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Jogos Eternos – Santos 0x4 Barcelona 2011

 

Data: 18 de dezembro de 2011

O que estava em jogo: o título do Mundial de Clubes da FIFA de 2011.

Local: International Stadium Yokohama, em Yokohama, Japão.

Público: 68.166 pessoas

Árbitro: Ravshan Irmatov (UZB)

Santos FC: Rafael; Bruno Rodrigo, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Henrique, Danilo (Elano, aos 30’ do 1º T) e Paulo Henrique Ganso (Ibson, aos 38’ do 2º T); Borges (Alan Kardec, aos 33’ do 2º T) e Neymar. Técnico: Muricy Ramalho.

FC Barcelona: Víctor Valdés; Puyol (Fontàs, aos 39’ do 2º T), Piqué (Mascherano, aos 10’ do 2º T) e Abidal; Sergio Busquets, Xavi e Iniesta; Daniel Alves, Fàbregas e Thiago (Pedro, aos 33’ do 2º T); Messi. Técnico: Josep Guardiola.

Placar: Barcelona 4×0 Santos. Gols: (Messi-BAR, aos 17’, Xavi-BAR, aos 23’ e Fàbregas-BAR, aos 44’ do 1º T; Messi-BAR, aos 37’ do 2º T).

 

“O Recital Blaugrana”

 

Por Guilherme Diniz

 

O assunto dominava os programas futebolísticos desde a consumação dos campeões da Libertadores e da Liga dos Campeões da UEFA. A expectativa era gigantesca. E, quando ficou definida a final, aí que todos ficaram em polvorosa. No dia 18 de dezembro de 2011, iria acontecer o tão esperado duelo entre o Barcelona de Guardiola e o Santos de Neymar na final do Mundial de Clubes da FIFA. Muitos acreditavam em um duelo parelho, cheio de alternativas, times jogando para frente e o confronto entre o brasileiro sensação daquele ano (Neymar) contra o argentino Lionel Messi, em fase esplendorosa. Só que, quando a bola rolou, tudo mudou. Ou melhor, aconteceu o óbvio. O Barcelona tomou para si a bola e não devolveu mais ao adversário. A redonda só circulou por um lado do campo. E, em apenas 45 minutos, foi construído o seguro placar de 3 a 0 dos catalães com requintes de crueldade. O Santos simplesmente não viu a bola. Bem, viu a todo momento, mas longe de seus pés. Nem três zagueiros foram suficientes para frear o rival. Neymar? Bem marcado, não conseguia criar nem tabelar com seu parceiro, Paulo Henrique Ganso.

O clube que desde os tempos de Pelé ficou marcado como o de maior pontaria do planeta nem sequer teve como mirar. No segundo tempo, a intensidade voraz dos catalães diminuiu e eles fizeram apenas mais um gol. Talvez por respeito, não explicitar tanto suas qualidades, embora nem precisasse. Não foi apenas um título. Apenas uma vitória. Foi a maior partida do maior esquadrão deste século. Um jogo aplastante. O que Xavi, Iniesta, Fàbregas, Messi, Thiago, Daniel Alves e companhia fizeram foi um recital de futebol. Os jogadores alvinegros reconheceram após o jogo que eles “aprenderam como o futebol é jogado”. Em determinado momento, o Barça teve 76% de posse de bola. Terminou com 71%. Até o técnico blaugrana Pep Guardiola ficou estupefato com o que seu time fez naquela noite no Japão, dia no ocidente. É hora de relembrar o apogeu de um dos maiores esquadrões de todos os tempos.

 

Pré-jogo

O “sêxtuplo” do Barça em 2009: clube catalão não tinha rivais na época.

 

Desde 2009 que a Europa e o mundo tinham um protagonista no futebol: o Barcelona de Guardiola. Empilhando (muitas) taças a cada ano, a equipe espanhola contagiava a todos com um futebol primoroso e que inspirou a Espanha às conquistas da Eurocopa de 2008 e da Copa do Mundo de 2010. Na temporada 2010-2011, os blaugranas pareciam ter alcançado o auge com o nível crescente de suas atuações, em especial nos duelos contra o rival Real Madrid – que virou um saco de pancadas tanto no Campeonato Espanhol quanto na Liga dos Campeões da UEFA -, vencida pelo Barça com triunfo sobre o rival na semifinal e vitória categórica sobre o Manchester United de Alex Ferguson por 3 a 1, em Wembley. Com Puyol, Daniel Alves, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi, Pedro e Villa em pura sintonia, aquele Barça já era considerado o maior esquadrão do século XXI. Mas tal rótulo só seria consolidado se eles vencessem mais um Mundial de Clubes da FIFA.

Manchester e Barça fizeram uma final europeia histórica em 2011. Foto: Getty Imagens.

 

Com reforços pontuais, o time do Camp Nou seguiu competitivo até dezembro e enfrentou o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, na última partida antes da viagem para o Japão. O Real entrou novamente com “sangue nos olhos” diante dos fabulosos blaugranas e até abriu o placar com Benzema, com apenas um minuto de jogo, após falha de Valdés. Mas aquele seria apenas um acidente de percurso. Alexis Sánchez empatou, aos 30´, Xavi virou, aos 8´ do segundo tempo, e Fàbregas ampliou, aos 21´, em outra exibição apoteótica. O time colocou de novo o Real Madrid na roda e encheu de brilho os olhos dos amantes do futebol arte. Era o estímulo necessário para uma tranquila e embalada viagem ao Oriente.

Já o Santos vinha em ascensão desde 2010, com a conquista da Copa do Brasil, que carimbou o passaporte para a Libertadores de 2011. Nela, o time contou com o brilho da dupla Ganso e Neymar e faturou o torneio continental com vitória por 2 a 1 sobre o Peñarol-URU, no Pacaembu, encerrando um jejum de mais de quatro décadas e coroando Neymar como principal revelação do futebol brasileiro em muitos anos. Só que, por mais que o Santos fosse um time competitivo, ele não teria chance alguma contra o Barcelona. Claro que a mídia tentava encontrar pontos fracos no time espanhol, usava os exemplos dos brasileiros que haviam vencido o Mundial recentemente – o São Paulo, em 2005, e o Internacional, em 2006 – como fórmula mágica, etc. Uns diziam até que Neymar levava vantagem sobre Messi por se movimentar mais e por Messi só ter a perna esquerda (HAHAHA, rindo alto aqui). Pura falácia…

Neymar explode após abrir o placar na decisão da Libertadores.

 

Pois bem. A vitória sobre o Real antes do embarque foi um alerta para o técnico Muricy Ramalho. Após vencer o Kashiwa Reysol-JAP na semifinal e garantir a vaga na final, o treinador decidiu escalar Bruno Rodrigo na lateral-direita e Danilo mais avançado, quase como um meia, ao lado de Ganso, enquanto Henrique e Arouca seriam os volantes, como forma de dar mais proteção ao setor direito. Isso na teoria, pois na prática a tática seria um 3-5-2, com os recuos de Bruno Rodrigo à zaga e Danilo para a lateral. Do lado do Barça, a equipe, sem vários titulares, goleou o Al-Sadd, do Catar, por 4 a 0, com gols de Adriano (2), Maxwell e Keita. Nesse jogo, a baixa foi o atacante David Villa, que sofreu uma fratura na tíbia e iria desfalcar o Barça por pelo menos seis meses.

Villa se machucou na semifinal e desfalcou o Barça na decisão.

 

Mesmo sem o atacante, o time catalão foi com praticamente sua força máxima para a decisão. Thiago iria compor a linha mais ofensiva do meio de campo ao lado de Fàbregas e Daniel Alves, que teria um papel bem mais ofensivo, quase como um ponta-direita, enquanto Puyol, Piqué e Abidal seriam os defensores de ofício. Busquets seria o volante central, com Xavi e Iniesta na criação de jogadas e Messi como único atacante lá na frente, embora todos daquele time pudessem atacar. O duelo era tido como a maior final de Mundial dos últimos tempos e a expectativa era de um duelo histórico.

Com quase 70 mil torcedores no estádio de Yokohama, o cenário era belíssimo na noite japonesa. No túnel antes do jogo, as câmeras não escondiam os protagonistas Messi e Neymar. Eles subiram lado a lado. Messi demonstrava seu semblante concentrado, pronto para arrebentar. Neymar estava um pouco nervoso e olhava para o rival como quem olha para um ídolo. E isso era nítido em outros jogadores santistas. Por mais profissionais que eles fossem, eram humanos. Poxa, eles iriam enfrentar um time espetacular, que certamente viam pela TV há muito tempo. Claro que haveria aquela admiração, o respeito. Os blaugranas estavam na deles, conscientes de que precisavam reverter o retrospecto negativo do Barcelona diante de brasileiros em Mundiais (dois jogos, duas derrotas). Os atletas vestiam por cima do uniforme uma camiseta personalizada com os dizeres “Fuerza Guaje”, em homenagem a David Villa, e, na hora de os capitães Edu Dracena e Puyol participarem da escolha da bola ou campo, o Barça ficou com a bola… Ali, o Santos começou a perder a final.

 

Primeiro tempo – O show

Tudo o que o Santos não precisava era o Barcelona dar a saída de bola. Com os blaugranas no domínio, como tirar a redonda deles? Praticamente impossível. Se Real Madrid, Bayern, Manchester United e dezenas de clubes do planeta não conseguiam, como o Santos iria conseguir? A equipe brasileira tentou interceptar os rivais com duas faltas em dois minutos, uma delas em Messi, após escapar de três marcadores. O Santos havia começado o jogo no esquema 4-4-2, mas em apenas três minutos ele virou 3-5-2, com Bruno Rodrigo voltando à zaga e Danilo retornando para a lateral-direita. Aos 4’, Daniel Alves cruzou bem para a área e Bruno Rodrigo tirou. Só o Barça jogava. Daniel Alves era ponta-direita, nem se incomodava em jogar na lateral, pois não havia quem marcar. A bola era toda do time catalão. E, com Puyol cobrindo o setor direito da zaga, tudo estava sob controle. 

Aos 7’, um passe errado de Daniel Alves possibilitou um contra-ataque santista. A bola ficou com Neymar, mas ele não conseguiu passar pela zaga rival, na primeira chance do Santos no jogo. Aos 10’, ataque pressão do Barça com seis atletas. O time acuava o Santos em seu campo de defesa de maneira claustrofóbica. Com a bola, os blaugranas pareciam realizar uma coreografia, só esperando o momento exato para o movimento final, da finalização. Praticamente o time inteiro ficava no campo do Peixe. Eram 21 jogadores de um lado e o goleiro Valdés do outro! Aos 12’, Messi passou por Henrique, chutou, Rafael defendeu, Fàbregas pegou o rebote e o goleiro santista interveio de novo. Aos 13’, Piqué derrubou Borges no bico da área, pela direita. Chance para o Santos. Na cobrança ensaiada, Ganso chutou para fora. Aos 15’, Neymar foi conduzindo a bola desde o meio de campo, levou um choque de Daniel Alves e caiu. O brasileiro pediu falta, mas o árbitro não caiu na conversa do garoto. 

Até que, aos 17’, o mundo parou. Xavi estava na entrada da área santista e recebeu uma bola meia quadrada, de difícil domínio. Como senhor do tempo, o espanhol dominou a bola com uma classe simplesmente estonteante, arrebatadora. Os torcedores nas arquibancadas em Yokohama produziram, em uníssono, um “ohhhhhhh!”. Após o domínio, Xavi acelerou o tempo novamente e tocou para Messi, que invadiu a área e completou com um toque por cobertura a obra de arte: 1 a 0. Foi um lance para a história do futebol. Para ver e rever de todos os ângulos, por todas as velocidades. Que golaço!

Xavi domina…

 

… e toca para Messi fazer o gol.

 

Naquele instante…

 

… O tempo parou. Mágico!

 

Um minuto depois, sem nem deixar o Santos absorver o que tinha acontecido, o Barça foi pra cima de novo em jogadaça de Thiago com Iniesta, com participação de Messi, que ajeitou para Xavi, mas o chute acabou prensado por Léo. O mais curioso eram os “ohhs” da torcida japonesa nas jogadas plásticas e executadas com tanta precisão pelos campeões europeus. O futebol parecia muito, muito fácil. Aos 22’, o Barça tinha 76% de posse de bola, um estrondo que tinha participação fundamental de Iniesta, que, aos 23’, foi para lá e para cá com a bola em seu domínio, chamando Arouca para dançar, arrancando outro “oh” da torcida. Na sequência, a bola encontrou Busquets, que tocou para Fàbregas no lado direito, enquanto Xavi saiu em disparada ao ataque. Fàbregas deixou com Daniel Alves, que foi conduzindo a bola pela direita, invadiu o bico da área e cruzou. A bola passou por Durval, por Bruno Rodrigo e sobrou para Xavi, que dominou e chutou pro gol: 2 a 0. Parecia que o jogo já estava definido. O Santos simplesmente não jogava. Apenas via o Barcelona jogar. Digo, dar show. 

Xavi celebra seu gol.

 

Dois minutos após o segundo gol, tabela entre Messi e Fàbregas, o argentino invadiu a área e Edu Dracena foi preciso no desarme. Aos 26’, segunda chance do Santos, com Borges pela direita, após jogada de Ganso, mas o chute do atacante foi fraco. Na sequência, o Barça voltou à normalidade quando Iniesta costurou três santistas no meio de campo, tocou para Xavi, este deixou na esquerda com Thiago, que tocou para Messi. O argentino devolveu para Xavi levantar a bola nas costas da zaga santista e Fàbregas chutar na trave! Por pouco! Aos 29’, outra tabela entre Messi e Daniel Alves pela direita e corte da zaga. Na sequência, O Santos fez sua primeira substituição quando Elano entrou no lugar de Danilo, com dores na lombar. Aqui, uma curiosidade: Elano chegou a dizer para Messi em campo “pelo amor de Deus, nos dê um tempo”, para que o time espanhol não aplicasse uma goleada tão acachapante. Segundo o jogador, em entrevista publicada anos depois, Messi disse: “Vamos continuar jogando. Se vocês não jogarem, vamos para cima”. E eles foram mesmo. 

O lançamento de Daniel Alves que originou o terceiro gol.

 

Aos 44’, começou a ser construído o terceiro gol. Lá de trás, Piqué fez um passe longo para Xavi, no meio, que deixou com Thiago e este tocou na direita para Daniel Alves. O brasileiro foi avançando e esperou o momento exato para lançar a bola do outro lado para Messi, nas costas de Bruno Rodrigo. A bola foi na medida, Messi correu, Bruno Rodrigo tentou tirar de carrinho e não conseguiu, mas desequilibrou o argentino. Só que Messi é Messi. Ele recobrou o equilíbrio, petecou a bola como se estivesse em uma pelada, viu Daniel Alves aparecer pela direita e tocou de calcanhar. O brasileiro cruzou, Rafael espalmou, Thiago cabeceou, Rafael defendeu milagrosamente de novo, mas no terceiro rebote Fàbregas guardou a redonda: 3 a 0. Foi um bombardeio. Um show. E que dificilmente seria revertido na segunda etapa – a não ser que baixasse o espírito de um Liverpool de Gerrard ou de um Vasco de Romário no time da Vila…

 

Segundo tempo – É o jeito de jogar…

Bem marcado e com a bola bem longe, Neymar pouco fez na final.

 

Na saída para o segundo tempo, o Santos conseguiu ficar com a bola por alguns segundos – 39 para ser exato. Aos 40”, Fàbregas roubou a bola de Edu Dracena, Messi seguiu com a jogada e tocou para o espanhol, que chutou para fora, na mais clara chance de gol perdida pelos blaugranas no jogo. Um minuto depois, Ganso lançou Borges na direita, que cruzou para Neymar, e o camisa 11 cabeceou para fora. Aos 6’, Messi passou por Neymar, por Durval, tocou para Thiago, que cruzou, mas Daniel Alves cabeceou para o meio e a zaga tirou. Aos 8’, Messi recebeu sozinho na direita e chutou, mas Rafael defendeu com os pés. O Santos tentou responder com Borges, mas o atacante recebeu uma bola muito longa e não conseguiu chutar. Ao contrário da primeira etapa, o Santos parecia um pouco mais lúcido do que no primeiro tempo e subia um pouco a marcação na tentativa de fazer pelo menos um gol de honra, que quase aconteceu aos 11’, quando Neymar perdeu um gol feito após receber livre e chutar em cima do goleiro Valdés, ao invés de driblar ou chutar por baixo. Aos 18’, o camisa 11 fez boa jogada pra cima de Puyol, cruzou para Ganso, que deixou com Léo, mas Daniel Alves apareceu para tomar a bola.

O Barcelona encurralou o Santos, que teve que mudar o esquema 4-4-2 para o 3-5-2. A tática não deu certo e só deu Barça.

 

O jogo seguiu sem grandes lances, com o Barça um pouco mais acomodado por conta do resultado construído na primeira etapa, embora o time catalão não tenha baixado a guarda em nenhum momento, com a bola em seus pés e circulando o campo todo. Só aos 34’ que o time blaugrana apareceu novamente com perigo, quando Daniel Alves chutou na trave após receber passe de Pedro. Até que, aos 37’, Edu Dracena saiu mal, Daniel Alves ficou com a bola e saiu em disparada como um legítimo atacante. Ele tocou no meio para Messi, que só esperou a saída de Rafael para dar um drible seco, preciso, e tocar para o gol vazio: 4 a 0. Pronto. A goleada estava sacramentada com outro golaço de Messi – que curiosamente faria mais três gols no goleiro Rafael no ano seguinte, nos 4 a 3 da Argentina sobre o Brasil em amistoso disputado nos EUA em junho de 2012.

O drible de Messi…

 

 

Os minutos seguintes foram protocolares, apenas para gastar o tempo e esperar o apito final da consagração do bicampeonato do Barça, que se tornou naquele dia o primeiro clube a conquistar o Mundial de Clubes da FIFA duas vezes. O placar foi elástico, enorme para uma final de Mundial, mas ainda sim não refletiu o que foi o jogo. Foram 16 chutes a gol do Barça contra oito do Santos, sendo nove chutes no gol dos catalães contra apenas três do Peixe. Impressionantes 71% de posse de bola. Dentre todas as finais de Mundiais, aquela sem dúvida foi a com maior domínio de um time sobre o outro em todos os tempos. Nem na época dos jogos de ida e volta um time foi tão soberano sobre o outro.

O técnico do Santos, Muricy Ramalho, disse tempo depois que ele sabia que era muito, mas muito difícil vencer aquele Barcelona e que tentou espelhar o time dele com o do rival, marcando lateral com lateral e tudo mais. Só que o Barça tinha Xavi, Iniesta, Messi, Puyol, Daniel Alves, Fàbregas… Aí não deu!

Nós fomos entrar no jogo, no túnel, lá do Japão, com o time dos caras. Só faltou pedir autógrafo. Se tivesse um telefone celular, nossos jogadores iam tirar foto. Só faltou fazer isso. Eles ficaram babando com os caras porque eles ainda eram muito jovens. Principalmente Neymar e Ganso. Então, era meio que impossível”. – Muricy Ramalho, em entrevista ao UOL Esporte, 17 de maio de 2019.

Foi o auge do time de Guardiola, que reconheceu tempo depois que aquela foi a maior partida do Barcelona sob seu comando. O auge do futebol bem jogado daquele esquadrão. E a prova da simbiose profunda entre Xavi e Iniesta, uma das maiores duplas da história do futebol. Se entendiam por telepatia, pareciam gêmeos tamanha qualidade com a bola nos pés e no raciocínio das partidas. O espetáculo no Japão fez até os brasileiros se curvarem à apoteose do Barça. Neymar, com lágrimas nos olhos ao fim da partida, disse que “o Santos tinha acabado de aprender a jogar futebol e que o Barça era o time a ser seguido”. Ele estava certo. O time catalão fez exatamente o que o Brasil tanto fez nas décadas de 1960, 1970, 1980 e parte da de 1990: jogou o fácil, o belo, o eficiente, o ofensivo, com classe, maestria e arte. Muita arte.

O esquadrão da final. Em pé: Abidal, Thiago, Busquets, Piqué e Valdés. Agachados: Messi, Daniel Alves, Iniesta, Fàbregas, Xavi e Puyol.

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Barcelona: a fase de ouro daquele esquadrão durou mais alguns meses até a saída de Pep Guardiola, na metade de 2012, para o futebol alemão. Depois disso, o Barça passou por anos difíceis até retomar o caminho das glórias com novas contratações, entre elas o brasileiro Neymar, que chegou à Catalunha em 2013, após uma polêmica negociação que provocou a renúncia do presidente barcelonista Sandro Rosell, envolveu desvio de dinheiro e sondagens que começaram já em 2011, às vésperas do Mundial – foi noticiado que o Barcelona havia pago 10 milhões de euros para assegurar a compra do jogador naquele ano, ou seja, o jogador disputou o Mundial já em negociação com o clube blaugrana – não que isso fosse mudar alguma coisa na partida.

Após um período de adaptação, o brasileiro cresceu de produção e foi um dos destaques do time campeão da Liga dos Campeões da UEFA em 2014-2015 e do Mundial de Clubes de 2015 ao lado de Messi e Suárez, formando o lendário trio MSN. Neymar nunca escondeu que um de seus sonhos era vestir a camisa do Barcelona. E, após a derrota de 2011, o desejo aumentou ainda mais. É aquilo: se não pode com eles, junte-se a eles!

O trio Suárez, Neymar e Messi.

 

Santos: o revés dolorido para o Barça abalou o time da Vila, que não conseguiu manter a coroa na Libertadores em 2012 e foi eliminado nas semifinais para o campeão Corinthians. Em 2013, o Peixe perdeu Neymar para o Barça e voltou a enfrentar o time espanhol no Troféu Joan Gamper, tradicional competição amistosa realizada pelo clube blaugrana. No Camp Nou, o Peixe reencontrou fantasmas e perdeu por 8 a 0, a maior goleada da história do torneio em uma final – os catalães precisaram de menos de 30 minutos para repetir o placar de 2011. Neymar jogou pelo Barça, mas não fez gols. De fato, enfrentar o Barcelona é um pesadelo para o time da Vila…

Em 2013, Neymar estava do outro lado contra o Santos. Foto: AFP.

 

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6 Comentários

  1. Sugestões:

    Buffon – Craque Imortal
    (Aqui sobre o incansável goleiro da Itália e da Juventus,com seu início no Parma,além de ter 5 copas e ter perdido a sexta em 2018)

    Seleção Imortal – Bélgica 2013 – 2018
    (Aqui falando do início da transformação em 2000 e sobre a subida no ranking da fifa,chegando a ser líder em 2015)

  2. Fale sobre o goleiro Lara, o craque imortal do Grêmio por favor.
    E antes que eu me esqueça, se vocês acharem que e um jogo eterno como eu acho, falem sobre Atlético-MG 1 x 1 Tijuana pelas quartas de final da Libertadores de 2013, ali foi louco o negócio.

    • Verdade. O mata mata inteiro do Atlético Mineiro poderia estar aqui
      Atlético Mineiro 4 x 1 São Paulo Oitavas
      Atlético Mineiro 1 x 1 Tijuana Quartas
      Atlético Mineiro 2 x 0 Newells Semifinal
      Atlético Mineiro 2 x 0 Olimpia Final

      Alem da copa do Brasil de 2014 em que aconteceu viradas épicas

      Atlético 4 x 1 Corinthians
      Atlético 4 x 1 Flamengo.

Esquadrão Imortal – Barcelona 1988-1994

Esquadrão Imortal – Bayern München 1972-1976