novo em seus domínios: 2 a 0, gols de Pelé e Coutinho. O campeão teria que ser conhecido em jogo extra, disputado em campo neutro. A princípio, a partida seria realizada no dia 30 de dezembro, mas como o Santos tinha excursão marcada para aquela época, os clubes concordaram em postergar a decisão para o dia 29 de março de 1960, no Maracanã.

Pepe e Vicente durante a partida final, no Maracanã.

 

Durante esse hiato, mais precisamente no final de fevereiro de 1960, o Bahia levou um susto quando o técnico Geninho decidiu voltar para o Rio de Janeiro alegando saudades de sua casa e abandonou o posto de treinador do clube. A diretoria teve que se virar para encontrar um novo comandante e fechou com o argentino Carlos Volante, após algumas especulações de que Gentil Cardoso seria o técnico tricolor. Volante estreou com uma goleada de 5 a 0 sobre o Ypiranga e tentou mudar a sede da partida final da Taça Brasil para a Fonte Nova, mas o Maracanã foi mesmo o escolhido como palco da decisão.

Outra vez o Santos era tido como favorito mesmo com a vitória tricolor no primeiro duelo. Mas o time baiano ganhou um “reforço”: Pelé, com uma inflamação nas amígdalas, não iria jogar. Mesmo sem ele, o Peixe tinha Coutinho, Pepe e Pagão, uma linha de frente quase imparável. O Bahia foi a campo com o que tinha de melhor, principalmente a linha de frente com Marito, Alencar, Léo e Biriba. E, quando a bola rolou, o Maraca viu um jogo elétrico, bastante pegado e com jogadas ríspidas. Aos 27’, Coutinho abriu o placar para o Santos após tabelar com Pagão. O “Professor da Pequena Área” era mesmo implacável!

Mas o Bahia não se abateu. Com passes rápidos e toques de primeira, o time tricolor queria pegar o Santos desprevenido e armava jogadas difíceis de serem neutralizadas. E, aos 37’, Vicente cobrou falta e empatou o jogo: 1 a 1. No segundo tempo, com menos de um minuto, Léo virou o jogo para o Bahia! Nervosos, os santistas partiram pra cima na bola e na sola da chuteira e o juiz expulsou Getúlio e Formiga. Escapando com sutileza das faltas, o Bahia conseguia manter a vantagem e a ampliou aos 31’, quando Léo, totalmente desmarcado, tocou para Alencar girar e bater sem chance alguma para o goleiro: 3 a 1. Na sequência, Dorval também foi expulso e, com apenas oito jogadores, o Santos teve que reter a bola para evitar uma goleada. Ao apito do árbitro, estava consolidada a epopeia tricolor: campeão da primeira Taça Brasil da história, primeiro campeão nacional.

Os santistas tentaram encontrar explicações, culpando as excursões para a Europa e a fadiga de vários atletas, mas o fato é que o Bahia foi dono do jogo. Criou as melhores chances. Mandou bolas na trave. E queria muito mais ser campeão. O técnico Volante, em entrevista aos jornais da época e reproduzida no site Futebol Portenho, foi categórico: “o Bahia entrou em campo para vencer, estava vencendo, tudo indicava que venceria, e nisso tudo, só sinto que os jogadores do Santos tenham agido daquela forma, empanando a vitória que reputo a mais brilhante do futebol baiano em todos os tempos”.

Beto, capitão do Bahia na finalíssima.

 

Marito, já de roupa trocada, e Beto, de uniforme, posam com o troféu da Taça Brasil. Foto: Arquivo Correio da Manhã.

 

 

Léo, artilheiro da Taça Brasil de 1959.

 

O Bahia disputou 14 jogos, venceu nove, empatou dois, perdeu três, marcou 25 gols e sofreu 18. Léo, com oito gols, foi o artilheiro da competição, seguido de Alencar, com seis. A festa em Salvador foi gigantesca e o Brasil conheceu, enfim, o EC Bahia. De quebra, o clube seria o primeiro brasileiro a disputar a recém-criada Copa Libertadores da América, cuja primeira edição iria acontecer naquele ano de 1960.

 

Da América para a soberania estadual

A primeira Libertadores da história teve apenas sete times: Peñarol (campeão uruguaio), San Lorenzo (campeão argentino), Jorge Wilstermann (campeão boliviano), Universidad de Chile (campeão chileno), Millonarios (campeão colombiano), Olimpia (campeão paraguaio) e, claro, o Bahia, campeão brasileiro. Haveria também o Universitario (campeão peruano), mas o time desistiu de participar e acabou beneficiando o Olimpia, seu adversário, que foi direto para as semifinais. O sistema de eliminação era simples: os seis times foram divididos em três “grupos”, e cada dupla iria se enfrentar em jogos de ida e volta com os gols marcados como fator desempate. O Bahia manteve a base campeã nacional e teve pela frente o San Lorenzo, do artilheiro José Sanfilippo. E ele foi crucial para a classificação do ciclón ao marcar um dos gols da vitória por 3 a 0 na ida, em Buenos Aires, e marcar os dois gols na derrota por 3 a 2 na volta, insuficiente para eliminar os argentinos.

Jornal argentino destaca o duelo entre San Lorenzo e Bahia.

 

Mesmo com a eliminação, o Bahia foi apresentado a um de seus grandes ídolos do futuro, pois Sanfilippo iria jogar no tricolor anos depois e marcar época conquistando dois títulos estaduais nos anos 1970. Mesmo com os compromissos pela Taça Brasil e a disputa da Libertadores, o Bahia não baixou a guarda no Campeonato Baiano e conquistou os títulos de 1959 e 1960. Ainda em 1960, o tricolor passou pelas duas primeiras etapas da Taça Brasil após superar Santa Cruz e Capelense-AL, mas perdeu para o Fortaleza a vaga na semifinal e não conseguiu brigar pelo bicampeonato – o título daquele ano ficou com o Palmeiras de Julinho Botelho e do técnico Osvaldo Brandão.

Até que, em 1961, o Bahia voltou com tudo. No Estadual, emendou um tetracampeonato após faturar os dois turnos e ainda a final contra o Botafogo SC. Destaque maior para Alencar, artilheiro do torneio com 12 gols. E, na Taça Brasil, o tricolor fez uma grande campanha que o levou a mais uma decisão. A equipe eliminou Santa Cruz (vitórias por 2 a 0 e 3 a 1), CSA (vitórias por 3 a 0 e 1 a 0), Fortaleza (vitórias por 2 a 0 e 3 a 2) e Náutico (empate em 0 a 0 e vitória por 1 a 0) até reencontrar o Santos, derrotado lá em 1959. No entanto, o peixe estava ainda mais forte e com o time que seria bicampeão da América e do mundo nos dois anos seguintes. Aí não teve jeito: empate em 1 a 1 na ida, na Fonte Nova, e vitória santista por 5 a 1 na volta, no Pacaembu, com três gols de Pelé e dois de Coutinho.

 

O inédito penta e o fim

Em 1962, o Bahia venceu mais um título estadual e consolidou um inédito pentacampeonato baiano, algo jamais visto no estado na época e que só seria superado pelo próprio Bahia com o heptacampeonato entre 1973 e 1979. Mais do que isso, o clube construiu uma hegemonia marcante no clássico Ba-Vi entre agosto de 1958 e março de 1963. Foram 21 jogos, com 12 vitórias, oito empates e apenas uma derrota, além de 12 jogos de invencibilidade entre agosto de 1958 e dezembro de 1960 com direito a três goleadas: dois 4 a 1 e um 5 a 1.

Já enfraquecido e sem os jogadores que fizeram história entre 1959 e 1961, o time ainda alcançou outra final de Taça Brasil em 1963, mas perdeu novamente para o Santos de Pelé: derrotas por 2 a 0 (em casa) e 6 a 0 (fora). Nos anos seguintes, o Bahia passou por uma entressafra, perdeu a hegemonia no estado e só foi viver um novo período de glórias nos anos 1980, quando faturou o Campeonato Brasileiro de 1988 ao derrotar o Internacional de Taffarel e fazer a festa da torcida tricolor, que comemorou como nunca a segunda taça nacional do clube. Mas isso só foi possível graças ao feito do time lá de 1959, que quebrou barreiras, desconfianças e derrubou gigantes para entrar na história do futebol brasileiro. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Nadinho: um dos maiores goleiros da história do Bahia, Nadinho se impunha com os quase 1,90m de altura e excelente posicionamento, que evitava pulos desnecessários. Jogou durante 10 anos no tricolor, entre 1958 e 1968, e esteve presente em todos os grandes momentos daquele esquadrão. Por causa do bom senso de colocação, era especialista em defender chutes de fora da área.

Jair: muito tranquilo e com bom senso de colocação, o goleiro foi titular em vários jogos do Bahia entre 1956 e 1963, mas acabou perdendo a posição para Nadinho na campanha da Taça Brasil de 1959.

Leone: capitão do Bahia na histórica conquista de 1959, Leone é considerado até hoje o maior lateral-direito da história do clube. Prova disso foi seu desempenho impecável nas finais contra o Santos, quando teve a ingrata missão de marcar Pepe, o “canhão da Vila”. E Leone o fez com maestria. Antes de passar pelo tricolor, o jogador brilhou no Flamengo, pelo qual conquistou os títulos cariocas de 1953, 1954 e 1955. Leone não disputou a última partida da final por ter deixado o clube por motivo até hoje não claro e ido morar no Rio de Janeiro. No entanto, o defensor fez questão de comemorar a taça com a diretoria e jogadores.

Nenzinho: alto e forte, se impunha perante os rivais e podia atuar como lateral-esquerdo e também zagueiro. Jogou de 1958 até 1960 no tricolor.

Henrique: o zagueirão chegou em 1957, após grandes jogos pela Portuguesa do Rio de Janeiro. Vestiu a camisa 3 do Bahia por quase 10 anos e em 405 jogos. Um dos principais jogadores da conquista da Taça Brasil de 1959, faturou ainda os títulos estaduais de 1958, 1959, 1960, 1961 e 1962. O “Gigante de ébano”, apelido cunhado pelo radialista baiano Carlos Lima, numa referência a cor e ao seu tamanho, era imbatível pelo alto e demonstrava muita eficiência nos desarmes. Henricão se distinguia pela lealdade e nunca utilizava o porte físico para intimidar os adversários.

Beto: atuava como lateral-direito e também como lateral-esquerdo e foi outro jogador de destaque naquele Bahia imortal. Vinha de passagens pelo Flamengo, Vasco e Botafogo até chegar ao Bahia em 1959. Foi titular na finalíssima contra o Santos e usou a braçadeira de capitão com a ausência de Leone. Ficou até 1960 e se aposentou.

Vicente: defensor muito técnico, foi titular em quase todos os jogos do time na campanha da Taça Brasil de 1959, seja na zaga, na lateral ou como primeiro volante. É um dos mais importantes jogadores da história do clube e presente em várias escalações dos melhores de todos os tempos do Bahia. Jogou de 1956 até 1962 no clube.

Florisvaldo: lateral-esquerdo cria das bases do Bahia, foi peça importante em vários jogos do time e jogou entre 1954 e 1967 no tricolor. Não chegou a jogar na conquista da Taça Brasil de 1959 por causa da pouca idade. Rápido, habilidoso e dono de um chute poderoso, foi referência da equipe em quase toda a década de 1960. Para muitos, é o maior lateral-esquerdo da história do Bahia.

Flávio: volante eficiente na marcação, veio do Palmeiras em 1959 após conquistar o título Paulista e foi um dos destaques na campanha do título nacional daquele ano no tricolor. Fez uma boa dupla com Vicente quando o Bahia jogava no 4-2-4 e era eficiente quando o time jogava com três homens no meio. Podia atuar, também, como zagueiro.

Bombeiro: chegou já como 30 anos ao Bahia, mas deu conta do recado com sua experiência e força na marcação. Tinha características mais defensivas e não saía tanto para o jogo.

Mário: o “maestro” foi um dos principais meias de articulação do time tricolor naquela era de ouro. Driblava como poucos e dava passes precisos aos companheiros. Jogou de 1959 até 1966 no Bahia e marcou 53 gols pelo tricolor.

Ari: titularíssimo do Bahia, articulava as jogadas no meio de campo e foi um dos destaques da campanha na Taça Brasil de 1959. Tinha amplo domínio de bola e qualidade no passe. Revelado pelo Botafogo, se contundiu contra o Vasco e acabou de fora das finais contra o Santos. Jogou de 1958 até 1962 no tricolor.

Marito: era o “Garrincha do Bahia” pela habilidade e velocidade na ponta-direita do tricolor naquela era de ouro. Aplicava dribles impiedosos nos rivais e levava a torcida à loucura. Foram 10 anos de clube – de 1953 até 1963 – e marcou 60 gols em 261 jogos.

Alencar: com arranques, velocidade e chutes poderosos, foi um dos principais atacantes do Bahia e é o 9º maior artilheiro da história do clube com 116 gols. Quase foi vendido ao Flamengo durante a campanha da Taça Brasil de 1959, mas o presidente do Bahia na época evitou a ida do jogador. Melhor para o tricolor, que contou com seu artilheiro até as finais e foi campeão.

Léo: artilheiro nato e polêmico, foi outro grande nome daquele Bahia. Jogava tanto que só não foi para a Copa do Mundo de 1958 por causa de uma lesão no joelho. Léo Briglia fez gols importantes na reta final da campanha do título da Taça Brasil de 1959, na qual foi o artilheiro com oito gols. Anotou 77 gols pelo Bahia.

Carlito: o “matador” e maior artilheiro da história do Bahia com 253 gols, Carlito acabou ofuscado pela boa fase dos companheiros de ataque na época, e, já veterano, foi reserva de Léo. Cria das categorias de base do clube, jogou de 1949 até 1961 no tricolor.

Didico: centroavante, foi um dos goleadores do time a partir de 1961, sendo peça importante nos títulos estaduais do período. Marcou 45 gols entre 1961 e 1963.

Biriba: começou a carreira como ponta-direita, mas foi na ponta-esquerda que ele fez história com a camisa do Bahia. Se tornou o 10º maior artilheiro da história do clube com 113 gols. Habilidoso e rápido, era uma importante arma no ataque do time do técnico Geninho.

Carioca: o ponta-esquerda iria brigar pela vaga de titular com Biriba, mas uma discussão com a direção do Bahia, somada às saudades que o jogador sentia da família, abreviaram sua passagem no clube, que durou poucos meses.

Geninho, Carlos Volante, Armando Simões e Pinguela (Técnicos): Geninho foi o grande responsável por armar o Bahia e fazer do time campeão brasileiro em 1959. Explorando o melhor de seus jogadores e com uma tática bastante ofensiva, deslocou Biriba para a esquerda, aproveitou a polivalência de Beto, Vicente e Flávio e conseguiu ter várias alternativas de jogo para diferentes adversários. Sua saída deixou muita gente desconfiada de que o clube poderia bater o Santos no Maracanã, mas o técnico Volante conseguiu manter a base e faturou a taça. Os treinadores seguintes mantiveram a hegemonia no estado, mas não repetiram a dose no torneio nacional.

Em 1988, Bahia repetiu a dose e faturou outro título brasileiro.

 

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